Onde foram parar os manifestos econômicos de oposição?



1. Panorama depois da batalha

A frente de batalha está calma, a fumaça, o fragor e o cheiro de pólvora já se dispersaram, já não se vêem tantos mortos e feridos como anteriormente e os combatentes se retiraram por falta de munição ou, talvez, por falta de argumentos. Sim, estamos falando não de uma guerra verdadeira, não de um conflito bélico, ou sequer de uma contenda eleitoral, mas tão simplesmente de um enfrentamento ideológico, a formidável "batalha de idéias" que, durante praticamente dois anos, ocupou os corações e mentes de tantos militantes da causa, de tantos propugnadores de soluções fáceis para questões complexas, o combate em torno das posições de política econômica do governo atual.

Estou surpreendido com a aparente calmaria e com a falta quase completa de adversários ideológicos: afinal de contas, durante todo esse período, que se estende dos meses anteriores ao aquecimento da campanha eleitoral aos meses imediatamente seguintes à formidável vitória eleitoral e mesmo até o primeiro semestre de 2004, tive de esgrimir quase sozinho as armas da racionalidade econômica e do bom senso político, ao enfrentar hordas inteiras de opositores "de esquerda" às políticas econômicas adotadas pelo atual governo da mudança (que, finalmente, acabou mudando pouca coisa na economia, justamente, para desespero daquele bando de opositores). Talvez a quietude reinante seja apenas uma suspensão temporária de hostilidades, um armistício não declarado, e talvez os adversários retornem com toda a força uma vez passadas as eleições de outubro de 2004, e não seria bom baixar a guarda.

Por isso mesmo, aproveitando este momento de calma e tranqüilidade, vou tentar recuperar alguns dos argumentos bélicos do "outro lado", para oferecer um possível balanço das batalhas travadas no passado recente e preparar o terreno para as possíveis novas contendas que não deixarão de surgir no novo quadro político a ser criado por essas eleições e pela evolução futura dos indicadores econômicos. Ressalte-se, de imediato, que algo da calmaria reinante no presente momento (outubro de 2004) pode talvez ser explicado pelo bom estado da economia, pela sensação (que não é irreal) de crescimento, de sucesso das medidas adotadas pelo governo para estimular a economia num quadro de inflação baixa, da euforia com algumas vitórias diplomáticas na frente externa (o que também inclui um crescimento inédito nas exportações e no saldo de transações correntes).

Tudo isso pode ser verdade e de fato contribui para "desarmar" muitos dos adversários "catastrofistas" de antes, mas não estou verdadeiramente convencido de que eles tenham "desarmado" de vez, ensarilhado os bacamartes e passado a se dedicar à caça e pesca de inocentes espécimes selvagens. Acredito, sim, que as sensatas políticas econômicas do médico que nos governa nessas matérias de liquidez monetária, de orçamento de gastos correntes e de investimentos e de superávit primário continuarão a estar na mira dos inimigos ideológicos de sempre, com possíveis escaramuças na primeira descida de colina (isto é, de inversão nas tendências conjunturais).

Tendo mapeado uma meia dúzia, pelo menos, de protestos acadêmicos e outras tantas manifestações de inconformidade por parte dos próprios políticos do partido ora hegemônico, não creio, assim, que a calmaria seja eterna, ou que eles tenham de verdade se convertido ao calmo pragmatismo de uma política econômica possível, não daquela "ideal", que eles sempre proclamaram em retumbantes manifestos de oposição. Esses manifestos são aliás curiosos, ou bizarros, segundo se prefira, pois que eles são o resultado nem sempre feliz de uma combinação de argumentos puramente teóricos, sem atentar para os dados da realidade, com manifestações de inconformidade com os parcos resultados da política posta em prática desde a assunção do poder, em termos de crescimento, de emprego, de distribuição de renda, de investimentos sociais e por aí vai.

Nesses manifestos, nem tudo o que é teórico é inconsistente, como nem tudo o que é de natureza prática está afastado da realidade, pois que as críticas formuladas a propósito daquela política econômica tomaram por base a situação efetiva do Brasil nos meses que antecederam e sucederam imediatamente à mais eloqüente manifestação de vitória oposicionista na história política republicana. Por isso mesmo, seria interessante recuperar alguns desses argumentos contidos nos manifestos de oposição econômica, para tentar ver o que restou deles, quase dois anos depois da "mudança para valer" ter começado no Brasil. Vou me valer, para isso, de uma série de escritos que tive a chance de elaborar, graças, justamente, ao ativismo desses opositores econômicos de esquerda, que me deram bons motivos para exercitar minha racionalidade econômica de princípio. A eles, portanto, posso dedicar este modesto ensaio de recapitulação histórica.

 


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