Lukács: ontologia e historicidade


Resumo: o artigo argumenta que um dos principais momentos de ruptura de Lukács com as ontologias anteriores reside na sua inovadora distinção entre essência e fenômeno a partir da peculiar relação de cada um com a categoria da continuidade. Assim procedendo, Lukács pôde resgatar a radical historicidade do mundo dos homens.

Palavras chaves: Ontologia, Marxismo, Lukács.

Em 1996 completar-se-á 25 anos do falecimento de G. Lukács. Contudo, seus escritos póstumos, em especial o conjunto que veio a ser conhecido como sua Ontologia, se revestem de uma impressionante atualidade. Como em nenhum outro pensador do século XX, em Lukács a historicidade é elevada à categoria ontológica universal.

Em que pese o fato de séculos terem se passado desde a derrocada do mundo antigo e a crítica do teocentrismo medieval pelo pensamento moderno, alguns traços da velha metafísica continuam a se fazer presentes.

Pensamos, em especial, no que ocorre com as categorias de essência e fenômeno. Tal como outrora, salvo raros pensadores -- e Lukács é um deles --, a essência hoje também é concebida a-historicamente.

Certamente a permanência de uma concepção «velha e ultrapassada» é, sempre, um fenômeno social que lança raízes no presente. Quando isto ocorre, por motivos que variam a cada caso, as concepções antigas se revelam como as expressões mais adequadas, e historicamente disponíveis, das necessidades do presente. Enquanto expressões dessas necessidades, as antigas concepções terminam por adquirir conteúdos e significados teóricos e ideológicos distintos -- no caso que examinaremos neste artigo, muito distintos -- do seu conteúdo e sentido originais.

Tal como, ao vestir um manto romano, Napoleão não se transformou em Júlio César, a sobrevivência hoje de formulações metafísicas tradicionais tem um sentido social em tudo distinto do passado.

Não examinaremos, aqui, contudo, os fundamentos sociais da atual «sobrevida» de algumas das formulações metafísicas tradicionais, por mais tentador que seja o tema. Nosso objetivo será delinear o percurso pelo qual a característica decisiva da concepção metafísica tradicional acerca do complexo essência-fenômeno (qual seja, a associação absoluta entre essência, necessidade e ser, e entre fenômeno e historicidade), não apenas perpassa o período moderno e Hegel, como também seus ecos podem ser encontrados mesmo em autores contemporâneos como J. Habermas.

Argumentaremos que, nesse contexto, as obras de maturidade de Lukács, em especial sua Ontologia, oferecem contribuições relevantes e originais. Aqui, mais um recorte se faz necessário: as considerações de Lukács têm por escopo o mundo dos homens, contudo várias das suas concepções ontológicas se referem também à natureza. Examinar a validade e a pertinência, para a esfera da natureza, da historicidade da essência tal como posta por Lukács para o ser social, extrapolaria em muito o espaço disponível. Por isso nos limitaremos ao mundo dos homens, sem que isto signifique que as conclusões de Lukács, com os devidos cuidados, não possam ser estendidas também para o ser natural.


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Sergio Lessa
sergio_lessa[arroba]yahoo.com.br


 
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