Promoção da saúde ocular na escola: percepções de professores sobre erros de refração



1. Resumo

Objetivo: Identificar percepções de professores do sistema público de ensino, em relação aos erros de refração manifestados na idade escolar, a fim de subsidiar programas de treinamento para docentes, visando à detecção e posterior assistência a problemas oftálmicos de escolares.

Métodos: Estudo transversal em população de professores de primeira série do ensino fundamental, de todas as escolas públicas da região sul do município de São Paulo. Aplicou-se questionário estruturado com base em estudo exploratório.

Resultados: Foi obtida uma população de 545 sujeitos, distribuídos em 120 escolas. A população apresentou média de idade de 37,8 anos e média de tempo de magistério de 13,2 anos. A maioria (67,4%) não recebeu orientação sobre saúde ocular nos últimos três anos. Os professores distinguiram mais corretamente os sinais de miopia (70,8%) do que os de hipermetropia (42,9%) e astigmatismo (40,9%). Proporção significativa (48,5%) apontou sinais e comportamentos indicativos da presença de miopia no escolar; 40,9% apontaram dificuldades na leitura e na escrita, para a criança hipermétrope sem correção óptica. Na criança astigmata as manifestações mais mencionadas foram "vista embaçada" (45,4%) e desinteresse por atividades que exigem esforço visual (40,9%). Os professores classificaram todos os erros de refração como agravos muito graves.

Conclusão: Foram evidenciados conhecimentos distorcidos e/ou insuficientes entre professores do ensino fundamental, a respeito de erros de refração manifestados na idade escolar.

Descritores: Erros de refração/diagnóstico; Oftalmologia/educação; Acuidade visual; Saúde escolar; Promoção da saúde; Serviços de saúde escolar

2. Introdução

Múltiplas são as causas de perda da capacidade visual. Em geral, relacionam-se a fatores biológicos, sociais e ambientais, por vezes passíveis de serem evitados ou minimizados.

Especialistas reunidos pela "American Academy of Ophthalmology" para o estudo de causas de incapacidade visual e cegueira na América Latina, apontaram os erros de refração entre os distúrbios oculares mais freqüentes(1).

Aproximadamente 15,0% das crianças em idade escolar necessitam uso de correção óptica, 4,0% são amblíopes, 25,0% necessitam algum atendimento oftalmológico, sendo os erros de refração não corrigidos uma das principais causas de deficiência visual nas crianças no Brasil(2).

Até a idade escolar, pode passar despercebida da família a maior parte das dificuldades visuais da criança, por desconhecimento e/ou ausência de sinais ou queixas. Ao ingresso na escola, contudo, manifestam-se distúrbios oculares, pré-existentes ou não, evidenciados em razão do esforço visual necessário à realização do processo ensino-aprendizagem. Os problemas visuais influem no rendimento escolar e na sociabilização da criança, requerendo ações precoces de identificação e tratamento(3-4).

O desenvolvimento de programas para detecção de distúrbios visuais de escolares do ensino fundamental, como forma de prevenção e correção de desvios da normalidade, requer a participação do professor. A convivência diária com os alunos propicia-lhe a oportunidade de conhecê-los e observar a ocorrência de alterações na aparência e no comportamento, provocadas por desvios da saúde ocular(3-5).

Entre esses desvios da normalidade, salientam-se os erros de refração, considerando-se a freqüência com que ocorrem e a manifestação de sinais, sintomas e comportamentos passíveis de serem notados pelo professor(6). Para isso, é necessário preparo específico do professor em saúde ocular, visando sua participação efetiva em programas de prevenção da incapacidade visual e da cegueira, na escola.

Realizou-se a presente pesquisa com o propósito de identificar percepções de professores do sistema público de ensino em relação aos erros de refração manifestados na idade escolar. A obtenção dessas informações teve a finalidade de subsidiar programas de treinamento de professores, a fim de contribuir para a detecção e assistência a problemas oftálmicos de escolares no sistema público de ensino.

3. Métodos

Foi realizado um estudo transversal entre professores de primeira série do ensino fundamental, nas escolas do sistema público situadas na região sul do município de São Paulo (SP¾Brasil). A população foi composta pela totalidade desses professores, distribuídos em 120 unidades escolares.

Foram investigadas percepções relacionadas aos erros de refração e suas manifestações na idade escolar.

Realizou-se estudo exploratório que permitiu conhecer previamente a realidade e a terminologia empregada por professores em relação ao objeto da pesquisa. Observou-se que determinados termos técnicos de oftalmologia (miopia, astigmatismo, hipermetropia) eram conhecidos pelos professores. As informações foram obtidas por meio de entrevistas e reuniões com professores que apresentavam características semelhantes às da população de estudo. A partir dessas informações, foi construído um questionário estruturado, contendo perguntas e respostas(7).

Optou-se por construir um questionário auto-aplicável, considerando critérios de viabilidade, acesso e características da população-alvo. O instrumento foi submetido a teste não recebeu críticas ou sugestões, sendo considerado o instrumento definitivo da pesquisa.

A coleta de dados foi realizada com o auxílio dos diretores das unidades de ensino, solicitado em reunião preparatória de sensibilização sobre a importância da pesquisa. Anexou-se carta introdutória a cada instrumento, informando sobre os objetivos da pesquisa e solicitando o preenchimento individual; foram garantidos o sigilo e anonimato das informações. Coube ao diretor da cada unidade de ensino, a responsabilidade pela distribuição e recolhimento dos questionários preenchidos. Os dados foram coletados em setembro de 1997 e processados utilizando-se o programa "Microsoft Excel".

A seleção de sinais indicativos dos erros de refração, baseou-se no conteúdo de manuais usados para treinamento sobre saúde ocular, no sistema público de ensino(8).

Por se tratar de questionário auto-aplicado, o "n" das tabelas sofre algumas variações em função das respostas fornecidas.


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