Resposta do feijoeiro à aplicação de doses e fontes de nitrogênio em cobertura no sistema de plantio direto

Enviado por Orivaldo Arf


RESUMO. O trabalho foi conduzido nos anos de 1999 e 2000, no município de Selvíria, Estado do Mato Grosso do Sul, e teve por objetivo avaliar o efeito da aplicação de nitrogênio em cobertura, na cultura do feijão cv. Pérola, em plantio direto. O delineamento experimental utilizado foi de blocos casualizados, em esquema fatorial 6x2 envolvendo seis doses (0, 25, 50, 75, 100 e 125 kg ha-1) e duas fontes (nitrato de amônio e uréia) de N em cobertura, com quatro repetições. Foram avaliados: dias para o florescimento pleno, matéria seca de plantas, teor de nitrogênio na parte aérea, componentes de produção, ciclo da cultura e produtividade de grãos.

Não existe diferença de produtividade do feijoeiro em relação à utilização de uréia ou nitrato de amônio como fonte de nitrogênio em cobertura; a produtividade do feijoeiro irrigado cultivado no inverno pode ser aumentada pela adição de nitrogênio em cobertura, pois a cultura responde à aplicação de doses de nitrogênio acima de 100 kg ha-1.

Palavras-chave: Phaseolus vulgaris, irrigação, plantio direto, nitrogênio.

ABSTRACT. Response of the bean plant to the application of rates and sources of side dressing nitrogen, in no-tillage system. The research was carried out between 1999 and 2000, in Selvíria, State of Mato Grosso do Sul, Brazil. It aims at evaluating the effect of sidedressing nitrogen application, in common bean Pérola, under no-tillage system. The experimental design was a randomized block in a factorial scheme 6x2 with four dose (0, 25, 50, 75, 100 e 125 kg ha-1) and two sources (nitrate of ammonium and urea) of sidedressing nitrogen, with four replications. The evaluations were: full flowering, dry matter of the plants, nitrogen in shoot, production components, crop cycle and grain productivity. The common bean grain productivity is the same using nitrate of ammonium or urea as sidedressing nitrogen; the common bean grain productivity with irrigation in winter can be increased by sidedressing nitrogen. Therefore, the grain yield was affected by the application of nitrogen over 100 kg ha-1.

Key words: Phaseolus vulgaris, irrigation, no-tillage system, nitrogen.

Introdução

Nos últimos anos, a cultura do feijão caracterizouse por cultivos em áreas pequenas, nas quais se utilizava pouca tecnologia, voltada para a subsistência. Atualmente, os produtores de feijão podem ser classificados em dois grupos: os pequenos, que ainda usam baixa tecnologia e têm sua renda associada às condições climáticas, concentrados na produção das águas (primeira safra); e um segundo grupo, que usa produção mais tecnificada, com alta produtividade, plantio irrigado por pivô-central, concentrado nas safras da seca e do inverno (segunda e terceira safra) (Pessoa, 2000).

O feijão é uma planta exigente em nutrientes, principalmente em relação ao nitrogênio, sendo este de maior absorção e extração pela cultura. Ainda que o feijoeiro apresente condições de beneficiar-se da simbiose com o Rhizobium, o que poderia contribuir para a economia da adubação nitrogenada, a inoculação de sementes, não tem apresentado resultados satisfatórios em relação ao aumento da produtividade. E como leguminosa produtora de grãos ricos em proteína, requer um suprimento adequado de N, tanto para o atendimento de seu crescimento como para a formação de vagens e grãos (Buzetti et al., 1992).

O nitrogênio é importante, especialmente nas fases de floração e de enchimento de grãos. Há muitas vagens e muitos grãos crescendo quase ao mesmo tempo, sendo a demanda por nitrogênio é considerável. Como o nitrogênio das folhas é translocado para os grãos, as folhas inferiores caem e a taxa fotossintética das folhas remanescentes decresce quase simultaneamente, devido à escassez de nitrogênio (Oliker et al., 1978; Tanaka e Fugita, 1979, citados por Portes, 1996).

Sem dúvida, uma das condicionantes da resposta do feijoeiro ao nitrogênio é a disponibilidade de água (Rosolem, 1996). Os autores ressaltam que na época da seca, ou seja, de menor disponibilidade de água, a probabilidade de resposta ao nitrogênio tem sido menor. Um bom exemplo é dado por Calvache et al. (1995), indicando que a máxima resposta ao nitrogênio somente foi conseguida quando o feijoeiro recebeu irrigação adequada, e sempre que houve alguma restrição de água houve conseqüente diminuição na resposta ao nitrogênio, chegando a não haver resposta quando a seca ocorreu durante o florescimento.

As perdas de nitrogênio para a atmosfera ocorrem na forma de amônia (NH3) e com alta freqüência quando o adubo é aplicado na superfície do solo sem incorporação. Dessa forma, o uso da irrigação por aspersão proporciona produtividades mais elevadas, pois além de fornecer água para planta no momento oportuno e quantidade necessária, minimiza as perdas de N por volatilização, melhorando sua absorção e conseqüentemente o aproveitamento do nutriente.

Aliadas à adubação nitrogenada e à irrigação, as técnicas de cultivo contribuem decisivamente para a obtenção de altas produtividades. São crescentes os trabalhos com o feijoeiro cultivado em plantio direto, sendo que este tem proporcionado melhores condições para o aproveitamento do nitrogênio, aplicado através de adubações minerais, apresentando maior produtividade em relação ao preparo convencional quando se aplicou nitrogênio no plantio, possivelmente devido à maior conservação de água no solo e à menor variação de temperatura do mesmo, proporcionada pelo sistema de plantio direto (Voss e Sidiras, 1984).

O presente trabalho teve como objetivo avaliar na cultura do feijão e o efeito da aplicação de doses e fontes de nitrogênio em cobertura, no período de outono - inverno, em área de plantio direto.

Material e métodos

Os experimentos foram instalados no período de inverno, nos anos de 1999 e 2000, em área experimental pertencente à Faculdade de Engenharia da Unesp, Campus de Ilha Solteira, localizada no município de Selvíria, Estado do Mato Grosso do Sul, situado a 51º22’ de Longitude Oeste e 20º22’ de Latitude Sul, com altitude de 335 metros. De acordo com a Embrapa (1999), o solo foi classificado como Latossolo Vermelho distrófico típico argiloso, A moderado, hipodistrófico álico, caulinítico, férrico, compactado, muito profundo, moderadamente ácido (LVd.). A precipitação média anual é de 1.370 mm, a temperatura média anual é de 23,5ºC e a umidade relativa do ar entre 70 e 80% (média anual).

As características químicas do solo foram determinadas em 1999 antes da instalação do experimento, segundo metodologia proposta por Raij e Quaggio (1983), e apresentaram os seguintes resultados: P (resina) = 11mg dm-3; M.O. = 23 g dm-3; pH (CaCl2) = 4,7; K, Ca, Mg, H+Al e CTC, respectivamente, 2,1; 14; 8; 34 e 58 mmolc dm-3 e 41% de saturação por bases.

O delineamento experimental foi em blocos casualizados com quatro repetições, em esquema fatorial 6x2, constituído pela combinação de seis doses de nitrogênio (0, 25, 50, 75, 100 e 125 kg ha-1) e duas fontes (nitrato de amônio e uréia), aplicadas em cobertura. As parcelas constaram de oito linhas de 5,0 m de comprimento em 1999 e seis linhas de 6,0 m de comprimento em 2000, sendo consideradas úteis as duas linhas centrais, desprezando-se 0,5 m das extremidades.

A semeadura foi realizada em área anteriormente cultivada com arroz, cuja vegetação foi roçada para rebaixar e espalhar de forma homogênea os restos culturais. A dessecação das plantas foi feita utilizando o herbicida glyphosate (1440 g do i.a. ha-1).

O feijão foi semeado mecanicamente nos dias 08 de junho de 1999 e 24 de maio de 2000, utilizando o cultivar Pérola, no espaçamento de 0,50 m entrelinhas e densidade de 12 a 13 sementes viáveis por metro. A adubação básica de semeadura foi de 220 kg ha-1 da fórmula 8–28–16 + 0,5%Zn + 0,3%B.

Após a semeadura, a área foi irrigada para promover a germinação das sementes e a emergência das plântulas ocorreu aos 7 e 6 dias após a semeadura, respectivamente.

A adubação nitrogenada em cobertura foi realizada superficialmente, aos 21 dias após a emergência, e a área foi imediatamente irrigada para minimizar as perdas de nitrogênio por volatilização.

Visando o controle das principais pragas e doenças da cultura, em 1999, foi efetuada, aos 35 dias após a emergência, uma pulverização, utilizando-se metamidafós (600 g do i.a. ha-1) e benomyl (250 g do i.a. ha-1). Em 2000, aos 29 dias após a emergência das plântulas, foram realizadas duas pulverizações, empregando-se o inseticida triazophos + deltramethrin (175 g do i.a. ha-1) e o fungicida mancozeb (1600 g do i.a. ha-1).

No primeiro ano de cultivo, o controle de plantas daninhas foi realizado aos 22 dias após a emergência, utilizando o herbicida fluazifop-p-butil (125 g do i.a.

ha-1). No segundo ano, foram realizadas duas pulverizações seqüenciais, aos 13 e 23 dias após a emergência, fazendo-se o uso, em cada pulverização, do herbicida fluazifop-p-butil + fomesafen (100 + 125 g do i.a. ha-1).

As irrigações foram realizadas por aspersão convencional com precipitação média de 3,3 mm hora-1.

O manejo de água durante o desenvolvimento da cultura foi realizado, utilizando-se de diferentes valores para o coeficiente de cultura (kc), de acordo com os estádios do ciclo cultural (Tabela 1).

Foram avaliadas as seguintes características:

a) Florescimento pleno: número de dias entre a emergência e a floração de 50% das plantas da parcela;

b) Matéria seca de plantas: determinada a partir de 10 plantas ao acaso, por ocasião do florescimento pleno. As amostras foram acondicionadas em sacos de papel, levadas ao laboratório e colocadas para secagem em estufa de circulação forçada de ar a 60-70ºC, até atingir massa constante para pesagem;

c) Teor de nitrogênio na parte aérea: determinado por meio de digestão sulfúrica, conforme metodologia proposta por Sarruge e Haag (1974) após moagem das amostras de matéria seca;

d) Componentes de produção: determinados por ocasião da colheita em amostras de 10 plantas coletadas ao acaso. Determinaram-se o número de vagens por planta, número de grãos por planta, número médio de grãos por vagem e a massa de 100 grãos;

e) Produtividade de grãos: obtida por meio da trilhagem mecânica das plantas da área útil de cada parcela, após arranquio e secagem a pleno sol. Os dados transformados em kg ha-1 (13% base úmida), assim como os dados de massa de 100 grãos;

f) Ciclo: número de dias decorridos entre a emergência e a colheita.


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