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Da era do ouro para a era do barro (página 2)

Cristiane Ramos do Prado

Desde a era do rádio, a indústria cultural não parou mais, depois veio à televisão, à internet, várias formas para inculcar, apenas se importando com o efeito, ou seja, o lucro acima da qualidade.

O que importa é que esse produto chegue às massas. Toda essa estratégia de divulgação e consumo propicia a larga manipulação também dos meios de comunicação pelos produtores de marketing, os quais, pelo próprio métier, têm o poder de influenciar os meios de comunicação, a fim de criar, no público-alvo, novas necessidades de consumo de, também, novos produtos.

1.2 A indústria cultural transforma o ouro em barro

"A indústria cultural permanece a indústria da diversão" (ADORNO, 1991, p.128).

Por seu caráter polissêmico, o veículo em questão, pode ser ouvido em vários lugares onde está seu ouvinte, em casa, na lanchonete, no carro, até na rua com um rádio de bolso, além disso, sua forma de contatar seus ouvintes é direta e deixa o receptor à vontade. Hoje a diversidade radiofônica é abundante, elas podem ser analógicas, digitais, não importa, em termos tecnológicos e qualidade do som muda bastante, mas em termos ideológicos e influência ao ouvinte continua.

Durante a leitura do texto, o caro leitor deve estar procurando uma relação com o título, da era do ouro para a era do barro. Apesar de aparentemente não ter nada haver, está tudo interligado, pois o rádio foi intitulado a era do ouro, mas hoje se pode considerar que ao invés da comunicação radiofônica ou qualquer outro meio subir de nível e ir para a era do diamante, decaiu muito e destinou-se à era do barro.

A era do barro e a era do diamante são inexistentes nos livros como termos de classificação, porém, ao analisar a inserção no contexto comunicacional da indústria cultural, percebe-se que a era do barro é a única classificação merecida atualmente aos meios, porque cada vez mais a tendência é para manipulação massiva. "O mundo inteiro é forçado a passar pelo filtro da indústria cultural" (ADORNO, 1991, p.118).

A tal ponto que os manipulados, estão já com a mente cauterizada, e, por exemplo, se um manipulado houve uma música diferente da que está acostumado a ouvir, reage de forma por vezes até agressiva e não gosta do que ouve, pois vai contra ao que está acostumado, reação típica de quem já é receptor passivo da indústria cultural.

Esse sistema procura saber as necessidades latentes da massa, através de questionários feitos à população, a chamada manipulação retroativa, pois é a partir das necessidades latentes da população que a indústria cultural produz e lança seus produtos. Com um discurso anticapitalista, manipula e engana. Duarte apud Adorno (2003, p. 145) entende que a indústria cultural "não é arte dos consumidores, mas o prolongamento da vontade dos poderosos na das suas vítimas".

Não é necessário analisar muito para perceber o caráter capitalista e consumista da indústria cultural, mas nem todos querem analisar, pensar, preferem serem consumidores passivos, e optar por esse ou aquele produto, sem verificar se vai ser útil ao seu cotidiano. Não importa o veículo, seja rádio, televisão, jornal, revista ou internet, mas importa o efeito gerado, o consumismo massivo.

A indústria cultural é uma produção dirigida para o consumo das massas segundo um plano pré-estabelecido, seja qual for à área para a qual essa produção se dirija. Em outras palavras, deve-se ter em mente que há uma estreita inter-relação entre a produção e o consumo, a primeira determinando o que deve ser consumido e vice-versa.

Não existe uma sociedade de consumo uniforme, pois, a diferença das classes sociais impede tal situação, mesmo que o papel da indústria cultural seja vender e vender, muitas vezes o que ela oferece fica inacessível ao grande ao público. Apesar disso, ainda há os escravos desse sistema que compram o objeto de desejo, mesmo sem necessidade dele, somente para ter o prazer do consumo e não tornar-se outsider.

"Nessa corrida pelo ter, nasce o individualismo, que, segundo o nosso filósofo (Adorno), é o fruto de toda essa Indústria Cultural". Tal fruto é amargo, principalmente para o salário da grande maioria, que deixa de ser bem aproveitado com necessidades básicas, para ser usado em futilidades (mercadorias) das quais talvez nem sejam usufruídas e tornem-se apenas mais um objeto no armário. Até porque a indústria cultural só se interessa mesmo pelos homens como clientes e empregados, reduziram a humanidade inteira a isso, não se importam com seus efeitos nocivos, mas somente com os lucros que podem ter.

A campeã e aliada principal da indústria cultural, especialista em criar um cenário imaginário na mente da massa, é a televisão, onde o receptor assiste programas com personagens ricos, o que dificilmente ele conseguirá ser. Fazem sair da realidade, do cotidiano, uma auto-ilusão para tentar esquecer as contas/problemas que precisa pagar/resolver no outro dia. Segundo Duarte apud Adorno (2003, p.123), "observa ainda que o ocorrido com o som na época em que surgiu o rádio comercial acontece agora com as imagens".

Enfim, o público ideal para a indústria cultural são sujeitos psiquicamente mal formados, ou seja, o que impera é a semi-informação (atitude anti-filosófica). Adorno é contra isso, para ele, é melhor ter cultura nenhuma, do que ter semi-cultura. Nela o que realmente importa são a quantidade e o lucro, não a qualidade, porque a significação e banalização do produto acabam diminuindo os custos. Porque tudo o que surpreende não vende, assusta. Enquanto existir o capitalismo contemporâneo, vai existir a indústria cultural. Para se defender da indústria cultural, é necessário a crítica, a reflexão.

O universo da indústria cultural é amplo, e oferece só o que gera a ignorância, e para Adorno a imitação é classificada como algo absoluto, o original não importa, enfim massifica tudo. Sendo que a força da indústria cultural é a maioria da população achar que ela é a sua melhor amiga. Segundo esse filósofo a mercadoria é mais pobre que a obra de arte, que contém dentro de si verdade já a cópia/indústria cultural tem dentro de si falsidade. Isso porque, a obra de arte não é pensada somente para vender, mas para permear a sublimação, ao contrário dos produtos da indústria cultural que são pensados para ser vendidos e gerarem lucro. Silva declara, que,

fica claro, portanto, a grande intenção da Indústria Cultural: obscurecer a percepção de todas as pessoas, principalmente, daqueles que são formadores de opinião. Ela é a própria ideologia. Os valores passam a ser regidos por ela. Até mesmo a felicidade do indivíduo é influenciada e condicionada por essa cultura.

Até que ponto a indústria cultural tem poder sobre seus manipulados? Uma pergunta difícil de ser respondida, mas que precisa ser analisada. Ela quer incutir cada vez mais na mente das pessoas, que caso elas não tenham seus produtos, não serão felizes. Uma tremenda ignorância. E o pior é que se alguém vai contra ao que é oferecido, é taxado como outsider, outra ignorância coletiva. Mas quando a sociedade começar a pensar, talvez a indústria cultural perca suas forças. Entretanto, tem que estar ciente de que isso é uma utopia generalizada, porém há uma luz no fim deste túnel e esta luz precisa ser encontrada, enquanto tiver um pensando há uma esperança.

Caso contrário, a sociedade que já está na era do barro, vai ir para onde? Será que ainda existe um nível a baixo? Para impedir a bancarrota total dos indivíduos precisavam dar um grito de liberdade e dizer não para indústria cultural. Enfim, é por meio do protesto, da reflexão, da análise, da crítica que a passividade coletiva à indústria cultural será diminuída. Sem sombras de dúvidas, é impossível que o poder da indústria cultural seja totalmente rebatido, mas pela reflexão pode ser amenizado. E com isso, as conseqüências no campo social serão menores e todos vão viver numa sociedade menos bloqueada e mais aderente ao pensamento e a liberdade de escolha.

3. BIBLIOGRAFIA

ADORNO, Theodor W; HORKHEIMER, Max. Dialética do esclarecimento; fragmentos filosóficos. 3ª edição. Rio de Janeiro: Tavares e Tristão Ltda, 1991.

DUARTE, Rodrigo. Teoria crítica da indústria cultural. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003.

ECO, Umberto. Apocalípticos e Integrados. Editora perspectiva: São Paulo, 1998.

SILVA, Daniel Ribeiro da. Adorno e a Indústria Cultural.

Disponível em: http://www.urutagua.uem.br//04fil_silva.htm.

Acesso em: 20 de fevereiro de 2007.

Reflexões em torno do texto de Adorno: "A Indústria Cultural".

Disponível em: http://www.fecap.br/portal/Arquivos/Extensao_Rev_Liceu_On_Line/adorno.htm Acesso em: 07 de fevereiro de 2007.

Era do rádio. Disponível em: http://www.eradoradio.com.br/eradoradio.htm Acesso em: 05 de fevereiro de 2007.

Letra da música Mamãe eu quero. Disponível em: http://vagalume.uol.com.br/carmen-miranda/mamae-eu-quero.html Acesso em 15 de fevereiro de 2207.

História. Disponível em: http/://pt.wikipedia.org/wiki/r%C3%A1dio_%28comunica%C3A7%C3%A3o%29

Acesso em: 25 de fevereiro de 2007.

A invenção do rádio. Disponível em: http://www.radioclaret.com.br/port/frame.htm

Acesso: 10 de fevereiro de 2007.

Indústria Cultural. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ind%C3%BAstria_cultural

Acesso em: 13 de fevereiro de 2007.

 

 

Cristiane Ap. Ramos do Prado

cristianeungida[arroba]gmail.com

Curso de Especialização em Jornalismo - Ênfase: Linguagens Contemporâneas e Novas Tecnologias.

Chapecó – SC, mar. 2007.

Universidade Comunitária Regional de Chapecó

Centro de Ciências de Comunicação e Artes

Curso de Pós Graduação em Jornalismo

Disciplina: Teorias do Conhecimento

Professor: Rodrigo Duarte



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