Ciberespaço e Contestação Política:
o caso do Centro de Mídia Independente (CMI)

 

 

ABSTRACT

A história da Internet inicia-se em um contexto onde os Estados Unidos e a Ex-União Soviética disputavam uma corrida militar-espacial-tecnológica. Os estudos a respeito de uma rede descentralizada de comunicação de dados tiveram um interesse inicialmente bélico, como uma rede indestrutível capaz de comunicar as principais bases de defesa dos Estados Unidos. Com os avanços da telecomunicação, da microinformática e das constantes pesquisas a respeito de uma rede mundial de computadores, em 1992 foi criada uma rede hipertextual e midiática: a World Wide Web. Foi o que faltava para a rede expandir e constantemente se aperfeiçoar. Depois de constituída, a rede ? denominada Internet - alcançou uma unicidade das técnicas mundiais, sendo importantíssima para um novo mercado global em potencial, sendo uma importante determinação da globalização como mundialização do capital. Ao mesmo tempo, sua própria constituição desenvolve elementos de uma democracia virtual. Nunca houve antes um espaço público ? virtual ou não - que garantisse voz a milhões de pessoas. Um contingente massivo de pessoas que utiliza a Internet passa a manifestar sua insatisfação com o mundo global, apegando-se à rede mundial de computadores como uma ferramenta de contestação política. Esse trabalho se deterá sobre o espectro da cibersociedade, onde o ciberespaço aparece como um amplo canal aberto de comunicação com a sociedade, sendo usada por movimentos sócio-políticos concretos tomando formas virtuais e usufruindo as ferramentas cedidas pela própria rede, como a interação, a comunicação ou reciprocidades de informações em um espaço público democrático e descentralizado. É sobre esse aspecto do ciberespaço que a Centro de Mídia Independente (CMI) age, como uma rede internacional de produtores independentes de mídia que busca ser uma fonte alternativa para fornecimento de informações, desvinculada de qualquer interesse corporativo como uma reação política à globalização imperialista, agindo contra todo esse mercado global e democratizando o poder midiático na rede, tornando-o recíproco, horizontal e interativo.

Palabras clave:
 
· ciberespacio
 
· comunicación
 
· comunicación mediada por ordenador
 
· globalización
 
· movimientos sociales

 

Comunicação: O Ciberespaço e contestaçao

A palavra Ciberespaço foi usada pela primeira vez no romance de ficção científica Neuromancer, escrito por William Gibson em 1984. No livro, Gibson usa esse termo para designar um "universo das redes digitais, descrito como campo de batalha entre as multinacionais, (...) palco de conflitos mundiais, nova fronteira econômica e cultural" (LÉVY, 2000:92)

A partir disso, o termo foi aplicado - por usuários e criadores das redes digitais - para designar o ambiente tendencialmente interativo, cooperativo e descentralizado da Internet, ou, segundo Pierre Lévy, um "espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial dos computadores e das memórias dos computadores", incluindo "o conjunto dos sistemas de comunicação eletrônicos, na medida em que transmitem informações provenientes de fontes digitais ou destinadas à digitalização" (LÉVY, 2002:92).

O ciberespaço é, hoje, uma grande trama onde cada microcomputador ligado a ele é um pedaço desta, formando assim uma rede descentralizada de informações interativas/controlativas jamais vista, e o principal suporte técnico-material do ciberespaço é a Internet, a "principal rede de troca humano-genérica e de intercambio mercantil" (ALVES 2003:123).

Porém, a Internet - como base técnica do ciberespaço - só pôde ter essa constituição, tanto tecnológica como estrutural, por uma serie de processos econômicos, políticos e técnicos ocorridos nas estruturas do capitalismo nos anos 70 e 80 que culminaram na Revolução Informacional (LOJKINE, 1999) ou VI Revolução Tecnológica (ALVES, 2003). Portanto, a Internet e o Ciberespaço estão historicamente determinados: sua constituição tecnológica só foi possível no bojo da crise capitalista das três ultimas décadas do século XX, um momento de transformação dos meios de produção e reprodução capitalista.

Partindo de um levantamento bibliográfico amplo sobre a história da Internet e o uso capitalista do ciberespaço, tanto no Brasil como no exterior, apreendendo leituras sobre ciberespaço e contestação política, Internet, comunicação social, principalmente nos últimos 10 anos e sobre o Centro de Mídia Independente, estudo de caso desta pesquisa, objetivamos analisar a função sócio-comunicacional da Internet, partindo de sua origem - tanto técnica quanto mercadológica como novo campo de sociabilidade humano-genérica – para analisar o uso da Internet para atividades políticas independentes de contestação à ordem do capital

 

Internet e mundialização do capital

O crescimento nas pesquisas de tecnologia e comunicação que marcaram o surgimento de uma rede que viria a ser base da Internet de hoje, do período de 69 à 73 estão relacionados aos "trinta anos gloriosos" que passavam economicamente e politicamente os Estados Unidos da América no pós-guerra. O sistema fordista aliado à políticas Keynesianas de intervenção estatal no mercado propiciaram um longo período de acumulação capitalista, o que facilitou o processo de desenvolvimento tecnológico.

Porém, o desenvolvimento tecnológico e telemático que definiria estruturalmente a rede mundial de computadores só foi possível no bojo da crise do capitalismo mundial das ultimas três décadas do século XX, palco da IV Revolução Técnico-Científica – a revolução das redes (ALVES, 2003). Essa expansão na infra estrutura tecnológica pode ser entendida como parte do desenvolvimento do capital que tendeu a se mundializar, com o fim do fordismo, do paradigma keynesiano e (conseqüentemente) com fim do protecionismo de mercado inerente ao Estado de bem-estar social e com o inicio das políticas neoliberais.

"A IV Revolução Tecnológica diz respeito a uma etapa do capitalismo moderno – o capitalismo global, o da mundialização do capital com seu novo regime de acumulação flexível (HARVEY, 1992)." (ALVES, 2003:125)

A mundialização do capital, termo mais específico para o processo de globalização, vai marcar a nova etapa de acumulação capitalista – de internacionalização e a flexibilização dos investimentos e da produção – com características próprias divergentes da rigidez do keynesianismo do pós-guerra, que se esforçou a manter o capital preso à leis regulamentadoras de um Estado intervencionista.

O ponto de partida da mundialização do capital se da na virada da década de 70 para 80, onde recessão de 74-75, aliado às políticas neoliberais da "revolução conservadora" de Margareth Thatcher no Reino Unido e de Ronald Reagan nos EUA puseram por terra o paradigma keynesiano.

Concomitantemente, a produção capitalista passava por um período de "reestruturação produtiva " (ALVES, 1994). O crescimento das novas tecnologias desenvolvidas a partir da III Revolução Tecnológica na década de 40, aliado à robustez do capital industrial e financeiro decorrentes do longo período de crescimento capitalista durante os "trinta anos de glória" do pós-guerra fizeram com que , na crise de 74-75, a produção industrial se apresentasse com capacidade excedente inutilizável em condições de intensificação da competição por mercados mundiais com países recém-industrializados - tais como o Japão e os da Europa Ocidental - que ha anos já desafiavam a hegemonia do fordismo americano "a ponto de cair por terra o acordo de Bretton Woods e de produzir a desvalorização do dólar" (HARVEY, 1992: 135).

Desta forma, a produção americana passou por um momento de nova racionalização e de reestruturação de seu modo de produção. As mudanças tecnológicas de automação, a diversificação e inovação das linhas de produtos, a busca de novos mercados, a dispersão geográfica industrial para "zonas de controle do trabalho mais fácil" (HARVEY, 1992: 137) foram as medidas tomadas pela produção norte-americana em sua reestruturação produtiva, e são essas medidas que vão dar condições técnicas para a IV Revolução Tecnológica.

"É a partir daí que a ideologia da ‘globalização’ – subjacente às políticas neoliberais - é posta como a nova orientação capitalista, considerada como saída para a crise de 1974-1975. Ao mesmo tempo, se desenvolve a ideologia do ‘progresso técnico’, que cultua as novas tecnologias que serão utilizadas pelas corporações transnacionais, através do novo complexo de reestruturação produtiva, para modificar suas relações com os trabalhadores e as organizações sindicais."(ALVES, 1994)

Portanto, só através do complexo de reestruturação produtiva e, principalmente, das políticas neoliberais da "revolução conservadora" de liberalização, desregulamentação e de privatização, com o triunfo do "mercado", que o êxito do capital seria completo. Agora o capital teria forças a se mundializar e de mudar toda as relações existentes de produção e de trabalho.

"Ocorre, a partir daí, mudanças qualitativas nas relações de força política entre o capital e o trabalho, assim como entre o capital e o Estado, em sua forma de ‘Estado de Bem-Estar’. Dá-se uma nova – e precisa - orientação ao processo de internacionalização capitalista, com o capital voltando a ter liberdade para se desenvolver e, principalmente, para se movimentar em âmbito internacional de um país ou continente para outro – liberdade que não desfrutava desde 1914 (...)" (ALVES, 1999)

Depois de constituída, nacional e internacionalmente, a rede – denominada Internet - alcançou uma unicidade das técnicas mundiais, sendo importantíssima para um novo mercado global em potencial, e sendo uma importante determinação da globalização como mundialização do capital:

"(…) É a partir da unicidade das técnicas, da qual o computador é uma peça central, que surge a possibilidade de existir uma finança universal, principal responsável pela imposição da todo um globo de uma mais-valia universal. Sem ela, seria também impossível a atual unicidade do tempo, o acontecer local sendo percebido como um elo do acontecer mundial (SANTOS, 2000:27).

Portanto, nesse contexto, não existe meios de se conceitualizar a Internet e conseqüentemente o ciberespaço como virtualização em rede e como arcabouço técnico de produção e reprodução capitalista sem nos ater às mudanças estruturais ocorridas no capitalismo a partir dos anos 70 e (por conseqüência) a Revolução Informacional dos anos 80. Da mesma forma, é impossível estudarmos o processo de mundialização do capital como novo sistema de acumulação capitalista – com sua economia em rede e sua acumulação flexível – sem nos preocuparmos com a reestruturação e intensificação da produção tecnológica e informacional. Isso porque a própria globalização se baseou nessa tecnologia em rede em sua funcionabilidade: redes de mídia; redes de empresas; redes de comercio; redes econômicas, etc.. A Nova Economia é essencialmente baseada na noção de rede que só foi possível graças à IV Revolução Tecnológica.

]"(...) é uma economia que funciona em redes, em redes descentralizadas dentro de uma empresa, em redes entre empresas, e entre as empresas e suas redes de pequenas e médias empresas subsidiadas." (CASTELLS, 2003:17-18)

Outro produto da IV Revolução Tecnológica é a "informacionabilidade". O emergir de novas tecnologias de informação, tais como a Internet, modificaram o caráter da economia nas duas ultimas décadas. Isso quer dizer que tanto a produção, a produtividade quanto a competitividade – três características fundamentais da chamada Nova Economia – estão intrinsecamente baseadas na informação. Não estamos falando de informação agindo sobre a tecnologia, e sim de tecnologia agindo sobre a informação: a tecnologia usada para gerar, processar e aplicar informações; a informação é hoje, portanto, produto do processo produtivo.

"É informacional e global porque, sob novas condições históricas, a produtividade é gerada, e a concorrência é feita em uma rede global de interação. E ela surgiu no último quartel do século XX porque a Revolução da Tecnologia da Informação fornece a base material indispensável para essa nova economia. É a conexão histórica entre a base de informação/conhecimentos da economia, seu alcance global e a Revolução da Tecnologia da Informação que cria um novo sistema econômico distinto (...) estamos testemunhando um ponto de descontinuidade histórica. A emergência de um novo paradigma tecnológico organizado em torno de novas tecnologias da informação, mais flexíveis e poderosas, possibilita que a própria informação se torne o produto do processo produtivo." (CASTELLS, 1999A:87)

Portanto, a base dessa Nova Economia é justamente o arcabouço tecnológico criado nos anos 80, que inclui a Internet. A idéia de rede só foi possível dentro da economia sob uma base material obtida com os avanços das pesquisas em torno da telemática, da informática e das pesquisas sobre comunicação e novos meios de transmissão de informações. Essa base material tem como maior expressão a Internet e o ciberespaço, uma rede mundial de fluxos de informações e de dados entre homens mediado por computadores:

"Esta economia tem uma base tecnológica. Essa base tecnológica são as tecnologias de informação e comunicação de base microeletrônica, que tem uma forma central de organização cada vez maior, que é a Internet. Internet não é uma tecnologia, e sim uma forma de organização de atividades" (CASTELLS, 2003: 18)

Essas tecnologias de virtualização contribuíram para a constituição de um novo tipo de espaço virtual de fluxos de trocas de mercadorias e investimentos de capitais: a Internet. Com sua formação de rede global, além de suas características de hipermídia, de interatividade, de comunicação e de virtualização, a rede foi apropriada pela lógica da valorização. Um grande exemplo disso é o comercio eletrônico, ou e-commerce. Hoje podemos comprar quase tudo pela Internet: de cds a imóveis .

Mas o e-commerce é um exemplo de utilização da Internet pela industria, mas não é o único e nem o principal. O que caracteriza a apropriação capitalista do ciberespaço vai mais além do que fazer da rede um grande shopping center. Estamos falando de empresas que, ao invés de produzir utilizando a Internet como uma ferramenta midiática, funcionam através da Internet. Empresas de produção/processamento de informações que funcionam e obtém lucro com a venda de informações – como é o caso dos portais como a UOL (Universo on-line) ou a AOL (América On-line) – hoje são comuns, mas representaram uma nova fase de acumulação capitalista baseada na venda de informações. Muitas vezes, empresas como essa nem existem materialmente, ou territorialmente; são empresas exclusivamente virtuais, trabalham em redes desterritorializadas e com um alcance global. Com a crescente demanda das relações na rede surgiu, portanto, um novo tipo de empresa – a empresa informacional - caracterizada pela prestação de serviços especificamente voltados para atender às necessidades da própria distribuição ou produção de informações. São essas empresas especializadas em tecnologias de comunicação (como a Cisco Systems, Inc. , que produz um dos principais equipamentos utilizados na Internet, os roteadores, que muito ajudaram a rápida expansão da rede); empresas especializadas em microeletrônica; além de provedores de acesso, criadores de software, sites de busca, comercio eletrônico, etc.

"(...) este tipo de atividade e de trabalho é generalizado, é de toda a economia e são todas as empresas que estão evoluindo nessa direção. Não se trata somente de que todas utilizem a Internet, senão de que se organizam entorno de uma rede, que estejam eletronicamente conectadas e baseadas na informação. (...) por competição global, as empresas que não funcionem assim serão eliminadas (CASTELLS, 2003:20)

Portanto, expansão da Internet criou novos processos de valorização e um mercado consumidor tanto de bens materiais como imateriais (a informação em si). Essa expansão está, em certa parte, relacionado ao continuo barateamento de instrumentos tecnológicos na medida em que cresceram os investimentos em infra-estrutura de comunicação e na capacidade de processamento de dados dos computadores. Com cada vez mais pessoas usando a WWW, mais informação é naturalmente colocada à disposição dessas pessoas. São empresas divulgando seus produtos e serviços, profissionais autônomos se promovendo, currículos sendo exibidos, páginas pessoais, sites de vendas de produtos e serviços etc. Essa abundância aumenta a concorrência entre as diversas páginas, o que leva todos a quererem melhorar a apresentação de seus sites. Além disso, as empresas produtoras de software, especialmente a Netscape e a Microsoft, em grande disputa pelo explosivo mercado de browsers, cada vez mais os dotaram de recursos avançados, como o JavaScript e as folhas de estilo, outro fator que tem ajudado os sites a se tornarem mais e mais complexos.

 

Arquitetura da Rede

Porém, como indiretamente apontamos acima na história da Internet, a rede nem sempre existiu com interesses comerciais – a Internet não originou-se de um projeto com fins mercadológicos ou empresariais. Como já mencionado, a origem das pesquisas em torno de uma rede mundial mediada por computadores teve influencias do setor de pesquisas militares dos EUA, das pesquisas universitárias e da contracultura dos anos 60. "É, na verdade, uma rara mistura de estratégia militar, grande cooperação cientifica e inovação contracultural" (CASTELLS, 1999A:375). Portanto, há alguns anos, não havia ainda tanta influência das empresas nas instituições que gerem a Internet, que tinha um perfil bem mais acadêmico.

A primeira tentativa de se privatizar a rede foi em 1972, quando o Pentágono ofereceu grátis a ARPAnet à uma empresa americana de tecnologia chamada AT&T, para que esta assumisse e desenvolvesse a rede. Porém, após estudar a proposta, a AT&T não a aceitou alegando que uma rede de computadores como aquela não poderia ser rentável e não via nenhum interesse em comercializa-la (CASTELLS, 1999B). O mesmo descrédito aconteceu anos após com a Microsoft Corporation, empresa de ponta no ramo de softwares e sistemas de rede. Bill Gates, fundador e hoje ex-presidente da empresa chegou a chamar a Internet de "uma bagunça sem real potencial de negócios". Após a percepção de que a Internet era uma grande oportunidade de gerar lucros, as empresas que atuam na área pressionaram e conseguiram fazer parte dos fóruns que regem a rede, tendo neles cada vez mais influência.

Mas a Internet se popularizou muito no meio acadêmico e na contracultura antes de chegar ao grande público. A verdade é que houve um "espírito comunitário" muito forte na criação da rede, que por muito tempo guiou as ações das pessoas. Anteriormente o público da Internet era composto por estudantes e pesquisadores, mais interessados em trocar experiências e satisfazer a curiosidade dos demais do que em usar a rede para auferir lucros. Certamente, até por a Internet ainda hoje se desenvolver a partir de uma arquitetura informática aberta e de livre acesso – os protocolos centrais da Internet TCP/IP, são protocolos que se distribuem gratuitamente e cuja fonte de códigos são acessíveis a qualquer pessoa – esse espírito ainda está presente, muito embora cada vez mais hajam empresas e usuários procurando utilizar a rede com fins comerciais.

Esse espírito da contracultura na criação da Internet esta presente na arquitetura da rede. Sua funcionabilidade, sua auto-regulamentação, sua interatividade e seu caráter global e desterritorializado possibilita outras apropriações da rede baseado em outros interesses sem ser a valorização: desde conhecer um novo amigo ou pesquisar sobre a existência de óvnis até a contestação política.

Primeiramente, a rede é anarquicamente auto-organizada (MARTINEZ, 2003). Vê-se, na Internet, o desenvolvimentos de mecanismos próprios de controle ético-tecnologico por parte dos próprios usuários. Não há algum corpo externo que organiza ou controla a rede (a não ser em casos isolados), se não, um espírito de cooperação por parte dos próprios usuários. A Internet é, na verdade, um conjunto de milhares de computadores, utilizados por pessoas e instituições, interligados. Esses computadores trocam informações entre si por todo o globo terrestre. A motivação para que esse mundo virtual exista e continue crescendo vem de todas as partes envolvidas e a organização necessária para isso é mantida por dezenas de instituições e comitês, criados pelos usuários e governos com essa finalidade.

Outros dois pontos que caracterizam a arquitetura da rede são: a desconstrução do tempo (sincronização e intemporaneidade) e do espaço (interconexão e desterritorialização), podendo até mesmo existir uma unidade de tempo sem uma unidade de espaço, ou uma pluralidade de tempos espaços. "A virtualização inventa, no gasto e no risco, velocidades qualitativamente novas, espaços-tempos mutantes" (LÉVY, 1994:54).

"(...), o novo sistema de comunicação transforma radicalmente o espaço e o tempo, as dimensões fundamentais da vida humana. Localidades ficam despojadas de seu sentido cultural, histórico e geográfico e reintegram-se em redes funcionais ou de colagem de imagens, ocasionando um espaço de fluxos que substitui o espaço dos lugares. O tempo é apagado no novo sistema de comunicação já que passado, presente e futuro podem ser programados para interagir entre si na mesma mensagem. O espaço de fluxos e o tempo intemporal são as bases principais de uma nova cultura, que transcende e inclui a diversidade dos sistemas de representação historicamente transmitidos: a cultura da virtualidade real, onde o faz-de-conta vai se tornando realidade". (CASTELLS, 1999A: 398)

Essa desconstrução do tempo, pode ser observada em uma videoconferência, por exemplo, onde vários tempos diferentes se convergem em um só. Foi criado até, para a Internet, uma medida de tempo nova e universal, o @, ou Internet Time. A fabricante de relógios Swatch (www.swatch.com), da suíça, lançou em 1999 um modelo que continha o Internet time, chamado .beat. O Internet time funciona dividindo um dia (24 horas) em mil @ (beat, medida de tempo do Internet Time). É o que vale dizer que um @ equivale a 1 minuto e 24,6 segundos (SWATCH)

A desconstrução do espaço pode ser observada em uma sala de bate papo, onde todos os lugares se convergem no ciberespaço desterritorializado. Assim sendo, essa "sala" não está em lugar físico algum, esta em uma inexistência de localidade. Por esse motivo podemos desatrelar o tempo (real ou virtual) do espaço físico (inexistente)

Essa desterritorialização tem haver com a não materialidade física. No ciberespaço, tudo que existe não é matéria (a não ser cabos, fios, roteadores ou computadores), e sim combinações de códigos binários convertidos em impulsos digitais. A informação em si, a presença em alguma sala de bate papo, ou um site hospedado na rede não estão em lugar algum, senão em um não-lugar ou em todos os lugares conectados. Pois tudo que esta na rede esta passa a ser global, pela sua própria estrutura. Por qual outra razão posso eu, em Marília, encontrar algum escocês em uma sala de Bate-papo, ou "conhecer" museus ou cidades de algum país longínquo sem sair de minha casa?

"Do ponto de vista do Ciberespaço a localização geográfica é irrelevante: toda informação pode chegar a qualquer lugar. A única referencia física é o hard-drive (disco rígido) do computador, onde esta contida informação – ainda que este pode ter sua informação copiada ou ser movido com facilidade através das fronteiras. " (MACHADO, 2002:49)

O que queremos dizer é que o caráter inerentemente desterritorializado da rede tem possibilitado novas formas de sociabilidade, intercâmbios econômicos, ativismo político e manifestações culturais, de tal forma que conceitos como territorialidade, soberania e cidadania precisam ser reconfigurados.

Além disso, essa arquitetura da rede limita e muito a ação dos governos sobre ela. O controle total da rede por algum órgão externo torna-se praticamente impossível. Tentativas de territorializar a rede para nela aplicar códigos de leis de um certo Estado foram frustradas em algum ponto.

" (...) as tentativas de controle (da rede) se multiplicam e a liberdade da rede é vista por muitos governos e corporações como uma seria ameaça devido às mais diversas motivações: seja pelos conteúdos considerados moralmente ofensivo; ou pela facilidade que grupos políticos e ideológicos anti-stablishment se manifestam na rede; pela dificuldade em controlar as transações financeiras; pela facilidade da reprodução digital (propriedade intelectual); ou quaisquer tipos de pratica que podem ser consideradas em diferentes territórios e governos como criminosas e ilegais, a rede tem se tornado a vilã das legislações, a ‘brecha’ pela qual qualquer regra pode ser violada." (MACHADO, 2002: 44)

Como já mencionado antes, o que esta na rede é global. Sua estrutura baseada em trocas de pacotes e sua característica descentralizada torna a censura apenas uma falha técnica da rede, podendo encontrar outras vias de transmissão de informação evitando a via censurada.

Um grande exemplo disso é um site brasileiro de humor (cocadaboa) que, quando censurado no Brasil pelo seu servidor (o servidor de sites é a única forma de se censurar um site), esta foi hospedada em um servidor finlandês. Desta forma, seu material continua sendo exposto na rede sem nenhum problema, impossibilitando o governo brasileiro de tomar alguma precaução a esse respeito, pois o provedor que hospeda o cocadaboa esta em outro território e segue outra legislação.

"Assim, apesar de todos os esforços para regular, privatizar e comercializar a Internet e seus sistemas tributários, as redes de CMC [Comunicação Mediada por Computadores], dentro e fora da Internet, tem como características: penetrabilidade, descentralização multifacetada e flexibilidade. Em sua imagem biológica, Rheingold diz que elas se alastram como colônias de microorganismos. Com certeza refletirão interesses comerciais à medida que estenderem a lógica controladora das maiores organizações publicas e privadas para toda a esfera da comunicação. Mas, diferentemente da mídia de massa da Galáxia de McLuhan, elas tem propriedade de interatividade e individualização tecnológica e culturalmente embutidas" (CASTELLS, 1999:381)

É o que sugere Antonio Negri e Michael Hardt, em sua obra Império, quando caracteriza a Internet como um produto híbrido de um modelo democrático e um modelo oligopolista.O modelo de rede oligopolista tem como característica a difusão, a mesma característica que utiliza os meios tradicionais de comunicação, tais como a televisão, o rádio ou os jornais. Por difusão entende-se que exista um ponto único e relativamente fixo de transmissão e pontos de recepção praticamente infinitos. Esse modelo é definido pela produção centralizada, pela distribuição em massa e pela comunicação de mão única.

O modelo democrático, argumentam os autores, é caracterizado por ser completamente horizontal e descentralizada, e tem como principal exemplo a estrutura que começou com o projeto da DARPA. Essa característica inerente à rede democrática possibilita a conexão e comunicação de números ilimitados de nós sem um ponto central. Cada nó, independente de localização territorial, se conecta a todos os demais através de uma imensa quantidade de rotas. "Este modelo democrático é o que Deleuse e Guattari chamam de rizoma, uma estrutura de rede não-hierárquica e não-centralizada" (HARDT & NEGRI, 2001:320), diferente do modelo oligopolista, que não é um rizoma mas uma estrutura em forma de árvore, "que subordina todos os galhos à raiz central" (HARDT & NEGRI, 2001: 320).

A mesma distinção é apresentada no livro TAZ – Zona Autônoma Temporária, de Hakim Bey. Em um dos livros mais lidos pela nova geração contracultural, o autor pretende – apropriando-se desde Guy Debord até de utopias piratas – apresentar um novo tipo de ação direta baseadas em zonas que aparecem, desaparecem e reaparecem em outro lugar, evitando a intervenção esmagadora de um Estado terminal – "esta megacorporação/Estado de informações, o império do Espetáculo e da Simulação" (BEY, 2001:16) – justamente por ser indefinível pelos termos do Espetáculo.

Com essa proposta, o autor distingue Internet de web e de contra-net. Da mesma forma, ele caracteriza a Internet, ou apenas net como uma totalidade de todas as transferências de informações e de dados. Porém, o autor acredita que nessa totalidade existe uma outra rede, de estrutura aberta, alternada, horizontal e não-hierárquica de trocas de informações, que ele designa de web. Há também, um uso clandestino, ilegal e rebelde da web, incluindo pirataria de dados e outras formas de parasitar a própria web, que o autor chama de contra-net.

"A net, a web e a contra-net são partes de um mesmo complexo, e se mesclam em inúmeros pontos. Esses termos não foram criados para definir áreas, mas para sugerir tendências" (BEY, 2001: 32)

O autor faz essa distinção justamente por acreditar que a web é capaz de fornecer não apenas um apoio logístico à TAZ, mas sim ajuda a cria-la, garantindo-a uma duração e uma localização (mesmo sendo virtual).

"(...) devemos considerar a web fundamentalmente como um sistema de suporte, capaz de transmitir informações de uma TAZ a outra, ou defender a TAZ, tornando-a ‘invisivel’ ou dando-lhes garras, conforme a situação exigir. Porém mais do que isso: se a TAZ é um acampamento nômade, então a web ajuda a criar canções, genealogias e lendas da tribo. Ela fornece as trilhas de assalto e as rotas secretas que compõem o fluxo da economia tribal" (BEY, 2001: 33)

Portanto, o que queremos demonstrar é que a arquitetura existente na rede permitem outros meios de utilização da Internet além da utilização mercadológica, e que já haviam esses outros tipos de utilização muito antes da rede ser apropriada pelas empresas. Muito além de ser um suporte empresarial, a Internet é "um campo de integração difusa e flexível dos fluxos de informações e de comunicação entre máquinas computadorizadas, um complexo mediador entre homens baseado totalmente em dispositivos técnicos, um novo espaço de interação (e de controle) sócio-humano criado pelas novas máquinas e seus protocolos de comunicação e que tende a ser a extensão virtual do espaço social propriamente dito." (ALVES, 2003:127),.

Giovanni Alves prolonga essa discussão ao apresentar dialeticamente o processo de criação e apropriação do ciberespaço. Ele argumenta que a dialética presente no ciberespaço é a própria contradição entre as promessas contidas nas forças humano-genericas de virtualização pela tecnologia em rede e o capital, que tende a frustrar essa promessa como um pressuposto negado.

O autor também acredita – como os autores já citados – que há dois tipos de apropriação da rede: a apropriação social pelo homem e a apropriação mercantil, pelo capital. Porém, ele argumenta que a apropriação mercantil da rede – que a usa para intensificar seu fluxo de produção e a exploração do trabalho – tende a frustrar a apropriação social da rede no sentido de uma superação da ordem capitalista pelo avanço tecnológico.

Ele apresenta o ciberespaço como:

"campo de sociabilidade socialmente construído através da técnica como tecnologia de informação e comunicação como a forma material da cooperação complexa. Ela, a cooperação complexa, implica uma nova base técnica que coloca, como matéria viva, a possibilidade real-objetiva do desenvolvimento de uma sociabilidade emancipadora do ser humano-generico, para alem do capital como sistema de controle sócio-metabólico. Neste caso, é possível dizer que o ciberespaço tende a representar a ultima utopia técnica da pos-modernidade do capital."(ALVES, 2002: 122)

Porém, ele adverte que "as promessas da Internet – e das novas tecnologias de comunicação humana – tendem a ser frustradas pelo capital. Por exemplo: com tal arcabouço midiático o sonho de uma democracia radical, de uma democracia direta imaginada pelo filosófo Jean-Jacques Rousseau, no século XVIII, poderia tornar-se realidade sócio-histórica. Existe, pela primeira vez na história humana, uma base tecnológica capaz de viabilizar tal utopia da democracia radical. Só que não convém à lógica do capital, que homens e mulheres possam participar, diretamente, das decisões que afetam suas vidas. Seria subverter as regras do "jogo democrático", tal como concebido pelos liberais." (ALVES, 1999B).

Torna-se claro que a Internet, com sua proposta emancipadora se contrasta com a exclusão digital e as formas "alienadas" de interação sócio-humana. É dessa forma que a apropriação mercadológica da rede nega a superação do homem-generico. A virtualização em rede – pressuposto ontológico do ser-social com o progresso técnico/tecnológico – aparece aqui, sob o sistema sócio-metabolico do capital, como formas fetichizadas ou estranhadas de sociabilidade. Além do que, sob esse ponto de vista, a rede esta sendo mais usada como exclusão (conectados e não conectados), do que como uma totalidade.

Mas isso não impede a já citada apropriação da rede pelo homem (pois é sobre essa apropriação que essa pesquisa esta se desenvolvendo), no sentido de que é através dela que se desenvolvem novas formas de interação social e de ativismo político e cultural.

Isso porque que a arquitetura da Internet como modelo democrático, ou web – resquícios do espírito cooperativo da rede como o projeto da DARPA - criou, na rede um novo tipo de interação e uma grande democratização do espaço virtual. Nunca houve antes um espaço público (virtual ou não) que desse vozes a milhões de pessoas que precisavam ou queriam ser ouvidas. Pessoas que encontraram, na base material da mundialização e financeirização do capital, espaço para manifestar a insatisfação para com esse próprio mundo, revertendo a seu favor uma ferramenta econômica capitalista. Essa democracia se da pela capacidade de disponibilidade e de interação de idéias em qualquer espaço tempo, universalizando as visões de mundo mais díspares entre si, sem favorecer pensamentos únicos ou domínios por coerção.

"Ainda que atualmente só uma parte minoritária da população global tenha acesso à rede (...), a Internet se constitui cada vez mais como um novo espaço público - democrático por essência e livre por sua concepção – onde, de fato, começa a surgir uma espécie de cidadão global, cosmopolita (...). Por ser um espaço não configurado, desterritorializado e conceitualmente livre também das imposições do mundo real, das ditaduras, dos fanatismos de toda a espécie – embora estes também tenham a liberdade de se manifestar nele – e, principalmente, das fronteiras de todo tipo que o dividem do mundo real, o Ciberespaço permite novas vivências, permite aspirar as novas formas de participação política, interação e participação social, intercâmbios culturais e integração cooperativa de cidadãos – que de outra forma dificilmente poderiam chegar a se conhecer, a poder se expressar e se organizar globalmente. " (MACHADO, 2004: 72)

É sobre o espectro dessa apropriação social da rede que esse estudo esta sendo feito: de sua concretização do virtual para o real e do real para o virtual. A Internet não como um grande mercado global ou uma mundialização de uma economia cibernética, mas o ciberespaço como ferramenta e espaço democrático, como um amplo canal aberto de comunicação com a sociedade, e essa ferramenta sendo usada por movimentos sociais-políticos concretos.

 

Ciberespaço e contestação política

Estudaremos a Internet como uma nova mídia, telemática, democrática e descentralizada de rápida difusão multidimensional de idéias, ideologias, manifestos.... Um novo espaço público e uma ferramenta funcional, se tornando uma grande rede social que favorece processos tecno-comunicacionais de participação política.

Movimentos sociais, ativistas, movimentos políticos, todos os segmentos da sociedade que buscam uma voz em meio a essa própria sociedade, encontraram na Internet essa democracia tecno-comunicacional. O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, o Exército Zapatista de Libertação Nacional, o Greenpeace, o Movimento Anarco Punk de São Paulo, todos estes e mais milhões de vozes encontraram, na web, um espaço de comutação, exposição e criticas de idéias.

Foi com essa intenção que o Exército Zapatista de Libertação Nacional aderiu a Internet, na primavera de 1994. E no documento convocatório do Encontro Intercontinental pela Humanidade e contra o Neoliberalismo, o Movimento Zapatista acentuou a importância do ciberespaço para os movimentos contra-hegemônicos: "Aprendamos a ganhar espaços. As mídias não podem tudo. Busquemos a tecnologia e o poder: a superestrada da informação como caminho da liberdade. Maquinas a favor dos povos. O conhecimento é poder, poder para nós". E logo depois, na Segunda Declaração pela Humanidade e contra o Neoliberalismo, aprovada no Encontro, os zapatistas abordam novamente a questão declarando:

"Faremos uma rede de comunicação entre todas as nossas lutas e resistências. Uma rede intercontinental de resistência, de comunicação alternativa contra o neoliberalismo e pela humanidade. Esta rede buscará os canais para que a palavra caminhe pelos caminhos que resistem. Será o meio para que se comuniquem entre si as distintas resistências. Essa rede não é uma estrutura organizativa, não tem centro diretor nem decisório, nem comando central ou hierárquico. A rede somos todos nós que falamos e escutamos" (CLEAVER).

Assim se criou a homepage do EZLN (www.elzn.org) que é um eixo de convergência da solidariedade internacional à causa zapatista, quase uma comunidade zapatista desterritorializada.

Mas, muito mais que uma rede de comunicação de resistência, a Internet pode oferecer ferramentas para ser ela a própria resistência. Um grande exemplo foi a Virtual March on Washington (www.winwithoutwar.com), que organizou, no dia 26 de fevereiro de 2003, um bombardeio de e-mails na caixa de entrada do conselho de defesa norte americano, a favor de suspender a ameaça de ataque ao Iraque. Alem disso, organizaram também envio de faxes e ligações telefônicas à Casa Branca.

Mas a maior ferramenta que o ciberespaço pode oferecer a grupos anti-hegemônicos e anti-capitalistas, e a que será mais explorada neste trabalho, é a ferramenta de mídia comunicacional. O ciberespaço revolucionou toda noção de mídia como comunicação. Alem de unir – e aperfeiçoar – todas as mídias já existentes – TV, Rádio, Jornal – como uma hipermídia, criou uma mídia totalmente nova, interativa, hipertextual e global. Destruiu a verticalidade e o difusionismo existente entre o receptor e o transmissor da mensagem, horizontalizando essa relação, onde o receptor pode ser o transmissor de uma mensagem e o receptor pode ser o transmissor de uma outra mensagem ou de uma crítica a essa mesma mensagem. Essas formas participativas e dialógicas que irrompem no ciberespaço acabam com a metáfora do Big Brother que dominou a teoria crítica da comunicação. Big Brother, ou Grande Irmão, é um personagem da obra de George Orwell 1984, the Big Brother is watching you, onde esse enigmático personagem era um grande ditador de uma sociedade e controlava-a por meio das "teletelas", imensos monitores, de emissão e captação de imagens ligados 24 horas por dia onde esse ditador controlava e vigiava toda essa sociedade (MORAES). Metáfora encarnada dado ao poder quase absoluto de divulgar informações que as mídias estáticas julguem relevantes.

A respeito dessa verticalidade do ciberespaço como mídia comunicativa, o coordenador do MST Neuri Rosseto argumenta:

"O fato de as forças progressistas terem seus próprios canais de comunicação possibilita-nos uma maior credibilidade, uma vez que as notícias neles veiculadas estão sob a ótica das próprias forças progressistas, sem filtragem, censura ou deturpação dos fatos. Uma coisa é ler uma notícia sobre a política de privatizações em um meio de difusão controlado ou influenciado pelo governo, que tem todo o interesse em promove-las. Outra é ler essa mesma notícia sob a ótica de quem se opõe a tal política. Nesse sentido, uma home-page feita pelas forças progressistas possibilita, e muito, a divulgação de seus pontos de vista. Os meios de comunicação massiva funcionam como uma espécie de filtro entre o que deve ser noticiado, destacado ou deturpado e ocultado. A Internet rompe com essa intermediação. Por isso, pode facilitar que os agentes das notícias também sejam os agentes que fazem esse acontecimento chegar até o conhecimento da sociedade" (MORAES).

O que Rosseto argumentou é que a Internet dá espaço para que as próprias forças anti-hegemonicas se tornem mídias comunicativas, sem passar pela censura ou pela não idoneidade da mídia corporativista estática.

É sobre esse aspecto do ciberespaço que a Centro de Mídia Independente (CMI) – estudo de caso desse trabalho – age, desvinculando o poder comunicacional das mídias corporativistas. Veremos a CMI como um fruto de uma globalização imperialista - como todo o movimento antiglobalização - agindo contra todo esse mercado global e democratizando o poder midiático na rede.

Estudaremos a origem da CMI, sua forma organizacional e seus objetivos. Estudaremos como a Centro de Mídia Independente usa a ferramenta do ciberespaço como subversão às forças destrutivas da globalização.

É o que observa Noam Chomsky, Lingüista e crítico social americano, comentando o papel do CMI na construção de alternativas à mídia empresarial:

"Nos últimos anos tem havido um crescente descontentamento com o aumento da concentração da mídia global, a exclusão virtual de vastos setores da população mundial, a diluição da substância e do conteúdo e o que muitos vêem - com razão, penso eu - como um estreitamento e enrijecimento que marginalizam questões de interesse crítico para muitas pessoas, provavelmente para a grande maioria. Esses problemas são verdadeiros. A forma mais construtiva de enfrentá-los é desenvolver alternativas que respondam às preocupações populares com uma ampla participação e reportagem e comentário qualificado. O CMI assumiu essa tarefa com energia, dedicação e comprometimento e conseguiu resultados que são verdadeiramente impressionantes. Ele se tornou uma fonte de informação e análise que dificilmente se encontram em outra parte e adquiriu uma reputação merecida de confiabilidade, competência e compreensão dos acontecimentos. Cada vez mais as pessoas procuram a CMI para ajudar a entender o mundo na qual elas vivem e para enfrentar as importantes questões que as preocupam profundamente e que lhe parecem - com toda razão - ser tratadas pelos sistemas de mídia dominantes de forma a refletir os interesses do poder concentrado, ao invés de seu próprio interesse. O CMI já demonstrou quanto pode ser conseguido com recursos muito limitados. O potencial é grande, a necessidade imensurável". (CHOMSKY)

O Centro de Mídia Independente (CMI) é uma rede internacional de produtores independentes de mídia que buscam ser uma fonte alternativa para fornecimento de informações, desvinculada de qualquer interesse corporativo. Uma fonte independente e autônoma portanto. O CMI está preocupado e comprometido com a construção de uma sociedade livre, igualitária e que respeite o meio ambiente.

Existe, ao todo, cerca de 150 CMIs em aproximadamente de 50 países, todos se auto-ajudando mas trabalhando autonomamente, de forma horizontal (anti-hierárquica), apartidária e tendo como princípio a democracia direta e a liberdade de expressão. Nessa rede, cada CMI é responsável por sua localidade, tendo total autonomia sobre sua política

A rede do Centro de Mídia Independente surgiu no esforço de centenas de produtores independentes de mídia de todo mundo que juntos promoviam fóruns a respeito do papel da mídia e debatiam importantes publicações sociais e políticas. Centenas de mídia-ativistas, muitos que já trabalhavam para desenvolver uma mídia alternativa, ativa em suas próprias organizações como uma opção à mass media corporativa - entre eles Dan Merkle e as agencias alternativas de noticias como Paper Tiger, Deep Dish, Headwaters Video Collective, Sleeping Giant, Changing America, Speak Easy, Free Speech TV e outros – se organizaram para que em Novembro de 1999, em Seattle, fizessem uma cobertura dos protestos contra o encontro da Organização Mundial do Comercio. Quando ocorreu o encontro, centenas de jornalistas e milhares de protestantes lotaram a cidade. Os jornalistas representavam, em sua maioria, um punhado de organizações de mídia corporativa, quando os protestantes representavam diversos grupos interessados em queixar-se contra a OMC e suas políticas.

O Centro de Mídia Independente é, portanto, uma rede de ativistas de mídia, uma organização midiática global, uma rede de coletivos locais de mídia, uma resistência contra a mídia corporativa e contra a globalização econômica, como pertencente aos movimentos anti-globalização e um grande canal de mídia.

Como uma rede de ativistas de mídia, os voluntários do CMI produzem vários projetos midiáticos como reportagens globais (pode-se ver as reportagens do coletivo global na coluna do meio do site www.indymedia.org) além de vários vídeos ou arquivos de áudio.

Como uma organização midiática global, o Indymedia funciona como uma organização técnica de rede. Disponibiliza aos coletivos locais uma serie de suportes tecnológicos na Internet, alem de ter um eficiente corpo de voluntários técnicos e programadores, os techs, que gastaram horas de trabalho voluntário para adaptar a tecnologia de software livre às necessidades do CMI, e esse processo também incorporou valores - livre circulação de informação, transparência no projeto e colaboração – do movimento de software livre na cultura do CMI.

Como resistência contra a mídia corporativa, o CMI vem estabelecendo debates sobre a idoneidade da mídia corporativa, pretendendo ser um forma independente de mídia como uma opção à "grande mídia", além de participar do Movimento pela Justiça Social nos movimentos anti-globalização, participando como jornalistas e ativistas nos protestos.

Portanto, ao mesmo tempo que a critica às mídias corporativas vem crescendo junto com a política de publicação aberta, o CMI sempre teve uma ativa cobertura de pontos de vistas alternativos e teve sucesso ao usar a Internet para transmitir noticias. A rede CMI se apropria das tecnologias de informação de uma forma imprevisível pelo mundo corporativo, promovendo uma saída para um monte de grupos descontentes e inconformados afim de escreverem matérias com diferentes versões àquela publicada no mass mídia.

Com essa política, o CMI encontra, no ciberespaço, um espaço para democratizar informação e os processos dentro do próprio CMI. O processo de publicação aberta do site, os comentários de cada noticia, até toda a forma organizacional da rede CMI só é possível no arcabouço midiatico existente nas tecnologias em rede e na Internet.

O Ciberespaço e as tecnologias em rede também foram essenciais no desenvolvimento organizacional da rede. É por meio virtual que acontece quase todas as reuniões e discussões do CMI. Seja por listas de discussão regional, nacional ou global, por chats ou por e-mail, quase todas as questões da organização da rede foram formadas e discutidas no ciberespaço. O grupo utiliza dos meios comunicacionais da Internet para discutir e resolver tudo aquilo que está longe da escala local – pois tudo o que é feito localmente geralmente é decidido nas reuniões do grupo que não são virtuais.

Porém, o CMI não é um grupo de ciberativismo clássico, pois nem toda ação do Indymedia é online. O trabalho do CMI inclui a nova e a velha mídia: comunicação física, panfletagem, artes de rua, radio, vídeo e o website. Tanto o CMI global quanto os coletivos locais agem fora do ciberespaço. No CMI-Brasil, temos vários exemplos dessas ações e projetos não-virtuais: o coletivo do Rio de Janeiro, por exemplo, produziu vídeos como o "Não começou em Seattle, não vai terminar em Quebec", sobre os protestos ocorridos no dia 20 de abril de 2001 em São Paulo e "Anita Garibaldi", sobre o acampamento Anita Garibaldi, a maior ocupação da América Latina que fica em Guarulhos. Em Fortaleza há o Mural CMI, em Porto Alegre há a oficina de repórteres populares. Em São Paulo há a edição esporádica do jornal Ação Direta, o CMI na Rua que é uma compilação de matérias publicadas no site, impressas em folha A3 e coladas pelas ruas. Há também um cibercafé no centro de São Paulo montado com computadores doados ou comprados em leilão que oferece acesso gratuito à rede.

Consideramos neste trabalho a formação das novas tecnologias como um momento do processo de mundialização do capital, pois foram sobre as estruturas em rede das novas tecnologias que se erigiu base técnica para o funcionamento em rede na Nova Economia. Sua arquitetura global e rizômica, sua interatividade, sua unicidade de tempo e espaço fizeram do Ciberespaço o alicerce organizacional de novas empresas, interessadas na acumulação capitalista em um novo mercado global e virtual de rápido fluxos de informações.

Houve, assim, a apropriação capitalista do Ciberespaço e de todas as tecnologias de informação. Foi a união entre o capital e a ciência como tecnologia. Todo desenvolvimento de uma rede mundial de computadores desenvolvidas a partir da mundialização do capital tiveram, em sua finalidade, o interesse de novos processos de valorização em um novo mercado de consumidores de bens materiais ou imateriais.

Porém, o que esse trabalho buscou investigar foi uma outra forma de apropriação da tecnologia: a apropriação humana da Internet. Baseados em sua arquitetura relativamente democrática, sua característica de protocolo aberto, por sua interatividade, até por sua estrutura rizômica - características que foram desenvolvidos antes mesmo da apropriação capitalista do Ciberespaço, quando a rede era desenvolvida por acadêmicos e voluntários – e pela crescente informacionabilidade e alcance dessa rede, movimentos sociais e indivíduos se apropriaram da rede como nova forma de interação social e de ativismo político e cultural.

Isso significa uma inversão de valores e finalidades da própria tecnologia: a mesma base tecnológica criada e usada para fins de valorização, como um novo espaço da organização, produção e reprodução da Nova Economia capitalista é também usada como a base organizacional e comunicacional de novos movimentos que lutam justamente contra essa produção e reprodução capitalista.

É assim que age o Centro de Mídia Independente, estudo de caso desse trabalho como um exemplo dessa apropriação humana do Ciberespaço. O CMI se organiza e age dentro do Ciberespaço, utilizando-o como uma ferramenta valida na contestação da ordem atual. Como pertencente aos novos movimentos sociais intitulados "anti-globalização", ele se apropria da Internet buscando a construção de uma nova sociedade, igualitária, horizontal e livre de interesses financeiros.

Raoul Vaneigem, um dos membros da Internacional Situacionista, em 1962 escreveu:

"Conhecemos o campo de batalha. O problema é preparar o combate antes que o patafísico, armado com sua totalidade sem técnica, e o cibernético, armado com sua técnica sem totalidade, consumam seu coito político." (VANEIGEM, 2002)

Pois bem, esse coito já foi consumado. A Internet hoje, como um espaço de consumo de mercadorias, é justamente a filha desse coito: da tecnologia com o capitalismo. Porém, o que esse trabalho procurou ressaltar, foi a possibilidade e a necessidade de continuar esse combate, no mesmo campo de batalha. A Internet é uma realidade; sua arquitetura é uma realidade, portanto, não deve-se ignorar a potencialidade real desta como forma de contestação e atuação política. Não deve-se deixa-la a favor dos interesses que já as dominam enquanto esta se mostrar uma via valida de organização e formação de uma crítica à esses interesses.

Portanto, concluímos esse trabalho com a certeza de que há realmente uma potencialidade contestatória na rede, e com a urgência da necessidade da utilização dessa potencialidade para o bem comum e para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

 

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 "Este artículo es obra original de Leonardo Ribeiro da Cruz y su publicación inicial procede del II Congreso Online del Observatorio para la CiberSociedad: http://www.cibersociedad.net/congres2004/index_es.html"

 

Leonardo Ribeiro da Cruz
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