Fatores de risco para suspeita de atraso no desenvolvimento neuropsicomotor aos 12 meses de vida



1. Resumo

Objetivo: Verificar a prevalência de suspeita de atraso no desenvolvimento neuropsicomotor aos 12 meses nas crianças nascidas em Pelotas, RS, em 1993, e seus possíveis determinantes. Métodos: Uma amostra de 20% (1 363 crianças) de uma coorte de crianças nascidas nos hospitais de Pelotas, RS, durante o ano de 1993, foi avaliada aos 12 meses quanto ao desenvolvimento neuro-psicomotor, através da aplicação do teste de Denver II. As crianças que tiveram dois ou mais itens de falha no teste foram consideradas suspeitas de apresentarem atraso no desenvolvimento. As variáveis independentes escolhidas pertenciam a diferentes níveis de determinação de atraso, conforme modelo teórico hierarquizado (socioeco-nômico, reprodutivo e ambiental, condições ao nascer, atenção à criança, nutrição e morbidade). A análise foi realizada utilizandose o X2 de Mantel-Haenszel e técnica multivariada através de regressão logística, com o objetivo de controlar possíveis fatores de confusão. Resultados: Das 1 363 crianças avaliadas aos 12 meses, 463 (34%) apresentaram teste de Denver II suspeito de atraso no desenvolvimento. Na análise multivariada, após controle de variáveis de confusão, verificou-se que as crianças que tinham maior risco de suspeita de atraso em seu desenvolvimento foram: as mais pobres (OR = 1,5), as que haviam nascido com mais baixo peso (OR = 4,0), as que apresentaram idade gestacional menor do que 37 semanas (OR = 1,6), as que tinham mais de três irmãos (OR = 1,9) e as que haviam recebido leite materno por menos de três meses (OR = 1,6) ou não haviam sido amamentadas (OR = 1,9). As crianças que apresen-taram um índice peso/idade aos seis meses menor ou igual a "2 desvios-padrão da referência tiveram um risco dez vezes maior de suspeita de atraso no desenvolvimento. Conclusões: Este estudo reforça a característica multifatorial do desenvolvimento e o conceito de efeito cumulativo de risco. Na população estudada, a parcela mais desfavorecida acumula os fato-res (sociais, econômicos e biológicos) que determinam uma maior chance de atraso no desenvolvimento das crianças.

(Palabras clave: desenvolvimento infantil, fatores de risco, teste de triagem de Denver II, modelo).

Artículo publicado originalmente en: Jornal Pediatría (Rio J.) 2000; 76: 421-8.

2. Abstract

Risk factors for suspicion of developmental delays at 12 months of age

Objective: To investigate the prevalence of positive screening test for developmental delays in a cohort of children born in Pelotas, Brazil in 1993, and their risk factors. Methodology: A sample of 20% (1 363 children) of a cohort of children born in Pelotas, Brazil, was studied at 12 months of age regarding their development. The Denver II Test was used. The children who failed in two or more items of the test were suspected of having development delay. A set of independent variables was chosen taking into account the hierarchical relations between risk factors according to the conceptual framework (socioeconomic, reproductive and environmental, birth conditions, children"s care, nutrition and morbidity). Analyses were performed using Mantel-Haenszel X2 and multivariate technique through conditional logistic regression, to control for possible confounding. Results: At 12 months of age, 34% (463) of the total of 1 363 children failed in the screening test. After adjusting for possible confounding variables, failure was associated with family lower income children (OR = 1,5), very low birth weight (OR = 4,0), gestational age less than 37 weeks (OR = 1,6), more than three siblings (OR = 1,9), and duration of breastfeeding less than three months (OR = 1,6), or no breastfeeding (OR = 1,9). Children who presented weight/age at six months of age less or equal to "2 z score of the reference population presented a risk 10 times greater of having failure in the Denver II Test. Conclusions: This study reinforces the multiple etiology of development delays and the concept of cumulative risk effect. In this population those who are economically disadvantaged accumulate risk factors (social, economic and environmental) that may render to deficits in their development.

(Key words: Child development, risk factors, Denver II Test, hierarchical model).

3. Introdução

As crianças que vivem em países em desenvolvimento estão expostas a vários riscos, entre os quais o de apresentarem gestações desfavoráveis e/ou incompletas e o de viverem em condições socioeconô-micas adversas1 2. Tal cadeia de eventos negativos faz com que essas crianças tenham maior chance de apresentar atrasos em seu potencial de crescimento e desenvolvimento. Por essa razão, o impacto de fatores biológicos, psicossociais (individuais e familiares) e ambientais no desenvolvimento infantil tem sido objeto de inúmeros estudos nas últimas décadas 3 5.

Historicamente, os estudos sobre desen-volvimento têm colocado as características biológicas da população infantil como determinante principal dos atrasos intelectuais da criança. Isso pode ser verdadeiro para crianças gravemente comprometidas 6 , mas não para a maioria das que apresentam um atraso moderado ou leve no seu desenvolvimento1,7 8. Para uma melhor abordagem do desenvolvimento humano se faz necessária uma outra ótica, onde seja possível uma análise coletiva das variações do desen-volvimento, oferecendo uma perspectiva "ecológica" dos achados encontrados 5,9. Sameroff e Chandler10 descreveram o "modelo transacional" de desenvolvimento, que relaciona entre si os efeitos da família, do meio ambiente e da sociedade sobre o desenvolvimento humano. Esse modelo considera o desenvolvimento como sendo único e peculiar, de tal forma que o resultado final seria o balanço entre os fatores de risco e os de proteção. Segundo esse modelo, problemas biológicos podem ser modificados por fatores ambientais, e determinadas situações de vulnerabilidade podem ter etiologia relacionada com fatores sociais e do meio ambiente11.

Devido à importância e ao impacto dos atrasos no desenvolvimento no que se refere à morbidade infantil, é fundamental que se possa, o mais precocemente possível, identificar as crianças de maior risco, a fim de minimizar os efeitos negativos daí decorrentes. Existem evidências suficientes de que quanto mais precoces forem o diagnóstico de atraso no desenvolvimento e a intervenção, menor será o impacto desses problemas na vida futura da criança12-14.

Este estudo teve como objetivo verificar a prevalência de suspeita de atraso no desenvolvimento neuropsicomotor aos 12 meses nas crianças nascidas em Pelotas, RS, em 1993, e seus possíveis determinantes.


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