Informação ambiental e banalidade do discusso

 

Belarmino Mariano Neto

 

Início, meio e fim. Estou aqui diante de três coisas. Tendo que começar a dizer sobre um tema que vem se tornando cada vez mais banal no meio de um verdadeiro bombardeio de informações sobre a importância de preservar a natureza e muito preocupado com o fim de tudo isso, pois enquanto as pessoas falam ou discutem o meio ambiente, muitos estão com o cigarro aceso ou acabaram de jogar o papel do bombom pela janela.

A partir de agora, centralizarei meu texto nos elementos da informação ambiental como uma das marcas do atual estágio de globalidade pela qual passa e vive o humano em seu presente. A idéia é relacionar a linguagem como elemento envolvente dos sistemas de informações e da própria ciência que até certo ponto se torna refém do discurso e da representação.

A informação ambiental como banalidade do discurso é uma tentativa de conectar os limiares da pós-modernidade com a super informação, seus veículos em rede e todo o emaranhado de contradições do presentepresente.

Vivemos o paradoxo da pós-modernidade em que a linguagem, a informação ou o discurso ocupam o centro da ciência. A linguagem é a ponte na criação das relações. A teia com os outros mundos e o espaço do dizer e da produção cultural. A informação passou a ser o elemento de maior importância para o mundo contemporâneo. Um mundo visual que produz a consciência da sensibilidade, o conhecimento dos primórdios e do essencialismo e as imagens construídas pela vida de cada pessoa.

A linguagem constrói ciência, (des)constrói o censo de verdade ou de realidade alimentando idéias e utopias. A linguagem cria condições, quebra fronteiras e desafia a constante idéia de ponto final. A capacidade cultural e tecnológica de dizer, de falar, de escrever, de informar e de estabelecer conexões intervencionando a lógica do tempo e do espaço, abrindo portas para a tele-distância na arte da idéia do humano como sendo um programa de palavras ditas, não ditas e por dizer.

"Se a espécie humana ainda precisa de uma alavanca para modificar o mundo. Modificar, não. Para salvar o mundo, ela já reencontrou. Essa ferramenta, usada e demonstrada com competência pelos cinco mil jornalistas que fizeram a cobertura da Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+10, em Johannesburgo, na África do Sul, tem um novo nome: informação ambiental". (Cf. FIRMINO, Hiram. Pp. 06:2002).

A grande questão é: até que ponto a totalidade da informação ambiental tem surtido algum efeito real nas atitudes humanas, em seus Estados, governos, sociedades e empresas? Sem sombra de dúvidas, a informação ambiental foi totalmente democratizada. Internet, televisão, vídeos, rádios, revistas, jornais, folhetos, etc.

São produzidos diariamente com temas que estão relacionados com o meio ambiente e sua preservação. Já somos mais de 6,8 bilhões de seres humanos, e de um jeito ou do outro nos chega a informação ambiental.

Mas, até que ponto, nós nos importamos com estas questões a ponto de mudarmos de atitudes? É claro que a consciência não se faz num dia, mas no dia da consciência de cada um estas são questões relevantes para o momento pelo qual passa a humanidade.

Estou percebendo que o problema não é de (cons)ciência – conhecimento. A questão maior é que existe uma poluição informacional em todos os sentidos. A massificação da informação ambiental é acompanhada de uma massificação ainda maior do consumismo.

Ao lado de uma informação do tipo defenda a natureza, temos dez informações sobre compre, compre, compre, consuma, consuma, consuma, compre, consuma, compre, consuma, compre. A sociedade de mercado monopolista e de consumismo a qualquer preço já descobriu as marcas ecológicas, que geralmente também são dez vezes mais caras. Já temos no supermercado seções inteiras de produtos ecologicamente corretos: café ecológico, açúcar de merário e mascavo, açúcar orgânico claro, arroz integral e ecológico, verduras orgânicas e sem agrotóxicos, etc. Estas marcas disputam espaço com os ligthes, dietéticos, transgênicos, enlatados, estabilizados, e todas as "marcas envenenadas e turbinadas" do mercado tecnológico dos alimentos.

(FIRMINO, 2002), acha que se continuarmos pensando globalmente, mas não fizermos nada localmente, enquanto indivíduos, cidadãos e nação, o fim não será surpresa. A situação do planeta é de alto risco, mas às práticas da superprodução capitalista despreocupadas com os efeitos sobre o meio ambiente nos deixam perplexos, impotentes e alienados de qualquer ação efetiva contra este estado e velocidade destrutiva.

O pior é que as informações ambientais não estão sensibilizando efetivamente a grande maioria das pessoas. Salve a natureza ou a si próprio é algo banalizado em meios aos outros tipos de apelos bombardeados pelo mercado. "Beba cocacola e salve a natureza ou salve a natureza e serás salvo" não estar fazendo muita diferença mesmo. Ninguém acredita, mas acaba tomando coca-cola e esquecendo salvar a natureza.

A aparente ação de muitas empresas é de que estão investindo em defesa do meio ambiente, principalmente empresas com elevado nível de poluição.

Fazendo uma meia culpa. Mas no geral continuam com suas atividades a todo vapor. Ou seja, não basta um programa paliativo. O que precisamos é de uma radical mudança de atitudes. Uma sociedade ecológica, uma humanidade ecológica precisa ser em todos os sentidos.

A exploração abusiva dos recursos naturais nos coloca diante de uma natureza fúnebre. A natureza como ambiente dos lugares estragados, a natureza como um depósito de lixo a céu aberto.

A informação ambiental é uma prática que começa a ser espacializada pela mídia a partir da reunião do Clube de Roma, anos 70, primeiro passo para a percepção de que os recursos naturais não são renováveis, e que a super exploração dos recursos renováveis coloca em risco a vida na Terra. Desse encontro tira-se o documento que aponta para o Crescimento Zero.

Onde os países ricos alertando o mundo para os problemas ambientais globais, causados pela sociedade urbano-industrial e crescente dinâmica demográfica dos países subdesenvolvidos, colocam em risco o desenvolvimento econômico e o meio ambiente, especialmente para as nações com dependência tecnológica e atraso econômico que propagam "o desenvolvimento a qualquer custo" (Brodhag, 1997:49-55).

Em 1972, a Organização das Nações Unidas – ONU, convoca a Conferência de Estocolmo (Suécia), que marcou a mundialização das questões ecológicas. (Sene & Moreira, J. C. 1998:407) Nessa "Declaração do Ambiente", são perpassados os primeiros acordes para as preocupações com o desenvolvimento sustentável, com um forte apelo aos direitos fundamentais do homem - vida, liberdade e igualdade de condições em um ambiente racionalmente protegido, onde o desenvolvimento deve ser planejado pelo Estado no sentido de melhorar o ambiente em benefício das populações; fazer uma gestão dos recursos no sentido preservar e melhorar o ambiente, assegurando às gerações atuais e vindouras uma melhor qualidade de vida. Foram aprovados 26 princípios gerais e pouca ação por parte dos diferentes países. O importante é que Estocolmo marcou a visão ecológica global, tendo sido, de fato, uma conferência de caráter planetário.

Na seqüência, chegamos à Rio 92, Conferência Internacional da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, com a presença de 106 chefes de Estados ou representantes e mais de 35 mil pessoas. Este encontro resultou na "Agenda 21", com quarenta capítulos, 800 páginas, muitas sugestões e poucos compromissos firmes. Pois este documento não fixa objetivos, estimativas, custos, nem modalidades. Estamos diante dos fios invisíveis que manipulam as contradições de uma política ecológica mundial (Freire, 1992:27-8).

As ONGs e outros se contrapuseram ao encontro patrocinado pela ONU, mas o que prevaleceu foram as decisões do G-7 (o grupo dos sete países mais ricos) e suas instituições financeiras. Os crimes ecológicos e o modelo de desenvolvimento continuam, apesar do compromisso das nações em gradualmente diminuir tais crimes (Brodhag, 1997:61). O desperdício da sociedade de consumo forma esse novo caldo de cultura, que não é total, mas fragmentado nos indivíduos de cada canto do mundo como em um processo sem fim. Incorporadores de valores, rugosidades, sentidos e ritmos do existir.

Do dia 26 de agosto a 04 de setembro de 2002, em Joanesburgo, na África do Sul, foi realizada a Rio + 10. Uma Reunião da Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável. Reuniu mais de 160 chefes de estados, 45 mil delegados e 7 mil ONG’s representantes de 185 países. Em nível de representação internacional, essa foi sem dúvidas a maior conferencia mundial sobre o tema.

Se a Rio 92 nos deixou claro que a natureza é finita, limitada e que funciona dentro de um sistema interdependente e que precisa do princípio do equilíbrio, perguntamos o que de fato os governos, empresas e sociedade civil fizeram para reverter a velocidade de suas práticas econômicas antiecológicas? Estamos diante de uma década da Rio-92. Naquele período vários ecologistas já apontavam para esta situação de descaso com o meio ambiente.

Roberto Freire (1992) divulgou um manifesto intitulado a FARSA ECOLÓGICA. A ECO-92, encontro paralelo ao Rio-92, foi fortemente criticado como divisionismo de radicais. Hoje a gente entende porque a Rio+10 foi um fracasso frustrante. Não só a Rio+10. Tivemos o Protocolo de Kyoto, o Furum social mundial realizado na África do Sul, a ameaça americana de guerra aos iraquianos e o descompromisso do Governo Bush e dos seus colaboradores em relação ao meio ambiente.

Para o Greenpeace, o Rio + 10 pode ter sido a 2ª chance. Será que teremos uma terceira, quarta, quinta chance? Com esse capitalismo turbinado, os impactos locais, regionais, nacionais e globais já estão totalmente sistematizados. O pequeno Rio de minha cidade estar cheio de pneus pirelle, farestone, garrafas pet de coca-cola, latas de óleo da Texaco, Shell e todas as grandes marcas, mundiais.

O Rio de 92 encontra-se mais poluído, mais violento, mais pobre. A África de 92 em uma situação bem pior. O Rio+10 é a pura constatação de que a agenda 21 foi mais gasto de papel, energia e utopias de um mundo ambientalmente viável, socialmente justo e economicamente sustentável.

Para concluir esse quase manifesto deixo aqui registrado a denúncia, de que no Brasil já existe uma nova indústria parecida com aquela da seca. É a "Indústria Ambiental". Os recursos para salvar os rios, as florestas, os animais, começam a aparecer nas placas dos governos federal/estadual e local, mas o ambiente continua degradado. Entidades estão sendo criadas para defender o meio ambiente com recursos estrangeiros, mas muitos são escritórios para carrear recursos para fins ilícitos.

er um pessimista, mas só vejo uma saída: a transformação dessa sociedade capitalista e consumista por uma sociedade ecológica autogestionária a partir rismo. O que chamo de Socialismo Comunitário Ecológico. Ou quebramos onia de destruição sócio-ambiental capitalista ou não teremos uma quarta

 

Referências:

  • BOOKCHIN, Murray.
    Por uma ecologia Social. Rio de Janeiro: Utopia, nº. 04, 1991.
  • BRODHAG, Christian.
    As quatro verdades sobre o planeta. Por uma outra civilização. Lisboa: Instituto Piaget, 1997.
  • CASTELLS, Manuel.
    O Poder da identidade. São Paulo: Paz e Terra, 1999.
  • __ A Sociedade em Rede. São Paulo: Paz e Terra, 2000.
  • FIRMINO, Hiram.
    A Ecologia do Sapo. In.: JB Ecológico. Rio de Janeiro, nº. 08, 21/12/2002.
  • FREIRE, Roberto.
    A Farsa Ecológica. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1992.
  • LEVI, Pierre.
    Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 2000.
  • SENE, Eustáquio de, & MOREIRA, J. Carlos.
    Geografia Geral e do Brasil: Espaço Geográfico e Globalização. São Paulo: Scipione, 2002.
  • SILVA, T. Tadeu da, HARAWAY, Donna & KUNZRU, Hari.
    Antropologia do Ciborgue – as vertigens do pós-humano. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.

 

Belarmino Mariano Neto
belogeo[arroba]yahoo.com.br


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