Página anterior Voltar ao início do trabalhoPágina seguinte 

A atividade física na adolescência (página 2)

Natacha Toral; Betzabeth Slater; Isa de Pádua Cintra; Mauro Fisberg

 

Mesmo que, isoladamente, o exercício possa não ser capaz de promover rápida perda de gordura, ele apresenta diversas vantagens sobre outros tipos de tratamento, como conservação da massa magra - a qual ocorre devido ao efeito anabólico da atividade física - e estabelecimento de melhor estilo de vida(47).

Quanto à adoção de melhor estilo de vida, um estudo de Valois et al(51) envolvendo 4800 adolescentes americanos, mostrou que níveis mais elevados de atividade física relacionavam-se a menor uso de cigarro e maconha, falando a favor dos efeitos psicossociais positivos da atividade física nesta faixa etária.

O estudo de Dearwwater(13) et al., por outro lado, mostrou resultados conflitantes em relação a esse aspecto. Eles realizaram um estudo prospectivo com 1245 adolescentes entre 12 e 16 anos, durante três anos, visando avaliar a associação entre atividade física e adesão a comportamentos de risco à saúde. Foram encontradas associações significantes em relação ao uso de álcool e cigarro, com importante diferença entre os sexos. Os adolescentes do sexo masculino mais ativos e aqueles que participavam de competições esportivas aderiram mais ao uso de álcool do que os inativos. Por outro lado, as adolescentes mais ativas tiveram menor adesão ao tabagismo do que as inativas. Esses resultados indicam que, pelo menos em relação ao uso de álcool por adolescentes do sexo masculino, nem sempre a prática de esportes estará atuando como um "fator protetor".

Brownell(8) afirma que, além dos benefícios fisiológicos, o exercício físico gera efeitos psicológicos positivos, tais como melhora do humor, redução do estresse, aumento da auto-estima devido à melhora da auto-eficiência e esquemas cognitivos que favorecem o raciocínio otimista.

Segundo Fench et al. (20) a prática de esportes pode representar fator de proteção para o desenvolvimento de transtornos alimentares, como a anorexia e a bulimia, talvez devido ao fato de elevar a auto-estima e o apoio social e diminuir a sensação de depressão e estresse. Esses autores identificaram em seu estudo que a prática de atividade física estava relacionada a um padrão e preferências alimentares mais adequados.

Com relação ao comportamento alimentar, o estudo de Heide(26) com atletas adolescentes mostrou que, apesar da eutrofia predominante, havia um padrão alimentar inadequado, com baixa ingestão de praticamente todos os grupos de alimentos, sobretudo grãos e vegetais e, simultaneamente, alto consumo de doces, salgados, salgadinhos e bebidas alcóolicas. Armstrong et al. (3) constataram que somente 27% dos indivíduos avaliados, maiores de 18 anos e fisicamente ativos, responderam ter modificado em grande parte seu padrão alimentar, em função da prática esportiva.

Barbosa(6) tem a preocupação de enumerar algumas idéias acerca da prática de esportes na adolescência, definindo-as como "mitos": o esporte faz o adolescente crescer, atrasa a menarca e altera a menstruação, prejudica os estudos, não deve ser praticado por portadores de moléstias crônicas como asma, diabetes, epilepsia e, principalmente, o esporte é isento de riscos.

Quanto ao efeito "estimulador" do crescimento, ainda é bastante difícil determinar a definição exata da influência que os programas de treinamento tem sobre o crescimento. Beunen et al. (5) investigaram os efeitos da atividade física sobre o crescimento físico, maturação e performance em adolescentes belgas seguidos longitudinalmente dos 13 aos 18 anos, verificando que os indicadores de crescimento somático e esquelético não foram diferentes entre os grupos. Malina(33) sugere que o treinamento intensivo tem pouco ou nenhum efeito no crescimento infantil. Cooper(11) considera que as diferenças físicas observadas entre jovens atletas refletem, provavelmente, uma seleção de indivíduos que sejam mais aptos às demandas de determinados esportes. Baxter Jones et al. (7) concluíram em seu estudo com atletas jovens do sexo masculino que o treinamento regular parece não ter alterado os padrões de crescimento. Alves et al. (1) consideram que a influência da atividade física tanto nos índices de maturação biológica (idade esquelética, idade de pico de crescimento) quanto no crescimento esquelético ainda é objeto de discussão. O treinamento físico regular parece ser apenas um dos fatores que pode afetar o crescimento.

Segundo Tourinho & Tourinho, não se tem explicação adequada para inúmeros questionamentos relacionados com os efeitos da prática da atividade física envolvendo integrantes da população jovem, sendo que, as lacunas existentes, têm a ver com o fato de alguns programas de atividade física induzirem modificações morfológicas e funcionais na mesma direção do que é esperado para o próprio processo de maturação biológica. Para Guedes & Guedes(24), em se tratando de crianças e adolescentes, as modificações que ocorrem até que atinjam o estágio de maturidade podem ser tão grandes ou maiores até do que as próprias adaptações resultantes de um programa de atividade física.

Quanto ao suposto "mito" de atraso na menarca e alteração na menstruação, o estudo de Merzenich et al. (36) mostrou que, em situações específicas, tais eventos podem realmente ocorrer. Eles estudaram durante um período de 6 anos um grupo de 261 meninas entre 8 e 15 anos, constatando que ao final do período de acompanhamento 79% das meninas tinham experimentado a menarca. As dançarinas de balé e as atletas apresentaram um início retardado da menstruação e uma elevada incidência de ciclos irregulares e amenorréia. Menarca retardada, relacionada com treinamento intensivo, foi atribuída ao elevado dispêndio de energia, diminuição da gordura corporal e estresse psicológico, que perturba a liberação do hormônio liberador de gonadotrofina pulsátil hipotalâmica. Os dados mostraram ainda que um retardamento da menarca é devido não apenas ao treinamento intensivo, mas também à atividade esportiva moderada.

Estudando 583 atletas adolescentes participantes dos Jogos da Juventude Brasileiros, Heide(26) constatou que os níveis séricos de hemoglobina, em ambos os sexos, eram semelhantes aos da população brasileira geral da mesma idade, mas inferiores aos observados em países desenvolvidos. Segundo Raunikar & Sabio(43), o efeito do exercício na deficiência de ferro e anemia varia muito, mas a maioria dos estudos, indica que exercícios não causam ou exacerbam a anemia. Rowland(46) coloca que a baixa hemoglobina é incomum, mas entre 40 e 50% das atletas adolescentes apresentam algum grau de depleção (deficiência sem anemia). De acordo com Lyle et al. (32) a comparação entre estudos com atletas é complexa, uma vez que estes variam muito em relação à idade, intensidade, duração e tipo de exercício praticado, bem como em relação ao indicador do estado nutricional do ferro utilizado.

A premissa de que o esporte para adolescentes é isento de riscos, realmente pode ser considerada um mito. Jobin et al. (27) estudaram atletas adolescentes de alto nível, constatando que este grupo está freqüentemente sujeito a deficiências cuja origem mais freqüente é de natureza alimentar.

Dentre os riscos que o esporte pode oferecer na adolescência, são relatados também: morte súbita (para adolescentes portadores de patologias como cardiopatia congênita e hipertensão arterial, ou para adolescentes sadios expostos a contusões fatais, choque térmico ou superesforço); contusões variadas por características específicas de cada esporte ou por super uso das estruturas corporais; além de distúrbios da conduta, como agressividade no esporte e anorexia (6).

A desequilíbrio nutricional pode ocorrer quando treinos excessivos não são acompanhados de aumento compatível dos nutrientes ingeridos. Devido aos horários dos treinos, os adolescentes podem adotar dietas inadequadas, com omissão de refeições ou sua substituição, principalmente por líquidos que repõe apenas parte das calorias e dos eletrólitos (Poskitt; Wardley et al. (40) (52) a, b). A realização de exercícios prolongados ou vigorosos que excedam a 10 horas semanais sem uma correta reposição nutricional e de calorias pode acarretar sérios riscos ao organismo do adolescente (18) .

De acordo com Meredith(35), treinos muito rigorosos durante a adolescência podem levar à desidratação, em função do aumento da temperatura corporal, a problemas ósseos e na musculatura esquelética, a desordens alimentares e alterações psicológicas.

4. Especificidades da atividade física dirigida ao adolescente

Para o organismo que se encontra em processo de crescimento e desenvolvimento, é importante que a realização de atividades físicas se dê de forma sistemática e metodologicamente organizada, dirigida a cada grupo etário (41).

Tourinho & Tourinho(49) ressaltam a importância da diferenciação entre idade biológica e idade cronológica no planejamento de um programa de atividade física para uma população de adolescentes. Para tal, é necessária a avaliação dos estágios de maturação sexual. A classificação em função da idade biológica possibilita distinguir, de forma mais clara, as adaptações morfológicas e funcionais resultantes de um programa de treinamento das modificações observadas no organismo decorrentes do processo de maturação, principalmente intensificado durante a puberdade. Além disso, possibilita evitar que adolescentes com as mesmas idades cronológicas, mas com diferentes graus de maturidade, sejam colocados lado a lado em atividades esportivas. Isso geraria um sentimento de frustração no adolescente derrotado que poderia influenciar todo seu relacionamento com os demais do seu grupo ou faixa etária(4).

Uma dúvida comum entre os pais, de acordo com Carazzato(9) , é se o esporte deve ser executado competitiva ou recreativamente. Segundo o autor, o esporte competitivo ajuda a desenvolver as aptidões e o esporte recreativo a eliminar as inaptidões, desde que o esporte escolhido seja o correto, iniciado na idade certa e que haja um equilíbrio entre "benefício" e "performance", ou seja, que o organismo não seja prejudicado na busca por melhores resultados.

Barbosa(6) considera que o esporte em nível de competição, com dedicação aos treinamentos e aumento da carga horária a isto dedicada, pode contribuir para o adolescente se fixar no esporte de uma maneira definitiva, com repercussões positivas para sua vida. Por outro lado, pode fazer com que ele desanime da atividade, por não alcançar os resultados almejados por ele ou seus familiares. Esta busca por resultados pode, inclusive, levar a um aumento dos riscos envolvidos no treinamento. A prática de esportes, segundo o autor, não deveria impedir o desenvolvimento de outras potencialidades do adolescente no campo da cultura, da música, das artes e da comunicação social. O esporte encarado como única ou como principal atividade do adolescente pode ser maléfico, devido à desmesurada pressão no sentido de esforço físico exagerado, provocando ansiedade resultante das competições e treinamentos, que pode levá-lo a um desequilíbrio com relação a suas satisfações físicas e emocionais.

De acordo com Carazzato(9), caso a decisão seja pela prática recreativa, o adolescente deve exercê-la conforme suas necessidades e preferências, dentro de certas exigências, como: freqüência (mínimo de três vezes por semana), intensidade (mínimo de 120 passos por minuto) e continuidade (a vida toda). Já a opção pelo esporte competitivo, geralmente vem acompanhada da dúvida sobre a idade ideal para o início da atividade; esta deve ser determinada mediante quatro fatores: sexo, tipo de esporte, vida útil (período de treinamento intensivo) e ápice esportivo (momento de desempenho máximo do atleta). Os dois últimos fatores são características específicas de cada esporte.

Na visão de Barbosa(6), respeitando-se as aptidões naturais e condições biopsíquicas, além da própria situação sócio-econômica, quase todos os esportes podem ser praticados pelos adolescentes. Existem dúvidas, segundo este autor, sobre a prática de musculação antes que o adolescente tenha atingido o estágio final do crescimento. Esta prática poderia impedir o processo normal que se desenvolve nas placas de crescimento ao nível das epífises ósseas.

De acordo com Barros(4), como a musculação visa aumentar a célula muscular, deve ser indicada somente após uma avaliação do estágio puberal dos adolescentes, evitando assim uma diminuição do crescimento ósseo em extensão em conseqüência da vigorosa força no sentido do crescimento lateral.

Esportes que envolvem maior grau de risco (alpinismo, canoagem, esportes motorizados) também não deveriam ser estimulados, considerando inclusive a imaturidade emocional presente muitas vezes no adolescente. Um motivo para as contusões no esporte serem bastante freqüentes na adolescência é que o arcabouço ósseo e as estruturas a ele ligadas, como músculos e tendões, também estão em mudança nesta fase e são mais facilmente lesionados. Além disso, costuma ser um período em que se empenha com grande volúpia e destemor nas atividades, favorecendo a ocorrência de contusões. O superuso das estruturas (excesso de treinamento) por si só é um grande predisponente de contusões, o que reforça a importância da prática de esporte sob supervisão técnica adequada, com exames médicos completos antes do início e manutenção periódica desses exames. Também se deve tomar cuidado para não apressar a escolha do esporte a ser praticado, baseando-se apenas no biotipo. Alta estatura, por exemplo, não determina que o adolescente deva praticar voleibol ou basquete, se ele não tiver prazer com a prática de tais esportes(6).

Carazzato(9) considera que, até os 10 anos, o indivíduo não deve selecionar um "esporte ideal" para praticar, mas deve envolver-se com a iniciação a várias modalidades. Para a seleção, alguns itens devem ser considerados: orgânico global, cardiocirculatório, neuromotor, característica muscular, psíquico, imunológico, biométrico e inclusive a "aptidão nata". Se a intenção for praticar um esporte de competição, esses itens devem ser bem estudados; se for apenas atividade física recreativa, o peso dessas características é desequilibrado pela preferência do próprio adolescente.

Barros(4) reforça a importância de se ter em mente o significado psicossocial do esporte para os adolescentes, já que todo atleta tenta atingir os quatro elementos fundamentais para uma atuação esportiva: personalidade ajustada, carga agressiva equilibrada, resistência às frustrações e estabilidade emotiva.

5. Panorama atual da prática de atividade física entre adolescentes

Segundo Barbosa(6) ,14% dos adolescentes brasileiros praticam esportes. Para Tourinho & Tourinho(49), tem havido um aumento no número de jovens engajados em atividades físicas. Priore(41) salienta que os modelos estéticos preconizados pela mídia podem estar acarretando aumento da procura por este tipo de atividade. Kuntlezman & Reiff(30), contrariamente, afirmam que as crianças e adolescentes de hoje estão mais sedentários. Alguns fatores relacionados à redução na prática de exercícios nessa faixa etária são citados por Harsha(25): uso da televisão, computador e vídeo games como forma de diversão; preocupação dos pais em relação à segurança dos filhos e desinteresse das escolas em promover esse tipo de atividade.

Segundo Barros(4) , os adolescentes praticam exercício por várias razões, que se diferenciam de acordo com a idade. Os principais fatores podem ser assim agrupados: para adquirir autoconfiança e satisfação pessoal, para sair da rotina das atividades curriculares, para se sociabilizar e para simular objetivos de vida, já que o esporte pode ser um palco de situações a serem vivenciadas na idade adulta. O interesse na promoção da saúde é citado por Wardley et al. (53) a, b) como um dos motivos pelos quais os adolescentes buscam a atividade física em academias, clubes e outros. Segundo Priore(41), a grande preocupação com a imagem corporal geralmente é o estímulo que leva muitos adolescentes a buscar atividades desportivas, sobretudo extracurriculares.

Estudando 2088 adolescentes do sexo masculino com idade de 18 anos, Kurth et al. (31) constataram que 46% gostariam de ganhar peso e 32% gostariam de perder, sendo que a atividade física era mais utilizada do que a dieta, para ambos os objetivos.

Avaliando 461 adolescentes do sexo masculino, entre 17 e 19 anos, que estavam se apresentando na Junta de Alistamento Militar do Ibirapuera em São Paulo, Alves et al. (1) encontraram 81% referindo prática atual ou pregressa de algum tipo de atividade física, independentemente da educação física compulsória nas escolas. Entre estes jovens, considerados ativos, 58% realizavam atividades esportivas sob a forma de treinamento, ou seja, obedecendo a horários fixos e orientados por um profissional. Os demais ou praticavam esporte como recreação ou combinavam o treinamento com a prática recreativa. Dentre as modalidades esportivas, as mais citadas foram a de prática coletiva. Segundo os autores, este resultado reflete a influência dos padrões sócio-culturais nos diversos aspectos da vida diária.

Alves(1) verificaram ainda que 42,5% dos adolescentes começaram a desenvolver algum tipo de atividade física antes dos 12 anos de idade, 51% entre 12 e 16 anos e 6,5% após os 16 anos. 47% mencionaram interrupção na prática de atividade física, sendo que esta ocorreu predominantemente após os 15 anos. Segundo os autores, o início da atividade esportiva, na maioria dos casos, provavelmente coincidiu com o estirão de crescimento. É nesta fase que os garotos adquirem habilidades físicas, motoras e sociais que os tornam cada vez mais aptos e envolvidos com a prática de esportes. Segundo Furter(22) "é o esporte que manifesta o movimento centrífugo da atividade juvenil, enquanto o universo lúdico da criança é essencialmente centrípeto".

Alves(1) não observaram correlação significativa entre padrão sócio-econômico e prática de atividade esportiva. Entretanto, melhores condições sociais estavam associadas à maior freqüência de prática sob a forma de treinamento. Em um estudo representativo da população de Barcelona, abrangendo indivíduos acima de 13 anos, Dominguez-Berjón et. Al (16) também observaram uma relação direta entre classe social e prática usual de atividade física, entre os indivíduos do sexo masculino; ou seja, o hábito de fazer exercícios era menos comum nas classes sociais mais baixas.

Melhores condições sócio-econômicas podem facilitar o acesso à instituições organizadas de prática de esporte (academias, clubes, entre outros); além disso, jovens pertencentes a classes sociais mais elevadas, em geral, limitam-se ao desenvolvimento de atividades estudantis, o que poderia justificar um maior tempo disponível para lazer; associando-se melhores condições sociais com melhor nível cultural, pode-se pensar que tais indivíduos estariam mais preocupados em desenvolver atividades físicas de forma regrada, visando a promoção da saúde (1).

Gambardela(23) estudou 273 adolescentes estudantes do período noturno, verificando que a prática esportiva era mais prevalente entre os indivíduos do sexo masculino e, destes, entre os que trabalhavam, sendo que estes últimos relataram dedicar de 9 a 15 horas por semana a esta atividade. Foi verificado também que, proporcionalmente, os adolescentes do sexo masculino assistiam menos televisão que as meninas, mas a diferença encontrada não foi estatisticamente significante. As adolescentes, trabalhando ou não, mostravam pouco interesse por esportes, dedicando-se mais aos afazeres domésticos. A autora considera que o tempo diferente destinado a práticas esportivas para meninos e meninas, pode ser indicativo de questão cultural. Os meninos desde pequenos são estimulados a praticar esportes, subir em árvores, andar de bicicleta e, principalmente, jogar bola, enquanto as meninas são encorajadas ao desenvolvimento de atividades tipicamente sedentárias.

No estudo de Gambardela(23) adolescentes que trabalhavam apresentaram gasto energético inferior (no caso dos meninos) ou similar (meninas) quando comparados aos que não trabalhavam. A autora justifica esse fato em função do tipo de atividades ocupacionais exercidas, predominando empregos em que permanecem sentados a maior parte do tempo, favorecendo o sedentarismo dos trabalhadores.

Priore(41), em seu estudo com adolescentes de 12 a 18 anos estudantes da rede pública do município de São Paulo, encontrou que cerca de 93% participavam de aulas de educação física. Destes, 24,8% também desenvolviam outras atividades desportivas. Do total de estudados, 24,4% realizavam atividades físicas extracurriculares; destes, 93,6% realizavam duas ou mais vezes por semana e 5,1% as mantinham nos finais de semana. Também foi constatado que 23,4% realizavam duas ou mais modalidades desportivas diferentes durante a semana. Os estudantes que não participavam de aulas de educação física alegaram como motivo a falta de disposição do responsável pela aula e/ou da escola em integrá-los com o conteúdo da prática esportiva e com os demais colegas. Frente ao descompasso verificado entre as aulas de educação física e o desejo dos adolescentes com relação a este tipo de atividade, a autora reforça a necessidade de maior integração entre a escola e o aluno neste aspecto.

6. O papel da Educação Física para o adolescente

No adolescente, especificamente, a Educação Física engloba um esforço de adaptação ao corpo e uma reflexão de comportamento corporal. Assim, ela não deve se limitar ao desenvolvimento muscular, e sim levar ao reconhecimento da importância da forma, da dinâmica e do estilo do movimento. O corpo não pode ser considerado apenas um conjunto de ossos e músculos a serem treinados, mas como a totalidade do indivíduo que se expressa através de movimentos, sentimentos e atuações no mundo. Assim, a Educação Física deve levar o adolescente a um dispêndio de energia em atividades prazerosas e recreativas, permitindo o relaxamento, a possibilidade de perceber o corpo e saber controlá-lo, a convivência em grupo e um relacionamento intenso com seus pares. As atividades devem ser motivantes e participativas e o corpo um instrumento de contato com os outros. A Educação Física deve permitir, além disso, a aprendizagem sistemática dos esportes, que lhe será útil inclusive na sua vida em sociedade, ajudando-o a descobrir a pluralidade e a riqueza de movimentos que o seu corpo lhe possibilita. Por fim, deve aliar o cognitivo ao afetivo-vivencial, permitindo a continuidade de seu desenvolvimento global. (12)

Em relação aos adolescentes que trabalham, Daolio(12) argumenta que a prática da Educação Física pode contribuir com aspectos que o trabalho e outras matérias escolares quer isoladamente, quer conjuntamente - não desenvolvem. Desta forma, estes adolescentes não só não devem se privar dessa prática, com podem beneficiar-se intensamente dela.

Além de propiciar o desenvolvimento físico e mental e assegurar o equilíbrio orgânico, melhorando a aptidão física, os exercícios adequados podem estimular o espírito comunitário, a criatividade e outros aspectos que concorrem para completar a formação integral da personalidade do indivíduo (Monetti & Carvalho(37), Ribeiro & Eisenstein(44) Neste sentido, Barros(4) alerta para a importância de se recuperar o sentido educativo da atividade física/esporte e estimular as iniciativas comunitárias voltadas para o esporte como lazer.

Em um país onde muitos não podem freqüentar clubes ou academias, a valorização da Educação Física - ainda secundarizada em relação às demais atividades curriculares da escola – e o estímulo à promoção do esporte a nível comunitário, figura-se como estratégia fundamental na busca pela saúde integral do adolescente.

7. Abstract

The physical activity helps the development of adolescents and the reduction of risks of futures diseases, besides it exerts important psycho-social effects. Still exists, however, a lot of myths about the practise of physical exercises during the adolescence and countless doubts about the exactly influence in phenomenons like skeletal growth and the biological maturity. Although, contrary of it could be thought, the physical activity in this age is not exempt of risks, which involve from corporal lesions until nutritionals deficiencies. This review had the objective of to unite informations about the effects of physical activity adressed to people in this age, the actual situation of the practise of physical activity among adolescents and the role of the Physical Education to them.

Key Words: Adolesc latinoam 2002; 3 (1): Physical activity in adolescence, value of physical activity; physical education.

8. Bibliografia

1. Alves SS, Silva, SRC, Ribeiro RS, Vertematti AS, Fisberg M. Avaliação de atividade física, estado nutricional e condição social em adolescentes. Folha méd. 2000; 119: 26-33.

2. Al Isa AN. Dietary and socio-economic factors associated with obesity among Kuwaiti college men. – Br. J. Nutr. 1999; 82: 369-74. www.bireme.br

3. Armstrong JE, Lange E, Stem DE. Reported dietary practices and concerns of adult male and female recreational exercisers. J. Nutr. Educ. 1990; 22: 220-25.

4. Barros R. Os adolescentes e o tempo livre: lazer – atividade física. In: Coates V, Françoso LA, Beznos GW. Medicina do adolescente. São Paulo: Sarvier, 1993.

5. Beunen GP, Malina RM, Renson R, Simons J, Ostyn M, Lefevre J. Physical activity and growth, maturation and performance: a longitudinal study. J. Am. Coll. Sports Med.1991; 24: 576-84.

6. Barbosa DJ. O adolescente e o esporte. In: Maakaroun MF, Souza RP, Cruz AR. Tratado de adolescência: um estudo multidisciplinar. Rio de Janeiro: Cultura médica, 1991.

7. Baxter Jones DG, Helms P, Maffulli N, Bainnes Preece JC, Preece M. Growth and development of male gymnasts, swimmers, soccer and tennis players: a longitudinal study. Ann Hum. Biol. 1995; 22:381-94.

8. Brownell, K. D.Exercise and obesity treatment: psychological aspects. Int. J. Obes. 1995; 19:S122-S125.

9. Carazzato JG. Atividade física na criança e no adolescente. In: Ghorayeb N & Barros Neto T L O Exercício: preparação fisiológica, avaliação médica, aspectos especiais e preventivos. São Paulo: Atheneu, 1999.

10. Carol N, Dwyer JD. Nutrition and exercise: effects on adolescent health. Annu. Rev. Publ. Health 1991; 12: 309-33.

11. Cooper DM. Evidence for and mechanisms of exercise modulation of growth and overview. Med. Sci. Sports Exercise 1994; 26: 733-40.

12. Daolio J. A importância da Educação Física para o adolescente que trabalha - uma abordagem psicológica. Revista Paulista de Educação Física 1998; 12: 210-15.

13. Dearwater SR, Anderson R, Olsen T, Kriska AM, Laporte RE, Aaron DJ. Physical activity and the initiation of high-risk health behaviors in adolescents. Med. Sci. Sports Exerc. 1995; 27: 1639-45.

14. Denadai RC, Vítolo MR, Macedo AS, Teixeira L, Cezar C, Damaso AR, Fisberg M. Efeitos do exercício moderado e da orientação nutricional sobre a composição corporal de adolescentes obesos avaliados por densitometria óssea. Revista Paulista de Educação Física 1998; 12:210-18.

15. Dietz WH & Gortmaker SL. Do we fatten our children at the television set? Obesity and television viewing in children and adolescents. Pediatrics 1985; 75: 807-12. www.bireme.br

16. Dominguez-Berjón, F, Pasarín MI, Ferrando J. Rohlfs I, Nebot M, Borrel C. Social inequalities in health related behaviours in Barcelona. J. Epidemiol.Community Health 2000; 54: 24-30.

17. Durant RH, Baranowski T, Rhodes T, Gutin B, Thompson WO, Carrol R, Puhl J, Greaves KA. Association among serum lipid and lipoprotein concentration and physical activity, physical fitness and body composition in young children. The journal of pediatrics 1993; 123:185-192.

18. Eisenstein E. Nutrición y salud en la adolescencia. In: Maddaleno M, Munist M. M, Serrano CV, Silber TJ, Ojeda ENS, Yunes J. La salud del adolescente y del joven. Washington, OPS/OMS, 1995. (Publicación científica, 552).

19. Fonseca VM, Sichieri R, Veiga GV. Fatores associados à obesidade em adolescentes. Revista de Saúde Pública 1998; 32:541-9. www.bireme.br

20. French SA, Erry CL, Leon GR, Fulkerson JA. Food preferences, eating patterns, and physical activity among adolescents: correlations ofeating disorders symptoms. J. Adolesc. Health 1994;15: 286-94. www.bireme.br

21. Fripp RR, Hodgson JL, Kwiterovich PO, Werner JC, Schuler HG. Whitman, V. – Aerobic capacity, obesity, and atherosclerotic risk factors in male adolescents. Pediatrics 1985: 75: 813-8. www.bireme.br

22. Furter P. Juventude e tempo presente – fundamentos de uma pedagogia. Petrópolis: Vozes, 1975.

23. Gambardella AM. Adolescentes estudantes de período noturno: como se alimentam e como gastam suas energias. São Paulo, 1995. (Tese de Doutorado / Universidade de São Paulo)

24. Guedes DP & Guedes JERP. Influência da prática de atividade física em crianças e adolescentes: uma abordagem morfológica e funcional. Revista da Associação dos Professores de Educação Física de Londrina 1995; 10: 3-25.

25. Harsha DW.The benefits of physical activity in chilhood. Am. J. Med. Scienc. 1995; 310 (suppl. 1): S109-S13.

26. Heide MEDVD. Avaliação da composição corporal, nível de hemoglobina e perfil nutricional de atletas adolescentes. São Paulo, 1999. (Tese de Doutorado – Universidade Federal de São Paulo/Escola Paulista de Medicina).

27. Jobin C, Duhanbel JF, Sesboue S. L ' alimentation de I ' enfant et de l ' adolescent sportifis de haut niveau. Pediatrie 1993; 48: 109-17.

28. Kanders B, Dempster DW, Lindsay R. Interaction of calcium nutrition and physical activity on bone mass in young women. J. Bone Min. Res. 1988; 3:145-49.

29. Kotulán J, Reznicková M, Placheta, Z. Exercise and growth. In: Placheta, Z -. Youth and physical activity. Acta Facultatis Medicae Universitates Brunensis. J. E. Purkyné University, Medical Faculty, 1980.

30. Kuntzleman E T & Reif GG The decline in american children's fitness levels. Res. Q. Exerc. Sport. 1992; 63: 107-11.

31. Kurth C L, Krahn DD, Drewnowski A. Effects of body image on dieting, exercise, and anabolic steroid use in adolescent males. Int. J. Eat Disord. 1995; 17: 381-6.

32. Lyle RM, Weaver CM, Sedlock DA, Rajaram S, Martin B, Melby CC. Iron status in exercising women : the effect of oral iron therapy vs increased consumption of muscle-foods. Am. J. Clin. Nutr. 1992; 56:1049-1055. www.bireme.br

33. Malina RM. Physical growth and biological maturation of young athletes. Exercise Sport Sci. Rev. 1994; 22: 759-66.

34. Martinéz JA, Hu FB, Gibney MJ, Kearney J, Martineéz-Gonzáles MA. Physical activity, sedentary lifestyle and obesity in the European Union. Int. J. Obes. Relat. Metab. Disord. 1999; 23:1192-201.

35. Meredith CN. Exercise and fitness. In: Rickert VI. Adolescent nutrition: assessment and management. New York, Chapman & Hall, 1996.

36. Merzenich H, Boeing H, Wahrendorf L. Dietary fat and sports activity as determinants for age at menarche. Am. J. Epidemiol. 1993; 138:217-24. www.bireme.br

37. Monetti V & Carvalho PP. Adolescência: aspectos médicos sanitários e psicossociais. Instituto de Saúde, São Paulo, 1978. (Instituto de Saúde, 33. Série D, Divisão de Saúde Materna e da Criança, 14)

38. Parizková J. Particularies of lean body mass and fat development in growing boys to their motor activity. Acta Paediatr. Belg. 1974; suppl. 28:232-42.

39. Parizková J. Body fat and physical fitness. The Hague: Martinus Nijhhoff BV., 1977.

40. Poskitt EME. Adolescence. In: ___ - Practical paediatric nutrition. London, Butterworths, 1988.

41. Priore SE. Composição corporal e hábitos alimentares de adolescentes: uma contribuição à interpretação de indicadores de estado nutricional. São Paulo, 1998. (Tese de Doutorado – Universidade Federal de São Paulo/Escola Paulista de Medicina).

42. Rabelo LM, Viana RM, Schimith MA, Patin RV, Valverde MA, Denadai RC, Cleary AP, Lemes S, Fisberg M, Martinez TLR. Fatores de risco para doença aterosclerótica. Arquivos Brasileiros de Cardiologia 1999; 72: 569-00. www.bireme.br

43. Raunikar RA & Sabio H. Anemia em the adolescent athlete. Am. J. Dis. Child. 1992; 146:1201-1205. www.bireme.br

44. Ribeiro E & Eisenstein E. Falando de saúde: para crianças, adolescentes e educadores nas escolas e comunidades. Petrópolis: Vozes, 1990.

45. Rocket H R, Field AE, Gilman MW, Frazier AL, Camargo CAJr, Colditz, GA, Berkey CS. Activity, dietary intake and weight changes in a longitudinal study of preadolescent and adolescent boys and girls. Pediatrics 2000; 105:e56.

46. Rowland TW. Iron deficiency in the young athlete. Ped. Clin. North. Am.1990; 37: 1153-1163.

47. Shepard RJ. Nutritional benefits of exercise. Journal of Sports Medicine and Physical Fitness 1989; 29: 83-90.

48. Sousa CC. Níveis séricos e parâmetros antropométricos de adolescentes obesas pré e pós intervenção com exercício físico e controle alimentar de forma combinada e isolada. São Paulo, 1997. (Tese de Mestrado – Universidade Federal de São Paulo/Escola Paulista de Medicina).

49. Tourinho Filho H & Tourinho LSPR. Crianças, adolescentes e atividade física: aspectos maturacionais e funcionais. Rev. Paul. Educ. Fís.1998; 12:71-84.

50. Tucker LA & Friedman GM. Television viewing and obesity in adult males. Am. J. Public Health 1989; 79: 516-8.

51. Valois RF, Mckeown RE, Saunders RP, Pate RR, Winnaill SD. Relationship between physical activity high-school adolescents. J. Sch. Health 1995; 65: 438.

52. Wardley BL, Puntis JWL, Taitz LS. The schoolchild and adolescent. In: ___ - Handbook of child nutrition. 2. ed., New York, Oxford University, 1997a.

53. Wardley Bl, Puntis JWL, Taitz LS. Obesity. In: ___ - Handbook of child nutrition. 2. ed., New York, Oxford University, 1997b.

Valéria Cristina Ribeiro Vieira (1) Sílvia Eloiza Priore (2) Mauro Fisberg (3) - fisberg[arroba]uol.com.br

1. Valéria Cristina Ribeiro Vieira: acadêmica do 10º período do curso de Nutrição da Universidade Federal de Viçosa (UFV); Estagiária do Programa de Atenção ao Adolescente (PROASA) da UFV e do Centro de Atendimento e Apoio ao Adolescente (CAAA) da Universidade Federal de São Paulo / Escola Paulista de Medicina (UNIFESP / EPM).

2. Sílvia Eloiza Priore: professora adjunta do Departamento de Nutrição e Saúde da Universidade Federal de Viçosa; Coordenadora do PROASA / UFV; autora do livro "Perfil nutricional de adolescentes residentes em favelas"; Coordenadora do Curso de Especialização em Nutrição e Saúde da UFV.

3. Mauro Fisberg: professor adjunto, doutor e chefe do CAAA do Departamento de Pediatria da UNIFESP / EPM. Diretor do Centro de Nutrição e Saúde da Universidade São Marcos; Secretário Geral da Sociedad Latino Americana de Investigación Pediátrica (SLAIP); coordenador do Mestrado Interinstitucional em Pediatria UNIFESP / Universidade do Rio Grande do Norte Autor dos livros "Obesidade na infância e adolescência", "Um dois, feijão com arroz, três quatro, feijão no prato", "Adolescência: quantas dúvidas", "Manual prático de controle da obesidade"(no prelo).

Valéria Cristina Ribeiro Vieira (1) Sílvia Eloiza Priore (2) Mauro Fisberg (3)
fisberg[arroba]uol.com.br



 Página anterior Voltar ao início do trabalhoPágina seguinte 



As opiniões expressas em todos os documentos publicados aqui neste site são de responsabilidade exclusiva dos autores e não de Monografias.com. O objetivo de Monografias.com é disponibilizar o conhecimento para toda a sua comunidade. É de responsabilidade de cada leitor o eventual uso que venha a fazer desta informação. Em qualquer caso é obrigatória a citação bibliográfica completa, incluindo o autor e o site Monografias.com.