Psicanálise e poesia



Resumo

Toda criação artística provoca sensações e reflexões diversas. Como criação, pode ser pensada enquanto um produto e enquanto uma expressão do artista. Freud tinha particular interesse pela criação artística, em especial pela literatura. A crítica literária e a psicanálise oferecem conceitos importantes para a compreensão do processo de criação e da forma de apreensão da obra pelo público. Freud em O Moisés de Michelangelo, nos chama a atenção sobre o fascínio que as obras de arte exerciam sobre ele.

Fala de um "poderoso efeito" que o levava a "passar longo tempo contemplando-as, tentando apreendê-las à minha própria maneira, isto é, explicar a mim mesmo a que se deve o seu efeito" (FREUD, 1974, v. 13, p. 253). Sua percepção da obra de arte, e desse "poderoso efeito" o faz buscar nos relacionamentos conflituosos no seio da personalidade o leitmotiv que provoca elaborações como os sonhos (noturnos e diurnos), as diferentes neuroses, a criação artística, e nomeadamente a criação poética. A arte, para Freud, constitui "um domínio intermediário entre a realidade, que nos nega o cumprimento de nossos desejos, e o mundo da fantasia, que procura sua satisfação" (1974, v. 13, p. 222). Em todas essas elaborações referidas pela psicanálise a imagem encontra-se presente. A Crítica Literária nos oferece elementos importantes para a compreensão da imagem presente na criação artística.

Alfredo Bosi, importante teórico de Crítica Literária, considera que a imagem se origina no corpo e só depois se torna palavra, discurso. O ato de ver capta não somente a "aparência da coisa", mas o "primeiro e fatal intervalo" (BOSI, 2000, p. 19) entre nós e essa coisa que, ao mesmo tempo e paradoxalmente, se afirma como presença e ausência. Ao originar-se no corpo, também se origina do Id (o pólo pulsional da personalidade, segundo Freud) como uma "catarse das pulsões do Id" (BOSI, 2000, p. 25). E ao transformar-se em palavra, abre um novo "intervalo [...] entre o corpo e o objeto" a ser preenchido pela analogia, "responsável pelo peso da matéria que dão ao poema as metáforas e as demais figuras" (BOSI, 2000, p. 38). Outro importante teórico da crítica literária, Emil Staiger, confere um papel essencial à imagem na poesia lírica enquanto expressão da fusão emotiva entre o eu lírico e o mundo, de tal modo que os seres do mundo exterior não têm identidade objetivamente própria. São expressões do estado anímico do eu lírico, ao mesmo tempo relativamente opacas e motivadas. Staiger utiliza o conceito de "disposição anímica" para designar o "um-no-outro" lírico em que a realidade é apreendida diretamente, "melhor que qualquer intuição ou qualquer esforço de compreensão" (1975, p. 59).

Por isso um poema lírico tende a ser alógico. Emil Staiger aponta para o caráter íntimo da poesia lírica em que o eu lírico configura e exprime seu mundo interior. A essência lírica é a "re-cordação", através da qual o poeta lírico se dilui numa ausência de distância entre o sujeito e o objeto e, dessa forma, experiências do passado e mesmo do futuro podem ser "re-cordadas" (repostas no coração) na criação lírica através de imagens e recursos de caráter fonético e rítmico. A concentração do eu lírico em si mesmo pode ser interpretada como uma rejeição radical da sociedade que não permite a realização dos sonhos, dos desejos do eu.

 


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