Um intercâmbio acadêmico: a cultura da esquerda em questão



O debate acadêmico é sempre bem vindo, porque necessário à dimensão crítica do trabalho intelectual e mesmo indispensável para o avanço da racionalidade, stricto sensu, de todo e qualquer esforço analítico. A produção em circuito fechado é freqüentemente autista e auto-enganadora. Por isso, apenas posso saudar que este "espaço acadêmico" tenha, pela primeira vez, acolhido uma legítima resposta a um de meus artigos, no caso o texto de Robinson dos Santos, intitulado "‘Milk-shake’ indigesto ou sete equívocos de uma crítica à esquerda?: Réplica a Paulo de Almeida", publicado no número 48, de maio de 2005. De fato não foi a primeira reação a texto meu – houve um caso anterior de comentários a minha dissecação da ideologia afro-brasileira, por acaso por um ítalo-brasileiro, como eu, o que certamente não diminuiu em nada o valor dos argumentos –, mas este foi o primeiro de modo explícito e direto. Como o editor ofereceu-me a possibilidade de réplica à réplica, pretendo nestes curtos parágrafos submeter o texto de meu comentarista a uma análise de forma e de substância.

Dispenso comentar o título, "milk-shake indigesto", pois isto vai das preferências gastronômicas de cada um, e prefiro ater-me ao complemento: "sete equívocos de uma crítica à esquerda?". O ponto de interrogação significaria que ele, o crítico, não tem certeza de que meu texto contém, efetivamente, sete equívocos ou de que ele comporta uma crítica ao conjunto da esquerda? Confesso que não sei ao certo e caberia a meu crítico esclarecer este ponto. Retenho, portanto, o subtítulo, afirmativo, "Réplica a Paulo de Almeida", o que promete um confronto direto com cada um dos "sete pecados dialéticos" que identifiquei na cultura de esquerda. Teria a promessa sido cumprida?

Creio que não, como pretendo demonstrar abaixo. Aliás, para minha frustração, a réplica não tem por objeto os elementos centrais de meu artigo, mas o que supostamente estaria por detrás de meus argumentos, isto é, "recalque", "verborragia" e outros aspectos de uma dimensão psicológica que escapam largamente ao objeto desta minha "tréplica". Eu, sinceramente, preferiria um debate sobre os "equívocos" dos pecados apontados, em lugar de uma diatribe sobre as supostas intenções ou motivações do seu autor. Aprendi, com Machado de Assis, que a obra deve ser julgada em seu mérito próprio, colocando-se em segundo (ou terceiro) plano quaisquer motivações de seu autor.

Para que o leitor destas linhas tenha uma idéia do objeto de meu artigo (intitulado "A cultura da esquerda: sete pecados dialéticos que atrapalham seu desenvolvimento", EA 47, abril 2005), transcrevo aqui o sumário dos "pecados" por mim identificados (e discutidos):

1. A esquerda é estupidamente anti-mercado.

2. Ela é (falsamente) igualitarista.

3. Ela se posiciona contra a "democracia formal", preferindo a "democracia real".

4. A esquerda é geralmente estatizante (o que é, realmente, uma pena).

5. Ela é anti-individualista, preferindo os "direitos coletivos".

6. Ela é tristemente populista e popularesca.

7. Também costuma ser voluntarística e anti-racionalista.

Meu crítico, Robinson dos Santos, promete apresentar os "sete equívocos de uma crítica à esquerda", mas confesso que não consegui identificar onde estariam os supostos equívocos de minha crítica à cultura da esquerda. Vejamos.

 


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