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Efeitos da energia da dieta sobre desempenho, rendimento de carcaça e gordura abdominal de frangos d (página 2)

E. A. García; A. A. Mendes; C. C. Pizzolante; N. Veiga; T. K. Mattos

 

4. Material e métodos

O experimento foi conduzido nas instalações experimentais do setor de avicultura da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da UNESP- Campus de Botucatu, SP, no período de 3 de novembro a 15 de dezembro de 1999. Foram utilizados 2.400 pintos de corte de um dia de idade, da linhagem Ross 308, sexados e distribuídos em 48 boxes de 5,0 m2 cada. As aves foram submetidas a um delineamento inteiramente casualizado com arranjo fatorial 6x2, ou seja, seis níveis de energia (2.900, 2.960, 3.020, 3.080, 3.140 e 3.200 kcal EM/kg) e dois sexos, com quatro repetições de 50 aves cada.

Foi utilizado um programa de alimentação em duas fases: inicial (de 1 a 21 dias) e de crescimento/final (de 21 a 42 dias). As rações experimentais foram idênticas, variando apenas quanto aos níveis de energia, de acordo com os tratamentos experimentais, sendo adotados os níveis utilizados pela indústria do Estado de São Paulo (Tabela 1).

O desempenho das aves foi avaliado segundo o peso final, o ganho de peso, o consumo de ração, a conversão alimentar e a mortalidade por fase e no período total. Aos 42 dias de idade, foram amostradas quatro aves por parcela, com 48 aves por tratamento e 192 no total, para determinação do rendimento de carcaça, de cortes e de gordura abdominal. As aves foram abatidas após jejum de oito horas no abatedouro experimental de aves da FMVZ, distante 3 km da granja. O rendimento de carcaça foi calculado em relação ao peso vivo antes do abate [%rendimento de carcaça = (peso carcaça *100/peso vivo)] e o rendimento das partes, em função do peso da carcaça eviscerada, sem penas, mas com pés, cabeça e pescoço [%rendimento de partes = (peso da parte *100/peso carcaça]. Foram avaliados os seguintes parâmetros: peso vivo, carcaça, pernas, carne de pernas, osso de pernas, pele de pernas, peito total, carne do peito, osso do peito, pele do peito, asas, dorso e porcentagem de gordura abdominal.

A análise estatística dos resultados foi realizada utilizando-se o pacote estatístico SAEG, segundo Euclydes (1983).

5. Resultados e discussão

As temperaturas máximas e mínimas verificadas no interior do galpão experimental durante o experimento foram de 31,1ºC ± 3,6ºC e 18,9ºC ± 1,9ºC, respectivamente.

Os resultados de desempenho encontram-se na Tabela 2. No período de 1 a 21 dias de idade, o sexo das aves influenciou os parâmetros avaliados, exceto a mortalidade, sendo que os machos apresentaram desempenho superior às fêmeas em todos os parâmetros. Não foi encontrada interação significativa (p>0,05) entre nível de energia e sexo. Os níveis de energia avaliados também influenciaram o desempenho das aves aos 21 dias, com exceção da mortalidade. O peso vivo e o ganho de peso apresentaram efeito quadrático (p<0,01), comprovando que a elevação do nível de energia na dieta promoveu aumentos nestes parâmetros, o que pode ser verificado até o nível de 3.140 kcal EM/kg, no entanto, houve redução ao utilizar o nível de 3.200 kcal EM/kg. Estes resultados para peso vivo e para ganho de peso até os 21 dias indicam que, nesta fase, o uso de níveis acima de 3.140 kcal EM/kg não deve ser recomendado, uma vez que promovem redução do desempenho, provavelmente em função da queda no consumo de ração, que apresentou efeito linear negativo (p<0,01), demostrando que o aumento do nível de energia na dieta é a causa do menor consumo de alimento. Embora tenha havido melhora na conversão alimentar, que apresentou efeito cúbico (p<0,01), esta redução não deve ser muito alta, pois pode comprometer o desempenho das aves ao limitar a ingestão de outros nutrientes, como aminoácidos e proteína da dieta. Este fato é evidenciado pelo efeito linear da conversão alimentar até o nível de 3140 kcal EM/kg, piorando a partir daí.

Os resultados na fase de 1 a 21 dias corroboram os achados de Vasconcelos & Santos (1997) e Nascimento et al. (1998), que também verificaram avanços no ganho de peso e na conversão alimentar com o aumento do nível de energia da dieta, porém, não encontraram diferenças para o consumo de ração e não relataram os efeitos de níveis altos nesta fase. Porém, Maiorka et al. (1997a), também avaliando o efeito de diferentes níveis de energia na dieta de frangos de corte, não observaram diferenças sobre as variáveis de desempenho no período de 7 a 21 dias, apesar de terem verificado efeito no período de 1 a 7 dias.

No período de 21 a 42 dias de idade, o sexo das aves apresentou o mesmo efeito que na fase inicial. O aumento dos níveis de energia da dieta afetou o consumo de ração e a conversão alimentar, que apresentaram efeitos cúbico (p<0,05) e linear negativo (p<0,05), respectivamente, com o aumento do nível de energia da dieta. Houve incremento no consumo de ração com o aumento do nível de energia até 2.960 kcal EM/kg, de modo que, acima deste nível, a elevação da energia promoveu redução no consumo, porém, com melhora sobre a conversão alimentar, sem afetar, no entanto, o peso vivo e o ganho de peso. Isto comprova que o efeito do nível de energia da dieta sobre o crescimento da ave é diferenciado segundo a fase de criação. Neste trabalho, o uso das mesmas aves da fase anterior (1 a 21 dias) pode ter afetado o desempenho na fase de crescimento/ terminação (21 a 42 dias), pois houve comprometimento do desempenho das aves alimentadas com o nível de 3200 kcal EM/kg na fase anterior, comportamento que pode ter persistido até o final do experimento. Mesmo assim, verificou-se melhor desempenho das aves com o aumento dos níveis de energia da dieta, corroborando os achados de Maiorka et al. (1997b), Araújo et al. (1998), Silva et al. (2000) e Moreira et al. (2001). Luchesi (2000) também encontrou avanços no peso vivo e redução do consumo de ração com a elevação da energia da dieta, semelhantemente a Rosa et al. (2000) e Silva et al. (2000), que também relataram efeito linear no desempenho das aves, à medida que se elevou o nível de energia da dieta.

No período de 1 a 42 dias, o sexo afetou os parâmetros avaliados, exceto a mortalidade, sendo que os machos apresentaram melhor desempenho que as fêmeas. Os níveis de energia avaliados afetaram o consumo de ração e a conversão alimentar, pois ambos os parâmetros apresentaram efeito cúbico (p<0,05), melhorando com o aumento da energia da dieta. Apesar de não ter sido verificado efeito significativo (p>005) para peso vivo e ganho de peso, os melhores resultados foram obtidos com os níveis entre 3.020 e 3.140 kcal EM/kg, o que pode ter sido influenciado, contudo, pelas diferenças ocorridas na fase inicial de criação. Porém, os resultados obtidos permitem concluir que a variação dos níveis de energia da dieta, de 2.900 a 3.200 kcal EM/kg, promove efeitos diferenciados sobre todos os parâmetros de desempenho das aves, sendo o período de 1 a 21 dias a fase mais afetada por estas variações. Estes resultados corroboram os achados de Rosa et al. (2000), Silva et al. (2000) e Watanabe et al. (2001), que verificaram resultados semelhantes ao avaliarem o efeito de níveis de energia da dieta sobre o desempenho de frangos de corte.

Os resultados de rendimento de carcaça e de partes estão apresentados na Tabela 3. Não houve interação entre os fatores para nenhum dos parâmetros avaliados (p>0,05). O sexo, apesar de não ter afetado o rendimento da carcaça, teve efeito significativo (p<0,05) sobre o rendimento de partes, sendo que os machos apresentaram maior rendimento de pernas (coxa+sobrecoxas) e de carne de pernas, apesar de apresentarem maiores porcentagens de osso de pernas. Obtiveram-se melhores resultados que os machos para rendimento de peito e de carne de peito, nas fêmeas, que também apresentaram maiores porcentagens de pele de peito e pele de pernas.

Os níveis de energia não afetaram o rendimento de carcaça e de cortes, havendo efeito somente para o rendimento de asas, com efeito linear negativo (p<0,05) (Figura 1). Este resultado, por não demonstrar consistência, uma vez que a literatura não relata efeito do nível de energia da dieta sobre a porcentagem de asas, deve ser melhor investigado.

A porcentagem de gordura abdominal foi afetada pelo sexo e pelo nível de energia da dieta, sendo que os machos apresentaram 19% a menos de gordura que as fêmeas. Os níveis de energia proporcionaram efeito linear (p<0,05) para gordura abdominal (Figura 2), verificando-se acréscimo da porcentagem de gordura abdominal com o aumento do nível de energia da dieta. De fato, o excesso de energia na dieta é armazenado na forma de gordura.

Os resultados de rendimento de carcaça apresentados neste trabalho corroboram os achados de Zanusso et al. (1999), Oliveira Neto et al. (2000) e Leandro et al. (2000), que também não encontraram efeito da energia da dieta sobre o rendimento de carcaça, mas divergem dos relatos de Bastos et al. (1998), Rosa et al. (2000) e Mendes et al. (2001), que verificaram resultados diferentes ao avaliarem o efeito de níveis de energia na dieta sobre o rendimento de carcaça. Estes contrastes se justificam pelas diferenças entre linhagens avaliadas, níveis utilizados e balanceamento diferenciado das dietas experimentais. Bastos et al. (1998) encontraram efeitos linear (p<0,05) e quadrático (p<0,05) para rendimentos de coxas+sobrecoxas e de peito, respectivamente, o que não foi verificado neste trabalho. Apesar de os níveis de energia avaliados não terem afetado o rendimento de cortes nobres (peito e pernas), há relatos na literatura do efeito da energia da dieta sobre estes parâmetros.

6 Conclusões

Os machos apresentaram maiores porcentagens de pernas e de carne de pernas e menores de carne de peito e de gordura abdominal que as fêmeas.

7. Literatura citada

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Ariel Antônio MendesI; Joerley MoreiraII; Edson Gonçalves de OliveiraIII; Edivaldo Antônio GarciaI; Marina Isabel Mateus de AlmeidaIII; Rodrigo Garófallo GarciaIV - arielmendes[arroba]fca.unesp.br

IProfessores do DPEA da FMVZ/UNESP, campus de Botucatu - SP (arielmendes[arroba]fca.unesp.br; egarcia[arroba]fca.unesp.br) IIPós-Doutorando em Zootecnia pelo DPEA da FMVZ-UNESP, campus de Botucatu-SP. Bolsista do CNPq. E.mail: joerley[arroba]fca.unesp.br IIIProfessores do Departamento de Genética da Universidade Federal do Paraná, Curitiba-PR. E.mail: ego[arroba]ufpr.br IVDoutorando em Genética pelo DPEA da FMVZ/UNESP, campus de Botucatu - SP. Bolsista da FAPESP. E.mail: garofallo[arroba]fca.unesp.br



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