Tecnologias Digitais e Antropologia – Hipermédia e Antropologia

 

 

ABSTRACT

Procuramos esclarecer o conceito de tecnologias digitais e teorias digitais a partir das práticas desenvolvidas no âmbito das actividades do projecto de investigação Tecnologias Digitais em Antropologia e das práticas sociais e culturais da sociedade actual. Propõem-se essencialmente duas perspectivas de abordagem da utilização das tecnologias digitais em antropologia, uma instrumental, resultante de convergência cultural, como forma de potencializar as tradições em antropologia - textual, imagética, armazenamento e tratamento de informação; outra, a de exploração de formas de integração destas práticas em forma de exploração hipermediática, resultante da presente pesquisa experimental. Apresentamos ainda as linhas gerais e objectivos do referido projecto de investigação e as instituições e os países no âmbito dos quais se realiza a pesquisa, o trabalho de campo e os protótipos resultantes da pesquisa. A investigação deverá dar origem à escolha e produção de software para o desenvolvimento do projecto, ao desenvolvimento de projectos individuais de pesquisa e à formação avançada neste âmbito.

Palabras clave:
 
· cibercultura
 
· convergencia tecnológica
 
· etnografía
 
· hipertexto/hipermedia
 
· interactividad

 

1. Tecnologias digitais

Por tecnologias digitais entendemos sempre um leque muito alargado de coisas "quase tudo", diria Henry Jenkins (2003), desde o papel dos efeitos especiais CGI (Computer Generated Imagery) dos blockbusters de Hollywood até aos novos sistemas de comunicação (Internet, chat e correio electrónico), aos novos géneros de entretenimento (os jogos de computador), aos novos estilos de música (o techno) ou aos novos sistemas de representação (a fotografia digital, o vídeo e cinema digital ou a realidade virtual). O computador é também um meio de armazenamento de informação e cálculo numérico mas também um meio de comunicação, educação e entretenimento.

Tornou-se pois necessário esclarecer o conceito, desenvolver uma teoria do digital, baseando-o na interpretação e na avaliação das práticas sociais locais, decorrentes da utilização das tecnologias digitais, directa ou indirectamente envolvidas na investigação [como objecto de estudo ou como prática desenvolvida pelos investigadores], decorrente do processo de pesquisa partindo mesmo da própria experiência auto-reflexiva e dialógica, decorrente das práticas desenvolvidas pelos investigadores. Este é pois um dos objectivos centrais do projecto – a produção teórica a partir da interpretação e reflexão sobre as práticas locais de utilização das tecnologias digitais.

É também ideia central da pesquisa a integração da tecnologia na cultura, na medida em que as representações digitais constituem a forma simbólica da nossa época (Jonhson, 2001), novas formas culturais que dependem dos computadores: CD-ROM, DVD-ROM, sítios Web, jogos de computador, aplicações de hipertexto e hipermédia (Manovich, 2002),

Partimos de percursos anteriores de investigação em antropologia e inserimos esta perspectiva de uma antropologia digital numa linha de continuidade da antropologia visual e, por conseguinte, de utilização das tecnologias do som e da imagem na antropologia e da história paralela entre as tecnologias da representação e a própria representação antropológica.

 

2. Tecnologias digitais e convergência cultural

As tecnologias digitais em antropologia incluem numa primeira abordagem três tradições: textual, imagética, museológica (armazenamento e tratamento de informação).

  1. Em primeiro lugar o computador como processador de texto ou de hipertexto, como manipulador simbólico é uma tecnologia de escrita na tradição do rolo de papiro, do códex e do livro impresso. Neste sentido, as tecnologias digitais potenciam a tradição escrita. Influenciam todo o trabalho de investigação do terreno ao texto – elaboração das inscrições locais, registo e transcrição da informação colhida localmente, consultas documentais, organização e tratamento da informação, apresentação final da investigação, divulgação/ comunicação dos resultados. Abrem, no entanto, caminhos para a exploração de novas práticas sobretudo de comunicação e novas preocupações relacionadas com a estética e políticas de representação e novas problemas éticos e jurídicos de correntes da sua utilização (Ribeiro, 2003).
  2. Na tradição imagética (antropologia visual), o computador apresenta-se como realidade virtual, como motor gráfico, como manipulador perceptivo, pertence e expande a tradição da televisão, do filme, da fotografia e mesmo da pintura de representação. Potencia assim toda as práticas que, a partir de meados do século XIX, constituem uma outra tradição em antropologia – a da utilização das imagens e sons. A antropologia usou desde o seu início as imagens tecnológicas, primeiro a fotografia, depois o cinema e mais tarde o vídeo e as tecnologias digitais, no processo de pesquisa, de documentação e de auto-documentação, de recolha, organização e tratamento da informação. Alguns autores consideram mesmo ser paralela a história da antropologia, da fotografia e do cinema. As imagens tecnológicas serviram também como meios de transmissão de saberes antropológicos quer em contextos museológicos, quer escolares (ensino-aprendizagem) e de comunicação para públicos mais alargados. A antropologia tomou ainda como objecto de estudo a fotografia, o cinema, as tecnologias digitais. A teoria social e o cinema são cada vez mais lugar de convergência de projectos de investigação e de produção científica. As tecnologias digitais (fotografia digital, vídeo e cinema digital, som digital, edição, composição e montagem, etc.) embora susceptíveis de criar novas utilizações potenciam e facilitam (democratizam) sobretudo as antigas práticas de representar a realidade e de ver o mundo, isto é, de observar, registar o processo de observação, construir e editar o discurso audiovisual em antropologia (filme etnográfico) e de o tornar público. As tecnologias digitais constituem instrumentação mais aperfeiçoada de investigação, facilmente disponível e acessível (ou banalizada), permitem pois o desenvolvimento, aperfeiçoamento ou banalização das práticas da antropologia visual.
  3. Finalmente o computador como meio de armazenamento de informação e cálculo numérico. As bases de dados potenciam uma outra tradição: a museológica – recolha, armazenamento, notação e tratamento da informação dos objectos e registos do mundo e de comunicação com sseus publicos. Permite assim a utilização de uma maior quantidade de informação, a facilidade de acesso, de consulta, de controlo de utilização e manipulação. Situam-se aqui as colecções, os museus e os arquivos, a patrimonialização, a consequente inventariação digital com objectivos de divulgação, de controlo, de utilização, de virtualização das instituições e das suas iniciativas culturais e sociais.

 

Nesta perspectiva, as tecnologias digitais dão continuidade e potencializam as tradições desenvolvidas ao longo do tempo pela antropologia. Paradoxalmente os computadores parece que nada trazem de novo ainda que os utilizemos para criar, armazenar, distribuir e aceder à cultura.

Estaremos a usar as técnicas desenvolvidas nos anos vinte?

"De facto, actualmente, mais que catalizador de novas formas, o computador parece potencializar as existentes" (Manovich, 2002).

As tecnologias digitais, referimo-nos aos computadores como meio e armazenamento de informação, de cálculo numérico e de comunicação mas sobretudo aos novos sistemas de representação, constituem hoje instrumentação indispensável na realização do trabalho de campo em antropologia, e das ciências sociais em geral, qualquer que seja o paradigma de investigação seguido pelo investigador. É cada vez mais pertinente a sua utilização em todas as fases da pesquisa: na preparação do trabalho de campo, consulta documental, recolha e organização da informação – dados escritos, visuais, sonoros e audiovisuais, análise e tratamento da informação, exposição/disseminação dos resultados da pesquisa e na avaliação junto dos públicos. A integração de tecnologias digitais na pesquisa e no trabalho científico em antropologia vai acontecendo de forma paulatina e paralela à da integração no quotidiano da vida social e profissional, numa espécie de "convergência cultural" irreversível entendida como "processo através do qual as pessoas no seu dia-a-dia usam os media e em relação a cada uma deles fazem avaliações acerca do modo como cada um serve melhor objectivos específicos, concentram informação proveniente de múltiplos canais de comunicação e acolhe os trabalhos de arte que dependem da apropriação e nova combinação de materiais culturais ou de arquivos e sua colocação em circulação de textos de media anteriores. Algumas destas mudanças reflectem os nossos encontros iniciais com os media digitais, mas estas mudanças estão a ser sentidas em todas as áreas da cultura popular e algumas delas preparam mais do que respondem à penetração crescente da Net, da Web, e do computador pessoal nas nossas vidas quotidianas. [...] As propriedades de um meio podem treinar-nos nas capacidades perceptivas e cognitivas que necessitamos para adoptar media futuros. Como Lev Manovich (1996b) escreve: "Gradualmente o cinema ensinou-nos a aceitar a manipulação do tempo e do espaço, a codificação arbitrária do visível, a mecanização da visão, e a redução da realidade a uma imagem em movimento como um dado adquirido. Como resultado, o choque conceptual da revolução digital não é experimentado, hoje em dia, como um choque real pois estamos preparados para ele há muito tempo" (Jenkins, 1999). Através desta "convergência cultural", a utilização quotidiana dos media acaba por integrar-se no processo de investigação como se integra nas práticas do quotidiano. Como a utilização dos processadores de texto teve influência na literatura (1), ou o correio electrónico, a Internet no processo de sociabilização, no contacto com aqueles que deixamos para trás, na criação de novas sociabilidades, novas amizades, novas comunidades apesar do desenraizamento de nosso laços em relação às comunidades geográficas locais.

A convergência cultural "naturaliza" as mudanças e as tecnologias digitais não parecem pois trazer "nenhuma nova abordagem fundamental", "nenhuma novidade significativa" (Manovich, 2002).

Duas vias parecem emergir neste processo de "convergência cultural". Uma instrumental, a da introdução "naturalista" das tecnologias digitais na investigação como processo de "modernização" da pesquisa, isto é, de fazer as mesma coisas recorrendo a outros meios. Outra, talvez mais promissora e reflexiva, a da tomada de consciência das transformações iniciadas. Esta passa, em nosso entender, pelo desenvolvimento de uma consciência crítica e reflexiva (teoria digital) em relação à utilização dos media e a uma dinâmica criativa materializáveis hoje no computador – todas as estratégias desenvolvidas com o fim de despertar o espectador para a sua própria existência constituem hoje a rotina básica de uma sociedade pós-industrial (colagem, montagem (2), janelas dinâmicas...) (Manovich, 2003).

Poderá haver a possibilidade de emergência de algo novo no âmbito do trabalho com tecnologias digitais em Antropologia? Esperamos que sim. Não a partir de cada uma das tradições acima descritas e potencializadas (facilitadas e generalizadas) pelas tecnologias digitais: a textualidade, a hipertextualidade e toda a tradição da antropologia escrita; as imagens e sons (e a sua versão digital) e toda a tradição da antropologia visual; os arquivos e as formas mais expeditas de organizar, tratar, aceder e manipular as fontes documentais (cervos documentais museus, etc.).

O caminho parece ser o da integração destas três potencialidades num só medium, o hipermédia entendida como "a linha de conhecimento mais inovadora" produtora de um "novo modelo de comunicação" e de "uma nova cultura" assente em quatro processos: a integração dos media e processos anteriores numa forma híbrida de expressão; a interactividade e por conseguinte a possibilidade do utilizador intervir, de utilizar a sua experiência e realizar associações pessoais; a imersão do utilizador no ambiente; a criação de novas narrativas, novas estratégias e formas que, baseadas nas antigas, exploram a não linearidade (Castells, 2004).

Perguntar-se-á no entanto se isto é novo ou, pelo contrário, como o afirma Manovich, a materialização no computador das vanguardas culturais anteriores? Ou se as potencialidades do hipermédia, enunciadas por Castells, não serão simplesmente "um sonho tecnológico" e as transformações culturais bem mais complexas? Não será apenas do domínio da experiência subjectiva a existência de um "verdadeiro sistema interactivo, digitalmente comunicado e electronicamente controlado, dentro do qual todas as peças soltas da expressão cultural passada, presente e futura, em todas as suas manifestações, poderiam existir e recombinar-se" (Castells, 2004: 238)?

 

3. Tecnologias digitais e novos paradigmas

Com o advento da era da transformação digital (Jenkins) surgem novas problemáticas e novas oportunidades de investigação e de formação. Diluem-se as fronteiras entre os media, uma vez que os media digitais incorporam potencialmente todos os media anteriores. Surgem novas concepções e representações das relações espaço /tempo (Augé, Castells) – relações entre distintos períodos, entre o presente e a memória, regiões diferentes – multilocalidade, ligações interdisciplinares, ligações intertextuais e discursivas (Clifford e Marcus, 1986, Marcus e Fischer, 1986 e G. Marcus, 1991, 1994), "hiperescrita" (textos híbridos, não lineares) entre diferentes meios e diferentes discursos (Robert Stam, 2001). As tecnologias digitais tornam-se acessíveis a um cada vez maior número de utilizadores (democratização dos media), enquanto se melhora a sua qualidade técnica e se diluem também as fronteiras entre "amadores" e "profissionais" dos media. As tecnologias digitais tornam-se tecnologias da memória (arquivos digitais) susceptíveis de armazenar, organizar e comunicar uma grande quantidade de informação, de qualquer tipo e suporte (textos, imagens, sons, áudio-imagético), de a fazer circular e tornar facilmente acessível e disponível simultaneamente numa pluralidade de lugares por um grande número de utilizadores – as bases de dados serão as formas simbólicas ou culturais contemporâneas, aparentemente caóticas mas estruturadas nas quais se podem realizar um grande número de operações básicas: navegar, ver, organizar, reorganizar, seleccionar, compor, enviar, imprimir, etc. (Halbwachs, 1968, Levy, 2001, Baer, 2003). Se, por um lado, está latente a ameaça de banalização ou da corrosão da forma inerente ao pensamento e à racionalidade (Neil Postman), por outro torna-se urgente encarar o desafio que as tecnologias digitais oferecem à investigação, ao ensino, à criação de espaços virtuais de produção, circulação e utilização do conhecimento e às profundas transformações que parecem produzir nas sociedades contemporâneas, comparável à invenção do alfabeto (Castells, 2000).

Surgem, pois, novos desafios e novas áreas de investigação relacionadas com a sociedade, a cultura e o conhecimento em rede – "sociedade em rede", "cibercultura" "ciberantropologia", "cibersociedade", "etnologia das comunidades virtuais", "inteligência colectiva", "antropologia digital" que urge trazer para o centro da investigação em antropologia (Hine, 2000) convictos que a sociedade, o pensamento e cultura de cada época se reflectem na sua técnica (Norbert Wiener, 1998)

Na convergência destes factores as tecnologias digitais e os computadores poderão ser para o antropólogo e os cientistas sociais muito mais úteis que meros processadores de textos e de codificação de dados recolhidos no terreno mas um poderoso meio de (autoria) apresentação de resultados de investigação – como o hipermédia; lugar de convergência com teorias e paradigmas de investigação (pós-estruturalismo, teoria crítica); capazes de desenvolver uma apresentação mutisenssorial (escrita, sons, imagens), relacionar dados com a interpretação, de justapor vozes e perspectivas, de permitir ao utilizador processos interactivos de descoberta e de utilizador activo e criativo no processo de aprendizagem ou de utilização, de gerar produtos culturais ou científicos para grandes públicos (Landow, 1992, Bairon, 2002).

As tecnologias digitais além de potencializarem (facilitarem e generalizarem) as práticas tradicionais da pesquisa em antropologia na sua componente escrita, audiovisual e na organização e desenvolvimento do processo parecem também constituir um potencial avanço na medida em que incorporam potencialmente todos os media anteriores, diluem as especificidades de cada um, facilitam a intertextualidade e a sua mestiçagem (Stam, 2002) e a integração de três processos, práticas ou tradições acima referidos. As novas tecnologias digitais e sobretudo o hipermédia constituem uma forma, porventura mais eficaz, de integração da antropologia visual com a antropologia (escrita) e da antropologia com a antropologia visual; das imagens, sons e audiovisuais com a escrita; dos filmes com a reflexão teórica – todo o aparelho critico do filme (produção, utilização, reflexão teórica); das práticas actuais com o regresso "à antropologia clássica para melhor sondar os seus fundamentos práticos e intelectuais, e abordar a questão da construção discursiva dos seus objectos no texto etnográfico" (Kilani, 1994:29), o voltar a "caminhos muito antigos, ao prosseguir esta resposta à crítica da retórica etnográfica convencional" (Marcus, 1995:52), às imagens iniciais, "verdadeiros arquivos vivos, conduzem a novas abordagens da antropologia e da história (...) a sua posição tem necessidade de ser precisada, as suas coordenadas devem ser elucidadas em relação às próprias condições da sua captação, do seu registo. A interrogação legítima sobre o estatuto destes dados passa definitivamente por um exame crítico da sua realização" (Piault, 1992:61); da tradição escrita e imagética com a tradição museológica, as colecções, os arquivos, isto, é com a memória e por consequência com o tempo presente e a história.

As influências de Writing Culture (Clifford e Marcus, Writing Culture, 1986 e de Anthropology as Cultural Critique Marcus e Fischer, 1986) na antropologia ao questionar a noção de "terreno", como lugar objectivo circunscrito num espaço e num tempo rompem com "o presente etnográfico", com as formas objectivistas e realistas de representação da realidade e do modo de ver o mundo remetendo para a dimensão histórica do encontro intercultural, para a dimensão subjectiva (cultural) da construção do olhar, para uma antropologia multissituada (no espaço, tempo e posicionalidade) visando harmonizar a mobilidade das forças sociais (deslocalização) com a sua fixidez (local), para a pluralidade de interpretações dos fenómenos sociais (pluralidade de vozes) e para formas dialógicas de abordagem do "terreno" e de construção discursiva, remetem para formas mais criativas, mais conscientes e mais participativas de escrita sem perda das qualidades da investigação académica do passado (Anderson, 1999).

Clifford sugere que embora a etnografia não possa escapar ao reducionismo, pode mover-se além das molduras historicamente abstractas (1988:23). Seguindo esta via, o hipermédia etnográfico pode ser um meio de expandir determinados aspectos tradicionais da etnografia, tais como a estrutura narrativa, a intersubjectividade, a polivocalidade, as linearidades, e a utilização pedagógica. Contendo potencialidade de conjugar várias formas de análise, de reflexão, de interpretação, e de vozes (incluindo a dos sujeitos da pesquisa), o hipermédia tem o potencial de ir além do processo de "descrever" a cultura para tentar o centro da própria "experiência da cultura". Experiência como processo em que o utilizador do hipermédia poderá adoptar ao fazer o seu estudo e análise antropológica, projectar sua própria pesquisa, interpretar de formas múltiplas a informação etnográfica (Anderson, 1999).

Assim acontece com o trabalho do investigador em Antropologia, já de si hipermediático na medida em que envolve no processo de observação multissensorial (vejam dequentemente referidas do antropólogo como homem orquestra); na elaboração das inscrições locais – registos escritos, gráficos, visuais, sonoros; nas ligações entre saberes (locais e globais, microsociais e macrosociais, concretos e abstractos), entre dados e teoria. A própria situação do trabalho de campo se poderá entender como um processo de imersão semelhante ao do utilizador no hipertexto/hipermédia embora de natureza muito mais complexa (liminaridade, trajectórias não lineares, metamorfose, multiplicidade, descentramento, orquestação) e a apresentação final dos resultados (integração da experiência realizada na instituição - antropologia) uma forma de criar todo o tipo de ligações múltiplas entre dados e interpretação, múltiplos intertextos: decorrentes de múltiplas vivências, qualidades perceptivas, perspectivas de observação e análise, de confronto entre os dados e a teoria, ou mesmo a selecção e utilização dos media que se vão incorporando na investigação e na relação com o terreno, com os pares, com a comunidade científica, com as instituições. Retornando a Vertov, a realização de um filme, ou o desenvolvimento de um projecto de pesquisa e a consequente escrita de um texto, ou de outra forma de apresentação da pesquisa é um processo de montagem (Piault, 2000, Tomas, 1994, Ribeiro, 2000, Bairon, 2003). A tradição da montagem no cinema não é de todo alheia podendo mesmo considerar-se paralela à montagem de uma pesquisa, à construção de uma lógica de esquematização textual, ou mesmo de uma exposisção e subjacente a esta uma narrativa como filme, itinerário de pesquisa, escrita ou percurso de uma expossição.

Permitindo armazenar, organizar uma grande quantidade de informação proveniente de uma multiplicidade de meios e torná-la facilmente acessível e utilizável, as tecnologias digitais e o hipermédia tornam possível apresentar todo o percurso de um investigador, articular o processo desenvolvido ao longo de décadas e a contínuas reescritas do percurso; a historicidade de uma comunidade, de um povo, de uma instituição e de possibilitar uma infinidade de processos criativos de interligações e de reflexão acerca destes processos de interligação e de "intertextualidades electrónicas" (Darley, 2003). Os diversos estudos acerca de uma mesma problemática ou a partir de um mesmo terreno poderão igualmente ser objecto de integração.

A questão porém não se coloca apenas em relação à diversidade de informação multisensorial mas também à quantidade de informação incluida. Nas tradições anteriores grande quantidade de informação texto, imagens ou outro qualquer acervo (documentos, objectos, etc) era excluida da apresntação final dos resultados: texto, filme, exposição, etc. Estas podem hoje ser incluida no hipermédia.

Claro está que a utilização dos media digitais levantam problemas específicos de natureza ética, política e epistemológica como antes acontecera com a escrita ou com as imagens. Esta é também uma questão central na reflexão sobre a utilização dos novos media na investigação.

O valor pedagógico (3) da utilização do hipermédia em antropologia é reconhecido pelas potencialidades de incentivar os utilizadores a desenvolver práticas específicas, que permitem não apenas conhecer os resultados finais de uma determinada pesquisa, mas também aceder aos dados e às interpretações e a partir destas reconstruir os processos de análise e de interpretação ou de distanciamento crítico e criativo com a procura de novas interpretações, recriando todo o percurso do terreno ao texto, ou a si próprio – utilizador/actor do conhecimento. Com efeito, na medida em que se torna possível organizar uma grande quantidade de informação, facilitar a acessibilidade e conceber múltiplas relações entre a informação organizada, o hipermédia possibilita ao utilizador:

Trabalhar sobre os dados reunidos na pesquisa, confrontar-se com a interpretação do investigador, integrar novas interpretações, sujeitar suas interpretações a processos contínuos de reformulações explorando as enormes possibilidades de cruzar referências;

Integrar no processo de aprendizagem representações multissemióticas – actividade verbal, visual, sonora e audiovisual e tradições que secularmente caminharam em paralelo, a par, nem sempre sem conflitos – a antropologia escrita e a antropologia visual (audiovisual);

Delinear o seu próprio caminho (ou reconhecendo os caminhos propostos, aceitando-os ou recusando-os) explorando todas as formas de intertextualidade: entre os dados e as interpretações, entre dados escritos visuais e sonoros e as interpretações resultantes dos processos de montagem (edição visual, sonora, audiovisual).

Na tradição da antropologia visual as tecnologias de representação (fotografia, cinema, audiovisual) tornaram-se instrumentação e objecto de pesquisa. Com efeito, eles tornaram-se formas simbólicas de épocas anteriores, transformaram os comportamentos sociais e integraram-se na vida quotidiana dos indivíduos, dos grupos sociais, das sociedades. Assim, actualmente os media digitais e o hipertexto/hipermedia progressivamente se vão instalando no quotidiano das sociedades actuais, "representar a informação digital no ecrã é visto como a forma simbólica da nossa época" (Johnson, 2001) ou como "novas formas de ensino, conhecimento e expressão" (Jenkins, 2003) num tempo liminar ou de passagem - da "era da reprodutibilidade técnica" (W. Benjamin, [1936] 1992) para a era da "transformação digital" (Henry Jenkins, 2003) ou da reprodutibilidade biocibernética (W.J.T. Mitchell, 2004). Esta, pois novas problemáticas, ou novas oportunidades de investigação em antropologia visual ou em antropologia, cada vez mais como projectos integrados, híbridos, inseparáveis.

 

4. Delineamento de um projecto de pesquisa em tecnologias digitais e antropologia

O projecto de pesquisa TDA situa-se na confluência de três eixos do desenvolvimento actual das Ciências Sociais e da Antropologia em particular: da utilização das tecnologias digitais (novos media) na pesquisa qualitativa; dos métodos da antropologia visual (visuais e sonoros) e multimédia/hipermédia na etnografia (método etnográfico) e na antropologia; da utilização das tecnologias digitais na museologia e nos arquivos; e das consequências resultantes da introdução de novos paradigmas e novas tecnologias da representação - turbulências na tradição académica, exigências resultantes de uma emergente sociedade do conhecimento, interesse do mercado pelos produtos culturais.

O projecto propõe-se, na era da transformação digital, explorar as potencialidades e oportunidades das tecnologias digitais na sua forma escrita, visual, sonora, audiovisual e hipermédia na investigação e na comunicação científica entre investigadores, para públicos mais alargados e no ensino. Prestamos particular atenção aos processos de integração hipermediática das tradições antropológicas anteriores: textuais, imagéticas e de recolha e colecção. Cremos que esta via constitui uma etapa no desenvolvimento do que tradicionalmente se chama antropologia visual, uma prática desenvolvida desde meados do século XIX e com fases de acentuado desenvolvimento no anos 20, nos anos 60 e a partir dos anos 90 do Século XX (Ribeiro, 2004).

Tentaremos potencializá-las através da criação de uma comunidade virtual de investigação e formação pós-graduada no âmbito da antropologia visual e do hipermédia que permita troca de informação, trabalhos sistemático conjunto, interdisciplinar e partir de experiências sociais, culturais e académicas diferenciadas tomando também como objecto de estudo os processos sociais decorrentes da sua utilização.

O trabalho de campo previsto terá as seguintes componentes: trabalho (investigação fundamental e experimental) no âmbito do Laboratório de Antropologia Visual do CEMRI – Universidade Aberta em Portugal e do Núcleo de Pesquisa em Hipermédia da Universidade Católica de S. Paulo no Brasil; trabalho (investigação aplicada) de investigadores individuais e/ou em grupo de projecto no âmbito de realização de trabalhos académicos (mestrado, doutoramento e pós-doutoramento); e de extensão (serviço) à comunidade através do desenvolvimento de processo iniciático de utilização das tecnologias digitais no âmbito do ensino básico e secundário em situações como o estudo do meio e da cultura local no contexto da globalização e outras que podem incluir a formação de professores e de outros agentes culturais no desenvolvimento de processos de iniciação às narrativas visuais/digitais e hipermédia e da realização/concretização boas práticas e produtos de divulgação da cultura.

É na convergência de uma tradição histórica da antropologia, das imagens e da museologia (colecções) com a emergência de novas oportunidades que se coloca a problematização da relação entre as novas tecnologias, a antropologia e a cultura; que se problematiza, numa perspectiva pós-colonial, o espaço simbólico das culturas diversas faladas em português; se dão passos na direcção de trocas sistemáticas de experiências entre investigadores e docentes de áreas afins, provenientes de instituições de países distintos e com muitas histórias comuns, se perspectiva as vantagens do ensino elaborado a partir de múltiplas experiências, de múltiplos locais e culturas e direccionado também para estudantes provenientes dessa mesma diversidade de locais e culturas.

Propomo-nos assim potencializar a investigação e as experiências desenvolvidas nestes dois centros/núcleos de estudos participantes no projecto, alargá-las a outros países de língua portuguesa e/ou comunidades lusofalantes, disponibilizá-la para os investigadores e estudantes envolvidos no projecto e abri-la à sociedade. Contribuiremos através deste projecto para a criação de um espaço de criatividade na produção de novas linguagens para a ciência (antropologia e a cultura), de trocas de experiência entre docentes e estudantes dos dois países envolvidos no projecto (Portugal e Brasil) abertos a outros lugares e países, de estudos comparativos, contrastivos ou co-participativos que só o desenvolvimento recente das tecnologias digitais tornou realmente possível ou pelo menos exequível sem grandes investimentos em deslocações e na troca dos resultados da produção científica.

Constituem finalidades e objectivos do projecto TDA:

  • Investigar o impacto das tecnologias digitais e dos novos media em todos as fases do processo de investigação em antropologia desde o terreno, aos utilizadores (ensino, públicos específicos, público em geral). As práticas desenvolvidas nos projectos individuais de pesquisa servir-nos-ão de base documental para o desenvolvimento de uma teoria digital em antropologia.
  • Investigar o impacto das tecnologias digitais na sociedade (sociabilidade, formação, criação/criatividade, conhecimento, entretenimento, controlo social) e sobretudo no desenvolvimento desta pequena comunidade científica. Pretendemos caracterizar os processos de "convergência cultural" e a sua relação com o desenvolvimento reflexivo enunciado no objectivo anterior.
  • Realizar estudos substantivos de filmes e produtos hipermédia em Antropologia e Ciências Sociais (temáticas, processos de investigação/produção e recepção/utilização) utilizando neste processo os meios tecnológicas disponíveis no mercado e os desenvolvidos ou adaptados pelos núcleos de pesquisa envolvidos no projecto (Digibase, Anotator, etc.). Análise dos media (discursiva) – procura de relações significativas entre um grande volume de dados (o processamento de imagens, descobrir detalhes que possam permanecer ocultos na imagem e comparar automaticamente conjuntos de imagens obtenção de valores estatístico que possam revelar continuidades (autor, estilo, retóricas, etc.).
  • Apresentar os resultados da investigação prevista num protótipo em hipermédia direccionado para a educação, em suporte DVD que inclua os pressupostos teóricos e epistemológicos da antropologia e do hipermédia (diversidade de documentos e de análise/interpretação, multiplicidade de níveis de leitura, narrativa a múltiplas vozes, multiplicidade e integração multissemiótica – escrita, áudio, vídeo, interactividade e integração das reacções dos utilizadores).
  • Passar do protótipo a um curso de formação a distância (sítio na Web – Antropologia Visual e Hipermédia) com uma componente aberta ao público em geral e uma específica de ensino creditável pelas instituições envolvidas na concepção e realização do projecto.
  • Criar uma comunidade virtual de pesquisa em torno da antropologia, da cultura (estudos culturais) e das tecnologias digitais, visando a criação de um espaço simbólico transnacional susceptível de juntar contributos no debate da diversidade de culturas lusofalantes – de espaços nacionais, étnicos e comunidades migrantes dispersas no mundo; de experiências de investigação e de formação; de discursos – e a realização de estudos comparativos e co-participativos.
  • Conceber e realizar (ou propor às Universidades envolvidas no Projecto) um curso de formação pós-graduada em Antropologia visual e Hipermédia [Cultura, Sociedade e Tecnologias Digitais] visando três finalidades – utilização das tecnologias digitais na pesquisa (recolha, tratamento e organização da informação) suas possibilidades e limitações; utilização das tecnologias na produção do discurso, na comunicação dos saberes, na estruturação de uma comunidade científica e no ensino; elaboração de estudos dos processos sociais (novas sociabilidades, comunidades virtuais) e das mudanças sociais (espaço / tempo) decorrentes da utilização das tecnologias digitais na sociedade em geral e nas situações específicas da formação e da investigação.

Pressupostos metodológicos no TDA:

O projecto utilizará as tecnologias digitais na recolha, organização, análise dos dados etnográficos e apresentação dos resultados da pesquisa. Isto conduzirá à produção e avaliação de um ambiente hipermédia de interface com o utilizador e ao estudo dos processos de utilização. Este processo integrará novas escritas em antropologia (e em ciências sociais) com a antropologia visual e o hipermédia e as (boas) práticas desenvolvidas (e diferenciadas) pelos grupos de pesquisa envolvidos – Laboratório de Antropologia Visual e Núcleo de Pesquisa em Hipermédia, e a utilização criativa das tecnologias pessoais e das existentes nestes núcleos de pesquisa. Para a realização desta tarefa será criado um sítio na Web que permita o trabalho em rede e a troca de informação pelos investigadores envolvidos no projecto e, tanto quanto possível, a produção, criação e utilização de base documental, de tecnologias e de softwares (Authorware, Première, Atlas_ti, Photoshop,) comuns, criteriosamente escolhidos a fim de evitar dispersões e dificuldades de interacção.

Nesta perspectiva propomo-nos:

  • Escolher ou produzir um conjunto apropriado de documentação, tecnologias, instrumentos, ferramentas informáticas e software conducentes ao desenvolvimento do projecto.
  • Fomentar a sua utilização pelos investigadores assegurando também a sua formação e meios de reflexão crítica sobre o processo.
  • Orientar e apoiar o trabalho de campo etnográfico conducente à realização de projectos individuais de pesquisa focalizando processos de recolha e tratamento de dados (digitalização dos dados recolhidos no trabalho de campo e criação de bancos de dados) prestando particular atenção à produção e recepção do conhecimento.
  • Procurar utilizar de forma inovadora e criativa, científica e epistemologicamente fundamentada a instrumentação de recolha de dados e de construção de narrativas visuais digitais e do hipertexto/hipermédia na análise e na apresentação dos resultados da pesquisa.

 

Bibliografia

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Notas

  • [1] - Umberto Eco em Pêndulo de Foucault.
  • [2] - A sobreposição de janelas (imagem na imagem) nas interfaces homem-máquina poderá entender-se como uma síntese das técnicas básicas do cinema: montagem temporal e a montagem de um só plano?
  • [3] - Schnotz, W., Boeckheler, J., & Grzondziel, H. (1999). Individual and co-operative learning with interactive animated pictures. European Journal of Psychology of Education, 14, 245-265 e Enabling, Facilitating, and Inhibiting Effects in Learning from Animated Pictures em http://www.iwm-kmrc.de/workshops/visualization/schnotz.pdf

 

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"Este artículo es obra original de José S. Ribeiro y su publicación inicial procede del II Congreso Online del Observatorio para la CiberSociedad: http://www.cibersociedad.net/congres2004/index_es.html"

 

José S. Ribeiro
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