Cibersociedade, cibercultura e sensibilidade apocalíptica

 

 

ABSTRACT

Este texto tem como objetivo a análise dos conteúdos de um conjunto de referências virtuais que abordam a eventualidade de ocorrência de uma superepidemia que, para alguns, mostra-se como prenunciadora do apocalipse. Nesse sentido, o olhar antropológico torna-se fundamental como estratégia de entendimento e o cruzamento de fantes, tanto virtuais como \'tradicionais\' busca revelar o que de humano existe em um momente em que a cibercultura é tida como encaminhadora de um novo antihumanismo.

A definição de um novo momento histórico, pautado pela preponderância e disseminação de novas tecnologias, sobretudo na área da Comunicação, desdobra-se na multiplicação de questionamentos sobre o teor das novas redes de sociabilidade vigentes em um mundo tomado por rápidas e sucessivas mutações em todos os setores da vida humana. Nesse processo, a cibersociedade pode ser entendida como uma série de estratégias originais de convívio coletivo em um contexto regido por ‘super-máquinas’, implicando também na redefinição das articulações culturais que, em conjunto, constituem a cibercultura.

A abertura de um tempo novo, emblematizado pela cibersociedade, tem permitido o afloramento de dois tipos de percepções críticas que guardam sensíveis semelhanças com as tendências assinaladas já faz quatro décadas por Umberto Eco (2001) e desde então rotuladas como compostas pelos ‘apocalípticos’ e pelos ‘integrados’. Hoje, os ‘prometeicos’ empenham-se em realizar a apologia de um vislumbrado ‘progresso humano’ que, alimentado pelos novos suportes técnico-científicos, estaria contribuindo decisivamente para a emancipação humana (Lévy, 1996). Os ‘fáusticos’, pelo contrário, incorporam uma tradição no mínimo bicentenária ao denunciarem o desenvolvimento tecnológico como potencialmente deletério, ressaltando que o viver sob o primado cada vez mais amplo das máquinas incorre no perigo de preterir-se o personagem humano em prol da própria tecnologia. Ainda mais, tal situação estaria formatando uma cultura desqualificadora da tradição histórica, relativizadora das coordenadas espaço-temporais e que ao subordinar o real ao virtual, estaria contribuindo em seus filigramas para o aviltamento do próprio espírito humano (Rüdiger, 2003).

É importante registrar que tanto o florescimento da cibersociedade quanto as críticas que esse processo suscita têm em comum um mesmo berço: uma sociedade que ao mesmo tempo em que festeja um futuro promissor, também padece de profundas incertezas sobre o porvir, inserindo na pauta de seus debates inclusive as chances da continuidade da vida social e o futuro da existência biológica humana como uma realidade concreta. A chamada ‘alta modernidade’ tem colocado em destaque as dúvidas, ansiedades e temores alimentados pela ‘nova (des)ordem mundial’ e que afetam tanto o indivíduo quanto a sociedade e seus mecanismos de funcionamento. A experiência de se viver em um momento no qual a idéia de segurança apresenta-se cada vez mais esmaecida favorece a percepção de que a cada instante todos nós nos deparamos com riscos que até a bem pouco tempo atrás eram considerados inimagináveis. Nutre-se a sensação de que praticamente tudo e todos tornaram-se alvos de renovadas desconfianças: o círculo íntimo de sociabilidade, as pessoas desconhecidas ou tributárias de outras culturas e/ou ideologias, os partidos políticos, os governos nacionais, os bioterroristas, os cientistas, a ciência e a tecnologia, os produtos consumidos no cotidiano, o ambiente urbano, as enfermidades emergentes, os fundamentos da nossa própria cultura e, por fim, a natureza e o ‘universo exterior’. Esta situação tem favorecido profundas redefinições comportamentais em todos os setores da existência humana, oferecendo oportunidades para a constituição de novas identidades ou, em outros termos, de perfis afinados com o Homem pós-moderno (Giddens, 2002; Hall, 2004).

Uma das conseqüências desse estado de sentimento, que pode ser definido como de verdadeiro desamparo, permitiu que a cultura engendrada a partir do esmorecimento da Guerra Fria concedesse novo vigor às expressões que se aproximam dos enfoques catastróficos. De maneira ainda insuficientemente estudada, tem ganhado relevância uma nova ‘sensibilidade apocalíptica’ (Kermode, 2000) que, apesar de guardar a tradição estrutural de antigas expressões míticas prenunciadoras do final dos tempos ou pelo menos da extinção de uma significativa parcela da população mundial, tem revisto seus conteúdos, buscando com isto refletir as atuais apreensões sobre o destino que nos está reservado. Nessa cirurgia, que recobre de nova validade as noções de sina e destino, o tempo futuro – próximo ou distante – torna-se matéria de invocação constante, favorecendo a produção de uma multiplicidade de discursos que impregnam a cultura contemporânea e se disseminam por todos os canais de comunicação, não sendo mais tema quase exclusivo das pregações religiosas.

Frente a estas constatações, o objetivo deste texto é, através de uma ótica predominantemente antropológica, analisar o conteúdo das mensagens de teores catastróficos que, de maneira pouco disfarçada, articulam alertas nas malhas da cibercultura, assim como os registros que tentam de alguma maneira negar que o mundo que conhecemos esteja correndo um risco de parcial ou total destruição. Em um cenário pontuado por pronunciamentos contraditórios, que em certos momentos buscam amalgamar-se, é significativo perceber que, para alguns cibernautas anunciadores de um futuro trágico, a própria cultura promovida pela rede constitui-se como uma das peças centrais que, pela pretensa irracionalidade e desvalorização do ser humano, contribuirá para o advento do apocalipse (1) .

O principal entrave para um estudo mais aprofundado do tema reside no grande volume do material disponível no ciberespaço; somente no portal Google norte-americano foram encontrados mais de 607 mil sites dedicados exclusivamente ao apocalipse, número que pode se elevar a vários milhões se acrescentados os sites que atestam a proximidade de guerras nucleares ou biológicas, o descongelamentos dos oceanos que resultariam na destruição das metrópoles localizadas nas regiões litorâneas, uma nova era glacial, a possibilidade de que o nosso planeta seja drasticamente afetado pelo choque com um objeto sideral de grandes dimensões, o advento de uma nova e incontrolável doença infecto-contagiosa ou ainda o puro descaso, ganância ou incapacidade dos líderes nacionais e internacionais em concederem respostas mais racionais para vários desafios, como os gerados pela poluição e pela necessidade de preservação das florestas tropicais. Devido a isto, optou-se nesse texto pela análise de um número restrito de registros, adotando-se o critério de enfoque das mensagens que se reportam a uma grande catástrofe como resultado da disseminação de mortais enfermidades.

Procedido ao recorte temático, resta ainda uma outra questão: apesar da amplitude da cibercultura, pensada inclusive como um modelo tecnológico de cultura que compreende ‘linguagens estruturadas e estruturantes, sujeitas a mudanças constantes’ (Trivinho, 2001:62), esta nova dimensão cultural ainda não dispõe de uma estratégia segura e regular que vialize um conhecimento disseminado e comum para a inclusão de todos ou, pelo menos, da maioria da população no território virtual. A ausência de uma ‘ciberalfabetização’ coletiva define o momento de transição vivenciado, impondo que tanto aqueles que ainda não têm acesso ao ciberespaço quanto os próprios cibernautas busquem conhecimentos em diferentes canais midiáticos que, por isso, concorrem entre si pela atenção/consumo do público (Dizard Jr, 2000). Em consequência, este texto privilegia as informações e visões do futuro próximo veiculadas pela web, mas não se confina exclusivamente aos conteúdos virtuais, estabelecendo como objetivo secundário perceber os elos de continuidade e possíveis rupturas entre os conteúdos veiculados pelos canais ‘tradicionais’ e os que são oferecidos pelas novas tecnologias de comunicação.

 

Um paradigma contemporâneo de um grande medo

As doenças coletivas, sobretudo as de dimensões infecto-contagiosas, sempre se constituíram em focos de medos, sendo historicamente invocadas como fenômenos anunciadores da corrupção do espírito humano e de que o fim dos tempos estava se aproximando (Delumeau, 1978). Nesse contexto, a necessidade de renovação dos conteúdos do mito apocalíptico encontrou, nas últimas décadas do século passado, um modelo insistentemente lembrado: a pandemia de influenza de 1918, popularmente lembrada como ‘gripe espanhola’. Geradora ela própria de falas apocalípticas, estima-se que, no último trimestre daquele ano e nos dois primeiros meses de 1919, a gripe assolou praticamente todos os centros urbanos de porte e não obstante os avanços da medicina pasteuriana, cerca de 2/3 dos habitantes das cidades de maior porte foram infectados pelo micróbio gripal. Apesar de a maioria dos contaminados não desenvolverem complicações orgânicas que colocavam a vida em risco, ao findar a crise sanitária, entre 20 e 30 milhões de infectados chegaram a óbito, sendo que nos anos seguintes um número até hoje não estimado de pessoas morreram devido às seqüelas causadas pela gripe (Bertolli Filho, 2003).

É importante ressaltar que naquele período também se davam avanços em escala planetária importantes dos canais de comunicação, inclusive com proliferação da mídia impressa e com a expansão das redes telegráficas e telefônicas que colocavam em contato todos os quadrantes do mundo, reforçando as possibilidades de que a experiência com a influenza se incrustasse definitivamente na memória coletiva. Desde então, no momento em que ocorrem brotes epidêmicos com potencialidade de alcançar vastas regiões do planeta, tanto a medicina quanto a mídia relembram automaticamente de acontecimentos verídicos ou falsos datados de 1918, alertando sobre a possibilidade de repetição de uma tragédia igual ou mesmo maior do que aquela ocorrida no início do século passado.

O velado terror compartilhado durante o evento de 1918 ensejou desde então uma série de alertas sanitários que, desde 1947, tem sido patrocinado pela Organização Mundial da Saúde. Atualmente existem 110 laboratórios espalhados por 80 países e que contam como coordenadores os centros de referência sediados em Londres, Victória (na Austrália), Tóquio e Atlanta. As atividades desempenhadas por essa rede laboratorial compreendem a localização e identificação minuciosa de novas cepas gripais, estando todos à espera de que uma variação antigênica singular que pode ocorrer no tipo A ou B do micróbio da influenza possa já estar em curso, em algum ambiente metropolitano ou num vilarejo isolado do planeta (Parker, Small & Bradley, 2001) (2) .

Apesar dos sucessos recentes da biologia molecular e do sequenciamento parcial do genoma do micróbio da influenza, o vírus gripal persiste como um enigma científico, não se dispondo até o momento de quimioterápicos plenamente eficiente para o tratamento dos casos corriqueiros de gripe ou para os momentos de pandemias de influenza (Kolata, 2001), fazendo a doença, até o advento da AIDS, persistir como a única patologia de caráter epidêmico que ainda não dispunha de recursos científicos de controle garantido. Tal constatação confere atualidade à sentença do microbiologista Charles Cockburn (1975:176) que pontificou com um certo exagero que os conhecimentos médicos acerca da mortal enfermidade eram os mesmos dos nossos antepassados que tinham suas vidas ceifadas pela infecção há 500 ou 1000 anos atrás.

A pandemia de 1918 transformou-se em um tema recorrente, sendo lembrada tanto nos alertas sobre os riscos de uma repetição de uma nova crise de influenza quanto paradigma para o que a epidemiologia denomina como sendo as doenças emergentes. Vale acrescentar que, por esta categoria entende-se o conjunto de novas patologias que têm sido identificadas nas últimas décadas – dentre elas a AIDS, a síndrome tóxica, as febres hemorrágicas boliviana e dos Pampas, as febres de Llassa e do Rio Nilo, a doença dos legionários e a causada pelo vírus Ebola – ou ainda as velhas enfermidades que tiveram o aumento de suas taxas de incidência ou que estão disseminadas por novas áreas geográficas, tais como a tuberculose, a hepatite C e a própria influenza.

A vulnerabilidade das populações frente à influenza tornou-se território fértil para as observações catastróficas dos mais diferentes tipos. Como realidade concreta que poderá se repetir em breve, como modelo de disseminação de outras pestes ou ainda como metáfora do desfuncionamento da vida social, a gripe de 1918 infiltrou-se na teia cultural contemporânea, proliferando-se no ciberespaço.

 

A arquitetura da catástrofe prometida

A percepção coletiva de se viver em um contexto que perdeu seus antigos dispositivos de segurança, graças sobretudo à irracionalidade embutida nas ações humanas ditadas pelos interesses do capital, promoveu a ruptura do princípio segundo o qual tanto a Cultura quanto a Natureza se apresentam como entidades solidárias e colaborativas com a existência humana. A crescente expansão da megatecnocracia, já anunciada há décadas por Habermas (1987), ao subordinar a realidade aos interesses econômicos, condenou o Homem a se tornar vítima de seu próprio saber e de tudo que tem construído na linha do tempo, colocando em questão a própria noção de ‘progresso’.

Por um lado, o desequilíbrio sócio-cultural e ético parece ter contaminado a própria Natureza, reproduzindo no plano ecológico as contradições imperantes nos interstícios da esfera social. O meio natural tem sido subrepticiamente revisto como um espaço de agressões ao Homem, respondendo inclusive com a produção de novas e mortais enfermidades aos atos desvairados que resultaram na devastação territorial. Em outra ponta, a Ciência e a Tecnologia – pontas de lança da sociedade pós-moderna –, apesar de todo o fascínio ainda cultivado, passaram a ser avaliadas como mais capacitadas para o engodo, o lucro e a destruição de grandes contingentes populacionais do que preparadas para garantir a continuidade e o aperfeiçoamento da vida no planeta.

Na mídia, ganham destaque os sinais característicos de um momento de transição, permitindo a constituição de um sistema alimentado por ambigüidades em série. Notícias sobre o deciframento do genoma humano e a promessa da rápida obtenção pela biologia molecular de respostas eficazes aos maiores dilemas da saúde humana convivem e competem com mensagens sobre o advento da ‘próxima peste’, uma superepidemia que colocará em xeque a vida humana e as grandes estruturas da sociedade.

A esfera médica, por sua vez, é vista sob o mesmo prisma dual. Ao lado da antiga versão do profissional da saúde como ‘anjo da guarda’ do tecido social, somam-se desconfianças e acusações generalizadas. O provedor Universo On Line (UOL), vinculado aos grupos proprietários do jornal Folha de S. Paulo e da Editora Abril, mantinha há algum tempo um site cujo objetivo era apresentar textos em forma de notícias que, depois de lidos, o cibernatura deveria decidir se seus conteúdos eram verdadeiros ou falsos. Em um desses ‘testes’, o leitor foi informado que um clínico do setor de pronto-atendimento do conceituado hospital da Johns Hopkins University havia assassinado o diretor de sua unidade médica por não mais suportar a pressão da vítima que exigia, mensalmente, dois fígados humanos para dar continuidade às pesquisas científicas que vinha realizando, não interessando ao chefe se seu subordinado extraía o órgão de indivíduos que haviam falecido em conseqüência de alguma enfermidade ou acidente ou se simplesmente matava os pacientes para se apoderar de seus fígados. Sentindo-se cada vez mais pressionado, o chantageado denunciou a situação ao FBI que, por sua vez, nada fez em relação ao caso; como último recurso, o médico acabou assassinando seu chefe. Lida a mensagem e feita a opção sobre a eventual veracidade da notícia, finalmente o leitor era informado que a matéria era falsa, sendo seu teor explicado como ‘fruto da mentalidade fértil do nosso editor’ (Tablóide UOL, 2000). Mas, por tudo que a vozes pós-modernas insinuam sobre a ética de pelo menos uma parte dos profissionais da saúde, paira a sensação que essa notícia poderia ser verdadeira...

A crise moral e ética da medicina é apontada na mídia como uma das principais vulnerabilidades para que a população seja tomada como presa fácil pela ‘próxima peste’. Este tema foi explorado inicialmente na mídia impressa pela bióloga e jornalista científica Laurie Garrett (1995), que pelas suas obras de denúncia, foi nomeada conselheira do governo dos Estados Unidos e obteve um posto no staff da Harvard Scholl of Public Health.. Tomando como modelo a experiência mundial com a gripe espanhola, Garrett discorreu sobre um ‘tempo de alarme’ gerado pelos resultados do ‘progresso da humanidade’.

Se o meio ambiente foi apresentado como condenado ao desequilíbrio devido à especificidade da intervenção humana, respondendo com uma profusão de novas patologias, Garrett também arregimentou os depoimentos de vários cientistas que denunciaram as falhas nos procedimento de pesquisa de seus pares mais ilustres, e a inépcia das principais agências mundiais de vigilância sanitária, acusando os pesquisadores e os laboratórios de desconhecimento em relação às estratégias de contenção de brotes epidêmicos, descaso em relação aos protocolos de segurança dos experimentos científicos e sobretudo de deixar-se conduzir mais por interesses econômicos e políticos e pela ânsia de obtenção de prestígio do que por comprometimento com a defesa da saúde do planeta.

Uma das denúncias incluídas no livro em questão é atribuída a Joe McCormick, antigo funcionário do Center for Disease Control (CDC), sediado em Atlanta e responsável inclusive pela monitoração dos casos de influenza. Assim se pronunciou o cientista no momento em que decidiu desligar-se daquele instituto:

"Nem reconheço mais o CDC. É um bando de burocratas politizados, que tomam as decisões sem sequer ir aos locais, sem pesquisa de campo, sem examinar os fatos de perto. Estou cheio. Estou indo embora" (apud: Garrett, 1994:561).

As constatações de Garrett e dos pesquisadores que ela entrevistou foram ganhando espaço no ciberespaço e atualmente existem pelo menos 5 mil sites que fazem referência à autora e suas denúncias. Aliás, outros especialistas acadêmicos têm ganho destaque midiático por fazerem alertas sobre a ‘próxima peste’ e por denunciarem a falta de ética profissional dos cientistas, dos laboratórios de pesquisa, das empresas laboratoriais e do setor médico-militar do governo dos Estados Unidos. Um desses personagens é Lynn Horowitz, microbiologista da Universidade de Harvard, havendo um site que o apresenta como um dos convidados favoritos dos talk-shows produzidos pelos canais de televisão norte-americanos, sendo também referência obrigatória nas mensagens de caráter científico ou não que se reportam ao risco de que o mundo se encontra à beira de uma grande catástrofe (Denver Congress, 1998).

Como síntese das discussões travadas sobre o assunto, o empenho em manter vivo o interesse sobre a possibilidade de uma superepidemia coaduna-se com a noção de que cada indivíduo estará praticamente sozinho no momento de uma eventual contaminação coletiva. A sensação de solidão experimentada no presente é projetada para o tempo futuro através da ausência total ou parcial de assistência por parte das autoridades médicas e políticas. Tal suposição fica bem clara em um texto que está presente na rede há pelo menos quatro anos e que atualmente reside em um site que, não por acaso, contém links que encaminham o cibernatura para os endereços virtuais dos principais laboratórios comerciais do mundo – dentre eles Merck, Pfizer, Roche, Glaxo Wellcome, Schering e Bristol-Myers Squibb. Síntese de apenas uma parte de um artigo assinado por Taubenberger, Reid e Kraft (1997), publicado originalmente no meio impresso, a mensagem atesta o micróbio da influenza sofre grandes mutações cíclicas em períodos aproximados de um século e que uma nova e mortal mutação viral deverá ocorrer ainda nesta década. O texto de síntese informa ainda que o governo dos Estados Unidos mantém apenas um comitê informal composto por 14 especialistas que não conta com nenhuma verba para patrocinar suas ações, não se dispondo de um plano efetivo de socorro à população na eventualidade de ocorrer uma epidemia que tenha as mesmas dimensões que a de 1918 (Infectious Disease News, 2004).

Na trama articulada pelas falas científicas até aqui invocadas, a ocorrência de uma trágica epidemia para breve é uma realidade incontestável e cada um, enfermo ou sadio, ficará sobretudo à sua própria sorte.

 

Os anti-catastrofistas

Uma parte considerável dos conteúdos científicos que povoam o ciberespaço não resistem ao tempo, sofrendo alterações corriqueiras ou simplesmente sendo suprimidos do espaço virtual, conferindo ao saber especializado a mesma condição há muito dada aos ‘faits divers’: a alta rotatividade e o descarte, a sensação de que a cada dia o conhecimento é refeito e o que serve para hoje provavelmente não terá validade para amanhã, quer pelo conteúdo apresentado, quer pela forma com que foi veiculado. Ao mesmo tempo, apesar das críticas orquestradas pelos fáusticos, a cibercultura contém em seu bojo a possibilidade de interatividade, favorecendo reações imediatas ao que pouco antes havia sido pontificado. A polifonia, pois, constitui-se em uma das marcas do mundo virtual (Tavares, 2002).

Nesse encaminhamento, a própria esfera científica tem se empenhado em responder aos discursos que, produzidos em seus próprios interstícios, pontificam a ocorrência‘próxima peste’, sem no entanto fazer referências específicas às mensagens catastrofistas. Frente á fragilidade da medicina e da epidemiologia em proteger a humanidade contra a influenza e tentando conter os medos individuais e coletivos alimentados pela possibilidade de uma nova epidemia, vários centros de pesquisa têm marcado presença no espaço virtual para reposicionar a gripe epidêmica não exatamente como uma ceifadora de vidas, mas sim como uma das principais ‘doenças emergentes’ da atualidade. Em continuidade, advoga-se também que a Ciência dispõem de recursos seguros para conter o avanço das doenças emergentes em seu local de origem, evitando com isto sua disseminação em termos de uma superepidemia.

Desde a instalação da rede mundial de computadores, o National Institute of Allergy and Infectious Disease dos Estados Unidos tem se empenhado em anexar ao seu site mensagens tematizadas pelos ‘avanços das ciências médico-biológicas’ em relação à gripe epidêmica e a muitas outras doenças que ameaçam o planeta. Nesses comunicados, muitas vezes moldados como sendo artigos científicos, o instituto visivelmente tenta negar as versões de que um novo brote epidêmico poderia ganhar curso pandêmico e com isto colocar em risco de vida vastos contingentes populacionais. A estratégia adotada tem sido destacar o sucesso de pesquisas laboratoriais na produção de novos e mais eficazes imunoterápicos contra as diferentes cepas gripais e enfatizar o estado de prontidão e a sofisticação dos serviços de vigilância sanitária para intervir com rapidez nas áreas onde ocorram casos anormais de infeção gripal ou de qualquer outra moléstia ascendente (NIAID, 2001).

Apesar disto, quando em 1976 aventou-se a possibilidade de uma nova pandemia gripal, o governo dos Estados Unidos investiu em caráter emergencial cerca de US$ 200 milhões e mobilizou 50 mil profissionais de saúde para se defrontar com a eventualidade da ‘peste’ – esse foi o termo empregado pelos cientistas e adotado rapidamente pela mídia, retomando a designação utilizada no início do século passado para a pandemia de influenza – que, no final das contas, acabou não ocorrendo. O não cumprimento do morticínio previsto, diferentemente do denunciado em outros sites, no entanto incentivou a Organização Mundial da Saúde e o governo norte-americano a tecer detalhados planos nacionais e supranacionais de combate à enfermidade. As autoridades sanitárias do Canadá, por sua vez, iniciaram a confecção de um detalhado plano emergencial para o combate de uma pandemia de influenza, atualizando-o periodicamente até os dias de hoje (Health Canada, 2002). No mesmo sentido, a Organização Mundial da Saúde tem elaborado estratégias de intervenção em eventuais surtos epidêmicos que possam ter início durante eventos de visibilidade mundial, como ocorreu quando da realização dos Jogos Olímpicos realizados na Austrália, no ano de 2000. A circunstância de a Oceania ser a região do planeta onde mais frequentemente são detectadas novas variantes das cepas gripais impôs que a OMS confeccionasse um plano de ação para ser aplicado nas cidades que sediavam as competições. Efetivamente, no início dos jogos foram diagnosticados vários casos de atletas infectados mas, graças a intervenção da agência mundial de saúde, o evento transcorreu sem maiores complicações (WHO, 2001; WHO, 2002).

Além das agências oficiais de saúde, o ciberespaço também é ocupado por uma infinidade de sites de empresas farmacêuticas, consultórios médicos e drogarias que oferecem serviços, vacinas e outras drogas contra a gripe. De regra, tais sites informam que não existe um medicamento totalmente eficaz para a prevenção ou para o tratamento da gripe e que os quimioterápicos disponíveis atuam apenas como atenuadores dos sintomas da infecção; apesar disso, as orientações veiculadas tendem a levar os receptores a concluírem justamente o contrário. Cita-se como exemplo o site de um laboratório sediado na cidade do Rio de Janeiro, que oferece uma droga cuja fórmula baseia-se em um conjunto de substâncias utilizadas contra a gripe há mais de um século: mesmo que a empresa incorporou o alerta sobre a não existência de um medicamento eficiente contra a influenza, sobretudo em situações epidêmicas, o endereço de seu site incorpora uma idéia contrária a isso: ‘adeusgripe’ (Laboratório Gross, 2004).

É certo que uma nova geração de substâncias laboratoriais e o aperfeiçoamento dos sistemas de vigilância têm resultado na contínua redução de óbitos atribuídos à influenza. Tomando-se como parâmetro os casos fatais em épocas de infecção coletiva, sabe-se que a pandemia ocorrida em 1957 e conhecida como ‘gripe asiática’ matou entre 1 e 1,5 milhão de pessoas, a ‘gripe de Hong Kong’, em 1968, foi responsável pela metade do número de óbitos atribuídos ao evento anterior, enquanto que à ‘gripe do frango’, de 1997, que teve como foco inicial novamente Hong Kong, foram atribuídas apenas 6 mortes (American Lung Association, 2001). Apesar desses dados, a gripe persiste como doença mortal e causadora de perdas econômicas em períodos não epidêmicos. Em 1996 foram computados nos Estados Unidos e no Canadá nada menos que 95 milhões de casos de infecção gripal, enquanto que no Brasil, anualmente, calcula-se que ocorram aproximadamente 50 mil óbitos por gripe, sobretudo nas faixas etárias que compreendem a população infantil e a idosa (VigiVírus, 2001).

As tentativas de reação às apologias que alertam sobre a proximidade de uma catástrofe apresentam-se tênues e pouco convincentes em um cenário cultural que em muito instiga a previsão de um futuro trágico.

 

A construção das falas apocalípticas

Uma outra face das amplas possibilidades de interatividade proposta pelo ciberespaço constitui-se no uso e, em certos casos, na distorção de outros conteúdos divulgados pela rede mundial de computadores no processo de produção de novas mensagens. Nesse caso, a interatividade realiza-se mediante a apropriação e recombinação de enunciados para legitimar os próprios posicionamentos do autor do novo texto (Lévy, 1999:79-83).

Nessas circunstâncias, os conteúdos potencialmente científicos anunciadores da superepidemia e explicadores de suas causas e também aqueles que, a partir de concepções da Ciência, se empenham em negar que as sociedades estejam para ser assaltadas pela peste, têm sido apropriados pelos cibernaturas em geral que, de regra, servem-se dos dados disponíveis no espaço virtual para atestarem a veracidade de suas próprias perorações apocalípticas. A partir disso formulam mensagens que instigam as análises porque são formulados a partir do amálgama de conceitos e hipóteses científicas com tradições mítico-religiosas e/ou ainda com as angústias que minam a credibilidade nas estruturas sócio-econômicas e políticas contemporâneas.

O site Apocalypse soon, por exemplo, vislumbra o final dos tempos para próximo, apoiando suas pregações no livro bíblico de Mateus ao apontar a cultura centrada nas máquinas comunicacionais como sinal da decadência do Homem. Reiterando que, dentre outros prenúncios do apocalipse, encontram-se as epidemias, o site oferece links para o leitor entrar imediatamente em contato com dados fornecidos pelas principais agências noticiosas do planeta sobre as doenças emergentes e inclusive com entrevistas com cientistas que discorrem sobre a ‘próxima peste’ e que fazem referências à gripe espanhola como modelo do que deverá ocorrer em breve (Apocalypse Soon, 2004).

O mais destacado apólogo do apocalipse no espaço virtual talvez seja o reverendo norte americano Larry R. Lasiter. Este religioso mantém um site há vários anos dedicado ‘a divulgação do fato que restam apenas três anos e meio para a ocorrência do apocalipse, afirmando que um grupo de cientistas, não identificado no texto, construiu o relógio do apocalipse, no qual faltam apenas três minutos para o ‘começo do fim’. Indo mais longe em sua pregação, Lasiter promete uma ‘grande tribulação’ que servirá como prova para a Humanidade, invocando tanto versículos de Mateus quanto entrevistas concedidas por Lynn Horowitz para informar que o mundo se extinguirá no prazo mencionado caso não haja a intervenção divina. Os sinais catastróficos de que o fim do mundo está próximo são claros para o religioso, incluindo a epidemia de influenza de 1918, dentre uma infinidade de desastres clássicos; a guerra, a fome e a grande peste comporão o cenário da provação final e, após ela, nada mais restará sobre a terra do que cadáveres, cinzas e sombras (Lasiter, 2004a e b).

Apesar de suas apologias, segundo o religioso tudo ainda pode ser evitado se houver empenho na correção das ações humanas, principalmente dos governantes mundiais. Aproximando-se dos cyberpunks no que tange às críticas sobre a eficiência e a honestidade da esfera política (Kellner, 2001:384-385), Lasiter se reporta à manipulação das massas pelos poderosos; citando e ao mesmo tempo distorcendo parcialmente as denúncias de sonegação de informações por parte da esfera médico-sanitária feitas por Horowitz, o reverendo conclama seus fiéis a não confiarem nas informações veiculadas pelos governantes e pelas agências oficiais de saúde pois:

"The typical government DIS-INFORMATION Program góes like this – 80% truth peppered with about 20% lies. Lies peppered with half-truts are the hardest matters to fight" (Lasiter, 2004a) (3) .

Ao invocar ainda outros cientistas de renome, o pastor menciona a existência de doze diferentes tipos de variantes virais da AIDS, afirmando que a doença e suas consequências sociais são semelhantes ou mesmo mais letais que as da influenza pandêmica, já que para ele é impossível a obtenção de uma vacina eficiente contra uma doença cujo agente causal permanece em constante mutação. Da mesma forma, a enfermidade causada pelo vírus Ebola foi explicada como sendo algo disseminado pela ‘troca de fluídos corpóreos’, acrescentando que o micróbio é semelhante ao da influenza, sendo portanto impossível também seu controle epidemiológico e mesmo um detalhado conhecimento laboratorial de sua estrutura.

Acompanhando as conclusões do pregador, o mundo está à sua própria sorte na espera pela grande desgraça. A nova pandemia estará sem controle algum e nem mesmo o CDC terá condições de oferecer algum paliativo à Humanidade enferma, tendo a situação o seguinte desfecho:

"The 1918 FLU PANDEMIC KILLED 20 MILLION PEOPLE! Some experts think an equally deadly FLU VIRUS will appear in the near future! It would cause WIDESPREAD DEATH throughout the word!" (Lasiter, 2004a).

Apesar de apregoar a devastação generalizada causada pela ação microbiana, parece que em certo momento de sua pregação Lasiter se arrepende, citando o registrado no Livro do Apocalipse de João 18:4, versículo que observa que o grande mal se abaterá apenas sobre os filhos rebeldes de Deus, preservando a vida dos puros de espírito (4) .

Uma versão brasileira das mesmas apregoações do pastor norte-americano confere maior destaque à corrupção da Humanidade cujo destino será a extinção por obra de uma grande enfermidade. Segundo um pregador anônimo, tudo, desde a expulsão do Homem do paraíso, vem anunciando a tragédia que nos está reservada para breve. Dos mais de 3 mil abalos sísmicos que desde 1177 a.C. têm sido registrados no território chinês até o cerco de Leningrado durante a Segunda Guerra Mundial, dos efeitos das eclosões nucleares nas cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki até o advento da AIDS e à devastação do meio ambiente, tudo se revela como resultados da corrupção do espírito do Homem que, por isso, está condenado a viver seus últimos dias na Terra. E que homem é esse? A resposta do predicador tupiniquim foi encontrada na Segunda Epístola de Paulo a Timóteo 3:19: aqueles que serão punidos são, dentre outras coisas, egoísta, avarento, jactancioso, arrogante, blasfemador, desobediente aos pais, infrato e irreverente (5) .

Ainda segundo a mesma fonte, agora inspirada no Livro II de Timóteo, a punição ao Homem está se realizando inclusive através das constantes vagas epidêmicas, sendo então indicados os principais flagelos sanitários ocorridos nos últimos 500 anos. No encaminhamento dado pelo anônimo pregador, fez-se uso de referências a obras científicas de menor importância para revelar o papel ceifador de vidas atribuído à gripe de 1918, não só porque a pandemia matou milhões de pessoas, mas também porque o religioso sutilmente sugere que o câncer, a AIDS e todas as doenças de cunho venéreo são nada mais do que desdobramentos biológicos da pandemia de influenza do início do século passado. Nesse sentido, na última centúria a gripe e seus pretensos derivados estão cumprindo a missão punitiva dos ímpios, sendo que ao apocalipse ocorrerá no momento que uma nova e mais virulenta epidemia gripal se abata sobre a Humanidade (Verdades, 2003).

Mesmo nas mensagens presentes na rede que sugerem a possibilidade apocalíptica, mas que excluem as doenças como motivo da extinção da humanidade, a gripe aflora como paradigma a ser levado em consideração. Nesta rota ganha destaque um site que foi anexado ao portal da Universidade de Campinas e que lá permaneceu por apenas alguns meses. Segundo seu autor, o ‘grande mal do século XXI’ não será causado por um ‘inseto perdido nas savanas da África ou da floresta amazônica, nem de um vírus surgido nos esgotos tóxicos de Cubatão’, nem ainda de uma enfermidade ‘que nos acompanha desde a antiguidade’, mencionando-se então ‘a peste negra, a gripe espanhola ou a AIDS’ (sic), mas sim um distúrbio que é considerado muito maior e mais sombrio, ‘já identificado em inúmeras obras científicas’: a ausência de solidariedade no ambiente familiar. O responsável pelo site buscou confirmar sua idéia através de um único indício, apontando o grande número de residências ‘onde temos 2 tv’s ligadas no mesmo canal, uma em cada quarto’. Para ele, a solidão frutifica no considerou como sendo o maior de todos os males, a depressão (O grande mal do século XXI, 2000).

Contido nas expressões científicas, a sensibilidade apocalíptica ganho curso fácil nas expressões leigas, incorporando que o destino comum, ou pelos menos dos corrompidos é a punição com a morte no contexto de uma tragédia coletiva.

 

Considerações finais

A abordagem dos conteúdos de alguns sites que atestam ou que rejeitam a proximidade de uma grande catástrofe, que pode inclusive confundir-se com o apocalipse, permite no contexto da cibercultura, algumas constatações.

A primeira delas refere-se à idéia muito disseminada de que a nova cultura tecnológica (que é bem mais do que a capacidade de navegar pelos ambientes virtuais e cooptar com seus conteúdos) e a redefinição das sociabilidades já ensejou a substituição de problemáticas que nos acompanham há milênios, substituindo-as por outras, exclusivas da pós-modernidade. Tanto nos sites que buscam articular suas exposições no campo fechado dos pressupostos científicos quanto nas expressões virtuais produzidas pelos leigos, encontram-se explicita ou implicitamente os sinais de angústias que nos acompanham desde muito antes do advento da cibercultura, angústias estas em parte nutridas pela percepção de que a história humana constitui-se na marcha decadente do espírito humano e que somente uma revisão profunda nos fundamentos éticos e morais da sociedade permitiria a reversão desse processo. Como resultado disso, para alguns abriu-se a possibilidade do vislumbre de um futuro marcado por uma grande tragédia. Nesse contexto, constatou-se que uma parte considerável das mensagens virtuais analisadas – de cunho cientificou ou não – guarda em suas entranhas o apego a velhas estruturas de percepção da história e do destino humano, as quais estão sendo preenchidas com novos conteúdos que espelham as contingências reais ou imaginárias ditadas pelo tempo presente.

Em continuidade, pensa-se também que a cibercultura e suas novas possibilidades de interatividade têm instigado a fusão, mesmo que mal ajambrada, de formulações culturais diferenciadas, que aproximam o tradicional do moderno. O maior acesso à diferentes fontes e versões dos fenômenos torna cada vez mais difícil a separação dos enunciados científicos das perorações de dimensões místico-religiosas. No caso analisado, textos de fundamentação essencialmente científica tornaram-se objeto de legitimação de pregações religiosas, não se descartando também a possibilidade da constituição de uma interatividade na qual as formulações propostas pelos porta-vozes da Ciência estejam impregnadas, mesmo que escamoteadamente, da visão religiosa que assevera que os faltosos, por seus desvarios, serão punidos com o horror das catástrofes, dentre elas uma mortal superepidemia.

No movimento de encontro e confronto de versões sobre um tema comum constituíram-se comunidades virtuais que entram em contato através do ‘empréstimo’, mais do que de noções, de espírito. Por caminhos diferentes, com ‘cruzamentos’ momentâneos, cientistas e leigos despem-se pelo menos parcialmente de suas prerrogativas acadêmicas, ideologias e de nacionalidades para tratar de um tema comum a todos os seres humanos: as apreensões geradas pelo tempo e pela sociedade contemporânea e suas repercussões no futuro. A comunicação, neste caminho, amplia as possibilidades de diálogo sobre um assunto que por um longo período fechou-se na esfera religiosa.

Uma outra questão que deve ser ressaltada refere-se ao caráter inderdependente das mídias. Se a maior parte dos estudos tende, para fins práticos, analisar cada canal de comunicação de forma independente, produzindo a falsa sensação de autonomia de cada um deles, no plano dos conteúdos verifica-se que uma mesma informação circula e ganha extensão em vários canais midiáticos, até mesmo pelo fato de ser comum uma mesma corporação ser proprietária de jornais, editoras, canais de rádio e televisão e provedores da Internet. Mais do que isto, os filhos da cibercultura, se abertos às novas tecnologias, buscam suportes para suas idéias em diferentes meios de comunicação, transitando entre eles e ‘conhecendo o mundo’ a partir de referências variadas, ambíguas e que, em conjunto, compõem um campo crivado de contradições e ambigüidades.

Se críticas aos conteúdos, funcionamento, gerenciamento e processamento das informações podem ser feitas à cibercultura, assim como seu inegável ‘presentismo’ e pragmatismo em relação à vida social, também é de se notar que vivemos em comum um tempo de transição. Nesse sentido, a desumanização tendencialmente imperante na ‘era de predomínio das máquinas’ instrui reações, sendo que algumas delas, como o empenho pela defesa do humano tanto no presente quanto no porvir, encontram-se inscritas com maior ou menor detalhamento nos registros que este texto buscou analisar.

 

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Notas

· [1] - Vale acrescentar que há alguns anos o autor deste texto participou de uma mesa-redonda na qual um docente universitário conclamou a platéia a não acessar a rede virtual sob a alegação de que nela ‘só havia lixo’, explicando que por lixo entendia matérias denigritivas para o ser humano.

· [2] - A data anexada às fontes virtuais corresponde ao ano em que cada site foi capturado na rede.

· [3] - Nesta e nas demais notas que contenham palavras em destaque, tais destaques estão no documento original.

· [4] - Na passagem bíblica mencionada, após discorrer sobre a corrupção dos monarcas e dos mercadores na ‘Grande Babilônia’, o apóstolo João acrescentou: "Ouvi outra voz do céu, dizendo: Retirai-vos dela, povo meu, para não serdes cúmplices em seus pecados, e para não participardes dos meus flagelos" (A Bíblia Sagrada, 1969: 305 do Novo Testamento).

· [5] - Sob o título Os males e as corrupções dos últimos dias, a passagem bíblica mencionada alerta que: "Sabe, porém isto: nos últimos dias sobrevirão tempos difíceis;/ pois os homens serão egoístas, avarentos, jactanciosos, arrogantes, blasfemadores, desobedientes aos pais, ingratos, irreverentes,/ desafeiçoados, implacáveis, caluniadores, sem domínio de si, cruéis, inimigos do bem,/ traidores, atrevidos, enfatuados, antes amigos dos prazeres que amigos de Deus,/ tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto o poder. Foge também destes./ Pois entre estes se encontram os que penetram sorrateiramente nas casas e conseguem cativar mulherzinhas sobrecarrregadas de pecados, conduzidas de várias paixões,/ que aprendem sempre e jamais podem chegar ao conhecimento da verdade./E, do modo por que Janes e Jambres resistiram a Moisés, também estes resistem à verdade. São homens de todo corrompidos na mente, réprobos quanto à fé;/ eles, todavia, não irão avante: porque a sua insensatez / será a todos evidente, como também aconteceu a daqueles" (A Bíblia Sagrada, 1969: 264 do Novo Testamento).

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Claudio Bertolli Filho
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