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As mulheres chefes de domicílios e a formação de famílias monoparentais: Brasil, século XIX (página 2)

Dora Isabel Paiva da Costa

 

GRÁFICO 1.
Proporção de domicílios chefiados por mulheres, homens e casais
Legenda: M=mulheres; H=homens; C=casais.
Fonte: Lista de Habitantes de Campinas, Fundo Peter Eisenberg, Arquivo E. Leuenroth/Unicamp.

Etnia e estado matrimonial

Nas próximas tabelas observar-se-á em que medida as variáveis etnia e estado matrimonial influenciaram as fases do ciclo de constituição de família. O grupo de mulheres chefes foi segmentado em brancas, pardas e negras, e também por fases do ciclo referido. Este último recorte foi definido pelas situações biparental, quando constituídas de mulheres casadas com maridos ausentes, e monoparental, quando constituídas de solteiras e viúvas.

A população de Campinas, neste período, estava segmentada por indivíduos designados como brancos, pardos e negros.

As Listas de Habitantes são a fonte principal para essa classificação. Os recenseadores invariavelmente denominavam como negros a grande maioria dos escravos; a população liberta de cor e uma pequeníssima minoria cativa eram designados como pardos; a denominação brancos era reservada à população livre.

A Tabela 1 mostra a participação proporcional das mulheres que chefiavam unidades domésticas, classificadas por status marital. Este recorte permite observar e acompanhar o desenvolvimento do ciclo das famílias em relação a este grupo de mulheres. O maior número de famílias monoparentais em que as mulheres chefiavam seus lares se compunha de viúvas (59%) – contrastando fortemente com as características das vilas de São Paulo e Vila Rica.

Em segundo lugar apareceram as solteiras, as quais se apresentaram num ciclo inicial de formação de famílias, cuja proporção foi de 30%. Por último vieram as casadas com marido ausente (11%). Ver-se-á, em tabelas posteriores, que estas inferências são consistentes com as médias de idade destas mulheres.

Dias (1984, p. 40) observou, em relação à cidade de São Paulo, a existência, em média, de 50,6% de mulheres solteiras, 38,5% de viúvas e 10,7% de casadas. No que se refere à Vila Rica colonial, Ramos (1975, p. 207) chamou a atenção para a alarmante cifra de 83% de mulheres que possuíam o status de solteira; 14% eram viúvas e 2,7 % eram casadas. Que conclusões parciais podemos extrair destes contrastes? Analisando-se do ponto de vista do ciclo de desenvolvimento familiar, observar- se-á que parte considerável das famílias de Vila Rica e São Paulo possuíam uma formação de estrutura familiar que obedecia a uma seqüência diferenciada de fases. Uma grande proporção de mulheres constituía família ainda na ausência da legalidade matrimonial e depois, provavelmente, buscava o reconhecimento da Igreja.8

Campinas apresentou traços que demonstram um maior grau de acesso à nupcialidade, enquanto Vila Rica e São Paulo apresentaram uma estrutura de população e de ciclo de desenvolvimento de famílias que percorriam uma trajetória e formação de arranjos domésticos mais diversificados. Campinas mostrou uma estrutura semelhante à das populações das sociedades tradicionais da Europa moderna e pré-industrial, onde o segmento de viuvez vinha em primeiro lugar em relação ao grupo de mulheres que chefiavam domicílios, e também diferente, na medida em que apresentou um segmento nada desprezível de 30% de solteiras liderando seus lares.

Para melhor entender quem eram estas mulheres, quantas eram, se tinham filhos ou não, deve-se levantar a seguinte questão: qual era a conduta coletiva destas mulheres quando observadas a partir de agrupamentos étnicos? Ao introduzirmos a variável etnia o quadro começa a ficar mais claro. Surpreende, à primeira vista, a proporção de mulheres brancas que se tornaram chefes de domicílios (73%), seguidas das mulheres pardas (27%). As negras não apareceram nenhuma vez.

Samara (1989, p. 38) observou, em relação à cidade de São Paulo, que 65% dos domicílios da área urbana eram constituídos por uma população branca, 28% por mulatos, 6% por pretos e 1% por índios.

Ainda em relação a São Paulo, Dias (1984, p. 131) apontou que 58% das mulheres chefes de fogos eram brancas, 32% eram pardas e 7% eram negras. Em seu estudo sobre a Vila Rica colonial, Ramos (1975, pp. 219- 220) mostrou a existência de 50% de mulatas e crioulas chefiando fogos, seguidas pelas pretas (11%) e, por último, pelas brancas (7,5%). Diaz & Stewart (1991, p. 305), por sua vez, notaram a presença de 46% de negras dentre as mulheres que chefiavam domicílios, seguidas pelas mulatas (30%) e pelas brancas (21%), para uma região plantadora de cana na Bahia colonial.

Quem seriam estas mulheres brancas e pardas que chefiavam domicílios numa área tão fortemente rural e inóspita como Campinas neste período? As campineiras demonstraram a mesma tendência comportamental em relação à questão étnica observada na cidade de São Paulo: eram as brancas que lideravam a chefia de fogos.

Contudo, as populações mineiras e baianas demonstraram uma participação bem maior das mulheres negras, crioulas e mulatas nesta posição (Diaz & Stewart, 1991; Ramos, 1975).

Qual seria a participação dos filhos remanescentes por domicílio em relação ao status matrimonial das titulares? Haveria uma diferenciação significativa entre as mulheres casadas e não casadas no tocante à permanência da prole no lar?

Estratégias de arranjos domésticos

Nas tabelas seguintes examinar-se-á como este grupo de mulheres organizava seus lares a partir da convivência filial.

A Tabela 3 fornece algumas indicações.

O índice de filhos remanescentes entre mulheres casadas e solteiras foi o mesmo: 1,7, em média, por domicílio. O que se pode inferir desses dados? O estado matrimonial não se constituiu numa variável diferenciadora que denunciasse divergências marcantes. A atitude das casadas e solteiras ao formar arranjos domésticos mostrou ser semelhante no que diz respeito à convivência com os filhos, se pensamos tais aspectos conjugados ao ciclo de constituição familiar. Ramos (1990, pp. 389-390) demonstrou que as mulheres mineiras casadas tinham, em média, pelo menos um filho a mais que as solteiras.

O grupo das viúvas demonstrou uma presença média maior de filhos por domicílio, 2,7. Este incremento deve-se sobretudo à variável idade, ou melhor, à base temporal de dados, pois envolve um período reprodutivo maior dessas mulheres.

Se segmentarmos esta amostra a partir da noção "mulheres pelo menos uma vez casadas", teremos uma média menor, de 2,2 filhos por fogo. Este número representa a soma da quantidade média de filhos num subgrupo maior – o das casadas e viúvas.

Isto significa que a base temporal de análise efetivamente traduziu um impacto no ciclo de vida das famílias das lavradoras, costureiras e artesãs.9

Quando se associa a variável etnia com a quantidade média de filhos remanescentes por domicílio (Tabela 4), observa-se que as brancas detiveram uma média superior à das pardas. O que justificaria este comportamento coletivo? Seria uma taxa de mortalidade maior em relação aos filhos das pardas, em razão de um maior grau de pobreza presente neste grupo étnico? Refletiria uma saída precoce do lar de efetivos filiais para desenvolver tarefas remuneradas que ajudariam na sustentação do domicílio matrifocal? Postergariam as pardas seus matrimônios e/ou uniões consensuais, o que resultaria numa redução do número de nascimentos? Ou teriam tido filhos ainda enquanto cativas, e, portanto, parte de sua prole estaria ainda vivenciando um estado de escravidão? Ao introduzirmos a variável idade média das mulheres entre aquelas que declararam filhos, por grupo étnico, e calcularmos a média das idades das casadas, solteiras e viúvas (Tabela 5), observamos que a idade das brancas é ligeiramente superior à das pardas, sem representar, contudo, uma substancial diferença. Se ocorresse o contrário, isto é, se a idade média das pardas fosse significativamente superior à das brancas, este hipotético comportamento poderia explicar a diferença na quantidade média de filhos ligeiramente inferior das pardas. Contudo, não é o caso das mulheres da região de Campinas.

Quando confrontados o estado matrimonial e a etnia, observa-se que as mulheres brancas postergaram o matrimônio em relação às pardas. Entretanto, é digno de nota que a necessidade de chefiar domicílios pareceu se impor mais cedo às primeiras do que às segundas, enquanto as brancas se declararam solteiras. Este comportamento mostra que as solteiras brancas chegavam ao ciclo de chefia de domicílios em idade mais recuada em relação às casadas, e podiam efetivamente constituir seus lares em idade inferior à das solteiras pardas, que demoravam mais tempo. É notável a similitude da idade da viuvez, significando que fatores comuns atingiam a ambos os grupos étnicos com igual impacto. A idade das viúvas aproximou as brancas que perdiam o marido aos 46 anos, em média, às pardas que eram submetidas ao mesmo fenômeno aos 45 anos. Entretanto, práticas culturais e econômicas podem ter sido determinantes num contexto rural de regimes demográficos do tipo antigo, no qual os filhos voltavam a co-residir com as mães viúvas, e estas, quando não estavam em estado avançado de idade e/ou enfermidade, apareciam ainda como chefes de família, segundo critérios dos recenseadores, embora seus filhos tivessem papéis mais ativos na condução da economia doméstica.

A pergunta decorrente dessas observações é a seguinte: qual era o período de convivência da prole no lar em relação ao sexo e às faixas etárias? Quais foram as estratégias de convivência elaboradas pelas famílias mono e biparentais no que diz respeito à presença da prole no lar? A Tabela 6 é indicativa da proporção de filhos e filhas remanescentes nos domicílios das mulheres segmentadas por status marital. Os domicílios de famílias monoparentais chefiadas por viúvas apresentaram os maiores índices de participação da prole no lar. As famílias biparentais com mulheres casadas (e marido ausente) vinham em seguida, em termos proporcionais.

Finalmente, os domicílios de famílias chefiadas por mulheres solteiras foram os últimos em termos proporcionais. Esse resultado é significativo do estágio do ciclo de desenvolvimento familiar, pois mostra que as viúvas tiveram mais tempo de procriar, bem como o auxílio dos maridos na condução da economia doméstica, aumentando, portanto, suas chances de possuir uma maior quantidade de filhos remanescentes. As casadas puderam sustentar maiores domicílios em relação às solteiras, cuja ausência sistemática de maridos dificultava a manutenção de formas maiores de famílias.

Um dado importante a observar é que uma menor quantidade de fogos apresentou filhas, mesmo levando em consideração as três fases do ciclo de desenvolvimento familiar, o que traduzia uma característica comum a todos. As filhas eram a parte da prole mais ausente, se comparadas aos filhos.

Na Tabela 7 segmentamos o sexo da prole em faixas etárias em relação à etnia das mulheres chefes para quantificarmos o grau de convivência filial por domicílio.

O grupo das mulheres brancas apresentou uma proporção maior de domicílios com filhos adultos, não mostrando relevância a diferença na faixa etária relativa às crianças. O grupo das mulheres pardas apresentou uma maior proporção de domicílios com filhos do que filhas, tanto nas faixas etárias relativas às crianças, quanto naquelas relativas aos adultos. Este resultado pode significar a saída intensa das meninas-moças de lares mais pobres para formarem novas uniões ou trabalharem em unidades domésticas mais abastadas. O impacto diferencial agiu com maior intensidade entre as moças do que entre as meninas no grupo das pardas. A diferença em relação à presença de mais moços do que moças praticamente duplicou neste grupo, não se verificando o mesmo grau de impacto no grupo das brancas.

Para responder de forma introdutória à questão do papel da prole nessas unidades domésticas, deve-se pensar em termos do ciclo de família, a partir de variáveis relacionadas ao sexo do chefe de domicílio, à faixa etária e ao sexo da prole, operando um recorte documental que absorva o conjunto da população, sem discriminação de ocupação e etnia. Esse procedimento justifica-se por duas razões. Primeiro, para não reduzir as amostras a tamanhos insignificantes, e segundo, para que se possa ter um panorama geral de como esta sociedade, de forma agregada, se comportava do ponto de vista da convivência filial. Para tanto, foram organizados três gráficos que informam as tendências das proporções de filhos e filhas que conviviam em lares chefiados por casais, por homens ou por mulheres (Gráficos 2, 3 e 4).10

As curvas do Gráfico 2 exprimem as proporções de filhos e filhas, segmentados por pequenas faixas etárias, que conviviam em lares chefiados por casais no ano de 1829. Este recorte específico – chefia de casal – possibilita a compreensão de comportamentos filiais durante as diferentes fases do ciclo de desenvolvimento familiar.

Há quatro aspectos fundamentais a partir dos quais serão analisadas as condutas das proles, vistas através das variáveis sexo e idade: (1) o movimento geral das curvas; (2) a amplitude das curvas; (3) o grau de inclinação das curvas; (4) as tendências ascendentes e descendentes das mesmas.

O movimento geral das curvas relativas à presença da prole masculina e feminina declina suavemente, sem grande flutuações em zigue-zague. Este resultado reflete a saída sistemática do lar de efetivos filiais ao longo do ciclo de família.

Quando os grupos domésticos eram controlados pelo pai e a mãe conjuntamente, maiores proporções de filhos do que filhas estavam presentes no lar já na primeira fase etária.11 Na segunda, meninos e meninas conviviam em semelhantes participações, porém, a partir daí, o comportamento da prole começa a se diferenciar em direção a maiores taxas participativas de efetivos femininos, só voltando a se assemelhar por volta da quinta fase, entre os 21 e 25 anos, de ambos os efetivos. Constatou-se também que, no período da adolescência, maiores proporções de moças estavam convivendo com seus pais, relativamente aos jovens rapazes nessa mesma fase.

O pai de família, quando atingia a fase do ciclo doméstico que o colocava na condição de viúvo e a família passava pela fase monoparental, convivia mais tempo com proporções maiores de contingentes filiais femininos (Gráfico 3). Note-se que a altura geral da curva de permanência no lar das filhas é maior do que a dos filhos, exceto na primeira e segunda fases etárias. A presença de filhos e filhas cresce da primeira fase (0 a 5 anos) à segunda (6 a 10 anos).

As pequenas proporções de efetivos filiais logo na primeira fase de vida traduz um comportamento no qual a ausência da mãe levava os campineiros a deixar sua prole, ainda nos primeiros anos de vida, na convivência de avós e tios.12

É possível inferir que a maior proporção de filhas remanescentes no lar paterno quando o pai vivia a condição de viúvo tenha contribuído para trazer o genro para dentro de casa. Desse ponto de vista, a tendência dos casamentos das filhas desenharia um padrão residencial uxorilocal e o noivo circularia em direção à casa da noiva, trazendo consigo dotes constituídos por bens móveis.13

Vale ressaltar que 100% dos homens que chefiavam seus fogos eram viúvos. O mesmo não acontecia com as mulheres que ocupavam aquela posição, como visto anteriormente. Casadas com maridos ausentes, solteiras e viúvas desenharam o leque de possibilidades das vivências femininas como titulares de fogos, apontando uma maior versatilidade e tornando ainda mais complexa a experiência das mulheres naquele mundo agrário e hostil.

Um padrão de comportamento invertido se desenrolou nos lares chefiados por mulheres, como pode ser visto no Gráfico 4.

Os efetivos femininos iniciaram seu ciclo de vida participando mais do que os meninos da convivência com a mãe, aumentando progressivamente suas taxas participativas até a terceira fase etária. A partir daí, percebe-se um declínio, quando então os meninos, vivendo sua puberdade, conviviam e dividiam mais intensa e proporcionalmente a vida no lar materno.

Alguns aspectos fundamentais foram percebidos a partir da comparação das curvas comportamentais presentes nos gráficos acima explorados. Com o cruzamento dos dados do Gráfico 4 com os da Tabela 7, referente às proporções de domicílios que declararam filhos e filhas remanescentes, de diferentes faixas etárias, no grupo de mulheres classificadas por status marital, observou-se padrões comportamentais divergentes.

As mulheres campineiras, de modo genérico, quando chefiaram seus domicílios, tinham sob sua tutela direta mais garotas do que garotos na fase infantil do ciclo de vida da prole; essa tendência comportamental invertia-se a partir da puberdade, quando os efetivos masculinos começavam a crescer e os femininos, a diminuir.

Todavia, a amostra de mulheres na mesma posição, quando segmentada por status marital, apresentou uma conduta diferenciada das casadas e solteiras em relação às viúvas (veja a Tabela 6). As do primeiro grupo retiveram logo cedo, no ciclo da família, maiores proporções de garotos do que garotas. Na fase etária seguinte da prole, ou seja, durante a adolescência, estas mulheres conviveram com a saída dos efetivos femininos mais cedo do que as viúvas. Sendo assim, é lícito concluir que as mulheres que ocupavam sozinhas a posição de chefes de domicílios decidiam, desde cedo, sobre a permanência de mais garotos e rapazes em seus lares, de modo a compensar a ausência sistemática ou temporária de seus maridos e companheiros.

Segue daí que é igualmente legítimo concluir que, tão logo os rapazes atingissem a idade de emancipação legal, ou se casassem antes desta data, tenderiam a se tornar os chefes dos referidos fogos. Realizar- se-ia, então, um padrão virilocal de residência, induzindo as moças a circularem com seus dotes compostos por bens móveis.14

O ciclo de desenvolvimento familiar saía das configurações mais simplificadas em direção às formas mais complexas. E, se as moças trouxessem parentes, pai e mãe viúvos consigo, realizar-se-iam as formas de domicílios com arranjos múltiplos. Assim, os ciclos familiares se repetiriam sucessivamente consoante os padrões específicos de reprodução social dos grupos ocupacionais.

Composição geral dos domicílios

Para compreendermos melhor esse fenômeno serão traçadas, a seguir, as características da organização ocupacional e da composição econômica desses lares.

Nas três próximas tabelas serão segmentadas as populações agregada e escrava que lá residiam, como também será feita uma análise da situação por setores econômicos.

A diferença marcante evidenciada na Tabela 8 revelou-se na segmentação da amostra por status étnico. A presença de membros agregados aos domicílios não foi homogênea quando controlada a variável status matrimonial, denunciando uma diferença significativa nesta forma de coorte populacional. Nos lares de mulheres brancas, entretanto, a cifra indicativa da presença de agregados quase duplicou em relação aos lares das pardas. A tendência destas ao isolamento evidencia um maior grau de pobreza, pois não só o tamanho como também a composição das unidades domésticas que apresentassem maior complexidade, nesta sociedade, constituíam, em geral (mas nem sempre), traços característicos de riqueza.

Do ponto de vista do ciclo de vida da família, os domicílios de famílias biparentais (casadas) e monoparentais (solteiras) não apresentaram diferenças. Este fenômeno traduz a importância que tinham os agregados na composição dos fogos quando a chefia estava nas mãos de mulheres ainda na fase inicial do ciclo de constituição da família. Na fase monoparental em que as viúvas eram as titulares do lar, a proporção cai para quase dois terços em relação às famílias cuja chefia estava nas mãos das casadas ou solteiras. Como se vê na Tabela 8, esta ausência de agregados era compensada pela maior presença de filhos no lar.

Quando usamos método semelhante para identificar a proporção de lares que declararam a presença de escravos (Tabela 9), observamos que apenas 2% deles eram dirigidos por pardas, contrastando com os 55% dos lares das brancas.

Distribuição proporcional, por setores econômicos, dos domicílios chefiados por mulheres, classificadas por status marital e étnico (em porcentagem) Ao repartimos a amostra por status matrimonial, notamos que o grupo que, proporcionalmente, declarou um maior número de escravos foi o das casadas (91%), vindo em seguida o das viúvas e, por último, o das solteiras. Quando escrutinamos os indivíduos escravos que estavam nestes lares, constatamos que mais de 95% deles estavam distribuídos entre as viúvas, e entre estas, apenas sete senhoras de engenho detinham 73% do total da população cativa.

Conseguir entrar no estágio de casada do ciclo familiar significava maiores chances de ser senhora de escravos. Este resultado reflete a possibilidade de adquirir dotes em ocasiões anteriores ou durante os casamentos, ou ainda quando do falecimento de um dos pais do casal, possibilitando, assim, o recebimento de heranças. As solteiras foram as que menos declararam escravos depois das pardas. Este dado traduz, efetivamente, a importância dos casamentos para a economia doméstica numa sociedade em que se praticava a transmissão de bens via dote.

Na Tabela 10 segmentamos os domicílios chefiados por mulheres por setores econômicos.15 Será feita uma análise setorial da economia para apreender-se possíveis transformações nas organizações produtivas em comparação com outras localidades.

Se somados os setores secundário e terciário, pode-se observar que uma proporção significativa, sempre superior a 50%, destes domicílios estava associada às atividades resultantes da maior diversificação da estrutura social e econômica e da divisão regional do trabalho. Esses dados confirmam, em parte, um estudo anterior que interpretou esse fenômeno como "continuidade do modo de produção doméstico em direção à expansão das exportações, no século XIX, que resultou numa economia baseada numa produção mercantil de larga escala" (Kuznesof, 1980).

Tal mudança no modo de produzir teria aberto novas frentes de emprego para os homens que migravam, provocando com isso rupturas das unidades domésticas, pressionando as mulheres a migrarem em direção às áreas mais urbanas, onde teriam melhores oportunidades de emprego.

Contudo, os dados apresentados neste trabalho mostram que estas mulheres não emigraram em direção às áreas urbanas, e que, por outro lado, imigraram para a região rural de Campinas e ali residiram e criaram seus filhos.

Silva Dias (1984) calculou que na cidade de São Paulo, em 1836, uma parcela maior – 58% dos domicílios de mulheres – estava ligada às atividades do setor terciário, enquanto uma parcela menor – 33% – estava ligada ao setor secundário; uma parcela menor ainda, de 8%, encontrava- se no setor primário. A autora mostrou também que uma maior concentração de escravos estava no setor terciário, com 65%, vindo logo depois o setor secundário, com 18%, e finalmente o setor primário, com 15%.

E concluiu: "[...] havia menos escravos nas casas de costureiras e mulheres dedicadas ao artesanato doméstico, [e estes] tendiam a concentrar-se nas atividades mais rendosas e lucrativas, podendo tomar-se a sua presença como índice seguro dos setores mais prósperos da economia urbana [...]" (idem, p. 97).

Ramos (1990) constatou, em relação a várias localidades, que o domicílio de mulheres solteiras era menor, em número de pessoas, que o das mulheres casadas, o que não se devia apenas ao fato de contarem com um reduzido número de escravos, mas também ao declínio de sua condição social e econômica.

Considerações finais

A investigação de Ramos (1990) sobre as uniões consensuais em Minas Gerais no século XIX levou-o a comparar unidades domésticas chefiadas por mulheres casadas e solteiras. O pesquisador examinou diversas comunidades, chegando à conclusão de que esse tipo de domicílio era comum numa extensão variada de contextos econômicos, exceto em áreas de expansão, onde os índices diminuíam: O que emerge desses resultados é um padrão de domicílios chefiados por mulheres que continham um grande número de outras mulheres livres. É significativo o fato de que esta reação social é comum a ambos os ambientes, urbano e rural, e à economia em diferentes estágios. Isto sugere que, ao contrário de uma reação às mudanças de condições econômicas, essa tendência de comportamento de mulheres era uma característica da sociedade. (idem, p. 395).

Ao examinar as raízes mineiras na região do Minho, em Portugal, o mesmo Ramos (1993, pp. 639-662) conclui: Em Minas Gerais, como no noroeste de Portugal, as mulheres formavam a base funcional para a sociedade. Elas chefiavam seus domicílios fora do matrimônio, ganhavam suas vidas o melhor que podiam para tocar seus lares e, freqüentemente, tinham filhos.

A predominância demográfica da mulher era talvez o mais importante aspecto notável no novo ambiente socioeconômico. Todas as classes e raças estavam sujeitas ao mesmo processo demográfico e respondiam semelhantemente, muito embora, não exatamente da mesma maneira.

Brettell & Metcalf (1993) traçaram paralelos entre duas paróquias, uma em Lanheses, no nordeste de Portugal, no ano de 1850, e a outra na província de São Paulo, Santana do Parnaíba, em 1820. Em ambas foi observada a predominância da emigração masculina de domicílios nucleares, diferindo as paróquias quanto a uma maior presença dos complexos na primeira e dos solitários na segunda. Foram observados, também, índices mais baixos de ilegitimidade na primeira paróquia, relativamente à segunda. As autoras concluem que as famílias "transplantaram a cultura do lavrador do norte de Portugal e ao mesmo tempo recriaram especificidades na família brasileira" (idem, pp. 365-388).

As evidências mostradas pelos dados de Campinas indicam que as mulheres chefes de domicílios se concentraram no setor secundário, em contraste com São Paulo, revelando mudanças nos arranjos familiares quando se leva em consideração o ciclo de vida. Uma proporção significativa das casadas e solteiras optou pelo setor secundário, no qual podiam se adaptar mais facilmente, desenvolvendo atividades como costureiras, fiandeiras e tecelãs.

Ao escrutinar-se as ocupações femininas que mais cresceram, observa-se que em 1798 havia uma costureira e nenhuma mulher "vivia de suas agências ou negócios". Já em 1829 havia 58 costureiras e 45 "viviam de suas agências ou de seus negócios". Estes dados revelam, de forma comparativa, as características comerciais e de entreposto que a cidade de São Paulo desenvolvia na ocasião. Campinas, por sua vez, ainda era, neste momento, totalmente agrícola, possuindo um setor comercial restrito aos tropeiros que transportavam bens agrícolas para o porto de Santos e alguns armazéns de secos e molhados.

Tais evidências demonstram um processo em curso de complexificação da estrutura ocupacional da população, sendo o setor terciário aquele que mais se expandiu entre os anos de 1798 e 1829, desde a época em que a região não passava de uma área produtora de roças e se transformava em produtora de grandes volumes de açúcar para exportação.

Quando se confronta esses dados com os da vila de São Paulo, percebe-se que havia ali o predomínio das atividades terciárias no grupo de mulheres chefes. Não obstante este setor tenha sido aquele que mais cresceu em Campinas (mais de oito vezes, entre 1798 e 1829), foi o setor secundário que, do ponto de vista proporcional, deu o maior suporte, estimulou e atraiu a presença destas mulheres na referida posição de chefes. Kuznesof (1980), ao estudar a vila de São Paulo, enfatizou a pressão exercida sobre estas mulheres que migrariam em direção aos centros urbanos. Contudo, os dados aqui apresentados mostram que estas não emigraram em direção às áreas urbanas, e que, por outro lado, imigraram para a região rural de Campinas.

A segmentação por grupos étnicos não mostrou um impacto significativo. O processo de diversificação ocupacional associado às mudanças estruturais atingiu os grupos étnicos das brancas e das pardas com impacto semelhante, pelo menos do ponto de vista agregativo. É digno de nota que, entre todas as viúvas, dos três setores, aquele que mais concentrou fogos foi o terciário. Isto pode significar que, num estágio do ciclo de vida familiar, as viúvas puderam acumular um pecúlio tal que as colocou numa atividade menos desgastante e de relativa lucratividade. E, no grupo das casadas e solteiras, o predomínio foi do setor secundário.

O ambiente urbano favorecia a concentração da presença da prole feminina nos domicílios, enquanto o ambiente rural favorecia a concentração da presença da prole masculina. Enquanto, no primeiro, as mulheres podiam desenvolver atividades do setor secundário auxiliadas por outras mulheres, no segundo, quando se constituíam em tecelãs, fiandeiras e costureiras, tinham um mercado mais restrito para seus negócios e necessitavam também da mão-de-obra masculina para as atividades agrícolas de subsistência.

Resta uma pergunta para ser respondida: se este fenômeno não pode ser reduzido a "uma reação às mudanças de condições econômicas, [sendo] esta tendência de comportamento de mulheres uma característica da sociedade", como diz Ramos (1990), ou, ainda, a "uma transposição da cultura do lavrador do norte de Portugal, associada a uma recriação de especificidades", como querem Brettell & Metcalf (1993), por que, então, tal fenômeno se manifesta em algumas situações específicas e não em outras? Muito embora a variante que se sobressaiu para explicar este fenômeno tenha sido a social, para os casos estudados por Ramos (1990 e 1993) e Brettell & Metcalf (1993), em relação ao Brasil e a Portugal, dados da presente pesquisa mostraram que o fenômeno emergiu em situação na qual a variante econômica afluiu ao apresentar mudanças na organização produtiva (formação de plantations), com um conseqüente impacto em uma parte significativa dos arranjos domiciliares, que passaram a se organizar com mulheres em posição de liderança.

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SILVA DIAS, M.O. Quotidiano e poder em São Paulo no século XIX. São Paulo, Brasiliense, 1984.

Anexos

Abstract

The aim of the article is to demonstrate that the women who have headed household owned different strategies in relation to domestic arrangements when occurred changes in economic organization and during the cycle of family development. These domestic units had differences when were headed by men or women. The article introduces the cycle of family development as a very important analytical category in order to evaluate those arrangements and presents comparative data from some others regions.

Notas

* Este artigo constitui parte de minha tese de doutoramento, intitulada Herança e ciclo de vida: um estudo sobre família e população em Campinas, São Paulo, 1765-1850, defendida na Universidade Federal Fluminense (UFF), Niterói, em 1997. Uma versão anterior foi apresentada no GT População e História, no XI Encontro Nacional de Estudos Populacionais, Caxambu, MG, 1998.

1. Veja o conceito de ciclo de desenvolvimento familiar em relação às fases pré-parental, biparental, monoparental e pós-parental em Legaré & Landry (1987).

2. Cf. Correa (1994, pp. 15-42) e Samara (1987, pp. 25-36).

3. Cf. o texto ainda inédito de José Luís de Freitas (s/d., pp. 2-5). Veja o sentido destas palavras em língua alemã em Grosses Vollstandiges Universal Lexicon, apud Berkner (1972, pp. 398-418). Para o caso francês veja Flandrin (1984, pp. 10-17) e Ariès (1981, pp. 210-211 e 257-271). Para o caso português veja Bluteau (s/d., p. 28) e Chantal (s/d.). Para o caso brasileiro veja Antonil (1967, p. 142), e sobre os escritos do ouvidor Durão, no Piauí colonial, veja Mott (1978, p. 1.203). Todas estas citações estão no artigo de José Luís de Freitas (s/d.) e foram por nós cotejadas.

4. Cf. as referências feitas a Frédéric Le Play na obra Les ouvriers européens et l’organization de la famille selon le vrai modèle signalé par l’histoire de toutes les races et tous les temps, apud Laslett (1984, pp.16-17).

5. Alguns trabalhos fizeram críticas à ênfase dos estudos de família no modelo patriarcal. Correa (1994, pp. 15-42) vê um grau maior de complexidade dos modelos de família. Samara (1983 e 1987, pp. 25-36) também enfatiza a diversidade de modelos, bem como a demasiada ênfase da autoridade marital.

6. Em estudo pioneiro, Marcílio (1974, p. 22) identificou uma baixa razão de masculinidade na cidade de São Paulo nos diversos grupos etários, com exceção dos grupos infantil e idoso, nos anos de 1765, 1798 e 1836. A autora destacou a "extrema mobilidade" e a "busca por enriquecimento mais rápido" como fatores explicativos para tal ocorrência. Para uma discussão atual sobre arranjos de famílias e chefia feminina no Brasil urbano e rural do século XX, veja Goldani (1993, pp. 67-110). Segundo esta autora, a chefia feminina "dobrou nas últimas três décadas, passando de 10,7% em 1960 para 20,0% em 1989" (p. 81). Mais adiante Goldani afirma: "Como um fenômeno crescentemente urbano, as mulheres chefes de famílias têm sua representatividade aumentada em 18% no total do país e em 33% nas áreas metropolitanas no período 1978-87. As diferenças regionais mostram que são nas áreas metropolitanas da região mais pobre do país, o Nordeste, onde mais aumenta a participação das mulheres chefes de família." (p. 83). Para o caso do México no mesmo período, porém tratando-se de mulheres de elite, veja Arrom (1985).

7. Sobre a evolução da posse de escravos em Campinas ver Costa (1997, pp. 60-84). Segundo Costa (1997, p. 72), 10% da totalidade dos fogos detiveram 78% da população escrava.

8. Para uma visão abrangente sobre a idéia de formação de casal na Europa moderna veja Burguière (1987, pp. 39-53). Veja também os estudos sobre idade ao casar de Bassanezi (1994). Sobre uniões informais, ver Lopes (1995), Villalta (1993), Londono (1992), Venâncio (1988) e Zenha (s/d., pp. 125-141). Sobre a importância dos casamentos no Brasil colonial, ver Faria (1994, pp. 366-394).

Veja também Campos (1986), Samara (s/d., pp. 17-25) e Nizza da Silva (1984). Para casamentos de escravos veja Eliane Goldschmidt (1987).

9. Para uma discussão de tipos de domicílios e o contexto social e econômico, veja Laslett (1984, pp. 137-170). Veja também Wall (1990, pp. 59-85) e Libby (1991, pp. 1-35), que estudou a questão no contexto de proto-industrialização numa sociedade escravista.

10. Para uma confirmação do tamanho das amostras, veja, nos anexos, as tabelas que foram construídas em associação com os gráficos.

11. Entende-se por fases etárias as pequenas faixas que correspondem ao seguinte quadro: 1a fase: dos 0 aos 5 anos; 2a fase: dos 6 aos 10 anos; 3a fase: dos 11 aos 15 anos; 4a fase: dos 16 aos 20 anos; 5a fase: dos 21 aos 25 anos etc.

12. Faria (1994, p. 88) afirma que "quando viúvos, era comum os homens deixarem filhos pequenos com avós, parentes e compadres".

13. A quantificação proporcional da prole remanescente e da saída de contingentes filiais apenas fornece indicadores de possíveis tendências populacionais gerais e agregadas, não sendo possível determinar com que idade exata deixava-se a casa do pai, nem quantos filhos estavam vivendo separados dele. Para uma análise sobre práticas de herança e residência entre pequenos agricultores veja Costa (1997, pp. 163-212).

14. Para uma análise das práticas de herança e residência entre pequenos agricultores veja Costa (1997, pp. 163-212).

15. Os critérios seguiram aqueles definidos por Costa (1997, pp. 60-84). Veja também uma interessante proposta de classificação para a economia brasileira colonial em Costa & Nozoe (1987, pp. 69-87). Muito embora os autores tenham sugerido que o indivíduo que declarava que "vivia de suas agências" deveria ser incluído na categoria indefinida, optou-se, neste artigo, por inseri-lo no setor terciário. Priore (s/d., p. 27) sugere a indicação de possível prostituição associada "às atividades como costura, lavagem de roupas, venda de alimentos em tabuleiros, venda de mercadorias a retalho e prestação de pequenos serviços". Silva Dias (1984, p. 89) interpretou esta situação como mulheres que "estavam, de um modo ou de outro, relacionadas com o comércio local através das vendas de quitandas pelas ruas, ou de operações intermediárias, na distribuição de gêneros alimentícios". Veja também o estudo sobre ocupações coordenado por Marcelo Magalhães Godoy, Dicionário das ocupações em Minas Gerais no século XIX, acompanhado de estudo histórico em torno da economia e sociedade mineira provincial, publicado pelo Cedeplar/UFMG. Este projeto faz parte de outra pesquisa intitulada História demográfica e econômica de Minas Gerais no século XIX, coordenada por Clotilde Paiva.

Dora Isabel Paiva da Costa**
doracosta[arroba]uol.com.br
** Professora do Departamento de Economia da Unesp, campus de Araraquara.



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