Quem são as crianças que se sentem gordas apesar de terem peso adequado?



1. Resumo

Objetivo: Investigar a prevalência de crianças com peso adequado que se sentem gordas e os fatores associados a essa percepção.

Metodologia: Estudo transversal com 901 escolares, entre 8 e 11 anos, selecionados por conglomerados. As crianças tiveram peso e altura aferidos e responderam um questionário com escala de auto-estima, autopercepção do peso e percepção da expectativa dos pais e amigos em relação a seu peso.

Resultados: A prevalência de escolares com percentil do índice de massa corporal (IMC) < 85 que se sentem gordos foi 13%, e as variáveis significativamente associadas a essa percepção foram sexo feminino (RC = 2,45; IC95% 1,42-4,24), ter 11 anos de idade (RC = 2,35; IC95% 1,13-4,89), quartil inferior de auto-estima (RC = 2,08; IC95% 1,17-3,68), percepção de que os pais gostariam que eles fossem mais magros (RC = 3,00; IC95% 1,52-5,91) e percentil do IMC (RC = 1,04; IC95% 1,03-1,06).

Conclusão: A percepção de ser gordo, mesmo com peso adequado, atinge crianças antes da adolescência, em especial meninas de 11 anos de idade, com maior IMC, menor auto-estima e que pensam que seus pais gostariam que fossem mais magras. São necessários mais estudos que aprofundem as causas e conseqüências desse comportamento.

Palavras-chave: Peso corporal, auto-imagem, criança.

2. Introdução

Atualmente, a fantasia coletiva do corpo ideal e da boa forma física tem gerado o que alguns autores denominam "descontentamento normativo"1. Em Porto Alegre (RS), por exemplo, foi constatado que somente 1/3 das mulheres entre 12 e 29 anos que desejavam pesar menos tinha índice de massa corporal (IMC) compatível com sobrepeso/obesidade2. Estudos com escolares brasileiros também têm descrito alta prevalência de insatisfação com o corpo e comportamentos, às vezes inadequados, que visam a redução do peso3-6.

As crianças aprendem cedo, em suas famílias e meio social, a valorizar o corpo delgado7, e muitas, mesmo com peso adequado, relatam insatisfação com seu corpo, engajando-se em condutas para perder peso8. O temor à obesidade pode estar criando distorções na imagem corporal de crianças e adolescentes, gerando condutas danosas à saúde, como ingestão inadequada de nutrientes, com prejuízo ao desenvolvimento cognitivo e risco para o desenvolvimento de transtornos do comportamento alimentar6,9. O presente estudo buscou investigar a prevalência de crianças com peso adequado que se sentem gordas e os fatores associados a essa percepção.

3. Métodos

Este é um estudo transversal que avaliou amostra representativa de escolares de 8 a 11 anos residentes em Porto Alegre (RS), Brasil10.

O cálculo do tamanho amostral, por conglomerado, indicou um número mínimo de 946 sujeitos, proporcional ao tamanho da rede escolar (98.210 alunos). Foram selecionadas 43 escolas (25 estaduais, 10 particulares e 8 municipais) por amostragem sistemática. Em cada escola, também por amostragem sistemática, foram selecionadas 20 crianças.

Os escolares foram entrevistados individualmente nas escolas, levando-se em conta a possibilidade de haver crianças não alfabetizadas. Foram questionadas a percepção da expectativa dos pais em relação ao peso da criança ["A tua mãe e/ou o teu pai gostariam que tu fosses mais magro(a)?"]; a percepção da expectativa dos amigos em relação ao peso da criança ["Os teus amigos ou amigas gostariam mais de ti se tu fosses mais magro(a)?"]; e a autopercepção do peso [ "Tu achas que tu és... gordo(a), normal ou magro(a)?"].

Para avaliação da auto-estima, foi utilizado o instrumento Culture-Free Self-Esteem Inventory for Children11, que contém 20 itens e quatro subescalas - auto-estima geral, parental, acadêmica e social - já validado em amostras de língua inglesa. A validação lingüística para o português foi realizada após autorização dos autores por meio de duas traduções com tradutores independentes seguidas de duas retrotraduções com tradutores de língua materna inglesa. Após a divisão em quartis, os escolares foram divididos em duas categorias: com escore na escala igual ou abaixo do percentil 25 (quartil inferior de auto-estima) e os demais.


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