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Alterações morfológicas e desempenho de cordornas (página 2)

E. A. García; A. A. Mendes; C. C. Pizzolante; N. Veiga; T. K. Mattos

 

4. Material e métodos

O experimento conduzido no aviário de pesquisas da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia do Campus de Botucatu, utilizou 432 codornas em produção, com 50 semanas de idade no início do experimento, alojadas em uma bateria metálica medindo 1,00m de comprimento, 1,76 m de altura e 1,10 m de largura, contendo seis andares onde foram colocadas 12 gaiolas metálicas medindo 96 cm de comprimento, 16 cm de altura e 38 cm de profundidade com três compartimentos.

Foram utilizados dois tipos de alimentos: ração de produção de ovos e milho moído por quatro e sete dias, seguidos por ração de produção. Os parâmetros físicos e o peso vivo das codornas foram analisados, no final do período de jejum e, aos 4, 7, e 11 dias do período de repouso.

As amostras dos ingredientes e das rações foram analisadas, determinando-se a matéria seca, as cinzas, cálcio, fósforo e proteína bruta AOAC (1990). Os valores de energia metabolizável e aminoácidos utilizados foram estimados por Andrigueto et al. (1994). As composições percentual e estimada das rações experimentais são apresentadas na Tabela 1.

Antes do início do experimento, as aves foram submetidas a muda forçada, ficando durante três dias em jejum alimentar, recebendo apenas água. Neste período realizou-se pesagem ao início e final da muda, para estimativa do peso vivo médio do lote, pesando-se todas as aves.

Uma amostra de duas aves por parcela foi pesada individualmente e sacrificada, após o jejum, aos quatro dias, sete dias e onze dias após o início do arraçoamento, para avaliação dos parâmetros físicos. As aves foram necropsiadas, retirando-se os ovários, ovidutos e, fígado, que foram pesados.

No primeiro e segundo dias após a muda forçada, procedeu-se uma adaptação das aves ao arraçoamento por dois dias, onde estas receberam 10 e 15 gramas de ração por ave por dia, respectivamente. A partir daí os alimentos foram fornecidos à vontade, porém com controle de consumo. A sobras foram pesadas ao final de cada período, para estimar o consumo de cada parcela.

Durante os períodos de jejum e repouso, o fotoperíodo, de 17 horas de luz foi reduzido para cerca de 13,30 horas de luz por dia, e quando as aves atingiram cinco por cento de postura deu-se início a um programa de luz crescente até que se atingisse novamente um fotoperíodo de 17 horas diárias. Foram avaliados o peso vivo, percentagem de aparelho digestório, de aparelho reprodutivo (ovário + oviduto), de fígado, de extrato etéreo no fígado aos 0, 4, 7 e 11 dias após o período de jejum, a produção de ovos e o consumo de ração no período.

O delineamento experimental utilizado para as características analisadas após muda forçada foi o inteiramente casualisado, com 3 tratamentos (0, 4 e 7 dias de fornecimento de dieta de repouso) com 4 repetições de 30 aves por parcela para estimativa do peso corporal, e de 2 aves por parcela para avaliação das características físicas.

Os resultados obtidos foram avaliados, através da análise de variância de acordo com Zar (1984). A comparação entre pares de médias foi efetuada através do teste de Tukey (p<0,05).

5. Resultados e discussão

A análise estatística não mostrou efeito (p>0,05) de tratamento sobre o peso vivo aos quatro dias de arraçoamento do período de repouso. (Tabela 2).

Decorridos sete dias do início dos tratamentos verificou-se que as aves alimentadas apenas com ração neste período apresentaram peso vivo superior (p<0,05) às que foram alimentadas com milho por 4 dias e ração por mais três dias, ao passo que as aves alimentadas com milho por sete dias não diferiram (p>0,05) das demais. É importante salientar que nesta ocasião, as aves do tratamento A já haviam recuperado o peso que possuíam antes do início do período de jejum e que as do tratamento B provavelmente tiveram seu ganho de peso reduzido devido ao estresse ocasionado pela troca de alimentação.

Considerando-se os pesos vivos dos diferentes tratamentos aos 11 dias, após muda forçada, observa-se que as aves de todos os tratamentos já haviam recuperado o peso vivo que possuíam antes do jejum.

North (1982), também comparou os pesos vivos de aves de postura durante o período de muda utilizando ração de baixo nível protéico e ração de produção e verificou que as aves que receberam ração de produção apresentaram maior peso vivo e produção de ovos. Do mesmo modo, Harms (1983), Koelkebeck et al. (1991) e Bell & Kuney (1992), utilizando dietas com nível de proteína de 8,6% a 16,2%, 10% a 16% e 8,6 a 16,2% respectivamente, observaram que as rações com maiores níveis protéicos proporcionaram maior recuperação do peso corporal durante o período de muda. Garcia et al. (1996a) não verificaram diferenças no peso vivo ao utilizar dietas contendo 14 e 16,5% de proteína por 5, 10, e 15 dias do período de repouso, e que a pequena diferença encontrada na composição bromatológica das rações pode não ter sido suficiente para causar variações no peso vivo nos períodos considerados.

Não foram encontradas diferenças (p>0,05) para as percentagens de aparelho digestivo entre os tratamentos aos quatro, sete e onze dias do período de arraçoamento, porém, aos quatro dias de tratamento observou-se sua recuperação aos níveis percentuais do início do período de jejum.

Não foram constatados efeitos (p>0,05) dos tratamentos sobre as percentagens de aparelho reprodutivo após quatro, sete e onze dias do início dos tratamentos, embora se possa observar tendência das aves do tratamento A apresentarem maiores valores percentuais que os demais tratamentos após quatro e sete dias. As aves dos tratamentos A e B apresentaram recuperação das percentagens de aparelho reprodutivo após onze dias do início do período de arraçoamento, ao passo que as do tratamento C não haviam recuperado suas percentagens originais de aparelho reprodutivo até esta ocasião.

Em galinhas, o nível protéico da dieta empregada no período de repouso, parece ter grande influência no desenvolvimento do aparelho reprodutivo, conforme indicam as pesquisas de Brake & Thaxton (1979) e de Hoyle & Garlick (1987). Brake et al. (1979) não encontraram desenvolvimento do aparelho reprodutivo até o 28º dia de alimentação quando as aves receberam apenas milho moído. Já Garcia et al. (1996a) encontraram efeito da proteína da dieta sobre o desenvolvimento do oviduto de galinhas poedeiras durante o período de repouso, e verificou que o completo desenvolvimento do aparelho reprodutivo ocorreu entre o 15º e o 20º dias do início do arraçoamento.

Não foram observadas diferenças (p>0,05) entre os tratamentos, para as percentagens de fígado em relação ao peso vivo durante o período de arraçoamento estudados (Tabela 2).

A análise de variância mostrou efeitos significativos dos tratamentos sobre a percentagem de extrato etéreo do fígado, no período de repouso, após muda forçada (p<0,01). Aos quatro dias após o final do período de jejum, as aves do tratamento A apresentaram percentagem de extrato etéreo significativamente menor que as dos tratamentos B e C que estavam sendo arraçoadas com milho. Aos sete dias após o final do período de jejum, as aves do tratamento C apresentaram maior quantidade de extrato etéreo no fígado que as do tratamento A e esta por sua vez maior quantidade que as do tratamento B. Embora a análise estatística tenha evidenciado diferenças (p<0,05) entre os tratamentos A e B, observa-se que as diferenças numéricas entre os valores destes tratamentos são pequenas, ao passo que a diferença numérica entre estes valores e os do tratamento C são bastante grandes, demonstrando que as aves alimentadas com ração apresentaram menor percentagem de extrato etéreo no fígado que as alimentadas com milho. Da mesma forma, aos onze dias pós-jejum, as aves do tratamento C tiveram maior percentagem de extrato etéreo no fígado que as do tratamento B e estas por sua vez maiores quantidades que as do tratamento A. Isto provavelmente aconteceu porque o valor energético do milho é superior ao da ração, fazendo com que as aves alimentadas com milho tivessem maior disponibilidade energética e, por conseguinte armazenassem e metabolizassem esta quantidade adicional de gordura no fígado.

A quantidade de gordura no fígado de galinhas poedeiras durante a muda forçada foi estudada por Garlich et al. (1984), que observou que a quantidade de gordura no fígado de frangas com 19 semanas de idade e de galinhas durante o período de muda, as quais ainda não tinham iniciado a produção de ovos, foi semelhante e durante o período de produção de ovos a quantidade de gordura no fígado aumentou até atingir um máximo de 43%. Estes resultados diferem, em parte, dos encontrados nesta pesquisa, onde, a percentagem de extrato etéreo no fígado das aves em produção foi inferior à encontrada por Garlich et al. (1984), e ainda variou conforme o tipo de dieta, durante o período inicial de alimentação, onde as aves que receberam milho apresentaram maior percentagem de extrato etéreo no fígado.

A produção de ovos aos quatro e sete dias após o início dos tratamentos foi reduzida a zero em todos os tratamentos, evidenciando a relação entre a regressão do aparelho reprodutivo e a produção de ovos. Aos onze dias de tratamento as aves retornaram efetivamente à produção de ovos sendo que as aves que receberam ração de produção desde o início do período de repouso apresentaram produção de ovos (p<0,01) maior que as demais, as quais não diferiram entre si.

A observação de que o nível protéico da dieta de muda pode influenciar a produção de ovos no início do período pós-muda está ainda de acordo com os resultados obtidos por Brake et al. (1979), Harms (1983) e Andrews et al. (1987a) que compararam dietas contendo 9 e 16% de proteína bruta com suplementação de metionina. Também Garcia et al. (1996b) observaram que as aves que receberam ração de produção por 10 e 15 dias após a muda iniciaram a produção de ovos em tempo significativamente menor que as que receberam ração de baixa densidade. Entretanto Hoyle & Garlick (1987) comparando o tempo necessário para que aves alimentadas com 17,0, 14,8 13,5 e 12,4% de proteína realizassem a postura do primeiro ovo, observaram que embora não fossem constatados efeitos de tratamentos, as aves alimentadas com 12,4% de proteína apresentaram tendências de maior tempo necessário para a produção do primeiro ovo.

O consumo médio diário de alimentos durante o período de muda forçada pode ser observado na Tabela 3.

A análise de variância detectou efeito (p<0,05) de tratamento sobre o consumo de alimentos durante o período de repouso. As aves do tratamento A apresentaram maior consumo de alimentos que as do tratamento B e C. As aves do tratamento B demonstraram pequeno consumo de ração de produção durante este período. Isto provavelmente ocorreu devido ao estresse provocado pela mudança no tipo de alimento fornecido durante o período de repouso.

Não foram verificadas diferenças (p>0,05) entre o consumo de milho e de ração de produção durante o período de repouso.

Também Hoyle & Garlick (1987), não encontraram diferenças (p>0,05) no consumo de ração ao alimentar aves em muda com dietas contendo 17,0; 14,8; 13,5 e 12,0% de proteína bruta. Por outro lado Harms (1983) comparando dieta de muda contendo 8,6 e 16,2% de proteína fornecida por 21 dias, observou que o consumo de ração das aves alimentadas com 16,2% foi maior que a de 8,6% nos três experimentos realizados. No entando, Koelkebeck et al. (1991) observaram que durante o verão, aves alimentadas com ração de muda contendo 10% de proteína apresentaram maior consumo de ração que as alimentadas com 13 e 16% de proteína. No inverno não houve diferença no consumo entre as rações de muda contendo diferentes níveis protéicos.

6. Conclusões

Nas condições desta pesquisa pode-se concluir que:

A regressão do aparelho reprodutivo continuou até o quarto dia do período de repouso, sendo que as aves alimentadas exclusivamente com ração de produção durante o período de repouso recuperaram o peso e iniciaram a produção de ovos mais rapidamente que as alimentadas com dieta de repouso.

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Garcia ES1 Mendes AA2 Pizzolante CC3 Veiga N1 - arielmendes[arroba]fca.unesp.br

1 - Profº Assistente Doutor do Departamento de Produção e Exploração Animal – FMVZ / UNESP 

2 - Profº Titular do Depto. de Produção e Exploração Animal – FMVZ/ UNESP

3 - Pesquisador Científico do Instituto de Zootecnia – Brotas

Depto. de Produção e Exploração Animal – FMVZ/UNESP Caixa Postal 560 – Distrito de Rubião Júnior –  18618-000 - Botucatu – SP – Brasil.



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