Página anterior Voltar ao início do trabalhoPágina seguinte 

Rendimento do feijoeiro de inverno em resposta à época de semeadura e adubação nitrogenada (página 2)

Carlos Alexandre Costa Crusciol; José Ricardo Machado; Orivaldo Arf; Ricard

 

Resultados e discussão

Os valores médios de altura de inserção da primeira vagem foram em média 18,3 e 19 cm para cada uma das doses de nitrogênio aplicadas no primeiro experimento e 15,7 e 15,5 no segundo experimento (Tabelas 1 e 2). As temperaturas baixas de inverno são mais prejudiciais aos feijoeiros jovens do que às plantas em processo de formação de vagens e maturação (Vieira et al., 1991). Isso pôde ser evidenciado no campo onde se notou um menor desenvolvimento das plantas cuja semeadura ocorreu em junho em relação àquelas semeadas em abril, sendo esta a causa mais provável dessa diferença na altura de inserção da primeira vagem entre os experimentos. Embora a temperatura tenha começado a diminuir nos primeiros 20 dias após a semeadura em abril (Figura 1) nota-se que os valores foram superiores aos observados para o mesmo período do ciclo da cultura, quando a semeadura ocorreu em junho, sendo que próximo dos 20 dias após a semeadura, registrou-se a mais baixa temperatura do ano.

Figura 1.
Precipitação, temperatura máxima e temperatura mínima, por decêndio,
nos meses de janeiro a dezembro de 2001 em Selvíria-MS.

Diferenças significativas para a altura de inserção da primeira vagem somente foram observadas quando se aplicou 40 kg ha-1 de nitrogênio em condições de semeadura mais cedo (Tabela 1), e a aplicação por ocasião da emissão da 5ª folha diferiu significativamente da aplicação do nitrogênio por ocasião da emissão da 3ª, 6ª e 13ª folhas. No entanto, ao se verificar os dados de modo geral, nota-se que os mesmos não mostraram uma tendência lógica.

Apenas a aplicação da dose de 80 kg ha-1 de N proporcionou valores significativamente distintos no número de vagens por planta entre as diferentes épocas de aplicação (Tabela 1). Verifica-se que, de modo geral, a aplicação de nitrogênio até a 7ª folha trifoliolada parece ter sido favorável para a obtenção de maior número de vagens por planta. A aplicação a partir da emissão da 9ª folha trifoliolada pareceu marcar um decréscimo, independente da dose de nitrogênio aplicada. Em condições de semeadura tardia, essa característica não apresentou diferenças significativas, mantendo-se em torno de 8 vagens por planta (Tabela 2).

Quanto ao número de grãos por vagem, verificase que em todos os tratamentos os valores estiveram próximos de 5, variando muito pouco em função da época ou da dose de nitrogênio aplicada.

Confrontando-se esses dados com os apresentados na Tabela 2, pode-se notar que a semeadura mais cedo proporcionou a obtenção do maior número de grãos por vagem, tendo em vista que em condições de semeadura tardia obteve-se em média 4,2 a 4,5 grãos por vagem.

O feijoeiro semeado em junho levou à produção de grãos com menor massa. Isso pode ser observado comparando-se os dados obtidos nos diferentes experimentos, com uma diferença média de cerca de dois gramas na massa de 100 grãos. Para a semeadura realizada em abril, nota-se que para a dose de 40 kg ha-1 de N ocorreram diferenças significativas em função da época de aplicação (Tabela 1), sendo que aplicações muito tardias, de modo geral, reduziram a massa dos grãos. Já em condições de semeadura em junho esse comportamento ocorreu quando aplicou-se 80 kg ha-1 de N por ocasião da emissão do 10º e 11º trifólios (Tabela 2).

O estádio de desenvolvimento do terceiro até o sétimo trifólio aberto na haste principal revelou ser o período mais adequado para a aplicação do nitrogênio em cobertura no feijoeiro semeado em abril, apresentando os maiores rendimentos de grãos (Figura 2). Respostas positivas à aplicação de nitrogênio foram constatadas por vários autores (Almeida et al.,1982; Moraes, 1988; Barbosa Filho e Silva, 1994; Silveira e Damasceno, 1993; Carvalho et al., 2001). Quando o número de vagens por planta é superior, o efeito sobre o rendimento de grãos se mostra de uma forma mais clara, como pode ser observado quando se compara o tratamento com 3 folhas de cada dose, no qual o número de vagens por planta passou de 8,5 (40 kg ha-1 de N) para 10,5 (80 kg ha-1 de N) resultando em um incremento no rendimento de 2500 para 3000 kg ha-1 de grãos. Esses resultados concordam com as observações de Vale (1994), Calvache et al. (1995) e Diniz et al. (1995).

Neste trabalho, também ficou clara a necessidade da aplicação do nitrogênio em cobertura, com a testemunha apresentando os mais baixos níveis de produtividade. É importante ressaltar que rendimentos acima de 2400 kg ha-1 foram obtidos na faixa que vai da 3ª à 7ª folha trifoliolada, concordando com as recomendações de Dourado Neto e Fancelli (2000).

Já em condições de semeadura tardia, percebe-se que não ocorreram diferenças significativas com relação ao rendimento de grãos. Observou-se também que nessas condições a produtividade média foi de 1536 kg ha-1, 23,6 % menor em relação à semeadura em abril. Resultados semelhantes foram obtidos por Vieira et al. (1991) e Ramalho et al. (1993), constatando que à medida que ocorria atraso na semeadura do feijoeiro de inverno ocorria também decréscimo na produtividade.

Figura 2.
Rendimento de grãos do feijoeiro semeado em abril (A) e junho (B), em função da aplicação de nitrogênio
em cobertura em diferentes estádios fenológicos do desenvolvimento vegetativo.
Selvíria, Estado do Mato Grosso do Sul, 2001.

A temperatura é o fator climático que exerce forte influência sobre a porcentagem de vingamento das vagens. Conforme Portes (1996), citando Mack e Singh (1969), a perda de rendimento de grãos do feijoeiro foi de 67% quando a temperatura média dos primeiros dias de floração alcançou 38ºC, porém essa perda caiu para 22% quando a temperatura média máxima caiu para 29ºC. Essa é a causa mais provável da redução no rendimento de grãos no segundo experimento, que conforme pode ser observado na Figura 1, as plantas oriundas da semeadura de abril tiveram seu período de florescimento quando as condições de temperatura eram mais amenas (a partir do segundo decêndio de junho); enquanto que as semeadas em junho floresceram em condições de temperaturas máximas maiores (a partir do terceiro decêndio de julho). Essas observações mostram que, mesmo que não ocorram chuvas no período da colheita, a semeadura do feijoeiro em junho proporciona quedas no rendimento, uma vez que aumentam os riscos da ocorrência de altas temperaturas no período do florescimento.

Conclusão

O rendimento de grãos do feijoeiro é reduzido se a semeadura for realizada mais tardiamente no período de outono-inverno, quando as temperaturas tornam-se mais elevadas no florescimento.

Os maiores rendimentos de grãos de feijão são alcançados quando a adubação nitrogenada em cobertura é realizada até o estádio de 7 folhas trifolioladas totalmente abertas na haste principal.

Agradecimentos

A Deus; à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), pelo suporte financeiro para realização deste trabalho.

Referências

ALMEIDA, L.D.A. et al. Efeito da adubação nitrogenada do feijoeiro no Vale do Paraíba. In: REUNIÃO NACIONAL DE PESQUISA DO FEIJÃO, 1., Goiânia. Anais... Goiânia. Embrapa-CNPAF, 1982. p. 182.

ARF, O. et al. Efeitos de doses e parcelamento da adubação nitrogenada em cobertura na cultura do feijão. In: REUNIÃO NACIONAL DE PESQUISA DE FEIJÃO, 6., 1999, Salvador. Resumos... Santo Antônio de Goiás: Embrapa Arroz e Feijão, 1999. p.790-793.

BARBOSA FILHO, M.P.; SILVA, O.F. Aspectos agroeconômicos da calagem e da adubação nas culturas do arroz e do feijão irrigados por aspersão. Pesq. Agropecu. Bras., Brasília, v.29, n.11, p.1657-1668, 1994.

BRASIL, Ministério da Agricultura e Reforma Agrária. Secretaria de Defesa Agropecuária. In; Regras para análise de sementes. Brasília: Departamento Nacional de Defesa Vegetal. 1992.

CALVACHE, A.M. et al. Adubação nitrogenada no feijão sob estresse de água. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA DO SOLO, 25, 1995, Viçosa. Resumos... Viçosa: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 1995, p.649-651.

CARVALHO, M.A.C. et al. Produtividade e qualidade de sementes de feijoeiro (Phaseolus vulgaris L.) sob influência de parcelamentos e fontes de nitrogênio. Rev. Bras. Cienc. Solo, Viçosa, v.25, n.3, p.617-624, 2001.

DINIZ, A.R. et al. Resposta da cultura do feijão à aplicação de nitrogênio (semeadura e cobertura) e de molibdênio foliar. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA DO SOLO, 25, 1995, Viçosa. Resumos... Viçosa: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 1995, p.1225-1227.

DOURADO NETO, D.; FANCELLI, A.L. Nutrição, adubação e calagem. In: DOURADO NETO, D.; FANCELLI, A.L. (Ed.). Produção de Feijão. Guaíba: Livraria e Editora Agropecuária Ltda, 2000. p.49-84.

EMBRAPA-EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Sistema Brasileiro de Classificação dos Solos. Rio de Janeiro: Embrapa/CNPSO, 1999. 41p.

FERNANDEZ, F. et al. Etapas de desenvolvimento da planta de feijão. In: EMPRESA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA E DIFUSÃO DE TECNOLOGIA DE SANTA CATARINA. A cultura do feijão em Santa Catarina. Florianópolis: EPAGRI, 1992. p.53-73.

MEIRELES, E.J.L. et al. Risco climático de quebra de produtividade da cultura do feijoeiro em Santo Antônio de Goiás, GO. Bragantia, Campinas, v.62, n.1, p.163-171, 2003.

MORAES, J.F.N. Calagem e Adubação. In: ZIMMERMANN, M.J.O. et al. (Coord.). Cultura do feijoeiro: fatores que afetam a produtividade. Piracicaba: Potafós, 1988. p.275-279.

PORTES, T.A. Ecofisiologia. In: ARAÚJO, R.S. et al. (Coord.) Cultura do feijoeiro comum no Brasil. Piracicaba: Potafós, 1996, p.101-127.

ROSOLEM, C.A. Calagem e Adubação Mineral. In: ARAÚJO, R.S. et al. (Coord.). Cultura do feijoeiro comum no Brasil. Piracicaba: Potafós, 1996. p.353-390.

RAMALHO, M.A.P. et al. Interação de cultivares de feijão por épocas de semeadura em diferentes localidades do estado de Minas Gerais. Pesq. Agropecu. Bras., Brasília, v.20, n.10, p.1183-1189, 1993.

SÁ, M.E. et al. Efeito da adubação nitrogenada na cultura do feijoeiro cultivar carioca, cultivada em um solo sob vegetação de cerrado. In: REUNIÃO NACIONAL DE PESQUISA DE FEIJÃO, 1., Goiânia, 1982. Anais... Goiânia: Embrapa/CNPAF, 1982. p.161.

SILVEIRA, P.M.; DAMASCENO, M.A. Estudos de doses e parcelamento de K e de doses de N na cultura do feijão irrigado. In: REUNIÃO NACIONAL DE PESQUISA DE FEIJÃO, 4., 1993, Londrina. Resumos... Londrina: IAPAR, 1993. p.161.

VALE, L.S.R. Doses de calcário, desenvolvimento da planta, componentes de produção, produtividade de grãos e absorção de nutrientes de dois cultivares de feijão. 1994. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Ciências Agronômicas, Universidade Estadual Paulista, Botucatu, 1994.

VIEIRA, C. et al. Efeitos das datas de plantio sobre o feijão cultivado no outono-inverno. Pesq. Agropecu. Bras., Brasília, v.26, n.6, p.863-873, 1991.

Received on October 05, 2004.
Accepted on January 15, 2005.

Francisco Guilhien Gomes Junior*, Edir Rodrigues Lima, Marco Eustáquio de Sá, Orivaldo Arf e Rosalina Maria Alves Rapassi
arf[arroba]agr.feis.unesp.br

Departamento de Fitotecnia, Tecnologia de Alimentos e Sócio-Economia, Faculdade de Engenharia, Universidade Estadual Paulista, Campus de Ilha Solteira. C.P.31, 15385-000, Ilha Solteira, São Paulo, Brasil. *Autor para correspondência. e-mail: fggjunior[arroba]aluno.feis.unesp.br



 Página anterior Voltar ao início do trabalhoPágina seguinte 



As opiniões expressas em todos os documentos publicados aqui neste site são de responsabilidade exclusiva dos autores e não de Monografias.com. O objetivo de Monografias.com é disponibilizar o conhecimento para toda a sua comunidade. É de responsabilidade de cada leitor o eventual uso que venha a fazer desta informação. Em qualquer caso é obrigatória a citação bibliográfica completa, incluindo o autor e o site Monografias.com.