Gerenciamento de caso aplicado ao tratamento da dependência do álcool

Enviado por Ronaldo Laranjeira


 

RESUMO

Este artigo visa conceituar e descrever o conceito de gerenciamento de caso clínico inicial aplicado ao tratamento de dependentes do álcool e suas principais etapas, bem como ressaltar as funções do gerente de caso, a importância do primeiro contato, averiguar a motivação para tratamento e algumas sugestões de metas e atividades para incentivar a aderência ao tratamento.

Descritores: Bebidas alcoólicas. Terapia. Reabilitação. Aconselhamento. Gerenciamento clínico.

Introdução

Evidências sugerem que o gerenciamento de caso ou, no inglês, "case management", tem sido uma poderosa intervenção para assistir pessoas que possuem problemas psicossociais, incluindo doenças mentais crônicas, idade avançada e distúrbios emocionais infantis.1,2,3 Mais recentemente, este tipo de abordagem tem sido adaptado ao trabalho com dependência química.4,5

Em linhas gerais, o gerenciamento de caso pode ser definido como um conjunto de intervenções que visam facilitar o desfecho no tratamento. Algumas das funções relevantes dentro deste contexto são: 1) Identificar as necessidades específicas, determinando os pontos fortes e fracos, bem como as necessidades do cliente; 2) Planejar, desenvolvendo uma proposta específica para cada cliente; 3) Estabelecer uma conexão com outros serviços, seja na rede formal ou informal de serviços de saúde; 4) Monitorar e avaliar o caso, visualizando os progressos obtidos; 5) Facilitar o amparo legal em caso de necessidade.6,7,8 Embora estas funções tenham sido largamente aceitas em serviços de saúde, não existe um consenso operacional das definições destas funções.9 Estas descrevem o que os gerentes de caso fazem, mas não como eles fazem, uma vez que não podemos descartar a influência de variáveis como objetivos do serviço, tipo de serviço, população-alvo, características sócio-demográficas, entre outras que dificultariam a normatização de um consenso sobre o "como fazer".

O gerenciamento de caso popularizou-se sem um protocolo específico, uma vez que ele depende da diversidade de adaptações às circunstâncias locais e culturais. No entanto, este artigo se propõe a discutir os desafios práticos da implementação do gerenciamento de caso aplicado ao tratamento de dependentes de álcool.

 

Gerenciamento de caso no tratamento da dependência química

Marshman10 descreveu as funções do gerenciamento de caso especificamente no contexto da dependência química:

1) Fornecer suporte individualizado aos clientes e seus familiares;

2) Auxiliar o cliente na solução de problemas;

3) Auxiliar no suporte da família e empregabilidade do cliente;

4) Facilitar o acesso entre o cliente e o tratamento;

5) Facilitar o acesso do cliente a interconsultas para tratamentos específicos em caso de necessidade;

6) Manter-se alerta às mudanças nas necessidades e problemas do cliente durante o curso do tratamento;

7) Garantir ao cliente que ele poderá ser contatado e encorajado a retornar ao tratamento em caso de abandono;

8) Reforçar e dar continuidade ao processo de tratamento, em modo menos intensivo, dando seguimento ao tratamento no sentido de fornecer suporte na reabilitação do cliente na comunidade, identificando precocemente futuras dificuldades.

No planejamento do gerenciamento de caso é importante levar em conta a duração, intensidade, avaliação e tipo de serviço, tendo em mente:

1) Público-alvo: As características da população-alvo podem ser determinantes no tipo de programa de gerenciamento de caso. Características como idade, sexo, raça, severidade e cronicidade dos problemas são considerações importantes na definição do programa. Por exemplo: quando uma alta proporção de clientes faz parte de uma minoria ética, uma importante consideração no planejamento do gerenciamento de caso é o que o programa pode realizar em termos éticos e culturais, no sentido de viabilizar a reabilitação do cliente.

2) Objetivos: Os objetivos do programa são importantes para a evitar desentendimentos na implementação. Dependem da população-alvo e da definição do problema. Por exemplo: distinguir um consumo alcoólico nocivo de uma dependência de álcool é fundamental para definir os objetivos no tratamento pertinentes ao cliente; a definição de sucesso no tratamento é diferente para um morador de rua quando comparado a um cliente de classe média.

Existem determinadas áreas que sofrem impacto direto das conseqüências do consumo de álcool. Dentre elas, destacam-se: padrão de consumo alcoólico, trabalho, saúde física e emocional, problemas legais, estabilidade na moradia e a satisfação do cliente. Ao identificar qual destas áreas é a mais problemática para o cliente, o profissional estabelece como foco a solução de problemas na área específica, visando à obtenção de sucesso no tratamento, aliada à questão do consumo alcoólico.

3) Ambiente: O ambiente, ou setting, pode ser determinante no desfecho do tratamento. Estudos têm demonstrado11 que a efetividade do gerenciamento de caso tem mais a oferecer com o envolvimento do serviço no ambiente em que ele se encontra do que o gerenciamento de caso per se. Quanto maiores forem as conexões do profissional com outros serviços – sejam estas formais ou informais –, maior será a qualidade do tratamento.

4) Modelo administrativo: é consenso de uma equipe interativa e multidisciplinar que traz vantagens para o gerenciamento de caso, uma vez que possibilita a troca de diferentes pontos de vista para gerenciar problemas, aumentando a criatividade e energia, evitando, desta forma, atuações isoladas.

5) Gerente de caso: O perfil de um gerente de caso inclui formação acadêmica, identidade profissional, compromisso com a filosofia do local de tratamento, conhecimento e experiência sobre dependência química, prontidão para pesquisar as diferentes áreas de vida do cliente, conhecimento das características da população, bem como do sistema de serviço.

 


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