Prevalência do aleitamento materno e práticas de alimentação complementar em crianças com até 24 meses de idade



(na região do Alto Jequitinhonha, Minas Gerais)

1. Resumo

Objetivo: Determinar a freqüência e duração do aleitamento materno e identificar as práticas relacionadas à alimentação complementar em municípios do Alto Jequitinhonha.

Métodos: Estudo transversal, com 450 crianças desde o nascimento até os 24 meses de idade, nos municípios de Carbonita, São Gonçalo do Rio Preto e Datas. A coleta de dados foi feita através da aplicação de questionários em entrevistas com as mães. As análises foram feitas utilizando-se os programas Epi Info versão 6.04b e SPSS versão 8.0.

Resultados: Medianas de 10,85 meses para amamentação, 3,85 meses para amamentação completa e 1,51 meses para amamentação exclusiva. Foram observadas em relação à área de residência, as medianas de amamentação foram 9,70 para área urbana e 16,00 para área rural. Com menos de 1 mês de vida, 33,6% das crianças já recebiam chás e 12,4% recebiam água. O consumo de carne foi de 40,5% e fruta de 44,1%, na faixa etária de 6 e 12 meses de idade, nas últimas 24 horas. Houve associação estatisticamente significativa entre residir na área rural e menor consumo de sucos, frutas, verduras/legumes e carne nas crianças maiores de 1 ano.

Conclusão: A duração da amamentação nos três municípios foi maior do que em outros estudos recentes no país, porém a amamentação exclusiva continua sendo pouco praticada. Alimentos complementares de baixo valor nutritivo são iniciados precocemente, e alguns alimentos são fornecidos com pouca freqüência após 6 meses de idade.

Termos de Indexação: prevalência, aleitamento materno, suplementação alimentar.

2. Abstract

Objective: To determine the frequency and duration of breastfeeding and to identify the practices related to complementary feeding in cities of Alto Jequitinhonha.

Methods: A cross-sectional study was carried-out in the cities of Carbonita, Datas e São Gonçalo do Rio Preto. Data were collected of a sample of 450 children from birth to 24 months of age, using a questionnaire in interviews with the mothers. For the analisys, Epi Info version 6.04b and SPSS version 8.0 were used.

Results: The duration medians were 10.85 months for breastfeeding, 3.85 months for complete breastfeeding and 1.51 months for exclusive breastfeeding. The medians of breastfeeding were 9.70 months for urban area and 16.00 in rural area. Before 1 month of life, 33.6% of the mothers had introduced tea and 12.4% had introduced water to their infants. Meat was used by 40.5% and fruit by 44.1% of the children aged from 6 to 12 months. Living in rural area was associated with ingesting less juice for children aged from 6 to 12 months and with less juice, fruit, vegetables and meat for children above 12 months of age.

Conclusion: The duration of breastfeeding was longer than demonstrated in other recent studies, but exclusive breastfeeding is yet little practiced. Complementary foods with low nutritious value are introduced precociously, and some nutritions foods are not given frequently after 6 months of age.

Index terms: prevalence, breast Feeding, suplementary feeding.

3. Introdução

Os hábitos alimentares de crianças em regiões pobres são pouco conhecidos, apesar da importância de melhor compreender as reais carências e necessidades existentes nestas populações. A amamentação exclusiva é considerada a prática alimentar mais adequada para a criança até 6 meses de idade1; só então devem ser introduzidos outros alimentos, denominados complementares, além da manutenção do aleitamento materno.

Apesar das recomendações sobre o aleitamento materno exclusivo até 6 meses de idade, esta prática não é freqüente, conforme mostram as pesquisas realizadas em diversas regiões do país; mesmo o aleitamento materno, independentemente do uso de outros alimentos, apresenta uma duração inferior à desejada, apesar do aumento dos índices a partir da década de 702-6.

O retorno às práticas de amamentação ocorreu inicialmente nas elites urbanas de países desenvolvidos, após a ampla divulgação dos seus benefícios, o que explica o fato de, nesses países, a amamentação ser mais praticada entre os grupos de melhor nível socioeconômico5,7. No Brasil, esta tendência é observada em vários estudos realizados, principalmente em grandes áreas urbanas e em regiões mais desenvolvidas3,7-9. Além disso observa-se que, de modo geral, em países subdesenvolvidos, principalmente nas regiões mais pobres, as mães de nível socioeconômico mais baixo e as que residem em áreas rurais amamentam mais10,11.

Como a prática adequada do aleitamento materno tem uma repercussão favorável para a saúde infantil, conforme demonstram vários trabalhos publicados sobre o assunto, passou a fazer parte importante do planejamento do setor de saúde de instituições governamentais12-16. Considera-se a prática correta da alimentação complementar, fundamental no combate à desnutrição infantil, pois o período crítico do desenvolvimento do déficit nutricional se dá entre 6 e 24 meses de idade. Para as crianças amamentadas, a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda 3 refeições diárias de alimentos complementares, a partir de 6 meses e com menos de 12 meses de idade, e 5 refeições a partir de 12 meses de idade17. Os 3 principais tipos de alimentos recomendados são: os de alta densidade energética, os de alto conteúdo protéico e os ricos em vitaminas e sais minerais.

Considerando-se a importância da alimentação adequada para o crescimento normal, necessita-se de estudos com análises da situação da amamentação e de outros hábitos de alimentação infantil, para obter-se informações que contribuam para o desenvolvimento de estratégias de intervenção alimentar.

O presente estudo foi realizado em municípios do Alto Jequitinhonha, região mais pobre e menos desenvolvida do estado de Minas Gerais. Os resultados poderão auxiliar no direcionamento de ações de combate ao desmame precoce e à prevenção de desnutrição e outras doenças carenciais. Os objetivos foram determinar a freqüência e duração do aleitamento materno naqueles municípios e identificar as práticas relacionadas à alimentação complementar em crianças com até 24 meses de idade.

4. Casuística e métodos

O estudo foi conduzido nos municípios de Carbonita, São Gonçalo do Rio Preto e Datas, na região do Alto Jequitinhonha, em Minas Gerais. As três cidades pertencem ao Consórcio Intermunicipal de Saúde do Alto Jequitinhonha (CISAJE) e são subordinadas à Diretoria Regional de Saúde de Diamantina, e se localizam respectivamente a 30, 50 e 120 quilômetros desta cidade. Estes municípios foram selecionados para estudo por terem cobertura total do Programa de Saúde da Família (PSF) e por serem campo de estágio curricular do Internato Rural da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais, fatores que ajudaram a viabilizar a pesquisa. A população destes municípios é de aproximadamente 11 mil habitantes em Carbonita, 3 mil habitantes em São Gonçalo do Rio Preto e 5 100 habitantes em Datas. O poder aquisitivo da população é extremamente baixo nos 3 municípios, sendo as atividades econômicas principais a exploração madeireira e a carvoaria em Carbonita, e a agropecuária em São Gonçalo do Rio Preto e Datas.

O estudo foi transversal e observacional. Para efeito de amostragem consideraram-se todas as crianças até 24 meses de idade nos 3 municípios. De acordo com dados coletados junto às administrações municipais, a estimativa fornecida era de aproximadamente 550 crianças, sendo 280 em Carbonita, 160 em Datas e 110 em São Gonçalo do Rio Preto. Em Datas, durante o trabalho de campo, o número de crianças encontradas foi menor. Acredita-se que isto tenha ocorrido devido a uma superestimação do número de crianças, e também pela migração em determinados períodos do ano nesta região, quando muitas famílias se deslocam, principalmente para o interior de São Paulo e outras regiões de Minas Gerais, para trabalho na agricultura. Portanto, o número total de crianças para análise foi de 450.

Dados sobre aleitamento materno, hábitos alimentares e aspectos socioeconômicos foram colhidos em julho de 2000, em entrevistas com mães ou responsáveis pelas crianças, por alunos de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais (FCMMG). Na área urbana, a coleta de dados foi feita no Centro de Saúde; nas áreas rurais, em locais previamente escolhidos, de acordo com as condições de cada localidade (postos de saúde, escolas, centros comunitários). O recrutamento das mães e crianças foi feito nos domicílios, com o auxílio dos agentes comunitários de saúde. As crianças foram pesadas em balanças pediátricas (com divisões de 10 gramas) e medidas com réguas antropométricas, em decúbito dorsal. Os alunos foram treinados em relação à utilização dos questionários e todo o trabalho de treinamento e coleta de dados foi realizado mediante supervisão do investigador.


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