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Desempenho e qualidade da carne de frangos de corte alimentados com diferentes níveis de sorgo (página 2)

E. A. García; A. A. Mendes; C. C. Pizzolante; N. Veiga; T. K. Mattos

 

4. Material e métodos

As aves foram distribuídas em um delineamento inteiramente ao acaso, com esquema fatorial 5×2 (cinco níveis de sorgo em substituição ao milho na ração – 0, 25, 50, 75 e 100% – e dois sexos), com quatro repetições de 65 aves, totalizando 40 parcelas experimentais. Foram utilizados 2600 pintos de corte de um dia, de linhagem Ross 308, sexados e vacinados no incubatório contra a doença de Marek e, aos 10 dias de idade, contra a doença de Newcastle, via água de bebida. Foi adotado o sistema de manejo de criações comerciais.

O sorgo utilizado na fabricação das rações experimentais, cultivar SAARA, foi fornecido pela empresa Monsanto, localizada na cidade de Uberlândia-MG. O aminograma do sorgo e a composição bromatológica do sorgo e milho são apresentados na Tab. 1. As aves receberam ração (Tab. 2) e água à vontade durante todo o período de criação, que foi dividido em três fases: inicial (1 a 21 dias), crescimento (22 a 35 dias) e final (36 a 42 dias). As rações foram formuladas de acordo com os níveis nutricionais normalmente utilizados em criações comerciais.

Na análise estatística, usou-se o procedimento General Linear Models do SAS (User's..., 1988).

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O ganho de peso das aves foi calculado ao final de cada fase, sendo todos os frangos pesados no 21°, 35° e 42° dias de idade. O consumo de ração e a conversão alimentar foram calculados para cada fase.

Aos 42 dias de idade, cinco aves por repetição foram abatidas para avaliar o rendimento de carcaça inteira, do peito desossado, das pernas, das asas, do dorso e da gordura abdominal. Os valores percentuais do rendimento de carcaça foram calculados em relação ao peso vivo, enquanto o rendimento de cada parte foi calculado em relação ao peso da carcaça eviscerada.

Para as determinações de comprimento, largura e altura do peito, foi pesado o conjunto dos músculos peitorais, a fim de avaliar o peso total e a porcentagem de carne branca. Os músculos pectoralis major foram dissecados, pesados e, em seguida, mediu-se, com auxílio de um paquímetro, comprimento, largura e altura, considerando-se como valor final a média de dois filés para cada ave. A altura foi medida na parte mais espessa do músculo.

A determinação do pH foi realizada com um eletrodo de penetração, diretamente no peito e na coxa das aves, 24 horas post mortem. Essa medida foi feita em todas as aves amostradas para a determinação do rendimento da carcaça.

Para a determinação da perda de peso por cozimento e da força de cisalhamento, foi utilizado o músculo peitoral esquerdo da ave, o qual foi embalado em papel laminado e mantido em uma chapa elétrica de modelo comercial, com aquecimento nas duas faces, por aproximadamente oito minutos à temperatura de 85°C. Depois de uma hora, a amostra de peito foi pesada. A diferença de peso entre peso do peito in natura e peso uma hora após o cozimento correspondeu à perda de peso por cozimento. As amostras, embaladas em papel absorvente e em sacos plásticos, foram armazenadas por 24 horas a 2°C.

Para a determinação da força de cisalhamento (textura ou maciez), foram utilizadas as amostras usadas para a determinação da perda de peso por cozimento. Foram retiradas três amostras por filé, na forma de paralelepípedos com 2×2×1,13cm, as quais foram colocadas com as fibras orientadas no sentido perpendicular às lâminas do aparelho Warner-Bratzler, conforme a técnica descrita por Froning et al. (1978).

A avaliação da coloração da carne de peito e de coxas foi determinada no Laboratório de Análise Sensorial da Sadia, localizado em São Paulo-SP, com um espectrofotômetro Hunter, no sistema CIE. Foram avaliadas as características L (luminosidade – nível de escuro a claro), a (vermelho) e b (amarelo), com três repetições por ponto, em três diferentes regiões da superfície superior e inferior do músculo do peito e da superfície superior da coxa, de acordo com a metodologia proposta por Honikel (1998).

As análises sensoriais foram realizadas de acordo com a metodologia descrita por Roça (1988), utilizando as amostras de carne de peito de frangos machos alimentados com dietas contendo milho sem sorgo e ração contendo sorgo sem milho.

Foram feitas avaliações da composição química da carne do peito e da coxa e sobrecoxa in natura. Umidade, extrato etéreo e resíduo ruminal foram calculados segundo AOAC (Official... 1990). A proteína foi estimada pelo método de Kjeldahl-Micro (Official... 1990) para determinação do nitrogênio total e da proteína bruta.

5. Resultados e discussões

Os resultados de ganho de peso, consumo de ração, conversão alimentar e mortalidade são apresentados nas Tab. 3, 4, 5 e 6, respectivamente. Não houve efeito significativo dos níveis de substituição do milho pelo sorgo em nenhuma das características de desempenho avaliadas. Resultados semelhantes foram encontrados por Fernandes et al. (2002) que, ao compararem o desempenho produtivo de frangos de corte alimentados com dietas à base de milho, milho:sorgo e sorgo, não observaram diferenças para as características de desempenho. Segundo esses autores, os resultados foram atribuídos à proximidade entre os valores nutricionais do milho e do sorgo e, também, porque é possível formular rações com valores nutricionais muito próximos, principalmente para energia metabolizável e proteína bruta para os dois cereais.

A avaliação da coloração da carne de peito e de coxas foi determinada no Laboratório de Análise Sensorial da Sadia, localizado em São Paulo-SP, com um espectrofotômetro Hunter, no sistema CIE. Foram avaliadas as características L (luminosidade – nível de escuro a claro), a (vermelho) e b (amarelo), com três repetições por ponto, em três diferentes regiões da superfície superior e inferior do músculo do peito e da superfície superior da coxa, de acordo com a metodologia proposta por Honikel (1998).

As análises sensoriais foram realizadas de acordo com a metodologia descrita por Roça (1988), utilizando as amostras de carne de peito de frangos machos alimentados com dietas contendo milho sem sorgo e ração contendo sorgo sem milho.

Foram feitas avaliações da composição química da carne do peito e da coxa e sobrecoxa in natura. Umidade, extrato etéreo e resíduo ruminal foram calculados segundo AOAC (Official... 1990). A proteína foi estimada pelo método de Kjeldahl-Micro (Official... 1990) para determinação do nitrogênio total e da proteína bruta.

Os resultados de peso vivo, peso da carcaça, rendimento de carcaça e das carnes de peito e pernas são apresentados nas Tab. 7 e 8. Houve efeito (P<0,05) apenas de sexo para o peso vivo, peso da carcaça, rendimento de pernas, porcentagem de gordura abdominal e rendimento de carne de pernas. Os machos apresentaram os maiores valores, com exceção da porcentagem de gordura abdominal e conversão de ração em carne de peito e pernas que foi maior para as fêmeas. Resultados semelhantes foram encontrados por Gualtieri et al. (1990) que, ao avaliarem três níveis de substituição do milho pelo sorgo (0, 50 e 100%) em dietas de frangos de corte, não encontraram diferenças significativas para o peso vivo, peso e rendimento da carcaça e rendimento dos cortes, o que, segundo os autores, deve-se à proximidade dos valores nutricionais entre milho e sorgo.

Os resultados encontrados para o pH da carne de peito e pernas 24 horas post mortem são apresentados na Tab. 9. Os machos apresentaram maiores valores de pH (P<0,05) do que as fêmeas. Para os níveis de substituição do milho pelo sorgo, ocorreu diminuição dos valores de pH à medida que aumentaram os níveis de substituição. Jones e Grey (1989) descreveram variações médias de pH entre 5,6 a 5,8, e Sams e Mills (1993) relataram resultados entre 5,7 e 5,8.

Os valores encontrados para as medidas físicas da carne de peito são apresentados na Tab. 9. Todas as medidas apresentaram efeito de sexo, sendo que os machos apresentaram sempre os maiores valores, semelhante aos resultados de Robinson et al., (1996) e Lubritz (1997), os quais afirmaram que as medidas físicas da carne de peito de frangos de corte podem ser afetadas por diversos fatores, dentre eles linhagem, idade e, principalmente, sexo. Houve apenas diminuição (P<0,05) no comprimento do filé à medida que foram aumentados os níveis de substituição do milho pelo sorgo.

Os valores observados para a perda de peso por cozimento e a força de cisalhamento (kgf/cm²) são apresentados na Tab. 9. Ocorreu maior (P<0,05) perda de peso por cozimento na carne de peito dos machos e também maior força de cisalhamento, o que está de acordo com Bressan (1998). A substituição do milho pelo sorgo apresentou efeito (P<0,05) apenas para a força de cisalhamento, porém o valor encontrado para o nível zero de substituição não diferiu do valor encontrado para o maior nível.

Para a coloração da carne do peito e pernas, os valores L, a e b são apresentados na Tab. 10. Observou-se aumento no valor L e diminuição de a e b (P<0,05) em ambos os lados do peito à medida que aumentaram os níveis de substituição, semelhante aos resultados de Froning (1978). Esse autor afirmou que a pigmentação da carcaça de frangos de corte depende de diversos fatores, dentre eles a nutrição. Contudo, na carne das pernas, apenas houve diminuição de a à medida que aumentaram os níveis de substituição. Pereira et al. (2001) avaliaram a deposição de pigmentos na carcaça de frangos de corte alimentados com dieta à base de sorgo e bixina (extrato de urucum) e observaram que houve efeito pigmentante sobre a carcaça à medida que se aumentou o nível de bixina, porém o nível máximo do pigmentante utilizado na pesquisa (0,20%) não foi suficiente para alcançar a coloração desejável da carcaça das aves.

Quanto à composição química da carne do peito e das pernas (Tab. 11), não houve efeito da substituição do milho pelo sorgo (P>0,05), semelhante aos resultados obtidos por Honikel (1998).

Os níveis de substituição do milho pelo sorgo não influenciaram (P>0,05) as características sensoriais da carne de peito (Tab. 12), exceto para mastigabilidade. As aves alimentadas com dieta à base de milho apresentaram maior grau de insatisfação na escala estruturada, o que, segundo Roça et al.(1988), pode ser atribuído a diferenças entre provadores, pois os valores observados são muito próximos.

6. Conclusões

O sorgo pode ser recomendado para substituição do milho em dietas de frangos de corte, pois não promove alterações no desempenho e na qualidade da carne. Na substituição, pode ocorrer diminuição da coloração da carne, o que pode ser resolvido com o uso de pigmentantes naturais ou sintéticos adicionados às dietas.

7. Referências bibliográficas

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Pesquisa financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo

R.G. GarciaI; A.A. MendesII; C. CostaII; I.C.L.A. PazI; S.E. TakahashiI; K.P. PelíciaI; C.M. KomiyamaI; R.R. QuinteiroI - arielmendes[arroba]fca.unesp.br

IAluno de Pós-Graduação – FMVZ – UNESP – Botucatu, SP IIFaculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – UNESP Fazenda Experimental Lageado, s/n 18618-000 - Botucatu, SP.



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