Ópera e a condição "site-specific"


A minha intervenção será muito provavelmente completamente diferente de todas as outras. Não tenho nenhum desejo de me colocar no lugar no qual se pretende pensar um qualquer futuro para a ópera. Do meu ponto de vista “Ópera Next” é o mesmo que “Ópera Before”. Aquilo de que pretendo falar não envolve grande diferença entre antes e depois.

Escrevi num artigo publicado em 1984 – há vinte e três anos portanto – que o meu trabalho dessa época não teria nada a ver com o futuro do jazz. Desse futuro se iriam encarregar os músicos negros norte-americanos. Agora quero dizer que, seja o que for que signifique a expressão Ópera Next, é minha convicção que esse é, igualmente, um assunto que não me diz respeito por razões relativamente semelhantes.

O que não quer dizer que não venha a compor outras óperas – neste momento estou a trabalhar em mais uma - e que não pense na questão de “como compor uma ópera”, de cada vez que o problema se me põe. Mas essa é a minha questão e não mais do que isso.

Para mim, compor uma ópera hoje é o equivalente a construir uma instalação sitespecific.

Destina-se a ser montada e apresentada num determinado local, terá as características que resultam do trabalho dessa montagem, terá a aura acústica possível nas condições que a sala propicia. Após a desmontagem desse evento será um objecto sem utilidade: consistirá num conjunto de papéis amontoados num caixote.

Penso que isto é assim porque, na grande maioria dos casos, as óperas que se fazem hoje se destinam a um conjunto de 2 ou 3 apresentações. Nessa medida, uma ópera é hoje, simultaneamente, um luxo e um desperdício. É um luxo porque, em qualquer caso, é um espectáculo caro. É um desperdício porque se destina a ser depositado na gaveta onde se guardam os luxos destinados a um uso restrito.

Mesmo nos casos em que uma ópera do século XX, como Le Grand Macabre de Ligeti ou The death of the Klinghofer, de John Adams, foi objecto de um conjunto mais vasto de encenações isso não obsta a que, na verdade, nenhuma delas consiga fazer parte do cânone operático que serve de base ao repertório lírico dos teatros de ópera do mundo.


(Ver trabalho completo)

 

António Pinho Vargas
antoniopinhovargas[arroba]gmail.com


 
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