Caio Prado Jr. e a nacionalização do marxismo no Brasil - um prefácio


Numa pesquisa recente feita artesanalmente com um pequeno mas senior grupo de economistas, sociólogos, antropólogos e cientistas políticos, sobre quais seriam as obras e autores brasileiros mais importantes do século XX, as respostas indicaram não estudos teóricos ou empíricos executados segundo sofisticados manuais metodológicos, mas Casa Grande e Senzala (1933) e Sobrados e Mocambos (1936), de Gilberto Freyre, Formação Econômica do Brasil (1954), de Celso Furtado, Os Donos do Poder (1958), de Raymundo Faoro, Raízes do Brasil (1936), de Sérgio Buarque de Holanda, Coronelismo, Enxada e Voto (1948), de Vítor Nunes Leal, Formação do Brasil Contemporâneo (1942) e Evolução Política do Brasil (1933), de Caio Prado Jr., A Função Social da Guerra na Sociedade Tupinambá (1952) e A Integração do Negro na Sociedade de Classes (1964), e outros, de Florestan Fernandes, Populações Meridionais do Brasil (1920) e Instituições Políticas Brasileiras (1949), de Oliveira Vianna, e Os Sertões (1902), de Euclides da Cunha.

Pode ser que resida aqui uma anomalia. Tomando como padrão as ciências exatas - que progridem esquecendo seus fundadores - e desconsiderando a natureza das ciências sociais - cujo trabalho, sob certo aspecto, se assemelha ao de Penélope, que para atingir seus objetivos necessita refazer seu próprio caminho -, uma interpretação positivista não hesitaria em qualificar tal situação como resistência à absorção dos procedimentos metodológicos e técnicos que caracterizariam a verdadeira ciência, indicação de o quanto estamos atrasados no terreno da profissionalização e institucionalização do saber.

Fora desse sectarismo, no entanto, o que a lista evidencia é que historicistas e anti-historicistas, holistas e individualistas metodológicos, humanistas e cientificistas, aprendemos todos a pensar o Brasil com aqueles pensadores. Essa realidade, parte ineliminável da experiência intelectual de cada um de nós e de cada geração dos 80 aos 21 anos, é por si só suficiente para tornar risível o dar de ombros com que por vezes se os considera - como alquimistas diante dos químicos, como literatura para o deleite dominical do espírito, como relevantes tão-somente do ponto de vista da história da ciência. Apesar do caráter datado de muitas de suas proposições teóricas e análises empíricas, continuam a ser lidos como testemunhas do passado e como fonte de problemas, conceitos, hipóteses e argumentos para a investigação científica do presente.


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Gildo Marçal Brandão
gmb[arroba]usp.br


 
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