Página anterior Voltar ao início do trabalhoPágina seguinte 

Caracterização física e química de áreas mineradas pela extração de cassiterita (página 2)

Milton Marchiori Júnior e Wanderley José de Melo

Resultados e Discussão

Para discutir a fertilidade do solo, utilizaram-se os níveis adotados por AMARAL e SOUZA (1997), citados entre parênteses. Os valores medidos do pH em CaCl2 variaram de 3,7 a 4,8 (Tabela 1), mostrando ácidos em todas as situações estudadas (< 5), porém com diferenças significativas entre o solo de mata, que apresentou maior acidez, seguido pela capoeira e pelas diferentes situações degradadas, que não diferiram significativamente entre si. Segundo SMYTH (1996), a predominância de solos ácidos em terra firme, coloca a acidez e a toxidez de alumínio entre as mais freqüentes restrições em solos da Amazônia. Provavelmente, a matéria orgânica existente no solo de mata e capoeira levou a um pH mais baixo nessas situações. LONGO (1999) observou valores de pH reduzido em solo de Floresta em Rondônia, quando comparado a solos de pastagem sob mesma condição. Nas áreas mineradas, os processos envolvidos na extração do minério, lavagem e separação do material, levaram a um pH levemente maior ao do encontrado na mata, porém ainda ácido, necessitando de adequada correção recuperar essas áreas.

Os teores médios de matéria orgânica (Tabela 1), como era de se esperar, apresentaram valores bastante maiores na mata e capoeira em relação às demais situações, em virtude do próprio processo de extração do minério que envolve a supressão da vegetação original, lavagem e separação do material coletado. LONGO et al. (2000), em estudo de áreas de floresta próximas a Porto Velho seguida pela introdução de pastagem, observaram uma queda gradual nos teores de C orgânico e N total da mata para a capoeira, concordando com os resultados de MORAES (1991); esse autor observou que, de modo geral, os teores de matéria orgânica foram bastante vulneráveis ao cultivo por estar concentrados na camada superficial do solo.

Poucos resultados foram encontrados em áreas de mineração, sendo mais comuns estudos desse tipo serem efetuados em áreas agrícolas. Porém, a deficiência em matéria orgânica é uma característica que deverá ser trabalhada durante a recuperação desses substratos degradados, ou pelo plantio de adubos verdes, ou pela aplicação de compostos orgânicos, comuns à região, ou mesmo adição de serrapilheira, quando possível. Tais práticas poderão dar melhores condições para o estabelecimento da vegetação arbórea a ser implantada.

Os teores de fósforo disponível podem ser considerados baixos em todas as situações estudadas (<10 mg dm-3), sendo os maiores teores encontrados na mata e capoeira. Segundo FALESI (1976), o P disponível na camada superficial do solo reduz drasticamente com o tempo, após o estabelecimento de atividades agrícolas, como a pastagem.

A mineração, mesmo se tratando de uma atividade bastante diferente da atividade agrícola, requer a supressão da vegetação e da camada superficial do solo original, podendo promover sensível diminuição nos teores de fósforo na camada superficial do solo/substrato a ser recuperado, uma vez que o P-orgânico está associado à presença da matéria orgânica. Os teores médios de cálcio (Ca2+) e magnésio (Mg2+) (Tabela 1) não diferiram entre as situações estudadas. O potássio (K+) apresentou diferenças significativas sendo os maiores valores encontrados na mata e na capoeira, porém nas situações degradadas os valores não diferiram entre si.

Em relação à porcentagem de saturação por bases (V%) e à soma de bases, pode-se observar que praticamente não houve diferenças significativas. Os valores de T foram elevados para o solo de mata e capoeira, e esse valor pode ser influenciado pelos elevados valores de H+Al, também elevados na mata e capoeira, caindo drasticamente ao passar para áreas degradadas, que não diferiram entre si.

Em relação à porcentagem de areia, silte e argila (Tabela 2), pelos resultados, verificam-se diferenças significativas entre as situações estudadas. No solo sob mata e capoeira, os teores de areia e argila foram muito similares havendo leve predominância da primeira fração. Já nas demais situações, observou-se nítida diferença textural entre as áreas de deposição de rejeito, que se apresentam bastante arenosos. Tais diferenças implicam alterações na movimentação de água no solo, na suscetibilidade à erosão, na penetração de raízes, na absorção de nutrientes, e na mecanização que devem ser consideradas nos programas de recuperação dessas áreas.

ESPÍNDOLA et al. (2000) observaram grande variação textural, em terrenos degradados pela extração de cassiterita em Rondônia, no sentido da "corrida do rejeito", sendo mais arenoso na cabeceira e mais argiloso nas áreas de baixada, em virtude de sua posição topográfica, com diferenças inclusive dentro das áreas de deposição de rejeito.

Os valores médios de densidade do solo (Ds) variaram de 1,05 a 1,47 g.cm-3 enquanto os de densidade de partículas (Dp) de 2,50 a 2,67 g.cm-3. Como se pode notar na Tabela 2, em ambos os parâmetros houve diferenças significativas entre as situações estudadas, sendo os menores valores encontrados nas amostras coletadas sob mata e capoeira, resultantes, provavelmente, da influência dos altos teores de matéria orgânica observados nessas áreas. ARAÚJO et al. (2004) relacionaram valores de densidade do solo variando de 1,34 a 1,73 kg.dm-3 para Argissolo Amarelo distrófico na Amazônica ocidental sob diferentes manejos, sendo os menores valores encontrados na mata.

Em área de piso de lavra, foram observados os maiores valores de densidade do solo (médias em torno de 1,47 g.cm-3), devido à grande compactação existente nessa situação. A densidade de partícula nas áreas de deposição de rejeito pode ter sido resultante da influência de teores de cassiterita que ainda possam estar no rejeito e possuem massa elevada.

Na tabela 3, verificam-se os valores, em cada ponto de amostragem, dos parâmetros de solo analisados, revelando que, de forma geral, apresentaram diferenças entre as situações estudadas. De maneira geral, mesmo no solo de mata e na capoeira, houve baixa fertilidade natural, em vista da intensa ação dos processos de intemperismo (PRIMAVESI, 1987) e nos solos/substratos degradados, pela remoção da vegetação original e do próprio processo de extração do minério.

Diferenças significativas foram observadas para o pH, teores de matéria orgânica, P, K, V%, CTC (T), H+Al, teores de areia, silte e argila; densidade do solo e de partículas. Segundo Haag (1985), as concentrações de determinados elementos no solo de ecossistemas tropicais são extremamente variáveis, refletindo o material de origem ou o substrato subjacente, a topografia, a pluviosidade, a vegetação e diversos fatores do meio que interagem com o solo, gerando microdiferenças, diversidade na composição das espécies e nos processos biológicos das plantas. Em ecossistemas degradados, essas diferenças são marcantes e influenciam na tomada de decisão em programas de recuperação, e o conhecimento do solo/substrato onde se pretende realizar essas obras é de fundamental importância (FONTES, 1991).

Pela tabela 4 verifica-se a umidade no instante do ensaio de penetração do solo/substrato e o coeficiente de variação das amostras coletadas. As curvas de caracterização da resistência mecânica à penetração nos solos/substratos de cada área podem ser visualizadas na Figura 1. Nela observa-se uma camada compactada na profundidade de 10 a 35 cm no piso de lavra, o qual compromete a instalação de vegetação futura (Ribeiro et al., 2003). Na mata verificam-se, também, valores de resistência à penetração superior ao rejeito, dada sua condição de ambiente de equilíbrio e estruturação do solo sob a vegetação. A baixa resistência mecânica a penetração no rejeito arenoso está associada a sua ausência de estruturação e sua disposição tipo aluvial (ESPÍNDOLA et al., 2000).

Referências

AMARAL, E.F.; SOUZA, A. N. Avaliação da fertilidade do solo no sudeste acreano: o caso PED/MMA no município de Senador Guiomard. Rio Branco: Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, 1997. 32p.

ARAÚJO, E.A.; LANI, J.L.; AMARAL, E.F. GUERRA, A. Uso da terra e propriedades físicas e químicas de argissolo amarelo distrófico na Amazônia ocidental. Revista Brasileira de Ciência do Solo, Viçosa, v.28, p.307-315, 2004.
        [
SciELO ]

EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos. Sistema brasileiro de classificação de solos. Brasília: Embrapa Produção de Informação/Rio de Janeiro, 1999. 412p.

ESPÍNDOLA, C.R., MELO, W.J., LONGO, R.M. Forest and soil degradation by tin minering. In: MANAGING FOREST SOILS FOR SUSTAINABLE PRODUCTIVITY, 2000? Vila Real, Portugal. Anais… (local de publicação:quem publicou?), 2000. p. 215-214..

FALESI, I.C. Ecossistemas de pastagens cultivadas na Amazônia brasileira. Belém: Embrapa/CPATU, 1976. 193p. (Boletim Técnico1).

FEARNIDE, P.M. Agricultura na Amazônia: tipos de agricultura, padrão e tendências. Cadernos NAEA, Belém, v.10, p.197-252, 1989. (Não encontrei no texto)

FEARNIDE, P.M. Amazônia: a fronteira agrícola 20 anos depois. Belém: Boletim Museu Paraense Emílio Goeldi, 1991. 363p. (Não encontrei no texto)

FONTES, M.P.F. Estudo pedológico reduz impacto da mineração. Revista da Cetesb de Tecnologia AMBIENTE, São Paulo, p. 58-61, 1991.

FRANÇA, J.T. Estudos da sucessão secundária em áreas contíguas a mineração de cassiterita na Floresta Nacional do Jamari-RO. 1991. 169f. Dissertação (Mestrado), ESALQ/USP, Piracicaba.

HAAG, H.P. Ciclagem de nutrientes em florestas tropicais. Fundação Cargill: Campinas, 1985. 162p.

KIEHL, E.J. Manual de edafologia: relação solo-planta. São Paulo: Ceres, 1979, 262p.

LISBOA, P.L.B. Estudo florístico da vegetação arbórea de uma floresta secundária em Rondônia. Boletim Museu Paraense Emílio Goeldi, Belém, v.5, n.2, p.145-162. 1989. (sér. Bot.).

LONGO, R.M. Modificações em parâmetros físicos e químicos de latossolos argilosos decorrentes da substituição da floresta amazônica e do cerrado por pastagens. 100f. 1999. Tese (Doutorado) - FEAGRI/UNICAMP, Campinas.

LONGO, R.M.; ESPÍNDOLA, C.R. Alterações em características químicas de solos da região amazônica pela introdução de pastagens. Acta Amazônica, Manaus, v.30, n.1, p.71-80, 2000.

MELO, D.P.; da COSTA R.C.R.; NATALI FILHO, T.N. Geomorfologia. In: Projeto RADAMBRASIL. Folha SC 20 Porto Velho, Rio de Janeiro, 1978. (Levantamento de Recursos Naturais, 16).

MORAES, J.F.L. Conteúdo de Carbono e Nitrogênio e tipologia nos solos da Bacia Amazônica. 84f. 1991. Dissertação (Mestrado), CENA/USP, Piracicaba.

PRIMAVESI, A. O manejo ecológico do solo. São Paulo: Nobel, 1987. 541p.

RADAMBRASIL. Folha SC-20. Porto Velho. Rio de Janeiro: Departamento Nacional de Produção Mineral, 1978. 661p. (Levantamento de Recursos Naturais, 16).

RAIJ, B. van; CANTARELLA, H.; QUAGGIO, J.A. FURLANI, A.M.C. (Ed.) Recomendações de adubação e calagem para o Estado de São Paulo. Campinas: Instituto Agronômico, 1996. 285p.

RIBEIRO, A. I; LONGO, R. M.; MACIEL, A. J. S.; OLIVEIRA, C. A. A. Escarificação de áreas degradadas por mineração de cassiterita usando um conjunto trator-ríper: mobilização e análise operacional. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA DO SOLO, 29, Ribeirão Preto, 2003. Anais...(CD room).

SALOMÃO, R.P, LISBOA, P.L.B. Análise ecológica da vegetação de uma floresta pluvial tropical de terra firme, Rondônia. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, Belém/PA, v. 4, n.2, p. 195-233, 1988. (Ser. Bot.) (Não encontrei no texto)

SILVA et al. Vegetação. In: Projeto RADAMBRASIL. Folha SC 20. Porto Velho. Rio de Janeiro: Departamento Nacional de Produção Mineral, 1978. (Levantamento de Recursos Naturais, 16). (Não encontrei no texto)

SMYTH, T.J. Manejo da fertilidade do solo para introdução sustentada de cultivos na Amazônia. In: O SOLO nos grandes domínios morfoclimáticos do Brasil e desenvolvimento sustentado. Viçosa: Sociedade Brasileira. de Ciência do Solo, 1996. p.71-93.

(1) Parte do Projeto Temático financiado pela FAPESP.

Regina Márcia LongoI; Admilson Írio RibeiroII; Wanderley José de MeloIII
wjmelo[arroba]fcav.unesp.br

IPós-doutoranda - UNESP/Jaboticabal. Estrada da Rhodia, 5555 cs 91, B.Geraldo, Campinas (SP).
IIFEAGRI/UNICAMP, Caixa Postal 6011, Campinas (SP)
IIIDepartamento de Tecnologia, FCAV/UNESP, Via de acesso Paulo Donato Castellane, s/n, 14884–900, Jaboticabal (SP)



 Página anterior Voltar ao início do trabalhoPágina seguinte 



As opiniões expressas em todos os documentos publicados aqui neste site são de responsabilidade exclusiva dos autores e não de Monografias.com. O objetivo de Monografias.com é disponibilizar o conhecimento para toda a sua comunidade. É de responsabilidade de cada leitor o eventual uso que venha a fazer desta informação. Em qualquer caso é obrigatória a citação bibliográfica completa, incluindo o autor e o site Monografias.com.