Problemas comuns na lactação e seu manejo



1. Resumo

Objetivo: Apresentar uma revisão atualizada sobre problemas comuns relacionados à lactação e seu manejo.

Fonte dos dados: Foi realizada extensa revisão bibliográfica sobre o tópico, sendo utilizadas publicações selecionadas a partir de pesquisa na base de dados MEDLINE e de organismos nacionais e internacionais. Foram utilizados também livros-texto e alguns artigos-chave selecionados a partir de citações em outros artigos.

Síntese dos dados: Vários dos problemas comuns enfrentados durante a lactação – ingurgitamento mamário, traumas mamilares, bloqueio de ducto lactífero, infecções mamárias e baixa produção de leite – têm a sua origem em condições que levam a um esvaziamento mamário inadequado. Assim, má técnica de amamentação, mamadas infreqüentes e em horários predeterminados, uso de chupetas e de complementos alimentares constituem importantes fatores que podem predispor ao aparecimento de complicações da lactação. Nessas condições, o manejo adequado é imprescindível, pois, se não tratadas adequadamente, com freqüência levam ao desmame precoce. Para a abordagem dos fatores que dificultam o esvaziamento adequado das mamas, há medidas específicas. Além disso, o suporte emocional e medidas que visem dar maior conforto à lactante não podem ser negligenciadas.

Conclusões: A maioria dos problemas comuns relacionados à lactação pode ser prevenida com esvaziamento adequado das mamas. Uma vez presentes, os problemas devem ser manejados adequadamente, evitando-se, assim, o desmame precoce decorrente de situações dolorosas e, por vezes, debilitantes para a nutriz.

Palavras-chave: Aleitamento materno, transtornos da lactação, mastite, hipogalactia.

2. Introdução

A espécie humana é a única entre os mamíferos em que a amamentação e o desmame não são processos desencadeados unicamente pelo instinto. Por isso, eles devem ser aprendidos. Atualmente, sobretudo nas sociedades modernas, as mulheres têm poucas oportunidades de obter o aprendizado relacionado à amamentação, já que as fontes tradicionais de aprendizado – mulheres mais experientes da família – foram perdidas à medida que as famílias extensivas foram sendo substituídas pelas famílias nucleares. Como conseqüência, as mulheres tornam-se mães com pouca ou nenhuma habilidade em levar adiante a amamentação, o que as deixa mais vulneráveis a apresentarem dificuldades ao longo do processo. O profissional de saúde tem um papel importante na prevenção e manejo dessas dificuldades, o que requer conhecimentos, atitudes e habilidades específicos.

O presente artigo apresenta uma revisão sobre as principais dificuldades decorrentes da amamentação e seu manejo. Busca contribuir para o conhecimento dos aspectos técnicos e práticos necessários para que o profissional de saúde possa promover, proteger e apoiar o aleitamento materno. São abordados problemas mamários comuns relacionados com a lactação – ingurgitamento mamário, dor/trauma mamilar, infecção mamilar por Staphylococcus aureus, candidíase, fenômeno de Raynaud, bloqueio de ductos lactíferos, mastite, abscesso mamário e galactocele – além de produção insuficiente de leite ou hipogalactia.

3. Ingurgitamento mamário

No ingurgitamento mamário, há três componentes básicos: congestão/aumento da vascularização, acúmulo de leite e edema decorrente da congestão e obstrução da drenagem do sistema linfático. Já em 1951 foi publicada a seqüência de eventos implicados no ingurgitamento mamário: retenção de leite nos alvéolos ® distensão alveolar ® compressão dos ductos ® obstrução do fluxo do leite ® piora da distensão alveolar ® aumento da obstrução. Secundariamente, aparecerá edema devido à estase vascular e linfática. Não havendo alívio, a produção do leite é interrompida, com posterior reabsorção do leite represado1. O aumento da pressão intraductal faz com que o leite acumulado sofra um processo de transformação em nível intermolecular, tornando-se mais viscoso. Daí a origem do termo "leite empedrado"2.

É importante diferenciar o ingurgitamento fisiológico do patológico. O primeiro é discreto e representa um sinal positivo de que o leite está "descendo". Não requer intervenção. Já no ingurgitamento patológico, a distensão tecidual é excessiva, causando grande desconforto, às vezes acompanhado de febre e mal-estar. A mama encontra-se aumentada de tamanho, dolorosa, com áreas difusas avermelhadas, edemaciadas e brilhantes. Os mamilos ficam achatados, dificultando a pega do bebê, e o leite muitas vezes não flui com facilidade. Costuma ocorrer com mais freqüência em torno do terceiro ao quinto dia após o parto e geralmente está associado a um dos seguintes fatores: início tardio da amamentação, mamadas infreqüentes, restrição da duração e freqüência das mamadas, uso de suplementos e sucção ineficaz do bebê3.

O ingurgitamento pode ficar restrito à aréola (areolar) ou ao corpo da mama (periférico) ou pode acometer ambos. Quando há ingurgitamento areolar, a criança pode ter dificuldade na pega, impedindo o esvaziamento adequado da mama, o que piora o ingurgitamento e a dor.

Prevenção

As seguintes recomendações são úteis na prevenção do ingurgitamento mamário3:

– iniciar a amamentação o mais cedo possível;

– amamentar em livre demanda;

– amamentar com técnica correta;

– evitar o uso de suplementos.

Tratamento

Uma vez instalado o ingurgitamento, recomendam-se as seguintes medidas3:

– se a aréola estiver tensa, ordenhar manualmente um pouco de leite antes da mamada, para que ela fique macia o suficiente para o bebê abocanhar a mama adequadamente;

– amamentar com freqüência, em livre demanda;

– fazer massagens delicadas nas mamas – importantes na fluidificação do leite viscoso e no estímulo do reflexo de ejeção do leite;

– usar analgésicos sistêmicos/antiinflamatórios (ibuprofeno é considerado o mais efetivo, auxiliando também na redução da inflamação e do edema; paracetamol pode ser usado como alternativa4);

– usar suporte para as mamas ininterruptamente; usar sutiã com alças largas e firmes, para alívio da dor e manutenção dos ductos em posição anatômica;

– usar compressas mornas para ajudar na liberação do leite;

– usar compressas frias após ou nos intervalos das mamadas para diminuir o edema, a vascularização e a dor.

Se o bebê não sugar, a mama deve ser ordenhada manualmente ou com bomba de sucção. O esvaziamento da mama é essencial para dar alívio à mãe, diminuir a pressão mecânica nos alvéolos, aliviar o obstáculo à drenagem da linfa e edema, diminuir o risco de comprometimento da produção do leite e, sobretudo, da ocorrência de mastite.

Snowden et al., em revisão sistemática da literatura, que incluiu oito ensaios clínicos randomizados ou quase-randomizados, concluiu que não há comprovação científica de que o tratamento do ingurgitamento mamário com ultra-som, ocitocina ou compressas frias seja eficiente no alívio dos sintomas. A única medida que se mostrou eficaz foi o uso de antiinflamatórios5. Apesar de não haver comprovação quanto à eficácia das compressas frias (ou gelo envolto em tecido) no alívio dos sintomas do ingurgitamento mamário, elas podem ser úteis quando se quer reduzir a produção do leite. A hipotermia local provoca vasoconstrição temporária e, conseqüentemente, reduz o fluxo sangüíneo, com conseqüente redução do edema, aumento da drenagem linfática e menor produção do leite. Tais compressas não devem ser utilizadas por mais de 15 a 20 minutos6. Por outro lado, compressas mornas promovem vasodilatação, aliviando a compressão local, porém posteriormente aumentam o volume de leite nas mamas, o que pode ser desvantajoso na vigência de ingurgitamento mamário.


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