O Império dos Significantes


Com esta epígrafe, Roland Barthes (1915-1980) inicia o livro O Império dos signos, lançado em língua portuguesa no mês passado pela Editora Martins Fontes e traduzido pela professora e ex-aluna, Leila Perrone-Moisés (USP). Neste livro, imaginado a partir de uma viagem de quinze dias ao Japão em 1970, Barthes cria um sistema de signos ao qual, a partir de um olhar semiológico, chama "Japão" e o descreve (através de lexias), considerando algumas manifestações típicas daquele país.

Audacioso e assumindo o viés transgressor, o livro caminha entre a ficção, crônica, realidade ficcionalizada ou mesmo um ensaio que debate e se aventura, semiologicamente, para atualizar não somente a escritura, mas toda a cultura japonesa em 26 textos independentes que, lidos na ordem dada no livro, assumem uma visão totalizadora. "Transformando o texto em fragmentos, ou ‘lexias’, como os chama, ele identifica os códigos em que se baseiam". (CULLER, 1988, p.78)

Nesse mundo embaralhado entre texto, imagem e lexias é possível compreender o Japão como um texto de reticências e de ambigüidades. Este texto/objeto silencioso fabricado por Barthes (e também pelo leitor) reveste-se sempre de palavras, independentemente do constante trabalho de anulação do sentido, processo tipicamente semiológico. "O signo é uma fratura que jamais se abre senão sobre o rosto de outro signo" (BARTHES, 2007, p.72).  Nessa leitura, entendida muitas vezes como retórica do silêncio, "sua arte consiste em fazer da linguagem, veículo de saber e de opinião geralmente rápido, um lugar de incerteza e de interrogação. Ela sugere que o mundo significa, mas sem dizer o quê" (GENETTE, 1972, p.195).

O livro descreve gestos, paisagens, situações ou acontecimentos e, em vez de impor-lhes significações certas e fixas, sugere ou restitui, por meio de uma técnica muito sutil de evasão semântica, o sentido trêmulo, ambíguo, indefinido que constitui a sua verdade. E é assim que Barthes desconstrói a leitura única, fixa e carregada de preconceitos e assume paradigmas que propõem a liberdade da pressão do sentido social (que é um sentido nomeado, portanto um sentido morto), a incerteza dos signos, o recuo transgressor.


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Rodrigo da Costa Araújo
rodricoara[arroba]uol.com.br


 
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