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Estudos Avançados em Saúde e Exercícios - Treinamento: Emagrecimento (página 2)

Paulo Gentil

 

Referências bibliográficas

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Atividade física em jejum

No combate à gordura, todas as armas parecem atraentes, desde as práticas mais simples até as mais sacrificantes, como os treinos em jejum. A realização de exercícios antes do café da manhã já era pregada há muito tempo, mas ganhou maior popularidade com o livro Body for Life, de Bill Phillips.

Jejum e cérebro

O cérebro é um órgão extremamente ativo, apesar de constituir cerca de 2% da massa total de um adulto, ele é responsável por quase 15% de nosso gasto energético de repouso, em torno de 7,5 vezes mais que os outros tecidos. Tamanha demanda metabólica é devida principalmente à condução de impulsos nervosos, pela bomba de sódio-potássio. Por que estou tocando nesse assunto? Porque, em condições normais, esta demanda energética é suprida pela glicose sangüínea, e supõe-se que o jejum possa afetar negativamente o metabolismo cerebral.

Em condições normais os níveis sangüíneos de glicose ficam em torno de 80-90 mg/100 ml. Quando permanecemos em jejum, inicia-se a gliconeogênese, com mobilização das reservas de carboidratos do fígado. Ocorre, em seguida, o catabolismo das proteínas que são diretamente utilizadas pelos tecidos ou convertidas em glicose. Após esta fase de utilização de proteínas e carboidratos, prioriza-se finalmente a mobilização da gordura, com a formação de corpos cetônicos, que podem atravessar a barreira sangue cérebro e serem utilizados como energia. Se o jejum prosseguir por muito tempo, intensifica-se novamente o catabolismo protéico, desta vez de forma mais acentuada e danosa.

Em repouso, um organismo saudável pode se adaptar ao jejum com certa facilidade, mas diante de uma demanda metabólica elevada, como nos exercícios a situação pode não ser tão simples. Muitas pessoas não conseguem se adaptar de forma eficiente e o organismo procura se proteger induzindo desmaios. Além dos perigos envolvidos nos desmaios, há um muito mais grave: danos neurais permanentes. Isto significa que se o a adaptação não for rápida e eficientemente, seu cérebro pode ser gravemente lesado (AUER, 1986; AUER et al, 1993; DE COURTEN-MYERS et al, 2000; DOLINACK et al, 2000; NEHLIG, 1997).

Jejum e queima de gordura

Diversos estudos têm mostrado que a realização de exercícios em jejum leva a economia de glicose e maior mobilização de gordura durante a atividade e algum tempo após seu término. Porém não devemos esquecer que diante da escassez de alimentos o corpo pode entrar em um estado de "racionamento de energia" diminuindo o gasto energético, conforme verificaram pesquisadores coreanos (LEE et al, 1999). Devemos lembrar que a quantidade de energia gasta após a atividade, não é necessariamente relacionada à queima de gordura, mas sim à sua intensidade (CALLES-ESCANDON et al, 1996; LEE et al, 1999).

Em pesquisa publicada em 1999, estudaram-se as respostas hormonais em atividades aeróbias diante de duas situações: 1) jejum de 12 horas; e 2) ingestão de carboidratos (antes e durante o teste). De acordo com os resultados o jejum leva a maior oxidação de gordura, refletido em um coeficiente respiratório menor. Como esperado, as taxas de glicose e insulina foram menores no jejum, com a insulina permanecendo elevada 1,5 hora após o término da atividade. Porém os níveis de cortisol (hormônio catabólico) quase dobraram durante a pedalada e mantiveram-se 80% maiores 90 minutos após o fim do exercício, em relação ao grupo que ingeriu carboidratos. (UTTER et al, 1999)

A ocorrência da maior oxidação de gordura no jejum é um ponto pacífico, mas observe a seguinte pesquisa e reflita sobre a relevância dos fatos. Em estudo realizado na Universidade de Vermont foram testadas as respostas metabólicas durante e após uma atividade aeróbia em três condições nutricionais: 1) ingestão de lanche sólido (43 gramas de carboidratos, 9 de gordura e 3 de proteínas), 2) bebida com frutose (65 gramas de frutose dissolvidas em 250ml de água) e 3) água flavorizada (250ml de água adoçada com apartame) (CALLES-ESCANDON et al, 1991). Os resultados foram os seguintes:

Oxidação de gordura no exercício

Diferença em relação ao placebo

Oxidação de gordura na recuperação

Diferença em relação ao placebo

Doce

266 mg/min

8

75 mg/min

- 45

Frutose

261 mg/min

+4

93 mg/min

-27

Placebo

257 mg/min

---

120 mg/min

---

Os resultados mostram que 60 minutos após se exercitar em jejum você "queima" mais gordura do que se tivesse ingerido frutose (+/-30% a mais) ou glicose (+/- 60% a mais) antes da atividade. Dentro da matemática estes números parecem bem expressivos, mas na vida real as coisas são diferentes. Observe a unidade de medida, miligramas por minuto, para expressarmos os valores em gramas devemos dividi-los por 1.000. Como exemplo, peguemos a segunda linha da tabela acima (a iniciada com "Doce"), teríamos assim, uma diferença de 45 mg em um minuto isto significaria que em uma hora você gastaria apenas 2,7 gramas de gordura a mais do que se tivesse feito um bom lanche. Desta forma, para que você consiga uma diferença de 1 quilo de gordura, este mesmo número teria que se repetir mais de 370 vezes (mais que o número de dias de um ano)!!! Por que algumas pessoas perdem peso se exercitando em jejum? Uma explicação razoável seria que, por bem ou por mal, esta prática reduz o gasto calórico diário, pois você obrigatoriamente passará de 8 a 12 horas sem comer, além de exigir uma boa dose de determinação e disciplina, o que pode estimula-lo na dieta e treinos.

Porém não existem provas suficientes para defender o treino em jejum, por mais que se alegue uma maior utilização relativa de gordura durante e alguns minutos após o treino, estes números são inexpressivos quando expostos em termos absolutos. A própria ênfase na utilização de gordura durante o treino é ultrapassada e remonta a discussão dos exercícios aeróbios (ver A verdade sobre aerobios e emagrecimento).

Também não há provas científicas diretas para condenar totalmente a realização de atividades físicas em jejum. Empiricamente, vemos que algumas pessoas se adaptam bem a esta situação, optando inclusive por não se alimentar antes dos treinos. Porém ressalto que esta é uma questão individual de bem-estar e induzir alguém a praticar atividades físicas em jejum com objetivos estéticos, sem analisar seu quadro geral, não é um procedimento correto, de acordo com as bases científicas atuais.

Referências bibliográficas

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Abdomen – qual a melhor solução?

Os padrões estéticos mudam constantemente, ora prefere-se corpos mais musculosos, ora mais "secos", houve uma época em que o corpo masculino era valorizado pelo seu tórax e o feminino pelos glúteos e coxas. Agora, homens treinam mais membros inferiores e mulheres preocupam-se com o "tchauzinho", mas há uma parte do corpo que sempre está em evidência: a barriga.

Guardadas as devidas proporções, sempre procuramos controlar a quantidade de gordura da região abdominal e manter uma barriga sem saliências. Mas qual a solução para se obter um abdômen "sarado"? De 1 a 5 darei minha nota para as soluções mais comumente propostas.

Exercícios aeróbios.

Este tópico já foi bastante discutido em outras ocasiões (ver A verdade sobre aerobios e emagrecimento). Apesar de não ser a melhor opção para perda de gordura, os exercícios aeróbios podem ajudar a promover maior gasto calórico e elevar a queima de gordura. De uma cinco eu daria uma nota 2,5.

Musculação

Uma boa maneira de perder gordura e aumentar a massa muscular (ver Musculação e emagrecimento). Daria uma nota 3,5

Abdominais

Apesar de ser discutível a perda localizada de gordura com exercícios específicos, os abdominais podem ajudar a hipertrofiar a musculatura da região, tornando os músculos mais aparentes, acho que 3,5 é uma boa nota.

Dietas

Se alguém lhe disser que tem uma dieta especial para perder gordura na barriga, não dê ouvidos. Uma alimentação equilibrada pode ajudar a reduzir sua quantidade total e/ou relativa de gordura, mas dificilmente direcionará esta perda para a região do abdômen. Creio que a dieta mereça nota 4.

Postura

Esse aspecto é freqüentemente negligenciado, porém ele sozinho pode acabar com os resultados de todos os métodos que você tentar. Faça o seguinte teste diante de um espelho: projete os ombros á frente e "estufe" a barriga, tomando um aspecto de "ponto de interrogação", depois dê uma boa olhada no seu perfil. Em seguida encolha a barriga e projete os ombro para trás, tipo "barriga para dentro e peito para fora". Veja a diferença. Por mais definido que seja seu abdômen uma postura incorreta torna-o esteticamente desagradável. Nota 4 para a postura.

Genética

A boa e velha genética. Aqui, como em todos os casos ela é um dos fatores fundamentais, determinando desde o acúmulo de gordura em determinada região até a aparência da musculatura, passando pela textura da pele. Há pessoas que naturalmente acumulam pouca gordura no abdômen, possuem um volume e "separação" muscular exemplares e a pele finíssima. Estes felizardos dificilmente terão problemas com sua barriga, mesmo que não se alimentem corretamente nem treinem de forma adequada, exemplos disso são vistos na construção civil e aldeias de pescadores. Mas a genética não é absoluta, muitas vezes a postura atrapalha um pouco e a barriga projeta-se à frente, dando um aspecto negativo. Nota 4,5 para a genética

Comportamento

Este tópico pode parecer estranho, mas o estresse está intimamente ligado com a chata "barriguinha". O cortisol, hormônio liberado em situações de estresse, tem algumas funções inconvenientes, como: catabolisar o tecido muscular e acumular gordura na região abdominal. Desta forma, as alterações hormonais ocorridas em situações de estresse estão diretamente associadas à obesidade abdominal e suas comorbidades (BJORNTORP, 2001; RASK et al, 2002, WEBER-HAMANN et al, 2001)

Isto significa que quando estamos constantemente sujeitos a situação adversas, físicas e/ou psicológicas, nosso corpo tende a acumular mais gordura na região do abdômen. Portanto uma estruturação comportamental merece uma nota 3.

Intervenções invasivas (cirurgias e mesoterapia)

A aplicação localizada de determinadas substâncias podem ajudar a curto prazo, alterando seu visual por um breve período de tempo, ou ajudar na correção de pequenos detalhes. Mas tome cuidado, pois se não forem acompanhadas de outras medidas elas geralmente são ilusórias e transitórias.

O caso da lipoaspiração é mais complexo, um bom cirurgião pode fazer milagres, tendo uma intervenção nota 5, porém um "açougueiro" pode fazer um estrago, isto se você permanecer por aqui para ver os resultados.

Por não ser um especialista deixarei este tópico sem nota, para ler mais sobre lipoaspiração veja o artigo: Lipoaspiração

Resumindo

Não há uma solução mágica, rápida, eficiente e definitiva para resolver o problema estético do abdômen, porém a combinação de atividade física, alimentação, atitudes saudáveis e, principalmente, uma boa postura podem trazer ótimos resultados. Em casos mais graves, porém, a lipoaspiração pode ser uma boa opção.

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Musculação e emagrecimento

Como já dissemos em outra ocasião, o dogma de aeróbios e perda de gordura não passa de um equívoco. A utilidade destas atividades é extremamente limitada e dever ser complementada, ou mesmo substituída, por exercícios mais específicos e eficientes. Junto com as modalidades citadas ao final do artigo "A verdade sobre aeróbios e emagrecimento", a musculação pode ser tida como uma das melhores opções em todos os aspectos, desde prevenção de patologias, ganho de massa muscular, tratamento de enfermidades, e, claro, redução da gordura corporal.

Existem estudos a favor da musculação com mais de 30 anos de idade. No livro "Fundamentos do Treinamento de Força Muscular", FLECK & KRAEMER (1999), cita estudos de 1970. Muitos trabalhos encontraram bons resultados com musculação há mais de duas décadas como os publicados em 1978 por GETTMAN et al, WILMORE & GRIMDITCH et al, WILMORE & GIRANDOLA et al. e GETTMAN et al , publicado em 1979.

Redução de gordura.

Em 1992, BROEDER e outros autores realizaram um trabalho de 12 semanas na Universidade do Texas onde usaram treinamento aeróbio de baixa intensidade ou musculação. O grupo que treinou endurance obteve perda de gordura, sem alterações na massa magra, já o treino com pesos induziu tanto um aumento na massa magra quanto redução na gordura corporal. Em 1997, o mesmo grupo acima (agora com a presença de Volpe) publicou um estudo com os mesmo resultados.

Outro estudo interessante foi feito por BRYNER et al (1999), no qual se compararam os efeitos do treinamento com pesos ao aeróbio juntamente com uma dieta de 800 kcal. O grupo das atividades aeróbias se exercitou 4 vezes por semana durante uma hora. O grupo da musculação só exercitava-se três vezes por semana em 10 exercícios chegando a quatro séries de 8-15 repetições. Os resultados: os grupos obtiveram ganhos similiares em VO2 máx e, apesar de ambos perderem peso, os exercícios aeróbios causaram perda de massa magra (cerca de 4 quilos!) o que causou redução no metabolismo de repouso de +/- 200 kcal. Ao contrário da inconveniência dos resultados obtidos com treinamento de endurance, a musculação preservou a massa magra e metabolismo de repouso.

GELIEBTER e outros autores também conduziram um experimento no qual se comparou o efeito do treinamento aeróbio com o da musculação nas alterações da composição corporal de indivíduos moderadamente obesos. Ao final de 8 semanas ambos os grupos obtiveram uma perda de peso de 9 quilos em média, porém somente o grupo que treinou com pesos conseguiu atenuar a perda de massa magra. (GELIEBTER et al, 1997)

Em 1999, Kraemer, e outros nomes notórios como Volek e o finlandês Keijo Hakkinen, fizeram um estudo de 12 semanas no qual a amostra foi dividida em três grupos: dieta, dieta + exercício aeróbios e dieta + treino de força. Ao final da pesquisa todos os grupos conseguiram reduzir o peso, sendo a menor perda para o grupo de exercícios aeróbios. Do peso perdido, o grupo que praticou a musculação perdeu 97% em gordura, contra 78% para exercícios aeróbios + dieta e 69% para a dieta somente, sendo que este último perdeu uma quantidade significativa de massa magra (KRAEMER et al, 1999).

Manutenção ou elevação do metabolismo.

Quando se realizam intervenções com o objetivo de reduzir o peso, um dos maiores problemas que se encontra é diminuição do metabolismo de repouso, ou seja, passa-se a utilizar menos energia, facilitando a recuperação da gordura perdida.

Como vimos no artigo sobre exercícios aeróbios (A verdade sobre aeróbios e emagrecimento), atividades intensas produzem maiores gastos calóricos e elevações na taxa metabólica de repouso por tempo e magnitude proporcionais a intensidade da atividade, a musculação pode ser orientada para ter característica intervaladas de alta intensidade e trazer os benefícios citados anteriormente. O mesmo serve ao treinamento com pesos conforme verificado por MELBY et al, (1993), GILLETTE et al (1994), HALTOM et al (1999), OSTERBERG & MELBY (2000). Neste último estudo, os autores verificaram utilização de gordura até 62% acima do "normal", mesmo 14 horas após a musculação!

Apesar do que muita gente crê, o fato de se ter um bom condicionamento aeróbio em nada ajuda o seu metabolismo, pois o condicionamento aeróbio em si nada tem a ver com o gasto de energia no metabolismo de repouso. (BINGHAM et al, 1989; BROEDER et al, 1992, WILMORE et al, 1998). Pode-se correr na esteira a vida interia e até mesmo se tornar um maratonista que o metabolismo permanecerá igual, a menos que se ganhe massa muscular! Ressaltando, a maioria das evidências sugere que o metabolismo basal é relacionado à quantidade massa magra (BINGHAM et al, 1989; BROEDER et al, 1992; BURKE et al, 1993). Aqui reside uma inigualável vantagem do treino com sobrecargas, a capacidade de reduzir a gordura corporal e simultaneamente manter ou até mesmo aumentar a massa muscular, o que evita ganhos futuros de peso, melhora a estética e parâmetros funcionais, principalmente na força, coisas que os exercícios aeróbios não fazem (HUNTER et al 1998).

Além do ganho de massa magra há estudos mostrando alterações metabólicas interessantes como maior utilização de energia por unidade de massa magra, revelando que a elevação do metabolismo de repouso advindo do treinamento com pesos vai além do ganho de massa magra. Outro dado interessante é a queda do quociente respiratório, demonstrando maior utilização de gordura em repouso (HUNTER et al, 2000).

Esta hipótese tem sido muito discutida atualmente dada à baixa relevância que a massa muscular pode ter no metabolismo basal (os cálculos que fiz trazem algo em torno de 50 kcal por quilo de massa magra), porém, em casos extremos, os valores de massa muscular podem chegar a quantidades elevadas, ganhado significância.

Conclusões

Comprovadamente a musculação é um excelente meio de reduzir o percentual de gordura, mas os benefícios não se resumem a mera diminuição no tecido adiposo. O treinamento com pesos estimulará a síntese de proteínas musculares melhorando sua estética e as funções do aparelho locomotor. Além disso, os benefícios obtidos com o uso de exercícios resistidos serão mais duradouros devido à manutenção e até mesmo elevação do metabolismo de repouso, que parece ser relacionado com a massa muscular.

Enfim, tendo em vista os inúmeros benefícios proporcionados pelos exercícios com pesos é recomendável que se perca o medo da sala de musculação e descubra as maravilhas que lá o esperam. A monotonia ou a falta de tempo não serão problemas, pois o bom professor saberá organizar um treino que seja totalmente adequado a sua disponibilidade e personalidade, a questão chave está em se exercitar sob uma supervisão competente.

Nesse texto a referência principal foi a musculação, mas os mesmos benefícios podem ser obtidos com modalidades em grupo como a ginástica localizada (a verdadeira, montada por professores competentes, e hidroginástica (que pode ser bastante intensa, se elaborada com esta finalidade). Diversos estudos citados utilizaram treinamentos em circuito, que se aproximam muito da metodologia usada nas aulas em grupo (observação: não confunda isto com realizar 100 repetições de cada movimento ou passar de 4 a 5 minutos exercitando um grupamento muscular sem descanso, os questionáveis resultados estéticos destas metodologias em nada tem a ver com a proposta deste texto).

Além destas vantagens a musculação também poderia ser organizada de modo a se aproximar de um treino intervalado, modalidade extremamente eficiente na redução da quantidade de gordura corporal, como mostrado no texto A verdade sobre aerobios e emagrecimento

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Natação engorda?

A natação é um dos esportes mais praticados do mundo, sendo normalmente recomendado para pessoas com problemas respiratórios, com lesões músculo-esqueléticas e pessoas desejando perder peso. Especificamente com relação à perda de peso, acredita-se que a natação forneça um alto gasto energético por envolver um grande número de músculos em seus movimentos. 

No entanto, é paradoxal ver que nadadores normalmente apresentam maiores quantidades de gordura corporal em comparação com atletas de outras modalidades. Como exemplo podemos citar um estudo da década de 1980 no qual foram comparados nadadores e corredores. Os resultados mostraram diferenças em atletas de ambos os sexos, no caso dos homens, os corredores possuíam em média 7% de gordura, enquanto os nadadores possuíam 12%, já para as mulheres os valores foram de 15 e 20%, respectivamente (Jang et al, 1987). A análise de gasto calórico não revelou a origem da diferenças, no caso dos homens não houve diferença entre o balanço energético nem entre o gasto calórico (3380 para nadadores e 3460 kcal para corredores). No caso das mulheres, a situação foi ainda mais paradoxal, tendo em vista que as nadadoras gastavam mais energia (2490 x 2040 kcal) e ainda se encontravam em um balanço energético negativo (Jang et al, 1987).

Ao observar a comparação entre atletas, pode-se alegar que as diferenças de composição corporal sejam atribuídas à seleção natural, pois nadadores se beneficiariam menos de corpos mais densos. No entanto, os estudos usando tais atividades como intervenção trazem testemunho contra a natação. É o caso do estudo publicado por Gwinup em 1987, comparando três atividades: caminhada, cicloergômetro e natação. O experimento durou seis meses e o tempo das atividades foi aumentado até se chegar a 60 minutos diários. Após o término do estudo, que não envolveu restrições alimentares, as praticantes de caminhada perderam 10% do peso inicial, as de ciclismo 12% e as de natação não perderam peso algum (na verdade houve um aumento médio de 2,5 quilos), adicionalmente a análise da composição corporal revelou que não houve perda de gordura nas nadadoras.

Uma das explicações para a suposta ineficiência da natação na redução da gordura corporal está em um possível aumento de apetite causado pela atividade, fato que alguns praticantes relatam através da observação pessoais. No entanto, o estudo de Jang et al (1987) não encontrou diferenças entre a ingestão de calorias de corredores e nadadores, e estudos em animais mostram que as mudanças no comportamento alimentar decorrentes do treino de natação podem ser positivas, diminuindo a ingestão de gorduras (Boghossian & Alliot, 2000; Boghossian et al, 2000). Isto também não parece ocorrer em atletas, como mostra estudo realizado com uma equipe universitária de natação, no qual foi verificado que o aumento de volume e intensidade dos treinos não era acompanhado por um aumento proporcional da ingestão calórica, levando a redução da gordura corporal (Barr & Costill, 1992). Em de 1999, Lambert et al compararam a ingestão de energia 2 horas após 45 minutos de natação ou corrida (a 71,8% do VO2máx) em triatletas bem treinados e verificaram que não havia diferença na percepção de fome nem na ingestão calórica após as atividades. 

Um possível efeito agudo no metabolismo também não pode ser usado como justificativa. Em um estudo de Flynn et al (1990), foram comparados os efeitos da corrida e da natação (45 minutos a 75% do VO2 máx) no metabolismo durante as duas horas seguintes às atividades. Os resultados mostraram que o gasto calórico tanto no exercício quanto no repouso era similar nas atividades, no entanto, o taxa de troca de gases sugere uma maior utilização de gordura para natação.

Considerações finais

Apesar de ainda não existir uma explicação para o fenômeno, a literatura atual não fornece suporte para a crença comum de que a natação seja uma "excelente" atividade para perda de gordura, não havendo evidências de sua superioridade sobre as demais. Entretanto ainda é necessário estudar as variações metodológicas para se ter um posição mais precisa quanto à real eficiência da atividade, antes de rotulá-la como ineficiente. 

Certamente a natação é uma atividade excelente, sendo útil para diversas situações, especialmente como uma forma de lazer e de segurança, no entanto ela vem sendo prescrita de forma generalista por profissionais desinformados. Com a crescente popularidade deste esporte, profissionais acomodados vêm enxergando-a como uma panacéia para casos de problemas articulares, osteoporose, obesidade, perda de peso e diversas outras situações onde ela pode não trazer os resultados esperados quando comparada com outras atividades. 

É importante que a natação seja praticada e recomendada pelos diversos benefícios que ela pode realmente produzir, no entanto, deve-se ter cuidado para não se prescrevê-la de maneira irresponsável, o que pode afastar o aluno dos resultados e eventualmente rotular esta atividade como "inútil".

Referências bibliográficas

  • Barr SI, Costill DL. Effect of increased training volume on nutrient intake of male collegiate swimmers. Int J Sports Med. Vol.:13 n°1 pp:47-51, 1992.
  • Boghossian S, Alliot J. A moderate swimming exercise regularly performed throughout the life induces age and sex-related modifications in adaptive macronutrients choice. Mech Ageing Dev. Vol.120 n°1-3 pp:95-109, 2000.
  • Boghossian S, Veyrat-Durebex C, Alliot J. Age-related changes in adaptive macronutrient intake in swimming male and female Lou rats. Physiol Behav. Vol.69 n°3 pp:231-8, 2000.
  • Flynn MG, Costill DL, Kirwan JP, Mitchell JB, Houmard JA, Fink WJ, Beltz JD, D Acquisto LJ. Fat storage in athletes: metabolic and hormonal responses to swimming and running. Int J Sports Med. Vol.11 n°6 pp:433-40, 1990. 
  • Gwinup G. Weight loss without dietary restriction: efficacy of different forms of aerobic exercise. Am J Sports Med. Vol.15 n°3 pp:275-9, 1987.
  • Jang KT, Flynn MG, Costill DL, Kirwan JP, Houmard JA, Mitchell JB, D Acquisto LJ. Energy balance in competitive swimmers and runners. Journal of Swimming Research. Vol.3 n°1 pp:19-23, 1987.
  • Lambert CP, Flynn MG, Braun WA, Boardley DJ. The effects of swimming and running on energy intake during 2 hours of recovery. J Sports Med Phys Fitness. Vol.39 n°4 pp:348-54, 1999.

 

Paulo Gentil
Presidente do Grupo de Estudos Avançados em Saúde e Exercícios. 06/02/2005
http://www.gease.pro.br



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