Conseqüências econômicas da derrota: identificando vencedores e vencidos



1. As novas partículas elementares

Uma das conseqüências mais recorrentes da vitória política nas eleições é a de que ela, obviamente, inverte as posições relativas da situação e da oposição, dando a esta última responsabilidades executivas que não há como eludir após a transmissão do poder: "tome, agora o abacaxi é seu!". Outra série de conseqüências, estas menos pensadas pelos que acabam de assumir tais responsabilidades, é a de que, a partir de então, se inverte também a perspectiva governativa a partir da qual passam a ser pensadas aquelas mesmas responsabilidades, que de súbito ganham toneladas adicionais de peso específico, quando não uma "massa atômica" dificilmente administrável pelos executivos aprendizes.

Em outros termos, as mudanças paradigmáticas produzem vencedores e vencidos – o que não é nenhuma novidade –, mas delas também resultam idéias vencedoras e outras moribundas, o que nem sempre é evidente a todos os participantes do jogo político, em especial porque umas e outras idéias não parecem mais estar onde estavam antes (o que a sabedoria popular chama, apropriadamente, de "trocando as bolas"). A governança real se apresenta, antes de mais nada, como um imenso cemitério de idéias generosas, várias delas pouco práticas, e outros tantos nobres propósitos, mas todos invariavelmente custosos, que foram exageradamente agitados em anos de oposição renhida, de críticas ferozes à insensibilidade reinante nos bastiões do poder e de alegre irresponsabilidade em relação a uma exata explicitação quanto ao problema dos meios.

Trata-se de situações normais, uma vez que a luta política vive de exageros e de simplificações, sem o que não seria possível transmitir ao eleitor comum aquele sentido de injustiça e de negligência dos poderosos, das quais brotam, justamente, a centelha que permite incendiar a pradaria eleitoral. O assalto ao Palácio de Inverno da velha situação se faz com as baionetas da crítica implacável e com os coquetéis Molotov das "novas soluções", tão límpidas e claras como as águas que jorram de mananciais políticos ainda não poluídos pelo teste da realidade. Em algum momento, contudo, se tem de passar da "crítica das armas" às "armas da crítica", mas a questão é que os formuladores críticos de ontem são os decisores pouco críticos de hoje, o que por vezes embota a capacidade de julgamento. Em qualquer hipótese, a partir de um certo momento, a "fazenda dos animais" reintroduz um pouco (senão muito) da velha organização burocrática e "novas" rotinas administrativas são decididas ao sabor das necessidades: déjà vu all over again?

Tudo isso é conhecido dos conselheiros do Príncipe e dos políticos práticos, ainda que o seja bem menos dos observadores acadêmicos em países nos quais as mesmas oligarquias políticas se reproduzem no poder há vários séculos, praticamente desde o descobrimento, ou pelo menos desde a independência. Determinadas formações sócio-políticas apresentam, de verdade, uma concepção circular do princípio da "circulação das elites", num tipo de osmose social ainda mais endogâmica do que os casamentos nas antigas dinastias faraônicas. Mas a história tem dessas surpresas contingentes que fazem com que ela seja, precisamente, um processo sempre único e original, alternando o rápido equilíbrio pontuado das mudanças inesperadas com o lento movimento das placas tectônicas dos sistemas políticos, sempre lentos a responder à floração de novas espécies e à mutação genética do antigo tecido social. Em algum momento, porém, a revolução geológica fará emergir novas montanhas partidárias, criando um novo ambiente favorável a predadores mais ágeis.

 


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