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Nitrogênio via foliar e em cobertura em feijoeiro irrigado (página 2)

Carlos Alexandre Costa Crusciol; José Ricardo Machado; Orivaldo Arf; Ricard

 

Resultados e discussão

Os resultados obtidos nos anos de 1997 e 1998, referentes às características agronômicas, estão apresentados nas Tabelas 2 e 3. Observa-se que em 1997 a massa seca da parte aérea de plantas sofreu influência apenas da aplicação de N no solo (Tabela 2).

Os dados se ajustaram a uma função linear, mostrando que o aumento nos níveis de N aplicados ao solo, proporcionou aumento na massa de matéria seca das plantas. Os resultados são concordantes com Camargo (1975) e Silveira e Damasceno (1993), os quais afirmaram que o nitrogênio tem influência direta na fotossíntese e crescimento da planta, já que faz parte integrante da molécula de clorofila. Já no ano seguinte, 1998, não foi constatada influência significativa dos tratamentos na produção de matéria seca.

Quanto ao teor de N nas folhas (Tabela 2), os dados não se ajustaram a funções polinomiais, em relação às concentrações de uréia, aplicadas via foliar, e todos os tratamentos apresentaram teores acima do nível crítico de 30 g . kg-1 em 1997 e 27 g . kg-1 em 1998 (Ambrosano et al., 1996a). Diferenças mais acentuadas foram verificadas em relação aos níveis de N em cobertura (no solo), no ano de 1997, quando os dados se ajustaram a uma função linear crescente. Entretanto, neste ano, mesmo no tratamento testemunha (sem aplicação de N), o teor observado esteve acima do nível crítico para a cultura, indicando que o solo e/ou a fixação simbiótica pode ter fornecido N suficiente para o desenvolvimento das plantas. Em 1998, os teores de N nas folhas apresentaram-se acima do nível crítico (30 g . kg-1), apenas nos tratamentos com 120 g . L-1 de uréia via foliar ou com 75 kg . ha-1 de N aplicado ao solo, sendo que a aplicação de níveis crescentes de N em cobertura no solo também propiciou aumento linear na concentração do nutriente nas folhas. Os resultados obtidos nos dois anos de avaliações estão de acordo com Silveira e Damasceno (1993) e Andrade et al. (1998a), os quais observaram maiores teores de N nas folhas com o aumento das doses de N aplicadas ao solo.

Em 1997, a aplicação de N via foliar não afetou o número de vagens por planta (Tabela 2), discordando de Rosolem (1996), o qual verificou efeito positivo da aplicação de uréia foliar sobre essa característica. Por outro lado, o número de vagens por planta sofreu influência da aplicação de nitrogênio no solo em cobertura, com os dados se ajustando a uma função linear crescente, mostrando que os níveis de N aplicados ao solo proporcionaram aumento no número de vagens por planta, como já observado por Silveira e Damasceno (1993). Já em 1998, o número de vagens por planta não foi afetado pelos tratamentos utilizados. Almeida et al. (2000) também não verificaram influência da adubação nitrogenada em cobertura e via foliar sobre o número de vagens por planta.

Não foi verificado ajuste do número de sementes por vagem em função da aplicação de uréia via foliar ou no solo, em nenhum dos anos de estudo (Tabela 3). Vale ressaltar que esta é uma característica mais relacionada com o cultivar utilizado, que sofre menor influência do ambiente. Os valores médios situaram-se entre 4,97 e 5,12 sementes por vagem para o cultivar Pérola, e entre 4,74 e 4,98 sementes por vagem para o cultivar IAC Carioca.

Para os dados de massa de 100 sementes, no ano de 1997, os dados estiveram bem próximos, variando de 28,50 a 28,99, quando se testaram N via foliar ou no solo. No segundo ano de avaliação, não houve efeito da aplicação de N via foliar na massa de 100 sementes. Porém, a aplicação de N no solo influenciou essa característica, com os dados mostrando relação linear crescente (Tabela 3). Estes resultados reforçam a importância dada por Andrade et al. (1998b), para o N na fase de florescimento e enchimento de grãos.

Apesar de a aplicação de N, principalmente no solo, ter influenciado positivamente na produção de matéria seca de plantas, no teor de N foliar e no número de vagens por planta, em 1997, os resultados obtidos mostraram que não houve acréscimo na produtividade (Tabela 3). Messias et al. (1993) também não observaram incremento significativo na produtividade. Porém, deve-se levar em consideração o bom patamar de produtividade, com valores superiores a 2.500 kg . ha-1 em todos os tratamentos. Já no segundo ano de avaliação, verificou-se que os tratamentos influenciaram a produtividade, aumentando-a com a aplicação de N, tanto no solo como via foliar. Os resultados apresentaram uma relação quadrática com os níveis de N aplicados ao solo, sendo que a dose estimada que proporciona a maior resposta do feijoeiro é de cerca de 76,5 kg . ha-1 de N aplicado em cobertura.

Porém, essa estimativa extrapolou o espaço experimental utilizado (0 a 75 kg . ha-1), fato que a torna menos confiável. Entretanto, esse resultado está bem próximo ao obtido por Silveira e Damasceno (1993), os quais também obtiveram função quadrática com ponto de máxima resposta obtida com a aplicação de 72 kg . ha-1 de N.

A diferença nas respostas de produtividade obtida entre os anos de 1997 e 1998 pode ser justificada pelo fato de que, no primeiro ano, o experimento foi instalado em área onde se retirou do campo a planta de milho inteira, destinada à alimentação animal. A ausência de material orgânico de alta relação C/N pode ter dado à área, características de baixa resposta à adubação nitrogenada, diferente do que ocorreu em 1998, onde a área do experimento foi colhida apenas para grãos, ficando na área os restos da cultura, que em seguida foram incorporados ao solo através das operações de preparo. Diversidade de resposta semelhante foi observada por Ambrosano et al. (1996b), em experimento conduzido em Votuporanga, Estado de São Paulo. Rosolem (1996) ressaltou que as condições de resposta ao nitrogênio estão relacionadas com o solo do local de semeadura (cultura anterior, teor de matéria orgânica, compactação, textura do solo e irrigação), de modo que o histórico da área é de grande importância para a obtenção ou não de resposta. Além do que, a utilização de cultivares diferentes, tipo de irrigação e variações de clima podem também ter influenciado a resposta da cultura à aplicação do nutriente.

Conclusão

Em área considerada de baixa resposta, a aplicação de nitrogênio via foliar ou no solo não afetou a produtividade do feijoeiro.

Em área com incorporação de material vegetal de alta relação C/N, a aplicação de nitrogênio via foliar aumentou a produtividade, e a aplicação no solo proporcionou aumento no teor de N, massa de 100 sementes e na produtividade de feijoeiro irrigado.

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Received on August 14, 2001.
Accepted on April 12, 2002.

Nitrogênio via foliar e em cobertura em feijoeiro irrigado Sérgio Nobuo Chidi1, Rogério Peres Soratto1*, Tiago Roque Benetoli da Silva1, Orivaldo Arf1, Marco Eustáquio de Sá1 e Salatiér Buzetti2
arf[arroba]agr.feis.unesp.br

1. Departamento de Fitotecnia, Tecnologia de Alimentos e Sócio-Economia, Faculdade de Engenharia, Unesp, Campus de Ilha Solteira C.P. 31, 15.385-000, Ilha Solteira, São Paulo, Brasil.
2. Departamento de Fitossanidade, Engenharia Rural e Solos, Faculdade de Engenharia, Unesp, Campus de Ilha Solteira C.P. 31, 15.385-000 Ilha Solteira, São Paulo, Brasil.
*Autor para correspondência. e-mail:
soratto[arroba]fca.unesp.br



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