Mortos Sem Sepultura e o olhar de O Ser e o Nada


A obra Mortos Sem Sepultura, de Jean-Paul Sartre, publicada em 1946, é uma peça de teatro composta por três atos e narra a história de um grupo de partidários que, durante a segunda guerra mundial, atacou um vilarejo francês, matou muitas pessoas consideradas inocentes e, conseqüentemente, foi preso pela milícia.

Contando com doze personagens, esta obra tem como tema principal as conseqüências da guerra sobre as pessoas. A partir disso, podemos analisar as relações entre estas personagens, suas atitudes, suas influências. A idéia defendida, sobre a qual comentaremos, é que mesmo a vida e a morte dependem do outro e, mais especificamente, do olhar do outrem.

O ambiente é, o tempo todo, envolto em agonia e o cenário, que é descrito como muito sombrio, varia entre um sótão e uma sala de aula. A maior parte da história se passa entre as quatro paredes do sótão que recebe a claridade apenas por uma fresta. O personagem Canoris, “o grego”, que era um homem de ação e pronto à morrer em nome da liberdade, disse com indiferença que dentro do local onde eles estavam não acontecia nada de importante. Este comentário assinala a inutilidade humana que, nesta obra, é marcada pela guerra e pelas relações com o outrem.

As torturas se passam na sala de aula, é um lugar um pouco mais claro; isso nos dá a idéia de oposição: a claridade do ambiente contra a obscuridade da tortura e do silêncio à um grande preço. Um preço que poderíamos chamar de “negro” como a escuridão.

Em geral, o existencialismo sartriano é fundamentado na revolta contra a aceitação cega da autoridade, do sistema. Não há ordem no mundo e o homem é um estranho, não tendo nada mais que sua existência. O mundo é um Nada e o homem se encontra nu diante dele. Ele está só face à obscuridade e à irracionalidade, mas encontra sua liberdade e pode designar, dar significações à tudo que é externo a ele, esta liberdade é, entretanto, angustiante porque o homem está condenado a ela.

O homem livre é responsável, e é por suas possibilidades que ele cria sua essência que é, então, precedida pela existência; assim, o homem cria ele próprio. Estas possibilidades são limitadas, influenciadas e determinadas pelo exterior, pelo ambiente, pelo meio, pelas leis mecânicas, pelo outrem.

Normalmente, nas obras de Sartre os conflitos existenciais são marcantes. “Mortos Sem Sepulturas” tem um ponto em comum com sua outra peça de teatro “Huis clos” (A Portas Fechadas): nas duas, cada um é o torturador dos outros, porque eles se sentem acusados pelo olhar do outrem e estão, além disso, fechados entre quatro paredes sem que pudessem se deixar.


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Celuy Roberta Hundzinski Damásio
celuy.roberta[arroba]gmail.com


 
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