A auto-organização da vida como pressuposto para a compreensão da morte infantil



1. Abstract

Considered as a health indicator traditionally valorised and recognised, infancy death is still a challenge for the Governments and institutions, both nationally and internationally, which are struggling to reduce those numbers. The causes of infancy death are linked, mainly, to pneumonia and gastro-enteritis pathologies that have a vicious circle that is enhanced and/or disseminated by under-nourishment. Searching for a less biological way and, in fact, more effective and efficient interventions, recent studies are being directed by social-economical factors as indicative of illness and death increase during the first year of life. Social class, mother's educational background, basic sewage system and family's income are some of the variables which can be attributed this differentiated risk. But an instigating question persists: considering families with similar social class, income and educational background, for instance, why some children die still in infancy and others do not? This questioning inspired this article that, from a self-organisation theory, search for a contribution to clarify the complex mechanisms related to death in the first year of life. We suppose that the family's dynamics, understood inside the concept of self-organisation, generates the conditions for increasing the risk of infancy death.

Key words Infant mortality, Families, Children, Risk factors

2. Resumo

Indicador de saúde tradicionalmente valorizado e reconhecido, a mortalidade infantil é ainda um desafio para os governos e instituições nacionais e internacionais interessadas/envolvidas na luta pelo seu declínio. Suas causas estão ligadas basicamente às pneumonias e às gastroenterites; patologias que têm seu círculo vicioso agravado e/ou desencadeado pela desnutrição. Em busca de uma abordagem menos biológica, e no fundo de intervenções mais efetivas e eficazes, os estudos mais recentes têm sido direcionados aos fatores socioeconômicos que aumentariam o risco de doença e de morte no primeiro ano de vida. Classe social, escolaridade materna, saneamento básico e renda familiar são algumas das variáveis às quais se atribui esse risco diferenciado. Um instigante questionamento, entretanto, persiste: considerando famílias da mesma classe social, renda familiar e escolaridade materna, por exemplo, por que em algumas morrem crianças pequenas e em outras não? Esse questionamento inspirou este artigo que, a partir da teoria da auto-organização, busca contribuir para o elucidamento dos complexos mecanismos envolvidos na morte de crianças no primeiro ano de vida. Parte-se do pressuposto de que a dinâmica familiar, compreendida dentro do conceito de auto-organização, cria as condições para esse aumentado risco de mortalidade infantil.

Palavras-chave Mortalidade infantil, Famílias, Crianças, Fatores de risco

3. Introdução

Em geral nossa sociedade, aí incluída a categoria médica, tende a se recusar a tratar, como seu, o fenômeno da morte. Estranhá-lo, esquecê-lo, não nomeá-lo, apenas aceitá-lo como inevitável: eis a atitude mais comum e repetitiva em nosso cotidiano. No âmbito da medicina, menos que aceitar, o lema é estabelecer com a morte um duelo de poder, onde, quando ela é vencida, a onipotência médica se reproduz e se reafirma em seu objetivo essencial. Prova disso são todos os feitos mitológicos do setor que, não só atribuem ao médico o poder quase divino, mas levam a sociedade a reconhecê-lo apenas abaixo de Deus. São esses mesmos mitos que, do ponto de vista cultural, impulsionam as avançadas pesquisas de genética e de inibição e retardamento do envelhecimento. O sonho de imortalidade nunca foi tão vivido e revivido pela medicina e acariciado pela sociedade, como no momento presente, projetando-se como a grande utopia do século XXI.

Interessante que, enquanto as novas descobertas científicas e tecnológicas prometem, antes da metade deste século, quase dobrar a expectativa de vida, com a longevidade média tendendo a aumentar, a morte continua a rondar a sociedade nas bases das relações sociais, nas suas chamadas causas externas. Homicídios, suicídios, violências no trânsito, no trabalho, nos lares são formas atuais que a companheira da vida apresenta para assustar pretensos imortais. E assim, correndo contra todas as ameaças de dor e sofrimento, sobretudo correndo individualmente, o ser deste novo século percebe que a morte é apenas e simplesmente a outra banda da dialética da vida. E que natural, social e cultural ela está aí, tão unida e tão fortemente atada ao nascimento do qual é o próprio germe.

Este artigo tenta trazer para o setor saúde essa reflexão, ao discutir e problematizar bases filosóficas da teoria da auto-organização como potencializadoras de uma forma de compreensão da dinâmica da vida e da morte. E, ao focalizá-las, toma como centro essa questão no primeiro ano da infância, onde o precoce falecer parece estabelecer um paradoxo com as leis da natureza. Toda a discussão deste artigo se assenta na idéia da construção subjetiva da existência onde se entrelaçam três grandes sistemas, o biológico, o ecológico e o social.


Página seguinte 



As opiniões expressas em todos os documentos publicados aqui neste site são de responsabilidade exclusiva dos autores e não de Monografias.com. O objetivo de Monografias.com é disponibilizar o conhecimento para toda a sua comunidade. É de responsabilidade de cada leitor o eventual uso que venha a fazer desta informação. Em qualquer caso é obrigatória a citação bibliográfica completa, incluindo o autor e o site Monografias.com.