Efeitos da Manipulação da Vegetação Lenhosa sobre a Produção e Compartimentalização da Fitomassa Pastável de uma Caatinga Sucessional

Enviado por Rasmo Garcia


1. Resumo

A pesquisa foi conduzida no Centro de Assessoria e Apoio aos Trabalhadores e Instituições Não-Governamentais Alternativas (CAATINGA), no município de Ouricuri, PE, no período de 1989 a 1994 com o objetivo de comparar diferentes práticas de manipulação da vegetação lenhosa, como alternativas de manejo pastoril sustentável da caatinga, viável em nível do pequeno produtor. Parcelas de 25 x 100 m cada uma, tiveram sua vegetação lenhosa submetida aos seguintes tratamentos experimentais: desmatamento, raleamento, raleamento-rebaixamento, rebaixamento e testemunha. Os resultados indicaram que a disponibilidade total e a compartimentalização da fitomassa da parte aérea da caatinga (folhagem das lenhosas e vegetação herbácea) foram afetadas pelos métodos de manipulação e pelas flutuações anuais da precipitação pluvial. Os tratamentos de manipulação aumentaram substancialmente a participação das gramíneas na composição florística da fitomassa herbácea. O rebaixamento e o raleamento-rebaixamento são os métodos recomendados para o manejo pastoril da vegetação da caatinga para sítios ecológicos semelhantes ao estudado.

Palavras-chave: árvores, desmatamento, manejo, raleamento-rebaixamento, sub-bosque

Effects of the Manipulation Methods of Woody Vegetation on Production and Compartimentalization of the Grazeable Phytomass of a Successional Caatinga

2. Abstract

The research was carried out at the Centro de Assessoria e Apoio aos Trabalhadores e Instituições Não-Governamentais, Alternativas (CAATINGA) in the Ouricuri county, state of Pernambuco, Brazil, in the period of 1989-1994, with the objective of comparing different practices of woody vegetation manipulation, as alternatives of sustainable pastoral management of caatinga and determining their viability to the small producers. Plots measuring 25 x 100 m had the woody vegetation submitted to the following experimental treatments: deforestation, thinning, thinning-lowering, lowering and control. The results indicated that the total availability and compartimentalization of the aerial phytomass of caatinga (woody species foliage and herbaceous vegetation) were affected by the manipulation methods of the trees and shrubs, and by the annual variations of the rainfall. The vegetation treatments substantially increased the participation of the grass species on the floristic composition of the herbaceous phytomass. The lowering and the thinning-lowering of the woody vegetation are the recommended methods for the pastoral management of caatinga to the sites similar to that of this research.

Key Words: trees, deforestation, management, thinning-lowering, understory

3. Introdução

A caatinga, o mais importante tipo de vegetação que cobre o Semi-Árido do Nordeste Brasileiro, encontra-se, atualmente, em diferentes estádios de sucessão secundária, dominada por espécies herbáceas anuais e espécies lenhosas arbustivas, com pouco ou nenhum valor forrageiro, possivelmente, como conseqüência do manejo pastoril inadequado, ao longo dos últimos três séculos de colonização (Novely, 1978). Embora a degradação seja uma realidade em extensas áreas do semi-árido nordestino, Araújo Filho (1985) ressalta que, quando convenientemente manipulada e manejada, a vegetação da caatinga pode manter níveis adequados de produção animal sem perdas significantes da biodiversidade e do potencial produtivo.

O resultado da manipulação da vegetação lenhosa, com vistas ao incremento da produção do estrato herbáceo, depende notadamente do grau de ocupação da área por árvores e arbustos, do estádio sucessional, das condições de chuva e da localização topográfica do sítio ecológico (Cornelius & Braham, 1951; Heady, 1994). Um dos aspectos mais importantes do manejo da vegetação lenhosa é o percentual ótimo de cobertura lenhosa que deve ser mantido. Gathérum (1960) observou que o aumento da cobertura de árvores resultou no decréscimo da produção de fitomassa do estrato herbáceo, sendo que a maior redução se verificou a partir de 50% de cobertura. Deccaret & Blidenstein (1968) não encontraram variações significativas na produção de matéria seca do estrato herbáceo, quando testaram percentuais de sombreamento de árvores de até 55,6%. Uma redução da ordem de 55-68% da cobertura de arbustos resultou em um aumento de 1600% na produção do estrato herbáceo (Bovey et al., 1972).

O aumento da disponibilidade de forragem na caatinga tem sido obtido através de modificações na estrutura e na arquitetura da vegetação (Araújo Filho, 1992). No primeiro caso, as práticas envolvem o controle das espécies ditas indesejáveis, seguindo-se, muitas vezes, do enriquecimento com forrageiras adaptadas. As alterações na arquitetura da vegetação lenhosa são obtidas pelo manejo das copas, seja pelo rebaixamento ou pelo desgalhamento. Atualmente, cinco modelos de manipulação da vegetação lenhosa da caatinga são conhecidos e praticados, ou seja, desmatamento, raleamento, rebaixamento, raleamento-rebaixamento e enriquecimento (Araújo Filho et al., 1982; Araújo Filho et al., 1995; Araújo Filho & Carvalho, 1997). A escolha de um método em particular depende, principalmente, do potencial de resposta da vegetação nativa e do tipo de animal que se pretende criar.

A produção do estrato herbáceo da caatinga nos sertões cearenses variou de 2340 kg/ha e 20% de cobertura nos tabuleiros, 1650 kg/ha e 60% de cobertura na caatinga sucessional e 780 kg/ha e 80% de cobertura na caatinga arbórea (Araújo Filho et al., 1982). Kirmse (1984) obteve em áreas de caatinga rebaixada incrementos da produção de fitomassa do estrato herbáceo superiores a 700%. Silva (1985) verificou que, entre os limites de 9,2 a 32,2% de cobertura de árvores e arbustos, a produção de fitomassa do estrato herbáceo da caatinga não foi afetada. Schacht (1987) encontrou que a produção de fitomassa pelo estrato herbáceo de uma caatinga raleada não foi afetada, quando o percentual de cobertura de árvores e arbustos aumentou de 0,0 a 55,0%. Os valores médios foram de 2000 kg de MS/ha para os tratamentos de raleamento e 400 kg de MS/ha para o controle (cerca de 95% de cobertura por espécies lenhosas). Em áreas de caatinga na região de Tauá, Ceará, com 40% de cobertura de espécies lenhosas, a produção do estrato herbáceo foi de 830 kg de MS/ha. Parcelas raleadas apresentaram disponibilidade de fitomassa do estrato herbáceo de 1244 kg de MS/ha, com uma cobertura lenhosa de 13%, enquanto os piquetes desmatados, rebaixados e raleados-rebaixados produziram, em média, 1574 kg de MS/ha, para uma cobertura lenhosa média de 5,6% (Saraiva, 1988).

Este trabalho teve por objetivo comparar diferentes práticas de manipulação da vegetação lenhosa da caatinga sobre a produção e composição botânica da forragem, proporcionando, assim, aos pequenos e médios produtores alternativas ecológica e economicamente viáveis de manejo pastoril sustentável da caatinga.


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