Praticismo, Alienação e Individuação


Lukács, no seu conhecido ensaio «Marx e o problema da decadência ideológica», afirma que, por ter ultrapassado historicamente seu período revolucionário, a burguesia não mais produz a melhor teoria, aquela capaz de abarcar, nos limites do desenvolvimento do gênero humano, a totalidade do existente. A burguesia teria se convertido numa classe contra-revolucionária, cuja concepção de mundo (Weltanschauung) não mais poderia ser ciência, apenas deformação do real.

Lukács, certamente, não endossa a tresloucada tese segundo a qual a burguesia não pode produzir toda e qualquer ciência, arte, filosofia, etc.

Para o filósofo húngaro, ela o faz apenas e tão-somente em setores parciais (a totalidade é uma dimensão a ela interdita) e com um alcance muito menor que o possibilitado pelo atual desenvolvimento das forças produtivas.

Estou convencido do acerto dessa tese. Qualquer concepção de mundo que, tal qual a burguesa, justifique a exploração do homem pelo homem, está impossibilitada de desvendar o «enigma» do mundo em que vivemos. O ponto de partida de tais concepções é insuperavelmente falso: tomar como signo de civilização e de humanidade a, hoje, essencialmente bárbara e desumana exploração do homem pelo homem. Ao postular a validade e a perenidade históricas do capital, a concepção de mundo burguesa não pode ir para além da acepção da individualidade enquanto mônada -- e do seu corolário, a concepção da sociedade como mero ajuntamento dessas mônadas. Baseado no falso pressuposto segundo o qual há uma natureza humana a-histórica que reduz o homem a um animal competitivo e mesquinho (um animal burguês, para sermos breves), o pensamento centrado no capital é eterno refém do dualismo indivíduosociedade que o caracteriza desde a sua gênese. E isto porque, sem poder abarcar as determinações ontológico-unitárias predominantes na totalidade social, se limita a velar as reais contradições que permeiam a reprodução social contemporânea. Tais contradições, perdidas as suas raízes sociais, se convertem em quebra-cabeças lógico-formais (Estado versus sociedade civil, cidadão versus Estado, possibilidades de democratização do Estado através da superação do seu caráter de classe, etc.) que apaixonam e seduzem a mentalidade burguesa porque tais quebracabeças são o único espaço em que esta pode vicejar. Por sua essência, a Weltanschauung burguesa «se detém na superfície dos fenômenos, se atola no imediato e monta ecleticamente pedaços de pensamentos contraditórios para formar um todo.»


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Sergio Lessa
sergio_lessa[arroba]yahoo.com.br


 
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