Percepção de professores do Sistema de Ensino do Estado de São Paulo sobre o seu preparo em saúde do escolar



1. Resumo

Apresenta-se estudo sobre o preparo de professores para realizarem ações que visam à identificação e atendimento de escolares com problemas de saúde. Pretendeu-se oferecer subsídios para o planejamento de programas de treinamento de docentes aos setores governamentais interessados na temática. A população foi constituída por 532 professores da primeira série do primeiro grau, de escolas estaduais situadas em treze municípios do Estado de São Paulo, Brasil, onde inicialmente foi implantado o "Sistema Integrado de Atendimento Médico ao Escolar". Utilizou-se questionário como instrumento de medida. Os resultados revelaram que 74,3% dos professores se consideraram atingidos pela orientação sobre observação de saúde e medidas para solucionar desvios de saúde. A cobertura na orientação transmitida pelos orientadores de ações de assistência ao escolar (OAE) variou, entre os municípios, nos limites de 70 a 100%. A relação entre o fato de o professor ter recebido explicações do OAE e o melhor grau na auto-avaliação de preparo, indica, provavelmente, eficácia do trabalho do OAE. Recomenda-se incremento de orientação na rede estadual de ensino, ampliando os conhecimentos sobre saúde e a compreensão do professor a respeito de sua participação em programas de saúde escolar.

Unitermos: Saúde escolar. Serviços de saúde escolar. Treinamento em serviço. Professores.

2. Abstract

Its is presented a study on the teachers' perception of a training program directed to the identification and care of schoolchildren with health problems. The intention being to offer data useful for the planning of teachers' training programs for governmental sectors concerned with this subject. The population comprised 532 first-grade teachers of public elementary schools located in thirteen counties of the S.Paulo State (Brazil) in wich the "Integrated System of Medical Care for Schoolchildren" had first been implanted. A questionnaire was used for data collection. Results showed that 74.3% of the teachers considered themselves to be trained in health observation techniques and in health problem-solving measures. The orientation provided by the School Health Coordinator (SHC) covered from 70 to 100% of teachers working in the geographical areas mentioned. The relationship shown between the orientation provided by the SHC and a better performance in terms of the teacher's self-evaluations regarding his/her preparation is a fact that probably indicates the efficacy of the work of the SHCs. An increase in these actions at the state public school network level, enlarging the teacher's knowledge and understanding regarding his/her participation in school health programs is recommended.

Uniterms: School health. School health services. Inservice training. Teacher.

3. Introdução

O presente trabalho versa sobre o preparo de professores de primeira série do primeiro grau, de escolas estaduais, para realizarem ações que visam à identificação e atendimento de alunos portadores de desvios de saúde.

É inegável que a criança em idade escolar encontra-se sujeita a morbidades e agravos decorrentes de fatores pessoais e ambientais, com possível repercussão na aprendizagem21,24,25.

Por vezes, tais desvios passam despercebidos por não existir um trabalho sistematizado de detecção e seguimento de casos, o que requer ação coordenada entre profissionais de saúde, mestres e pais6,19,22.

Muitos desses distúrbios podem manifestar-se por meio de sinais e comportamentos, observáveis por pessoas devidamente preparadas que lidam diariamente com a criança como, por exemplo, o professor de classe.

Especialistas em saúde escolar são unânimes quanto à propriedade de o professor observar o estado de saúde dos alunos, salientando a posição estratégica do mestre para desempenhar essa tarefa devido ao seu contato diário e prolongado com os estudantes. Tal convivência lhe propicia vantagem incomum para conhecer o modo de ser de cada um deles e notar mudanças na aparência ou na conduta, que podem ser prenúncio de defeitos ou enfermidades1,11,12,13,23.

Embora a instituição educacional não tenha a tarefa precípua de dar atendimento a problemas de saúde dos alunos, existe uma obrigação inerente à profissão de ensinar, no sentido de promover o bem-estar das crianças e criar melhores condições para a sua aprendizagem1.

Contudo, já se evidenciou que o mestre nem sempre dispõe de conhecimentos, atitudes, habilidades e práticas no campo da saúde escolar que, supostamente, deveriam ter sido adquiridos no curso de formação do magistério2,5,7,8,17.

A fim de suprir, em parte, essa lacuna, o Departamento de Assistência ao Escolar (DAE)2, órgão do Governo do Estado de São Paulo, vinha executando programa de orientação em saúde, com vistas a capacitar o professor a agir face a desvios de saúde de seus alunos15.

Para ampliar a cobertura de orientação a pessoal docente e discente, foi instituído no sistema estadual de ensino o orientador de ações de assistência ao escolar (OAE), denominação conferida ao professor que se encarregava da multiplicação das orientações em saúde a nível de unidade escolar4.

Esses multiplicadores recebiam treinamento específico no decorrer do ano, mediante reuniões mensais de nível regional, sob responsabilidade de educadores de saúde pública16. O conteúdo técnico abordado inicialmente referia-se à participação do professor na avaliação de saúde do escolar e na solução de casos. Assim, esperava-se que o OAE, previamente preparado, orientasse os demais professores da escola sobre observação do estado de saúde dos alunos, encaminhamento e controle de casos, aplicação do teste de acuidade visual e integração das ações de saúde ao ensino de classe9. Manual intitulado "Observação de Saúde do Escolar"10 foi elaborado e distribuído a professores da primeira série do primeiro grau, complementando orientação ministrada pelos OAEs.

Por outro lado, a observação de condições de saúde do aluno, realizada pelo professor de classe, constituía-se, também, no ponto de partida do "Sistema Integrado de Atendimento Médico ao Escolar" (SIAME)20, que vinha sendo implantado, gradativamente, desde 1980, em municípios do Estado de São Paulo. Esse sistema previa ações integradas dos setores saúde e educação com a finalidade de prestação de assistência médica a alunos da rede oficial de ensino, utilizando, ao máximo, os recursos existentes na própria localidade. Para alcançar esse objetivo, fazia-se também necessário preparar o professor para efetuar a triagem e encaminhamento de alunos, mediante orientações específicas a ele transmitidas pelo OAE.

Dessa forma, o orientador constituía-se no elemento-chave do trabalho de identificação e atendimento de problemas de saúde do escolar, atuando como elo de ligação intersistêmico entre técnicos de saúde e pessoal docente.

Considerando-se o tipo de preparo ministrado a professores e o tempo transcorrido na execução desse programa, fez-se conveniente estudar objetivamente essa realidade, com vistas a possíveis intervenções.

Nesse enfoque, o presente trabalho tem por objeto o estudo das características do preparo de professores da primeira série do primeiro grau do sistema estadual de ensino, para participarem de ações de saúde na escola.

Pretendeu-se, com esta pesquisa, oferecer subsídios para o planejamento de programas de treinamento de docentes, no que respeita à avaliação e atendimento de problemas de saúde do escolar.


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