O papel do zinco na infância e adolescência

Enviado por Mauro Fisberg


1. Resumo

Objetivo: Baseado na literatura científica, este estudo apresenta a função do zinco no crescimento, consumo alimentar e estado nutricional de crianças e adolescentes. Metodologia: Foi realizada uma revisão bibliográfica em bases de dados (MedLine, Lilacs e Scielo) com palavras-chave relacionadas ao tema. Resultados: O zinco desempenha funções cruciais na infância. Sua deficiência é freqüente em países em desenvolvimento, com graves conseqüências: atraso no crescimento e comprometimento cognitivo e imunológico. Em adolescentes, afetaria o crescimento, a mineralização óssea e a maturação sexual. A deficiência de zinco está associada a anorexia e mudanças no paladar e olfato. Em obesos, esta deficiência pode ser decorrente da redução da taxa metabólica basal pelas modificações do metabolismo de hormônios tireoidianos, que exigem zinco para sua atuação. Conclusão: Considerando o padrão inadequado de consumo alimentar observado ultimamente entre crianças e adolescentes, é indispensável a implementação de ações de prevenção e combate à deficiência de zinco.

2. Introdução

Depois do ferro, o zinco é o micromineral com distribuição mais abundante no corpo humano, correspondendo de 1,5 a 2,5 g do peso ponderal(1,2). Este metal se encontra em grandes quantidades em todos os tecidos, especialmente na musculatura esquelética (57%), ossos (29%), pele (6%) e fígado (5%), além de estar presente também em secreções e fluidos corporais. O zinco é primariamente um íon intracelular (cerca de 80% se encontra no citosol e o restante no núcleo) que, ao contrário do ferro e do cobre, não sofre alteração na sua valência e, portanto, não está envolvido nas reações de óxido-redução, o que permite que este seja transportado e utilizado de forma mais rápida, além de não submeter o organismo a ações oxidativas prejudiciais(1,3).

As inúmeras funções deste elemento e as graves conseqüências da deficiência de zinco na infância e adolescência exigem um estudo aprofundado sobre este nutriente, o que constitui o objetivo deste artigo. Foi realizada uma seleção de estudos encontrados por meio de revisão bibliográfica em bases de dados de saúde (MedLine, Lilacs e Scielo) com palavras-chave relacionadas ao tema. Com base na literatura científica será apresentada a função do zinco no crescimento, consumo alimentar e estado nutricional de crianças e adolescentes. Para tanto, é importante conhecer inicialmente o metabolismo e outras informações básicas sobre o zinco.

3. Histórico

A atuação nutricional do zinco foi comprovada pela primeira vez, em 1869, por Raulin, um discípulo de Pasteur, que mostrou o papel essencial deste elemento para o crescimento do cogumelo Aspergilus niger(4). Nas décadas de 30 e 40, diversos estudos evidenciaram a importância do zinco no estado clínico-nutricional de animais. A maioria das pesquisas mostrou que ratos, camundongos e porcos com deficiência de zinco apresentavam retardo no crescimento, alopecia, anorexia e lesões de pele. Porém, somente a partir de 1960 começou a ser descrita a ocorrência de síndromes relacionadas ao zinco em humanos. O estudo realizado por Prasad et al. (1969) verificou que o atraso no crescimento e o hipogonadismo de adolescentes iranianos e egípcios eram revertidos após suplementação com zinco(4). A partir dessa observação, diversos estudos passaram a verificar melhora na recuperação do crescimento em crianças desnutridas suplementadas com zinco(5).

4. Funções

O zinco desempenha funções cruciais em diversos processos biológicos do organismo, incluindo a síntese protéica, o metabolismo de DNA e RNA, metabolismo de carboidratos e lipídios, metabolismo energético, entre outras(6). Uma das principais funções do zinco é sua atuação enzimática, seja na estrutura da enzima ou em sua ação regulatória ou catalítica no organismo(7). Em 1940, foi descoberta a primeira metaloenzima que requer zinco para sua atuação, a anidrase carbônica, que desempenha importante função na homeostase ácido-básica e, desde então, já foram identificadas mais de 300 metaloenzimas que necessitam de zinco para sua atividade, como a álcool-desidrogenase (atua na oxidação do etanol), malato-desidrogenase (envolvida na produção de energia), carboxipeptidades A e B (participam da digestão protéica) e superóxido dismutase (tem ação anti-radicais livres)(1).

O zinco também é necessário para a atividade de nucleoproteínas envolvidas na expressão gênica, como as RNA-polimerases e da timulina. Esta se refere a um hormônio envolvido na maturação dos linfócitos T, o qual está relacionado com o indiscutível papel do zinco na imunidade(1,8).

Sugere-se que o zinco desempenhe importante função na manutenção da estrutura da membrana celular, determinando também a forma e a disposição espacial de enzimas e proteínas, além de proporcionar estabilidade a certas proteínas ligadas ao DNA(1,6). Esta seria uma possível explicação para as diversas interações que ocorrem entre o metal e outros componentes nutricionais, fisiológicos e ambientais(6).

O zinco também desempenha função regulatória no organismo. Ele é captado ativamente pelas vesículas sinápticas, atuando na atividade neuronal e na memória(1). A atuação do zinco como fator de crescimento é aceita por diversos pesquisadores, ainda que os mecanismos envolvidos nesse processo não estejam completamente descritos.

5. Metabolismo e biodisponibilidade

O zinco é absorvido por todo o intestino delgado, principalmente no jejuno e íleo, por difusão passiva simples ou através de transporte mediado por carreadores localizados na borda "em escova" dos enterócitos, considerando que sua absorção aumenta rapidamente quando o teor de zinco dietético é baixo(1,6,9). Da mesma forma, quando há um aumento na ingestão dietética de zinco, a porcentagem que é absorvida diminui. Logo, a quantidade de zinco absorvida é variável, dependendo da demanda do organismo.

Acredita-se que apenas 20% a 40% do zinco da dieta seja absorvível(12). A absorção do zinco é alterada pela presença de diversos fatores dietéticos, principalmente pelos fitatos. Este é um problema de grande importância nos países da América Latina e outros em desenvolvimento, tendo em vista que suas dietas típicas costumam ser à base de alimentos de origem vegetal, com alto conteúdo de fitatos. É comum o consumo elevado de leguminosas (feijões) e cereais, principalmente milho e trigo, enquanto que o consumo de alimentos de origem animal, os quais tem alto conteúdo de zinco, é mais difícil devido ao seu elevado custo.

O cálcio em pH alcalino também reduz a absorção do zinco, formando complexos insolúveis com o mesmo, assim como ocorre com os fitatos, que são eliminados nas fezes. Isto também ocorre com a presença de cobre e cádmio em grandes quantidades na alimentação, tendo em vista que estes competem pela mesma proteína carreadora(2,12). Possivelmente o ácido fólico possa reduzir a absorção do zinco, assim como as fibras (hemiceluloses, gomas, ligninas), ainda que a interação desta com o mineral dentro do lúmen ainda não tenha sido totalmente esclarecida(2,11). Um estudo realizado no Reino Unido avaliou os efeitos do aumento moderado do consumo de carboidratos complexos no metabolismo do zinco e do ferro e não foram observados efeitos deletérios no estado nutricional, com relação a esses minerais no organismo(11).

Entre os fatores que favorecem a absorção do zinco se encontram a glicose, a lactose, a proteína de soja e o vinho tinto. A presença de carnes na comida também facilita a absorção de zinco, por meio da liberação de aminoácidos e peptídios contendo cisteína durante a digestão, formando complexos solúveis com o zinco(14).

O zinco é eliminado principalmente pelas fezes, cerca de 1 mg/dia, enquanto que na urina são perdidos apenas 400 a 600 mg de zinco/dia. Também ocorrem perdas através de sudorese excessiva e hemorragias(1).


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