O voo suspenso do tempo: estudo sobre o conceito de imagem dialéctica na obra de Walter Benjamin


Elas, as imagens, podem convocar os nossos sentidos, a nossa imaginação ou o nosso pensamento. Muitas vezes, convertem-se no próprio alimento do pensamento, tal a sua pregnância. Isso não faz delas personagens secundárias, mas antes e pelo contrário, são personagens centrais, aglutinadoras do sentido, concentrando em si a potência do pensamento. Por vezes enigmáticas, ambíguas, mas também podem ser metáforas luminosas, guiando-nos através da obscuridade da razão. No caso de Walter Benjamin, a imagem desempenha um papel fundamental, um fio condutor e tem inúmeras repercussões nas mais diversas áreas, desde a fotografia ao cinema e à pintura, da questão da linguagem até à concepção da história, do tempo e da modernidade.

A cada momento, na sua escrita e obra, confrontamo-nos com essa evidência e, ao mesmo tempo, com o embaraço que é próprio da relação entre a palavra e a imagem. À medida que se adensa a leitura e a tentativa de compreensão dessa relação, tanto maior o número de paradoxos e dificuldades que daí ressaltam. Atesta-se, assim, a presença de aporias, mas também a fecundidade polémica que nos permite avançar no pensamento, questionando a evidência e a pertinência do olhar, bem como a possibilidade de constituição da imagem, enquanto princípio dinâmico e potenciador do seu pensamento. Mais do que isso, como tentarei demonstrar, a imagem dialéctica revela-se como a preciosa chave capaz de abrir a compreensão da concepção da história e do tempo em Walter Benjamin. A imagem, mesmo tomada no seu contexto mais genérico – não falando ainda especificamente da “imagem dialéctica” - “possui, ao mesmo tempo, uma virtude de concretude imediata e a capacidade de suscitar a prática”, de acordo com o autor.

Se, por vezes, a relação entre a palavra/pensamento e a imagem nos aparece, na sua obra, como a mais cristalina evidência (e raros são os casos), que se adequa à expressão de uma ideia, a título de exemplo, todavia, na maior parte dos casos, vibra asperamente a estranheza no seu interior, obrigando-nos a uma concentração do olhar. No entanto, o que nos é desde o início anunciado, no seu pensamento, é esse compromisso incontornável com a imagem. E, se por um lado, essa contaminação se revela muito sedutora, por outro, pode revelar-se perigosa, pela ambiguidade que comporta.

Procurei circunscrever a minha análise da imagem no pensamento benjaminiano e focar-me na questão da imagem dialéctica e crítica, enquanto instrumento de cognoscibilidade e que é, ao mesmo tempo, condição e fruto da legibilidade da história. A partir deste nó, tento levar a cabo uma compreensão do conceito, tanto como instrumento, como enquanto condição operatória, que muitos autores (sobretudo os que se encontram ligados ao pensamento da história de arte e da comunicação) consideram ser um pensamento imagético por excelência, mantendo uma intensa familiaridade com o pensamento de Aby Warburg como igualmente das concepções surrealistas da imagem, pelas quais o autor se interessou vivamente, nomeadamente o conceito de Warburg, da “imagem em movimento” e as técnicas de montagem tão utilizadas pelos artistas do movimento surrealista. O surrealismo já havia mostrado a Walter Benjamin de que maneira a imagem poderia preencher uma função revolucionária.


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Maria João Cantinho
mjcantinho[arroba]hotmail.com


 
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