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O biodiesel em um contexto histórico mundial e nacional: um estudo do processo produtivo e da viabil (página 2)

Remi Eleotério de Souza

Este trabalho apresenta um modelo de estudo de viabilidade técnica e econômica para produção de biodiesel, voltada para o Norte Paranaense, proposto por Aguiar (2005), em uma etapa agrícola e industrial.

O objetivo do trabalho é analisar a evolução mundial e nacional do biodiesel em um contexto histórico, produtivo, e a viabilidade de custo de produção, voltada para o Norte do Estado do Paraná, na mesoregião de Maringá. Utilizando como modelo as matérias-primas; a mamona e a soja, devido aos fatores climáticos e solo serem compatíveis.

O presente trabalho está dividido em 3 capítulos. O capítulo 1 apresenta a história do biodiesel, e a criação do primeiro modelo de motor e seu funcionamento; o processo de transesterificação do biodiesel através de óleos e gorduras animais ou vegetais e através do metanol ou etanol (álcool de cadeia curta); sua expansão pelo mundo; capacidade de produção; e disponibilidade no Brasil. O capítulo 2 apresenta as característica de culturas oleaginosas e viabilidade de produção; aponta a disponibilidade de cada uma em sua região de plantios e cultivos. O capítulo 3 apresenta um estudo de viabilidade técnica e econômica, para a produção de biodiesel na região norte paranaense; sendo este estudo dividido em capacidade produtiva e custo de produção; investimento; receita; margem de lucro, tributos e preço final. Utilizando as matérias-primas, como referência a mamona e a soja, para a produção do biodiesel.

CARACTERIZAÇAO DO BIODIESEL

1.1 História do Biodiesel

O processo de transesterificação de óleos vegetais foi conduzido pela primeira vez em 1853, pelos cientistas E. Duffy e J. Patrick, muitos anos antes do motor de ciclo diesel entrar em funcionamento.

A criação do primeiro modelo do motor a diesel que funcionou de forma eficiente data do dia 10 de agosto de 1893. Foi criado por Rudolf Diesel, em Augsburg, Alemanha, e por isso recebeu este nome. Em 1898, o motor foi apresentado oficialmente na Feira Mundial de Paris, na França. O combustível então utilizado era o óleo de amendoim, um tipo de biocombustível obtido pelo processo de transesterificação. (ECOOLEO, 2005).

Entre 1911 e 1912, Rudolf Diesel fez a seguinte afirmação:

"O motor a diesel pode ser alimentado por óleos vegetais, e ajudará no desenvolvimento agrário dos países que vierem a utilizá-lo. O uso de óleos vegetais como combustível pode parecer insignificante hoje em dia. Mas com o tempo irão se tornar tão importante quanto o petróleo e o carvão são atualmente." Rudolf Diesel [1911 ou 1912] apud WIKIPEDIA biodiesel.

Um dos primeiros usos do óleo vegetal transesterificado foi o abastecimento de veículos pesados na África do Sul, antes da Segunda Guerra Mundial. O processo chamou a atenção de pesquisadores norte-americanos durante a década de 1940, quando buscavam uma maneira mais rápida de produzir glicerina para alimentar bombas, no período de guerra.

No Brasil, o pioneiro do uso de biocombustíveis foi o Conde Francisco de Matarazzo, que nos anos 1960, as Indústrias Matarazzo buscavam produzir óleo através dos grãos de café. Para lavar o café de forma a retirar suas impurezas, impróprias para o consumo humano, foi usado o álcool da cana de açúcar. A reação entre o álcool e o óleo de café resultou na liberação de glicerina, redundando em éster etílico, produto que hoje é chamado de biodiesel. (PARENTE, 2003).

1.2 O Processo de Transesterificação

O biodiesel pode ser tecnicamente definido como um éster alquílico de ácidos graxos, obtido através do processo de transesterificação entre qualquer triglicerídeo (óleos e gorduras animais ou vegetais) e álcool de cadeia curta (metanol ou etanol).

É denominado transesterificação o processo de separação entre a glicerina contida no óleo, e sua posterior substituição pelo álcool na cadeia. O resultado é um óleo mais fino e menos viscoso, capaz de ser utilizado como combustível. O processo só ocorre na presença de um catalisador, que pode ser ácido (como o ácido clorídrico) ou básico (hidróxido de sódio).

As matérias-primas mais comuns para a produção de biodiesel são plantas oleaginosas, tais como a soja, o girassol, o amendoim, algodão, dendê, coco, babaçu, mamona, e a colza. Podem ser utilizados também gorduras animais, ou óleos de fritura residuais, que normalmente são despejados nos esgotos. (MEIRELLES, 2003).

A transesterificação pode ser esquematizada da seguinte maneira:

Monografias.com

Fonte: Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais. Adaptado pelo Departamento Econômico da FAESP apud Meirelles, 2003.

Figura 1 – Processo de Obtenção de Biodiesel

Segundo Meirelles (2003), a glicerina, subproduto da produção de biodiesel, é uma importante matéria-prima para outras cadeias produtivas, tais como tintas, adesivos, produtos farmacêuticos e têxteis etc. A implementação da produção de biodiesel pode gerar um aumento na oferta de glicerina 20, baixando progressivamente seu preço. Hoje em dia, o custo da glicerina é bastante elevado, girando em torno de US$ 1000/tonelada.

1.3 Biodiesel no Mundo

O biodiesel surgiu mundialmente como uma alternativa promissora aos combustíveis minerais, derivados do petróleo. O caráter renovável torna o produto uma fonte importante de energia no longo prazo. Outra característica importante é sua contribuição para a melhoria da qualidade do ar, devido à redução na emissão de gases poluentes e enxofre. O fato de ser facilmente utilizado em motores a diesel como aditivo, sem necessidade de adaptação, torna o biodiesel uma alternativa mais viável do que outras fontes de energia alternativas, como o GNV (Gás Natural para Veículos) ou a energia elétrica. (ABIOVE, 2003).

Os biocombustíveis vêm sendo testados atualmente em várias partes do mundo. Países como Argentina, Estados Unidos, Malásia, Alemanha, França e Itália já produzem biodiesel comercialmente, estimulando o desenvolvimento de escala industrial. O biodiesel pode ser utilizado em veículos automotores ou em motores estacionários, para geração de energia elétrica. (ABIOVE, 2003).

A União Européia produz anualmente mais de 1,35 milhão de toneladas de biodiesel, em cerca de 40 unidades de produção. Isso corresponde a 90% da produção mundial de biodiesel. O governo garante incentivo fiscal aos produtores, além de promover leis específicas para o produto, visando melhoria das condições ambientais através da utilização de fontes de energia mais limpas. A tributação dos combustíveis de petróleo na Europa, inclusive do óleo diesel mineral, é extremamente alta, garantindo a competitividade do biodiesel no mercado. (ABIOVE, 2003).

O maior país produtor e consumidor mundial de biodiesel é a Alemanha, responsável por cerca de 42% da produção mundial. Sua produção é feita a partir da colza, produto utilizado principalmente para nitrogenização do solo. A extração do óleo gera farelo protéico, direcionado à ração animal. O óleo é distribuído de forma pura, isento de mistura ou aditivos, para a rede de abastecimento de combustíveis compostas por cerca de 1700 postos. Vários países estão produzindo Biodiesel comercialmente, estimulando o desenvolvimento em escala industrial, dentre eles destacam-se: Argentina, EUA, Malásia e União Européia (Alemanha, França, Itália, Áustria e outros). (ABIOVE, 2003).

O uso do Biodiesel na União Européia - UE recebe incentivo a produção através de uma forte desgravação tributária e alterações importantes na legislação do meio ambiente. Em 2005, 2% dos combustíveis consumidos na UE foram renováveis, e em 2010 terão de ser em torno de 5%. Os fabricantes europeus de motores apoiam a mistura de 5% de Biodiesel. Na mistura até 30% ou Biodiesel puro (Alemanha) muitos fabricantes dão garantia: VW, Audi, Seat, Skoda, PSA, Mercedes, Caterpillar e Man garantem alguns modelos. Na Alemanha, mais de 800 postos de combustíveis vendem Biodiesel puro. (ABIOVE, 2003).

O Biodiesel na Argentina tem estímulo através do Decreto 1.396, de novembro de 2001, que cria o "Plan de Competitividad para el Combustible Biodiesel", propiciando a desoneração tributária do Biodiesel por 10 anos. A Resolução 129/2001 definiu as especificações do Biodiesel. Nos EUA (Estados Unidos da América) não há desgravação tributária para a produção de Biodiesel, cerca de 126.000 toneladas por ano. Atualmente, o Biodiesel está sendo usado em frotas de ônibus urbanos, serviços postais e órgãos do governo e é considerado Diesel Premium para motores utilizados na mineração subterrânea e embarcações. (ABIOVE, 2003).

Em Minnesota acaba de ser aprovada uma lei que estabelece: 2% de mistura de imediato e, 5% de mistura com biodiesel após 5 anos de sua aprovação. Isto levará a um grande incremento na produção de Biodiesel naquele país. A denominada ¨conta de defesa¨ que resulta da proteção americana ao petróleo no Oriente Médio para garantir o fluxo ininterrupto de óleo cru, é da ordem de bilhões de dólares por ano. Este fato demonstra a instabilidade de abastecimento, a fragilidade da política de preços, uma vez que o custo real do barril de óleo e, por conseguinte, dos combustíveis nos EUA é sensivelmente mais alto do que os preços praticados nos postos de abastecimento. (ABIOVE, 2003).

Na Malásia está sendo implementado programa para a produção de Biodiesel a partir de óleo de palma (dendê). A primeira fábrica entrou em operação em 2003, com capacidade de produção de 500 mil toneladas ao ano. A perspectiva tecnológica de extração das vitaminas A e E permitirá reduzir os custos do Biodiesel produzido no mercado internacional, o Biodiesel produzido tem sido usado em: veículos de passeio, transportes de estradas e off road, frotas cativas, transporte público e geração de eletricidade. (ABIOVE, 2003).

1.4 Capacidade de Produção e Disponibilidade de Biodiesel no Brasil

O Brasil, segundo produtor e exportador mundial de óleo de soja, poderá tornar-se gradualmente um importante produtor e consumidor de Biodiesel, acrescida da oportunidade de utilizar outros óleos vegetais típicos das diferentes regiões do país. Também reduziría a dependência atual de importação de óleo diesel, da ordem de 6 milhões de metros cúbicos por ano, desonerando o balanço de pagamentos e criando riqueza no interior. (FGV EAESP, 2003).

A disponibilidade de produção de Biodiesel no Brasil poderá expandir significativamente sua produção de soja e óleo, considerando uma fronteira agrícola de 80 milhões de hectares, para 240 milhões de toneladas ano. A capacidade instalada de esmagamento de soja é de 32,4 milhões de toneladas ano. Em 2001 foram esmagadas cerca de 22,8 milhões de toneladas (ociosidade de 30%). (IBGE, 2001).

Conforme a tabela 1 nota-se que de 2002 a 2004, a produção aumentou devido, as políticas de incentivo ao Biodiesel, aos investimentos, e principalmente na necessidade de obtenção de uma energia que seja limpa e renovável, na matriz energética brasileira. (CONAB, 2006).

Tabela 1 - Produção Nacional de Biodiesel.

Regiões / Períodos

2000/01

2001/02

2002/03

2003/04

2004/05

Norte

-

-

-

-

-

Nordeste

73,2

68,1

83,8

103,3

143,3

Bahia

71,4

66

81,9

89

129

Centro – Oeste

-

-

-

-

-

Sudeste

6,7

4,3

2,5

2,8

4,6

Sul

-

-

-

-

-

Brasil

79,9

72,4

86,3

106,1

147,9

Fonte: Conab (2006) – Dados representado em 1000 toneladas.

O cenário atual se mostra também bastante oportuno, tendo em vista a prática do livre mercado para combustíveis, a redução das barreiras, a política energética praticada, o perfil de produção e consumo de diesel, a necessidade de se reduzir a poluição atmosférica, em particular nos grandes centros urbanos, e o grande interesse e competitividade da indústria local. (PORTAL DO BIODIESEL, 2006).

Além destes aspectos trata de uma excelente oportunidade para que o Brasil venha a ingressar no bloco de países detentores da tecnologia de biocombustíveis, tornando-se efetivamente exportador de tecnologia e de produtos com maior valor agregado. (PORTAL DO BIODIESEL, 2006).

A principal estratégia é a de desenvolver o biocombustível a partir da produção de oleaginosas e etanol nacional, gerando emprego e renda nas diferentes regiões do país. Assegurar maior autonomia no suprimento de combustíveis líquidos; contribuir para melhorar a inserção internacional do Brasil nas questões ambientais globais, estabelecer vanguarda no desenvolvimento de mercados novos para produtos potenciais subaproveitados (agricultura), criar mercados alternativos de expressão para commodities brasileiras (petróleo/gás, complexo soja, setor sucroalcooleiro), com excesso de ofertas no mercado externo, desenvolver tecnologias nacionais para produção de combustíveis. (PORTAL DO BIODIESEL, 2006).

Segundo Parente (2003), no Brasil, desde a década de 1920, o Instituto Nacional de Tecnologia (INT) já estudava e testava combustíveis alternativos e renováveis, como por exemplo o álcool da cana-de-açúcar. E na década de 1970, por intermédio também do INT, passou a desenvolver projetos de óleos vegetais como combustíveis, destacando-se entre eles o DENDIESEL.

Em 1983, o Governo brasileiro motivado pela elevação desproporcional dos preços de petróleo determinou a implementação do projeto (Projeto OVEG) no qual foi testada a utilização de Biodiesel e misturas combustíveis em veículos que rodaram mais de um milhão de quilômetros. Esta iniciativa coordenada pela Secretaria de Tecnologia Industrial, contou com a participação da indústria automobilística, fabricantes de autopeças, produtores de lubrificantes e combustíveis, indústria de óleos vegetais e institutos de pesquisa. (PETRÓLEO BRASILEIRO AS, 2007).

Foi constatada a viabilidade técnica da utilização do combustível, aproveitando a logística de distribuição existente. Entretanto, naquele momento, os custos do Biodiesel eram muito mais elevados do que o Diesel, desta forma não foi implementado a produção do Biodiesel em escala comercial. Desde 2000, foi instalada em Ilhéus, no campus da Universidade Estadual de Santa Cruz, uma planta piloto de produção de Biodiesel de éster metílico, com capacidade diária de produção de 1400 litros, podendo ser adaptada para produção de éster etílico (torre destilação e/ou centrífuga para separação do éster da glicerina). (PETRÓLEO BRASILEIRO AS, 2007).

No período de janeiro a março de 1998, sob a coordenação da TECPAR, realizou-se em Curitiba-PR, uma experiência de campo do uso monitorado de Biodiesel B20, mistura de 20% de éster de soja ao diesel metropolitano do Paraná, para uma frota de vinte ônibus urbanos que operaram normalmente com o novo combustível. (PETRÓLEO BRASILEIRO AS, 2007).

A década de 1990 se caracterizou pela produção comercial e instalação de plantas em escala industrial, visando atender a preocupação ambiental e estimulada pela competitividade relativa de preços do petróleo e óleos vegetais. Em 2000, foi instalada a fábrica de biocombustíveis da ECOMAT no Estado do Mato Grosso, que produz atualmente o AEP 102, que é um éster de soja aditivo especial da mistura álcool e diesel, além de biodiesel de éster metílico e etílico. Atualmente no Brasil, o PROBIOAMAZON, é o maior programa de óleos vegetais em implantação com perspectiva de produção de cerca de 500 mil toneladas ano de dendê, na Região Norte, a partir da produção em assentamentos do INCRA. (PETRÓLEO BRASILEIRO AS, 2007).

O Biodiesel surge como uma alternativa de diminuição da dependência dos derivados de petróleo e um novo mercado para as oleaginosas. O Biodiesel deve atender às especificações técnicas como sendo um produto único, sem necessidade da definição da origem do óleo vegetal ou qual o tipo de álcool a ser usado na produção, mas sim um conjunto de propriedades físico-químicas para o produto final que garanta a sua adequação ao uso em motores do ciclo diesel. (PETRÓLEO BRASILEIRO AS, 2007).

A mistura do éster vegetal ao óleo diesel em diferentes proporções (ou a utilização pura do éster) permitirá uma redução do consumo do derivado de petróleo com perspectivas de redução da emissão de poluentes. A introdução do Biodiesel no mercado representará uma nova dinâmica para a agroindústria e conseqüente efeito multiplicador nos demais segmentos da economia: transporte, distribuição entre outros, envolvendo óleos vegetais, álcool, óleo diesel e mais os insumos e subprodutos da produção do éster vegetal. (PETROLEO BRASILEIRO AS, 2007).

A viabilização do Biodiesel, porém, requer a implementação de estrutura organizada para produção e distribuição, de forma atingir com competitividade os mercados potenciais. A introdução do Biodiesel, portanto, vai requerer investimentos ao longo desta cadeia para assegurar a oferta do produto e a perspectiva de retorno de capital empregado no desenvolvimento e para a sustentabilidade no longo prazo. (PETROLEO BRASILEIRO AS, 2007).

No capítulo seguinte, será estudado a utilização de matérias-primas adequadas para produção do biodiesel, financiadas pelo governo federal através do Programa Nacional de Biodiesel (PNB). As características de culturas oleaginosas e suas peculiaridades e viabilidade de produção no âmbito cultural familiar, gerador de emprego e renda, em escala de produção nacional, levando em conta também os aspectos industrial, econômico, ambiental e social, importantes para o aproveitamento das potencialidades e características específicas de cada região brasileira para produção desse combustível alternativo.

2 CARACTERISTICAS DE CULTURAS OLEAGINOSAS E VIABILIDADE DE PRODUÇAO

Por todo o Brasil, surgem iniciativas de estudos sobre o biocombustível. Discute-se desde a utilização de matérias-primas adequadas, até os testes com sofisticados equipamentos e motores para avaliar o desempenho do biodiesel e a emissão de gases poluentes. Tudo isso acompanhado por um amplo debate político sobre o viés social que o governo pretende dar ao Programa do Biodiesel, gerando emprego e renda. Desta forma o Brasil está se preparando para entrar no mercado internacional de combustíveis e, se possível, tornar-se o maior produtor mundial de combustível renovável, produzido a partir de plantas oleaginosas. Segundo Dabdoub, presidente da Câmara Paulista do Biodiesel:

"O Brasil está caminhando para uma profunda discussão sobre o tema: mostrar a potencialidade do país na área de energia renovável é ter uma visão de futuro, que necessita de uma política de estado. O Brasil está no caminho certo quando discute, de forma consistente, a questão do biodiesel, e percebemos que existe um interesse grande do governo federal em tornar esse programa mais participativo." Câmara Paulista do Biodiesel apud Abdoub (2005, p.3).

No Brasil, o governo federal, através do PRONAF[1]investiu na safra 2005/2006 R$ 100 milhões destinados ao cultivo de oleaginosas, base para a fabricação do biodiesel. Os agricultores familiares já têm à disposição, desde julho de 2004, um crédito adicional do programa para a produção do biodiesel. A informação foi levantada pela Secretaria Extraordinária de Representação e Articulação Institucional. O financiamento do governo federal para o cultivo de oleaginosas faz parte do Programa Nacional de Biodiesel, lançado em dezembro de 2004. Hoje 20 mil famílias em todo país estão incluídas na cadeia produtiva do biodiesel, sendo 16 mil na região Nordeste. Com o crédito facilitado, a União pretende aumentar esse número. No final de 2004 o governo federal autorizou a adição de 2% de biodiesel ao diesel de petróleo utilizado em veículos automotores.

Essa mistura, definida como B2, vai reduzir a emissão de gases poluentes, além de possibilitar o aumento da renda das famílias ligadas ao agronegócio e promover a inclusão social para grande parte delas. (BIODIESEL BRASIL, 2005).

Com dimensões continentais e com grande diversidade climática, o Brasil apresenta condições inigualáveis para o plantio de oleaginosas com propósito para produzir biodiesel, com profundas repercussões sociais, ambientais e econômicas. Entre as culturas mais citadas, e das quais já há experiências sendo realizadas, estão a soja, a mamona, o dendê e o girassol. Mas, existem ainda o amendoim, a canola, o coco, o babaçu e o algodão. Hoje cultivados com outras finalidades, que também poderão ser aproveitados, pelo menos em parte, na produção de biodiesel. Embora essas mais conhecidas, há o pinhão manso, o nabo forrageiro, o pequi, o buriti e a macaúba, com grande potencial. (BIODIESEL BRASIL, 2005).

Dentre as várias alternativas, merecem destaque o dendê, o coco e o babaçu, pois apresentam colheitas o ano todo e apresentam altos teores de óleo e bom rendimento na produção de biodiesel. Conforme a Tabela 2, a área demandada para produzir 1.000 toneladas de óleo de cada cultura, também deve ser levada em consideração na hora de investir em uma ou outra oleaginosa, dependendo da região do Brasil em que será produzida. (BIODIESEL BRASIL, 2005).

Tabela 2 - Características de culturas oleaginosas quanto ao teor de óleo, demanda de área para produção de 1.000 t de óleo, número de meses de colheita e rendimento de óleo por hectare.

Espécie

Teor de Óleo

(%)

Demanda de área média cultivada

(ha) para produzir

1000 t de óleo

Meses de Colheita/ano

Rendimento

(t óleo/ha)

Dendê/Palma

22,0

200

12

3,0 a 6,0

Coco

55,0 a 60,0

550

12

1,3 a 1,9

Babaçu

66,0

8.900

12

0,1 a 0,3

Girassol

38,0 a 48,0

1.090

3

0,5 a 1,9

Colza/Canola

40,0 a 48,0

1.430

3

0,5 a 0,9

Mamona

45,0 a 50,0

1.400

3

0,5 a 0,9

Amendoim

40,0 a 43,0

1.420

3

0,6 a 0,8

Soja

18,0

2.850

3

0,2 a 0,4

Algodão

15,0

6.250

3

0,1 a 0,2

Fonte: BRASIL (2005) e ANUARIO BRASILEIRO DA AGROENERGIA (2006), adaptado pelo autor.

Entretanto, não se pode ter em mente apenas o aspecto agronômico das culturas para produção de biodiesel. Deve-se levar em conta também os aspectos industrial, econômico, ambiental e social, sendo importante o aproveitamento das potencialidades e características específicas de cada região brasileira para produção desse combustível alternativo. Além disso, é fundamental, verificar quais as culturas que devem ter seu uso priorizado na agricultura familiar, considerando que, em média, emprega-se um trabalhador familiar para 10 hectares cultivados. (BRASIL, 2005).

2.1 Dendê (Elaeis Guineensis L.)

Planta da família Palmae, a palma ou dendê é um cultivo perene e começa a produzir frutos a partir de 3 anos após plantio em local definitivo. Conforme dados da Embrapa Amazônia Ocidental (2006) a produção é crescente até o sétimo ano, quando se estabiliza e permanece assim até o 17° ano, quando começa a declinar, sendo que a palmeira tem uma vida econômica útil entre 20 e 30 anos. Por se tratar de uma cultura com alto custo de implantação e longo período de exploração comercial, devem ser usadas plantas híbridas do tipo Tenera, proveniente do cruzamento entre Dura e Pisífera.

Segundo a Embrapa Amazônia Ocidental (2006) a população recomendada é de 143 plantas por hectare, já que a colheita dos cachos maduros é realizada em intervalos de 7 a 10 dias ao longo da vida econômica da palma e é feita manualmente. A separação dos frutos (1000 a 3000 em cada cacho) pode ser efetuada manualmente ou com a ajuda de animais ou tratores de pequeno porte.

As condições climáticas indicadas para seu cultivo incluem um clima tropical com temperaturas que variam de 24ºC a 32ºC e com períodos chuvosos. Conforme a Embrapa Amazônia Ocidental (2006), a região Norte do Brasil é que apresenta tais características climáticas, sendo os estados do Pará, Amazonas e Amapá, além da Bahia na região Nordeste, os mais promissores. O Pará já é o maior produtor de óleo de palma do Brasil, concentrando mais de 80% da área plantada. No Brasil, segundo o IBGE (2006), a produção de óleo de palma em 2004 foi 909.285t e no Pará 738.241t.

A extração do óleo do dendê é realizada por meio de métodos mecânicos, da simples prensagem ou do esmagamento dos frutos. As sementes são separadas das fibras e depois quebradas e esmagadas, para extração do óleo de pasmiste. Vários processos operacionais são utilizados para obter o produto acabado. O primeiro deles produz o óleo bruto extraído do mesocarpo do fruto, que na sua segunda fase pode ser refinado ou também fracionado onde são obtidas frações sólidas (estearina) e líquidas (oleína). As empresas extratoras deste óleo estão localizadas estrategicamente próximas às plantações com o objetivo de facilitar o transporte. (EMBRAPA AMAZONIA OCIDENTAL, 2006).

Após a retirada dos frutos, tem-se como subproduto do dendê os cachos vazios, ricos em potássio, que podem ser usados em adubação orgânica de lavouras de subsistência. Da polpa, depois de extraído o óleo, sobra uma fibra que pode servir para alimentar as caldeiras a vapor ou aproveitada ainda como adubo. Com as sementes, depois de retirado o óleo de palmiste, é feita a torta de palmiste, que tem teor de proteína de 15%, podendo ser utilizada na alimentação animal. A casca, com alto poder calorífico, pode ser comercializada e empregada como combustível, no revestimento de estradas ou como matéria-prima em usinas de carvão. O exposto revela que da cultura do dendê se utiliza tudo, podendo proporcionar uma renda extra e empregos para pequenos produtores da região Norte do país. (EMBRAPA AMAZONIA OCIDENTAL, 2006).

2.2 Coco (Cocos nucifera)

O coco é da família das Palmáceas, sendo conhecido também como coco-da-bahia, coqueiro-da-bahia e coqueiro-da-praia. A planta tem grande importância econômica e alimentícia em muitos países situados na zona tropical do globo terrestre. Existem duas variedades de coco que são cultivadas no Brasil: o coqueiro-gigante e o coqueiro-anão. A primeira produz polpa mais grossa, pouca água e necessita de mais de uma planta para que ocorra boa frutificação, porque não há coincidência na abertura das flores masculinas e femininas na mesma inflorescência. (PORTAL DO BIODIESEL, 2006)

O coqueiro-anão tem polpa fina, muita água no interior dos frutos e frutifica mesmo tendo uma única planta, uma vez que as flores femininas e masculinas se abrem na mesma época. O coqueiro-anão se desenvolve mais lentamente que o coqueiro-gigante, mas é mais precoce e o início da frutificação ocorre por volta dos 3 ou 4 anos de idade, enquanto que no coqueiro-gigante, apenas aos 7 anos. A produção anual, em média, é de 14 e 12 cachos, para, respectivamente, coqueiro-anão e coqueiro-gigante. (PORTAL DO BIODIESEL, 2006).

Segundo o IBGE (2006) o continente asiático é o maior produtor de coco, com destaque para Indonésia, Filipinas e Índia. O Brasil ainda está muito distante desses países em termos de produção, mas a sua participação vem aumentando significativamente e em 2004, produziu 2,078 milhões de toneladas, numa área de aproximadamente 288.140 hectares. O clima adequado para essa cultura é o tropical, envolvendo praticamente todos os estados do Brasil. Os Estados da região Nordeste são os maiores produtores de coco, principalmente o coqueiro-gigante. A Bahia é o maior produtor com 705.732 t, numa área de 80.726 hectares. Outra região que se destaca é a Sudeste, onde há predominância de coqueiro-anão.

Do coco-da-bahia tudo se aproveita. A madeira, as folhas, as raízes, as inflorescências, o palmito e, principalmente, os frutos possuem os mais diversos usos. A água e a polpa do fruto fresco podem ser consumidas in natura. A polpa ralada e seca tem múltiplos usos: culinária, extração de óleo comestível, combustível, margarina, detergente, sabão, cosméticos, resinas sintéticas, dentre outros. A boa arquitetura da planta permite, também, o seu uso em projetos paisagísticos de praças e jardins. Outras partes das plantas podem ser utilizadas nas construções civis e também no artesanato, configurando fonte alternativa de renda para a comunidade. (IBGE, 2006).

2.3 Babaçu (Orbignya speciosa)

O baguaçu ou coco-de-macaco como é chamado, é uma planta da família Palmae, segundo o Portal do Biodiesel (2006) é originária da região amazônica e mata atlântica do Brasil. Cada palmeira pode apresentar até 6 cachos, cujos frutos surgem de agosto a janeiro. A polpa é farinácea e oleosa, envolvendo de 3 a 5 amêndoas, que é o principal produto extraído do babaçu, possuindo valor comercial e industrial. As amêndoas são extraídas manualmente em um sistema caseiro tradicional e de subsistência. É praticamente o único sustento de grande parte da população interiorana das regiões onde ocorre o babaçu. Apenas no estado do Maranhão a extração de sua amêndoa envolve o trabalho de mais de 300 mil famílias. Em especial, mulheres denominadas de "quebradeiras" acompanhadas de suas crianças.

Presente no Norte e Nordeste do Brasil, o babaçu cresce com os desmatamentos periódicos e queimadas sucessivas, especialmente na região Nordeste. Estas práticas, relacionadas a uma agricultura itinerante, são freqüentemente utilizadas com o objetivo de eliminar os babaçuais. Tendo, porém, um efeito contrário, devido as "pindobas" de babaçu (palmeirinhas novas) serem as primeiras a despontar após a realização dessas. Isso reflete as características do babaçu: extremamente resistente, imune aos predadores de sementes e com grande capacidade e velocidade de regeneração. (PORTAL DO BIODIESEL, 2006).

O uso do babaçu é completo, mostrando a importância dessa cultura no desenvolvimento da região onde se encontra, devido principalmente a inclusão social existente devido ao cultivo dessa palmácea. De maneira geral, praticamente todas as palmeiras em especial o dendê, o buriti e o babaçu concentram altos teores de óleo. Assim, o principal destinatário das amêndoas do babaçu são as indústrias locais de esmagamento, produtoras de óleo cru, que é um subproduto também para a fabricação de sabão, glicerina e óleo comestível, além do biodiesel. A torta restante é utilizada na produção de ração animal, assim como as folhas na época da seca. (PORTAL DO BIODIESEL, 2006).

As amêndoas verdes, raladas e prensadas com água fornecem um "leite" de propriedades nutritivas semelhantes as do leite humano. Segundo pesquisas do Instituto de Recursos Naturais do Maranhão apud Toda Fruta (2006) esse "leite" é muito usado na culinária local como tempero para carnes, substituindo o leite de coco, ou, até mesmo, bebido ao natural, substituindo o leite de vaca.

As folhas do babaçu servem de matéria-prima para a fabricação de utilitários, como cestos, peneiras, esteiras, cercas, janelas, portas, etc. E como matéria-prima é fundamental na armação e cobertura de casas da região amazônica. O estipe do babaçu em boas condições é usado em marcenaria rústica e quando apodrecido, serve de adubo. Das palmeiras jovens se extrai o palmito e é coletada uma seiva que, fermentada, produz um vinho bastante apreciado na região norte do país. (TODA FRUTA, 2006).

A casca do coco fornece um eficiente carvão, fonte exclusiva de combustível em várias regiões do Nordeste, sendo que sua queimada produz uma fumaça repelente de insetos. Entre outros produtos de aplicação industrial, oriundos da casca, tem-se: álcoois, coque, carvão reativado, gases combustíveis, ácido acético e alcatrão. (TODA FRUTA, 2006).

Apesar de tantas e tão variadas utilidades, por sua ocorrência não controlada do ponto de vista econômico e agrícola, o babaçu continua a ser tratado como um recurso marginal, permanecendo apenas como parte integrante dos sistemas tradicionais e de subsistência, porém já trouxe alguns benefícios para as comunidades que o utilizam, favorecendo o desenvolvimento dessas com a sua inclusão na cadeia produtiva do biodiesel. (TODA FRUTA, 2006).

2.4 Girassol (Helianthus annuus L.)

O girassol é uma planta da família Compositae, apresenta características agronômicas importantes, como maior resistência às variações climáticas que a maioria das espécies leguminosas, se ajusta bem a diversos ambientes, podendo suportar temperaturas baixas e menor disponibilidade de água. (PORTAL DO BIODIESEL, 2006).

O girassol é indicado para produção de biodiesel pela excelente qualidade do óleo extraído de sua semente. É considerado um cultivo rústico que se adapta facilmente às condições climáticas pouco favoráveis, além disso, é uma cultura econômica e que não requer manejo especializado, sendo preferencialmente recomendado para as regiões Sudeste e Sul do Brasil onde já se produzem grãos (como a soja e o milho) e não há disponibilidade de ampliação de áreas cultivadas, pois é adaptado ao cultivo de safrinha. Também na região do Cerrado, pode ser plantado de modo a aproveitar as últimas chuvas do verão. (TODA FRUTA, 2006).

O girassol produz, atualmente, cerca de 1.000 litros de óleo por hectare/ano. O seu uso em rotação, na safrinha, em 20% dos 13 milhões de hectares cultivados com soja, poderia proporcionar mais de 2,5 bilhões de litros de óleo por ano dessa cultura. (EMBRAPA SOJA, 2006).

Entretanto, mesmo com um grande potencial para safrinha, um dos obstáculos a sua utilização é a suscetibilidade a doenças. A planta é hospedeira de 35 microorganismos fitopatogênicos, sendo que os principais são os fungos que podem reduzir o rendimento e a qualidade do produto final. Devido a esse entrave, é recomendado que só se retorne com o girassol numa mesma área após 4 anos, o que dificulta o seu constante volume de produção. (EMBRAPA SOJA, 2006).

Com alto teor de óleo nos grãos, conseqüentemente com maior rendimento por tonelada que outras leguminosas anuais, e tendo facilidade de extração do óleo por prensagem, é uma cultura apropriada para pequena propriedade, favorecendo a inclusão do agricultor familiar na sua cadeia produtiva, tendo assim importância no que tange ao aspecto social da agricultura. (EMBRAPA SOJA, 2006).

Além da extração do óleo, o girassol possui outros usos. As hastes podem originar material para forração acústica e, junto com as folhas, pode ser ensiladas para alimentação animal e também promover uma excelente adubação verde, assim como suas raízes pivotantes que promovem uma considerável reciclagem de nutrientes e aumento da matéria orgânica do solo quando deixado após a colheita. As sementes podem ser utilizadas também para alimentação humana. (EMBRAPA SOJA, 2006).

A versatilidade de uso do girassol vem impulsionando um aumento gradativo da área semeada no Brasil. Em 1997, a cultura ocupava uma área equivalente a 11 mil hectares, e em 2005, passou para 45 mil hectares, produzindo nesse ano 83,6 mil toneladas do grão, segundo dados da CONAB (2006). A região que mais produziu girassol em 2005, foi a Centro-Oeste, seguida da Sul e Sudeste.

2.5 Canola (Brassica napus L. e Brassica rapa L.)

A canola, planta da família das crucíferas (planta cujas flores tem as pétalas dispostas em cruz, é cultivada no Brasil na primavera e foi desenvolvida por melhoramento genético convencional de colza, grão que apresentava teores mais elevados de ácido erúcico e de glucosinolatos. (EMBRAPA TRIGO, 2006).

A canola constitui uma das melhores alternativas para diversificação de culturas de inverno e geração de renda pela produção de grãos, no Sul do Brasil. O cultivo de canola em rotação com outras culturas tradicionais reduz a ocorrência de doenças, contribuindo para que o trigo, por exemplo, semeado no inverno subseqüente produza mais e tenha melhor qualidade e menor custo de produção. (EMBRAPA TRIGO, 2006).

Para apresentar boa produtividade, entretanto, a canola requer solo bem drenado, sem compactação, sem resíduos de determinados herbicidas, livre de doenças e invasoras, com pH acima de 5,5 e com adubação equilibrada. Uma das doenças mais importantes na cultura da canola, que já dizimou lavouras na região Sul do Brasil, é a canela-preta (Leptosphaeria maculans), sendo que a ocorrência desta depende do inóculo que permanece em restos culturais infectado. Assim, deve-se evitar o cultivo contínuo dessa cultura numa mesma área. (EMBRAPA TRIGO, 2006).

Para um bom manejo da cultura, deve ser realizada a rotação de cultivos. Deve-se esperar 20 dias, no mínimo, entre a colheita de canola e a semeadura de soja ou de milho. O cultivo de canola serve também para reduzir a infestação com gramíneas, de controle difícil nos cultivos de trigo e outros cereais. Preferencialmente deverá ser adota a seqüência de culturas: soja, canola, milho, trigo, pois apresenta diversas vantagens no controle de doenças e manejo de culturas, contribuindo desta forma para o aumento da lucratividade e sustentabilidade da pequena propriedade. (EMBRAPA TRIGO, 2006).

A canola possui de 40% a 46% de óleo e também serve como farelo, com 34% a 40% de proteína, sendo considerado um excelente suplemento protéico na fórmula de rações. Médicos e nutricionistas indicam o óleo de canola por ser um dos mais saudáveis, pois possui elevada quantidade de Omega-3, vitamina E, gorduras mono-insaturadas e o menor teor de gordura saturada de todos os óleos vegetais. (EMBRAPA TRIGO, 2006).

A cultura de canola constitui alternativa de cultivo de safrinha no inverno, principalmente na região Sul do Brasil, juntamente com a produção de trigo. O primeiro ano de cultivo comercial da canola no Centro-Oeste foi em 2004 e sugeriu que essa cultura apresenta potencial para constituir uma nova alternativa de cultivo de safrinha em determinadas áreas do Cerrado. A introdução e a avaliação de novos genótipos oferecem oportunidades promissoras para identificar cultivares e híbridos com maior potencial de rendimento de grãos, visando a aumentar a rentabilidade ou estabilidade de retorno no cultivo de canola. (EMBRAPA TRIGO, 2006).

A área semeada com canola, em 2004, foi de 10.804 hectares no Rio Grande do Sul, 1.611 ha no Paraná e 2.417 ha em Goiás. No Rio Grande do Sul, a área cresceu para aproximadamente 20.000 ha em 2005, e o interesse dos agricultores indica tendência de incremento na área com canola, em 2006, em virtude de facilidade de comercialização, elevada lucratividade e liquidez, quando comparada com outras culturas de inverno. Praticamente toda a produção de canola do Paraguai tem sido vendida para o Brasil na forma de grãos, óleo e farelo, mostrando a grande demanda do mercado. (EMBRAPA TRIGO, 2006).

O rendimento de grãos varia de 2.100 e 2.400 kg/ha, sendo que o seu óleo é o mais utilizado na Europa para produção de biodiesel e constitui padrão de referência nesse mercado. (EMBRAPA TRIGO, 2006).

2.6 Mamona (Ricinus communis L.)

A mamona é uma planta da família Euphorbiaceae, sendo conhecida popularmente por rícino, carrapateira, bafureira, baga e palma-criste. A mamona pode ser considerada a principal oleaginosa para produção de biodiesel, por ser de fácil cultivo, de baixo custo e por ter resistência à seca, se adaptando muito bem a forte exposição ao sol, altas temperaturas, requerendo no mínimo 500 mm de chuvas para seu crescimento e desenvolvimento normal, sendo indicada para regiões semi-áridas. (EMBRAPA SEMI-ARIDO, 2006).

Muitas são as cultivares disponíveis, variando em porte, tipos de cachos e outras características, as principais no entanto, recomendadas pela Embrapa Semi-Arido (2006), são as de porte médio e frutos semi-indeiscentes, como a BRS 149 Nordestina e a BRS 188 Paraguaçu. Seu manejo é fácil, com atenção especial apenas na hora da colheita, pois precisa ocorrer em ambiente seco e quando ? dos frutos dos cachos estiverem maduros, com coloração marrom, sendo que a colheita é realizada, na maioria dos locais, manualmente, o que gera empregos e rendas para as populações do Semi-Árido Nordestino.

Através do zoneamento agrícola, a Embrapa Semi-Árido já mapeou mais de 600 mil hectares de terras aptas ao cultivo da mamona, o que pode representar uma alternativa para mais de 100 mil famílias de agricultores. A cultura possui forte componente social, sendo cultivada por pequenos produtores familiares, em consórcio com outras culturas, principalmente com feijão. Deve-se, entretanto, ser evitado o consórcio com outras culturas muito competitivas, já que a mamona é muito sensível à competição causada pelas plantas daninhas, que precisam sempre ser controladas para evitar o decréscimo de rendimento.

O óleo da mamona é o principal produto da planta, possuindo diversos usos, dentre eles: lubrificante de turbinas, fabricação de náilon e resinas, tecidos, adesivos, cosméticos, fios, tubos plásticos e tintas aproveitadas em pinturas de automóveis e em impressoras, além de ser componente também utilizado nas telecomunicações e na biomedicina. Deve-se ainda, dar destaque aos sub-produtos dessa planta. A torta de mamona é o mais tradicional e importante deles e é obtida como residual da extração do óleo das sementes. Seu uso, predominantemente, tem sido como adubo orgânico e é de boa qualidade, eficiente na recuperação de terras esgotadas. Diferente das demais culturas, não pode ser utilizada na alimentação animal devido à presença da rícina, uma substância tóxica quando ingerida pelos animais ou humanos, podendo causar mal estar ou até mesmo a morte. Com tantos usos, ainda assim, é no biodiesel que a mamona poderá ter sua grande aplicação, tendo em vista seu elevado teor de óleo. (EMBRAPA SEMI-ARIDO, 2006).

A área plantada com mamona hoje no Brasil, segundo dados da Embrapa Semi-Árido (2006), é calculada em aproximadamente 160 mil hectares. O País é o terceiro maior exportador do óleo de mamona, participando com cerca de 12% do mercado mundial e seus principais clientes são Estados Unidos, Japão e Comunidade Européia. A Bahia é o maior produtor nacional, sendo responsável por 92% da colheita. Porém, de acordo com o zoneamento agroecológico, há ainda mais de 3,3 milhões de hectares aptos no Brasil para o cultivo em condições de sequeiro, onde seria possível produzir até 1,8 bilhão de litros de óleo vegetal.

Segundo estimativas, a mamona teria condições de fornecer mais de 60% do biodiesel em substituição ao diesel hoje utilizado no mundo. Segundo pesquisadores da Embrapa Semi-Árido (2006), para substituir 2% do consumo interno de diesel serão necessários 786 milhões de litros de biodiesel, com base no consumo de 2003. Desse volume, 293 milhões de litros (40%) deverão ser obtidos a partir de óleo de mamona e considerando uma produtividade agrícola da cultura de 1,8 t/ha e o rendimento industrial em óleo de 4 a 5%, será necessário o plantio de 360 mil ha e investimentos da ordem de R$ 370 milhões. Foi identificado também um déficit de 55% entre a área plantada de mamona e a necessária para a produção de biodiesel, considerando que todo o óleo de mamona seja utilizado exclusivamente para esse fim, sendo essa uma grande oportunidade para os agricultores familiares de todo o Brasil, principalmente da Região Nordeste.

2.7 Amendoim (Arachis hypogaea)

O amendoinzeiro é uma planta herbácea, ramificada e de porte ereto e pequeno, da família Fabácea. A planta é anual e o ciclo desde a semeadura até a colheita varia de 90 a 120 dias em função de variedades. As suas raízes apresentam nódulos, provocados pela simbiose com bactérias fixadoras do nitrogênio do ar. A planta do amendoim apresenta grande plasticidade genética podendo ser cultivada em várias condições agroecológicas. O maior rendimento, contudo, será função da cultivar e, sobretudo, das interações entre temperatura e disponibilidade hídrica.

" O amendoim pode ser cultivado em quase todos os tipos de solo, contudo, a maior produtividade é obtida naqueles bem drenados, de razoável fertilidade e textura arenosa ou franco-arenosa, de maneira a favorecer a penetração dos ginóforos ou "esporões", o desenvolvimento das vagens e a redução de perdas na colheita. A região brasileira que apresenta as condições climáticas mais adequadas à cultura é a sudeste, onde é cultivada na renovação de canaviais no cultivo das "águas" e nas áreas de reforma de pastagens onde ocorre no cultivo da "seca". A cultura também pode ter o plantio procedido em consórcio com outra cultura herbácea, como milho, gergelim, mandioca ou algodão. A cultura também é indicada para pequenas propriedades familiares e já existem equipamentos para auxiliar esses produtores no beneficiamento de amendoim, como a descascadora manual, com capacidade para beneficiar 75 kg por hora, com perdas abaixo de 5% - manualmente se gasta cerca de uma hora para cada kg." (EMBRAPA ALGODAO, 2006, p.8).

O amendoim é utilizado na alimentação humana ou destinado à extração de óleo. O óleo é utilizado na culinária, na indústria de conservas de alimentos enlatados, em produtos medicinais, na fabricação de margarina, sabões, sabonetes e cremes. A torta, resto da extração de óleo, rica em proteína, é utilizada no preparo de ração para alimentação animal. A parte aérea da planta pode servir de forragem para animais, além de adubação verde. (CONAB, 2006).

Os grandes produtores mundiais são: Índia, China, Nigéria, Senegal, Estados Unidos e Brasil. No Brasil a quantidade produzida em 2004 foi de 236.488 t, numa área de 105.434 ha, segundo dados da Conab (2006). O estado de São Paulo é o maior produtor do país, sendo utilizado fundamentalmente em consórcio e rotação com a cana-de-açúcar, produzindo, em 2004, 178.100 t, numa área de 73.070 ha, com rendimento próximo de 2.500 kg/há.

2.8 Soja (Glycine Max)

A soja é uma planta da família Fabaceae, sendo considerada uma das principais fontes de proteína e óleo vegetal do mundo. Ela tem sido cultivada comercialmente e utilizada nas alimentações humana e animal por milênios, sem nenhum registro de danos causados aos consumidores ou ao meio ambiente. (PORTAL DO BIODIESEL, 2006).

Embora ela tenha origem em clima temperado, atualmente, depois de amplo melhoramento genético, a soja é produzida em condições de climas subtropical e tropical. É uma planta anual, arbustiva, com ciclo variando de 70 a 180 dias, dependendo das variedades, regiões e condições climáticas.

"As condições ótimas para obtenção do máximo potencial produtivo são de necessidade de água variando de 450mm a 800 mm e temperatura do ar entre 20ºC e 30°C. A soja tem melhor potencial de desenvolvimento em sistema de plantio direto, com solo corrigido de acordo com as necessidades nutricionais das cultivares utilizadas." EMBRAPA SOJA (2006).

A produção de soja no mundo, em 2004, foi de aproximadamente 200 milhões de toneladas, com uma área plantada de 92,6 milhões de hectares. Atualmente, o Brasil é o segundo maior produtor mundial de soja, colhendo cerca de 50 milhões de toneladas/ano, sendo o Centro-Oeste a principal região produtora, com cerca de 50% do volume nacional. (IBGE, 2006).

Com a integração entre agricultura e pecuária podem ser utilizados 20% dos 100 milhões de hectares de pastagens do País, para obter mais de 12 bilhões de litros de óleo. Por outro lado, tomando por base a produção brasileira de óleo de soja, estimada em 5 milhões de toneladas, a substituição de 2% do diesel significaria mais de 2 milhões de toneladas a cada ano, sendo que esse incremento não seria problema a curto prazo. (ANUÁRIO BRASILEIRO DA AGROENERGIA, 2006).

2.9 Algodão (Gossypium hirsutun L.r latifolium Hutch)

O algodão, que é considerado a mais importante das fibras têxteis, é também a planta de aproveitamento mais completo e que oferece os mais variados produtos de utilidade. O algodão é uma planta da família das Malvaceae, subarbustiva e, na produção comercial, o ciclo é anual. Os frutos, conhecidos como maçãs, produzem as plumas (fibras) e as sementes (caroços). A produção do biodiesel é a partir do esmagamento do caroço, sendo uma alternativa ainda pouco divulgada, mas que começa a atrair o interesse de grandes empresas. (EMBRAPA ALGODAO, 2006).

Como alternativa para rotação com a soja, os produtores do Centro-Oeste viram no algodão uma grande oportunidade de negócios. O algodoeiro é muito sensível à temperatura, por isso é recomendado para as regiões Nordeste e Centro-Oeste do Brasil, onde as temperaturas permanecem entre 18ºC  e 30ºC, nunca ultrapassando o limite inferior de 14ºC. (EMBRAPA ALGODAO, 2006).

O Brasil apresentou, em 2004, uma área plantada de aproximadamente 1.159.600 ha, com produção de 3,8 milhões de toneladas de algodão herbáceo em caroço. O Mato Grosso continua sendo o principal produtor brasileiro, com cerca de 1,9 milhão de toneladas, o que corresponde a 48% da produção nacional, mas a Bahia vem se destacando como grande produtora de matérias-primas para óleo, sendo que a produção de algodão no mesmo ano foi de 700 mil toneladas. (IBGE, 2006).

A utilização mais comum do algodão refere-se às plumas, que têm muitas utilidades, principalmente na fiação e tecelagem, enquanto que das sementes são obtidos óleo para alimentação humana e farelo para ração animal, além de grande número de produtos secundários. (EMBRAPA ALGODAO, 2006).

As cultivares são geralmente utilizadas em esquema de rotação de culturas e apresentam boas respostas à aplicação de insumos, além de boa adaptação à colheita mecanizada. O algodoeiro é muito suscetível à concorrência de ervas daninhas, sendo por essa razão, necessário o controle de invasoras, como atenção especial no seu manejo. A Embrapa Algodão, desenvolveu algumas cultivares para as condições do cerrado, entre elas pode-se destacar: BRS ITA 96, BRS Facual, BRS Antares e BRS Itauba, pois são indicadas para os produtores familiares pela sua alta resistência múltipla a doenças, rusticidade e por poderem ser trabalhadas com baixos custos, além de serem bem adaptadas para colheita manual, tendo aqui sua função social dentro da cadeia do biodiesel.

2.10 Pinhão Manso (Jatropha Curcas L.) 

O pinhão manso é da família Euphorbiaceae, conhecida popularmente também por: pinhão-paraguaio, pinhão-de-purga, pinhão-de-cerca, purgante-de-cavalo, manduigaçu, mandubiguaçú, figo-do-inferno, purgueira e pinhão croá. Por ser uma cultura existente de forma espontânea em áreas de solos pouco férteis e de clima desfavorável à maioria das culturas alimentares tradicionais, o pinhão manso pode ser considerado uma das mais promissoras oleaginosas para substituir o diesel de petróleo. (PORTAL DO BIODIESEL, 2006).

O pinhão-manso é um arbusto ou árvore com até 4 m de altura, cujo fruto é uma cápsula com três sementes escuras e lisas, dentro das quais se encontra a amêndoa, que é branca, tenra e rica em óleo (50% a 52% de óleo extraído com solventes e 32% a 35% em caso de extração por expressão). A cultura cresce rapidamente em solos pedregosos e de baixa umidade e se adapta melhor em regiões mais secas dos trópicos com uma quantidade de chuva anual entre 300mm e 1.000mm. É uma planta de fácil propagação e altamente adaptável, porém, possui baixa resistência ao frio, má qualidade da madeira e sementes tóxicas. As técnicas agronômicas empregadas na cultura da mamona podem também ser utilizadas no plantio de pinhão-manso, ressalvando-se, no entanto, que sendo este último bem mais rústico e tolerante, certamente dispensará maiores cuidados culturais. (PINHAO MANSO, 2006).

Seu óleo é empregado como lubrificante em motores a diesel e na fabricação de sabão e tinta. Além disso, a torta que resta é um fertilizante rico em nitrogênio, potássio, fósforo e matéria orgânica, porém, pela substância tóxica presente não pode ser utilizada para alimentação animal. A casca dos pinhões pode ser usada como carvão vegetal e matéria-prima na fabricação de papel. (PINHAO MANSO, 2006).

As perspectivas favoráveis da implantação racional da cultura do pinhão-manso decorrem não somente dos baixos custos de sua produção, conforme se deve esperar diante das suas vantagens, mas sobre tudo porque ele poderá ocupar os solos pouco férteis e arenosos, de modo geral, inaptos à agricultura proporcionando, dessa maneira, uma nova opção econômica para as regiões carentes do país. (PINHAO MANSO, 2006).

Observa-se que a cultura do pinhão-manso está entre as mais promissoras fontes de grãos oleaginosos, pois, além do alto índice de produtividade, as maiores facilidades de manejo e, principalmente, de colheita das sementes em relação a outras espécies como palmáceas, tornam a cultura bastante atrativa e especialmente recomendada para um programa de produção de óleos vegetais. Outros aspectos positivos se referem à possibilidade de armazenagem das sementes por longos períodos de tempo, sem os inconvenientes da deterioração do óleo por aumento da acidez livre, conforme acontece com os frutos de dendê, por exemplo, os quais devem ser processados o mais rapidamente possível. (PINHAO MANSO, 2006).

2.11 Nabo Forrageiro (Raphanus Sativus)

O nabo forrageiro é uma planta da família das Crucíferas, muito utilizada para adubação verde no inverno, rotação de culturas e alimentação animal. É uma planta muito vigorosa, que em 60 dias cobre cerca de 70% do solo. Seu sistema radicular é pivotante, bastante profundo e devido ao seu rápido crescimento, compete com as ervas daninhas invasoras desde o início do seu cultivo, diminuindo os gastos com herbicidas ou capinas, o que facilita a cultura seguinte. Não há ocorrência de pragas ou de doenças que mereçam controle. (PORTAL DO BIODIESEL, 2006).

O nabo forrageiro possui um crescimento inicial rápido e elevada capacidade de reciclar nutrientes, principalmente nitrogênio e fósforo, desenvolvendo-se razoavelmente em solos fracos com problemas de acidez, sendo importante para a rotação de culturas e por produzir ótima quantidade de massa seca é excelente para a prática do plantio direto. (PORTAL DO BIODIESEL, 2006).

O óleo ainda pouco explorado no Brasil constitui um potencial biocombustível e, pela facilidade de produção, o nabo forrageiro é de grande interesse para a agricultura familiar, principalmente pelas condições de reciclagem de nutrientes no solo, reduzindo assim custos com adubação. (PORTAL DO BIODIESEL, 2006).

2.12 Gergelim (Sesamum indicum)

O gergelim é uma planta da família das Pedaliáceas, adaptada aos climas tropical e subtropical. É anual, com ou sem ramificação e tem boa tolerância à seca. O ideal para o crescimento e desenvolvimento da planta envolve temperaturas médias entre 25ºC a 27°C, inclusive para germinação das sementes. Para obtenção do máximo rendimento, em termos de precipitação seria necessário de 500mm a 650mm, bem distribuídas com 35% da precipitação no período da germinação ao florescimento; 45% durante o florescimento e 20% no início de maturação dos frutos. Porém, em locais com precipitação inferior a 300mm a cultura também pode produzir razoavelmente bem, com cerca de 300 a 500 kg/ha de grãos, segundo dados da Embrapa Algodão (2006).

Devido a sua tolerância à seca e facilidade de cultivo apresenta alto potencial agronômico podendo ser usado em rotação e sucessão de culturas. Consorciado com o algodão, funciona como cultura armadilha para mosca branca e para controle de formigas cortadeiras. É uma cultura que se insere tanto nos tradicionais sistemas de cultivo como na agricultura familiar e/ou orgânica. (EMBRAPA ALGODAO, 2006).

Por ser propagado por sementes, que são muito pequenas, o gergelim precisa ser semeado em solo bem preparado para facilitar a emergência das plântulas, promover o seu estabelecimento o mais rápido possível e evitar a competição com as plantas daninhas que prejudicam o desenvolvimento e o crescimento da cultura. O importante do manejo é não ter chuvas na fase de colheita a fim de se obter sementes de bom padrão comercial, pois esta ocorre quando os primeiros frutos iniciam a deiscência e, em seguida, as plantas são deixadas para secar por alguns dias, quando ocorre a abertura de todos os frutos, e depois são retiradas as sementes. (EMBRAPA ALGODAO, 2006).

O sistema de consórcio pode ser vantajoso desde que verificado os aspectos sobre a configuração de plantio a fim de se obter um sistema eficiente e mais estável que o monocultivo. Em muitos países o gergelim é usado em consórcio com o algodão, milho, sorgo, amendoim, soja e outras variedades de Phaseolus. Além disso, existe a possibilidade de se cultivar o gergelim em consórcio com fruteiras (caju, por exemplo), árvores florestais ou palmeiras com benefícios significativos para o ecossistema, sendo recomendada para as regiões Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil. (EMBRAPA ALGODAO, 2006).

Atualmente o gergelim é cultivado em 71 países, especialmente na Ásia e África. A produção mundial está estimada em 3,16 milhões de toneladas, obtidas em 6,56 milhões de hectares, com uma produtividade de 480 kg/ha. Índia e Myanmar são responsáveis por 49% da produção mundial. O Brasil é um pequeno produtor, com 15 mil toneladas produzidas em 25 mil hectares e rendimento em torno de 750 kg/ha. Além do cultivo tradicional na maioria dos Estados nordestinos, o gergelim é cultivado em São Paulo, Goiás (maior produtor), Mato Grosso e Minas Gerais. (FAO, 2006).

A torta restante é rica em proteínas e possui baixo teor de fibras, podendo ser destinada à alimentação humana e animal, sem quaisquer restrições. Além dos fins alimentares, seus grãos encontram diversas aplicações na indústria farmacêutica, cosmética e óleo-química. Embora com produção inferior a maioria das oleaginosas cultivadas, como por exemplo, a soja, o dendê, o girassol e a mamona, o cultivo do gergelim merece um grande incentivo na sua exploração por representar uma excelente opção agrícola ao alcance do pequeno e médio produtor, exigindo práticas agrícolas simples e de fácil assimilação e com preço de mercado representativo no que tange a lucratividade por hectare. (CONAB,2006).

No capítulo seguinte, será analisado a viabilidade econômica para produção de biodiesel na região Norte do Paranaense, e sua capacidade produtiva em uma explanação de custos de produção, investimentos, receita, margem de lucro, tributos e preço final, do biodiesel na bomba de combustível, e estudo de retorno do investimento a ser empregado em uma planta de um processo produtivo pequeno. Sendo utilizado duas matérias-primas como base de estudos e comparativos, a soja e a mamona.

3 ESTUDO DE VIABILIDADE TÉCNICA E ECONOMICA PARA PRODUÇAO DE BIODIESEL NA REGIAO NORTE PARANAENSE

3.1 Capacidade Produtiva e Custos de Produção

A produção de biodiesel a partir de óleos vegetais pode ser realizada por uma série de processos tecnológicos, envolvendo desde aos processos mais comuns como a transesterificação até os mais complexos, como o craqueamento catalítico ou térmico.

Na parte de custos, quando se menciona os processos, está se referindo necessariamente ao emprego de máquinas e equipamentos para a produção de biodiesel e não aos detalhes da rota tecnológica de conversibilidade do óleo vegetal[2]

De acordo com Aguiar (2005), tem-se os seguintes processos produtivos:

  • Processo A: refere-se ao custo do biodiesel levando somente em consideração a máquina básica de produção de biodiesel;

  • Processo B: trata-se do custo do biodiesel, levando em consideração o emprego da máquina básica e mais a máquina de recuperação do álcool;

  • Processo C: refere-se ao custo do biodiesel, tendo em vista o emprego da máquina básica, máquina de recuperação do álcool e mais a máquina de purificação da glicerina;

A distinção entre os três processos, segundo PEREIRA, FONSECA e MULLER (2006), pode resultar em grandes diferenças nos custos de produção. A estrutura de custo deste projeto contempla o custo com a matéria-prima, mão de obra, custos administrativos e financeiros (custo de capital). De maneira geral, o custo total do biodiesel pode ser separado em:

  • a) etapa agrícola

  • b) etapa industrial.

Os custos que compõem a etapa agrícola referem-se ao cultivo da oleaginosa e esmagamento de grãos para produção do óleo. Deduzindo o custo da etapa agrícola chega-se à fase industrial, cujos custos estão separados em duas partes: o custo do óleo e outros insumos e o custo de conversibilidade. Estes últimos são os custos que serão contemplados neste projeto. PEREIRA, FONSECA e MULLER (2006).

Já os custos de distribuição envolvem os custos que compõem a fase pós-produção, tais como transporte, mistura com o óleo diesel, estocagem e revenda. Esta parte dos custos não está contemplada neste projeto.

Uma pequena planta industrial operando por batelada[3]tem capacidade máxima de produção biodiesel de até 60.000 litros por mês. Considerando que a indústria opera com capacidade ociosa, realizou-se as estimativas de custo com base na produção de 50.000 litros de biodiesel por mês. PEREIRA, FONSECA e MULLER (2006).

Para o biodiesel derivado da soja, os custos variáveis para os três tipos de processos representam de 87% a 89% do custo total. Os custos fixos representam uma parcela relativamente pequena do custo total, variando entre 11% e 13%. Já os custos variáveis para o biodiesel derivado da mamona, para os três processos representam de 88% a 89% do custo total. Os custos fixos variam de 10% a 11% do custo total. PEREIRA, FONSECA e MULLER (2006).

Deve-se notar que os custos variáveis se alteram de acordo com o tipo de processo que é empregado. Tanto para o biodiesel da soja como para o de mamona, no processo B e C, os custos variáveis se reduzem por conta da economicidade do emprego de máquinas que recuperam 30% da glicerina e purificam a glicerina, transformando-a em subproduto, sendo que no final o custo da compra de matéria prima glicerina, será compensado pela receita gerada pela venda da glicerina purificada. PEREIRA, FONSECA e MULLER (2006).

Os custos de extração do óleo via solvente, tanto para soja quanto o de mamona, representam 72% e 83%, respectivamente do custo de produção de biodiesel, isto é, considerando somente os insumos. O preço do óleo da mamona representa quase o dobro do preço do óleo de soja[4]PEREIRA, FONSECA e MULLER (2006).

Segundo PEREIRA, FONSECA e MULLER (2006) determinar se o biodiesel é viável ou não, somente pela ótica dos custos de produção pode ser muito vago, sendo então preciso ter um parâmetro para comparação. Dado que se trata de um combustível alternativo, compara-se então com os preços aplicados ao diesel com o maior produtor brasileiro no principal pólo produtor – o Rio de Janeiro.

De acordo com os dados da Agência Nacional de Petróleo (ANP) e PETROBRÁS, o preço do diesel de petróleo antes da distribuição e da aplicação de impostos é de R$ 0,9840 por litro[5]Isto implica que para o biodiesel ser competitivo é preciso que o seu custo de produção não ultrapasse a R$ 0,9840 por litro.

Desconsiderando neste primeiro momento os impostos que incidem sobre a produção, PEREIRA, FONSECA e MULLER (2006), realizaram-se uma estimativa dos custos de produção do biodiesel de soja. Verifica-se que mesmo o Brasil sendo um grande produtor de soja, o custo de produção de biodiesel desta oleaginosa é de R$ 1,06 por litro sendo, portanto, não competitivo do ponto de vista dos custos de produção. Se empregar ao processo produtivo às maquinas de "economicidade" que correspondem ao processo B e C, os custos de produção de biodiesel, tornam-se mais baixos em relação ao custo do óleo diesel mineral. No caso do biodiesel da mamona, verificou-se que todos os processos apontam para custos de produção mais elevados do que o custo do diesel.

Do ponto de vista dos custos de produção, segundo PEREIRA, FONSECA e MULLER (2006), verifica-se que tanto o biodiesel de mamona quanto o de soja, apresentam custos elevados em relação aos custos do óleo diesel, indicando que esses podem ser um obstáculo para a introdução desse biocombustível na matriz enérgica brasileira.

  • Investimentos

As máquinas e equipamentos empregados no processo produtivo têm uma representatividade significativa na composição dos investimentos para uma pequena planta industrial. De acordo com pesquisa realizada por PEREIRA, FONSECA e MULLER (2006), junto a um fornecedor, cuja produção de tais máquinas tem 100% de componente nacional, obteve os seguintes valores:

Máquina 1: básica para a produção de biodiesel => R$ 300.000,00

Máquina 2: recuperação do álcool => R$ 200.000,00

Máquina 3: purificação da glicerina => R$ 310.000,00

O investimento fixo, levando em consideração os processos A, B e C, correspondem a 65%, 73% e 80% do investimento total, respectivamente, tanto para a produção de biodiesel da soja e mamona. O capital de giro, considerando os processos A, B e C, representam 25%, 32% e 54% do investimento total, respectivamente, para o biodiesel de soja e mamona.

Dado o volume elevado de investimentos exigido para o pequeno produtor, segundo Aguiar (2005), pode se repensar na constituição societária da pequena empresa, por meio da associação de pequenos agricultores num sistema de cooperativa.

3.3 Receita, Margem de Lucro, Tributos e Preço Final

3.3.1 Biodiesel – Soja

Segundo PEREIRA, FONSECA e MULLER (2006) levando em consideração a produção de biodiesel pelo processo A, para que o pequeno produtor possa ter retorno do seu investimento e gerar receitas para cobrir os custos elevados, ele terá de optar por uma margem de lucro de quase 250% sobre o custo de produção do biodiesel que é de R$ R$ 1,06 por litro. Deve-se notar que para todos os processos a margem de lucro é absurdamente elevada, ultrapassando a 100% do custo de produção. O custo de produção é muito elevado, portanto o problema que surge até aqui, é de saber qual será a margem de lucro suficiente para dar o retorno do investimento ao produtor, mesmo que essa margem de lucro possa influenciar o aumento do preço final.

Alguns estudiosos do setor como Nogueira (2005, p.85-86) aponta que o preço de venda do produtor de biodiesel à distribuidora, pode ser mais elevado em comparação aos outros combustíveis, isto porque, o produtor não pode vender o B100 (biodiesel puro), direto ao consumidor. Muito menos, poderá vender o B2 ou B5 direto aos postos de gasolina. Em outros termos, pela legislação é a distribuidora/refinaria que tem o dever de fazer a mistura que irá determinar o preço final ao consumidor.

Retornando ao processo A, tem-se que o preço de venda do produtor à distribuidora será de R$ 3,71 por litro do biodiesel. Produzindo então 50.000 litros , segundo PEREIRA, FONSECA e MULLER (2006) o produtor terá uma receita mensal de R$ 185.983,98. As incidências mensais dos impostos federais envolvendo o PIS/Confins correspondem a 34,7% da receita bruta mensal e os impostos estaduais correspondem a 2,9% da receita bruta mensal, envolvendo somente o ICMS.

Para efeito de simulação, estendeu-se a análise para determinar o preço final do biodiesel ao consumidor. A metodologia foi elaborada pela ABIOVE (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais) apud PEREIRA, FONSECA e MULLER (2006). Dado que no programa de biodiesel, o governo federal adotou um modelo de utilização compulsória do B2, o custo na bomba será o seguinte:

preço na bomba = preço do biodiesel puro x 2% + preço do diesel mineral x 98%

A partir desta equação, simulou-se o preço de bomba para o processo A, tendo como resultado o valor de R$ 1,88 por litro.

Segundo PEREIRA, FONSECA e MULLER (2006) se o produtor optar pelo processo produtivo B, para que este possa ter o retorno do seu investimento, a margem de lucro será em torno de 390% sobre o custo de produção do biodiesel que é de R$ 0,91 por litro. O preço de venda do produtor para a distribuidora será de R$ 4,46 por litro. Produzindo 50 mil litros por mês, o produtor terá uma receita de R$ 222.117,03, sendo que a incidência dos impostos federais e estaduais permanecerá em torno de 34,7% e 2,6%, respectivamente, sobre a receita bruta mensal. Na simulação do preço de bomba, obteve-se o preço final ao consumidor em torno de R$1,90 por litro.

Já o processo C, a margem de lucro chega a 600% sobre o custo do biodiesel que é de R$ 0,88. O preço de venda do produtor à distribuidora será de R$ 5,60 por litro. Para produção de 50.000 litros por mês, a receita será de R$ 292.459,96, sendo que a venda do subproduto glicerina, representa 4,3% da receita total. A incidência mensal dos impostos federais envolvendo PIS/Cofins corresponde a 34,7% da receita bruta mensal e os impostos estaduais serão em torno de 4%, envolvendo somente o ICMS.

Na simulação do preço de bomba, o resultado do preço final do biodiesel ao consumidor, foi em torno de R$ 1,92 por litro. Conforme verificado por PEREIRA, FONSECA e MULLER (2006) se o produtor aumenta o seu investimento no emprego de novas máquinas que a priori tem um caráter de economicidade, o custo de produção do biodiesel se reduz. No entanto o investimento no emprego de tais máquinas é tão elevado, que o produtor tem que aumentar estrondosamente a sua margem de lucro para obter uma receita mais alta para assim cobrir os custos e ter o retorno do seu investimento. As alíquotas dos impostos federais permanecem constantes, mas a alíquota do ICMS é variável à medida que o produtor aumenta o investimento e a aumenta a receita conseqüentemente.

Em todos os processos os preços de venda do produtor às distribuidoras também tem uma elevação de acordo com o aumento do investimento, de modo que o preço final ao consumidor, segundo PEREIRA, FONSECA e MULLER (2006) variou entre R$ 1,88 a R$ 1,92 por litro. Verifica-se que o preço do biodiesel de soja, do ponto de vista de comercialização torna-se não competitivo frente ao preço do óleo diesel.

3.3.2 Biodiesel - Mamona

No caso do biodiesel da mamona, segundo PEREIRA, FONSECA e MULLER (2006) o produtor que optar pelo processo A, terá de ter uma margem de lucro em torno de 150% sobre o custo de produção do biodiesel que é de R$ 1,72 por litro. Esta margem possibilita que o produtor a tenha o retorno do investimento e o condiciona a gerar receitas para cobrir os seus custos.

O preço de venda do produtor à distribuidora será de R$ 4,31 por litro. A produção 50.000 litros por mês gera uma receita em torno de R$ 215.623.20. A incidência do PIS e da Cofins é de 34,7% sobre a receita bruta mensal e a incidência representa quase 2% da receita total. Segundo PEREIRA, FONSECA e MULLER (2006) na simulação do preço final ao consumidor, o resultado do preço ao consumidor, ficou em torno de R$ 1,89 por litro.

No processo B para que o produtor possa obter o retorno do investimento e gerar receitas para cobrir os seus custos, terá de ter uma margem de lucro em torno de 200% sobre o custo de produção do biodiesel que é de R$ 1,57 o litro.

PEREIRA, FONSECA e MULLER (2006) aponta que com a produção de 50 mil litros por mês, o produtor terá uma receita de R$ 235.932,84. A incidência dos impostos federais será de 34,7% sobre a receita bruta mensal e a incidência do ICMS será em torno 3,02% sobre a mesma receita. O preço de bomba, ficou em torno de R$ 1,90.

E no caso processo C, o produtor terá de ter uma margem de lucro em torno de 300% sobre o custo de produção do biodiesel. Com a produção de 50 mil litros por mês, o produtor terá uma receita de R$ 304.801,12, sendo que o subproduto glicerina representa quase 4% da receita total. A incidência dos impostos federais é de 34,7% e dos impostos estaduais é de 3,3% sobre a receita bruta mensal. O preço de venda do produtor para as distribuidoras será de R$ 5,65 o litro. Na simulação do preço final, obteve-se o valor de R$ 1,93 o litro.

Segundo PEREIRA, FONSECA e MULLER (2006) o aumento de investimentos no emprego de novas máquinas e equipamentos, por um lado reduz o custo de produção do biodiesel, mas por outro o investimento é tão elevado que o produtor será obrigado a aumentar a sua margem de lucro para gerar receitas maiores a fim de cobrir os custos elevados.

Deve-se notar segundo análise de PEREIRA, FONSECA e MULLER (2006) que no caso do biodiesel da mamona, mesmo a margem de lucro sendo elevada ainda assim é menor do que a margem de lucro do biodiesel da soja. No biodiesel da soja a margem de lucro representou o seu valor limite de até 6 vezes o custo do biodiesel. No biodiesel na mamona a margem de lucro representou o seu valor limite de até 3 vezes do custo do biodiesel. A margem de lucro de biodiesel da mamona é menor do que o biodiesel de soja, pelo fato de que os custos de produção do biodiesel da mamona, são maiores do que o da soja, o que provoca a redução na margem de lucro.

  • Retorno do Investimento

Para complementar análise de viabilidade, PEREIRA, FONSECA e MULLER (2006) utilizou-se dois métodos convencionais de retorno de investimento: Valor Presente Líquido (VPL) e Taxa Interna de Retorno (TIR). Sendo visto, sob a ótica dos custos de produção, o preço de venda do produtor à distribuidora e o preço final ao consumidor são elevados, o que aponta que o projeto é técnica e economicamente inviável.

Segundo PEREIRA, FONSECA e MULLER (2006) a investigação era saber se a produção do biodiesel era técnica e economicamente viável no norte paranaense. Juntado as peças desse quebra cabeça concluiu-se preliminarmente que o projeto era inviável dado que o biodiesel é menos competitivo do que o óleo diesel mineral, por conta dos elevados custos de produção. Dado a resposta insatisfatória, simulou-se o preço final que convergiu para a hipótese de inviabilidade econômica, obtendo o preço final do biodiesel maior do que o seu substituto perfeito mais próximo – o diesel.

Embora esta questão assume hipoteticamente que o produtor tenha um certo poder de mercado, dado que está inserido num mercado incipiente em que a "qualquer preço ofertado" ele terá demanda para o seu produto. Segundo PEREIRA, FONSECA e MULLER (2006) isto porque a utilização desse combustível alternativo será compulsória, conforme previsto em lei. Isto não quer dizer literalmente que o produtor irá cobrar o preço que desejar, mas um preço mais elevado do que o óleo diesel, tendo um preço limite máximo determinado pela ANP na negociação entre o produtor e a distribuidora. Pelos resultados obtidos, essa é a hipótese que parece explicar melhor a viabilidade do biodiesel.

Sob este ponto de vista PEREIRA, FONSECA e MULLER (2006) elaborou o fluxo de caixa para a produção de biodiesel da soja e da mamona, contemplando todos os processos tecnológicos. No fluxo de caixa, deve-se notar que além da receita e dos custos, é apresentado também a amortização dos empréstimos pelo programa de financiamento de máquinas e equipamentos para a produção do Biodiesel concedido pelo BNDES. Considerando que o produtor possa financiar até 80% do valor das máquinas, para o processo A, B e C o valor a ser financiado corresponde à R$ 240.000,00, R$ 400.000,00 e R$ 648.000,00 respectivamente. A taxa de juros do valor do financiamento é de 15% ao ano, o que corresponde a 1,31% ao mês. Se o produtor fizer o financiamento em até 60 parcelas o que corresponde a 5 anos, o resultado das parcelas mensais será de R$ 5.808,26, R$ 9.675,39 e R$ 15.669,43 para os processos A, B e C, respectivamente. Tais valores são comuns para os produtores de biodiesel de soja e mamona.

  • Biodiesel – Soja

Segundo PEREIRA, FONSECA e MULLER (2006) considerando o processo A o fluxo de caixa mensal será de R$ 34.690,42, sendo que o valor presente líquido é maior que zero, correspondendo a R$ 26.006,58. A taxa interna de retorno será de 2,4% ao mês.

O processo B, gera um fluxo de caixa de R$ 51.065,73 no primeiro mês e R$ 52.557,48 para os meses seguintes. O valor presente líquido é maior que zero correspondendo a R$ 20.487,98, e a taxa interna do investimento esta em torno de 1,8% ao mês.

Já o processo C, o fluxo de caixa será de R$ 79.771,95 para o primeiro mês e R$ 81.263,70 para os meses subseqüentes. O valor presente líquido é positivo correspondendo a R$ 25.433,20, sendo que a taxa de retorno interna é de 1,7% ao mês.

Para PEREIRA, FONSECA e MULLER (2006) em todos os processos, verifica-se que o valor presente líquido é maior do que zero o que indica que o produtor consegue cobrir os seus custos de investimento e resta um valor adicional que poderá ser reinvestido. A taxa de mercado alternativa é de 15% ao ano o que corresponde a 1,25% ao mês. Sendo assim a taxa interna de retorno dá ao produtor uma remuneração mensal do investimento maior que a taxa de mercado, o que indica que o projeto é viável.

3.4.2 Biodiesel – Mamona

Segundo PEREIRA, FONSECA e MULLER (2006) o fluxo de caixa para o processo A é de R$ 50.275,24, sendo que o valor presente líquido é de R$ 198.675,68. A taxa interna de retorno será de 9,1% ao mês.

O processo B, gera um fluxo de caixa de R$ 57.131,40 no primeiro mês, e de R$ 58.623,15 para os meses subseqüentes. O valor presente líquido corresponde a R$ 87.691,38, sendo que a taxa interna de retorno está em torno de 3,6% ao mês. No processo C, o fluxo de caixa será de R$ 86.727,50 para o primeiro mês, e de R$ 88.219,25 para os meses seguintes. A taxa interna de retorno será de 3,1% ao mês.

Segundo PEREIRA, FONSECA e MULLER (2006) em todos os processos, o valor presente líquido é positivo, o que garante a cobertura dos seus investimentos e mais um valor adicional que pode ser reinvestido. A taxa interna de retorno do investimento é maior do que a taxa de mercado, que dá rentabilidade ao projeto.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Verificou-se neste trabalho que a caracterização do biodiesel se dá através do processo de transisterificação de óleos, que além do biodiesel, extrai-se a glicerina, que é um subproduto do biodiesel e matéria-prima para outras cadeias produtivas, tais como tintas adesivas, produtos farmacêuticos e têxteis.

Surgindo mundialmente como uma alternativa promissora aos combustíveis minerais, derivados do petróleo. O caráter renovável torna o produto uma fonte importante de energia no longo prazo. Outra característica importante é a sua contribuição para a melhoria da qualidade do ar, devido a redução na emissão de gases poluentes e enxofres.

Verificou-se que o maior país produtor e consumidor de biodiesel é a Alemanha, responsável por aproximadamente 42% da produção mundial. Sua produção é feita a partir da colza, produto utilizado principalmente para nitrogenização do solo. Para o caso brasileiro, que tem suas dimensões continentais e com grande diversidade climática, o Brasil apresenta condições inigualáveis para o plantio de oleaginosas com propósito para produzir biodiesel, com profundas repercussões sociais, ambientais e econômicas.

Entre as culturas mais citadas, e das quais já há experiências sendo realizadas, estão a soja, a mamona, o dendê e o girassol. Mas existem ainda o amendoim, a canola, o coco, o babaçu e o algodão; hoje produzidos com outras finalidades, que também poderão ser aproveitados, pelo menos em parte, na produção de biodiesel. Embora essas mais conhecidas, há o pinhão manso, o nabo forrageiro, o pequi, o buriti e a macaúba, com grande potencial.

Este trabalho apresentou um modelo de estudo de viabilidade técnica e econômica para produção de biodiesel, voltada para o Norte Paranaense, em uma etapa agrícola e industrial, na região de Maringá-PR, verificando a capacidade produtiva e custos de produção, e viabilidade de investimentos, na compra de maquinários para serem empregados no processo produtivo em uma pequena planta industrial.

Verificou-se a receita, margem e lucro, tributos e preço final do biodiesel na bomba de combustível. Para complementar a análise de viabilidade, utilizou-se dois métodos convencionais de retorno de investimento: Valor Presente Líquido (VPL) e Taxa Interna de Retorno (TIR).

Os resultados em todos os processos, como mamona ou soja, o valor presente líquido é positivo, o que garante a cobertura dos seus investimentos e mais um valor adicional que pode ser reinvestido. Sendo a taxa de retorno do investimento maior que a taxa de mercado, que dá rentabilidade ao projeto.

REFERÊNCIAS

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TODA FRUTA. Informações técnicas. Disponível em: . Acesso em: 10 jun. 2007.

WIKIPEDIA. Biodiesel. Disponível em . Acesso em

03 de maio de 2007.

AGRADECIMENTOS

A Professora Mestre Orientadora, Maria Andrade Pinheiro, braço amigo de todas as etapas deste trabalho; que compartilhou seu amplo conhecimento, com atenção e dedicação nos momentos de dificuldades, incentivando-me a ir até o fim, minha gratidão.

Aos meus pais, Sr. Domingos e Dona Joana, que apesar das dificuldades enfrentadas, souberam criar seus três filhos, com humildade e dignidade.

Aos meus filhos Allyson e Aline, pela confiança e motivação.

A minha esposa Luzia, pelo carinho e compreensão nos momentos de minha ausência, estando sempre a meu lado, sem ela isto não seria possível.

Aos amigos e colegas, pela força e pela vibração em relação a esta jornada.

Ao Professor Carlos Vinícius Maluly, Diretor Geral, pela grande capacidade e oportunidade proporcionada.

A Professora Ester Hinterlang de Barros, Diretora de Ensino, em especial, pela dedicação a instituição.

Aos professores e colegas de Curso, pois juntos trilhamos uma etapa importante de nossas vidas.

Aos professores que hoje não se encontram em nosso ambiente de estudos, mas que foram de suma importância para que esta jornada chegasse ao termino.

Aos profissionais e contemporâneos, pela concessão de informações valiosas para a realização deste estudo.

A todos que, com boa intenção, colaboraram para a realização e finalização deste trabalho.

Aos meus superiores e chefes, que permitiram minhas freqüências em todas as aulas durante esta jornada.

" há dois tipos de pessoas: as que fazem coisas, e as que dizem que fizeram as coisas – tente ficar no primeiro tipo, há menos competição. "

Indira Ghandi

A Deus, aos meus pais, minha esposa e filhos...

companheiros de todas as horas...

 

 

Autor:

Remi Eleotério de Souza

remi_leoterio[arroba]hotmail.com

FANORPI - FACULDADE DO NORTE PIONEIRO

DEPARTAMENTO DE ECONOMIA

CURSO DE CIÊNCIAS ECONOMICAS

Santo Antônio da Platina-PR

12 de Dezembro de 2007

Monografia apresentada ao Curso Ciências Econômicas, da Faculdade do Norte Pioneiro – FANORPI, para satisfazer as exigências da disciplina monografia, à obtenção da Graduação em Ciências Econômicas sob orientação da professora Maria Andrade Pinheiro.

Orientadora: Profª Mestre Maria Andrade Pinheiro.

Coordenadora da Disciplina: Profª Mestre Maria Andrade Pinheiro.

COMISSAO EXAMINADORA:

Profª Mestre Maria Andrade Pinheiro

Prof. Mestre Alessandro Garcia Bernardelli

Prof. Mestre Daniel Ferreira Gonçalves

FANORPI - Faculdade do Norte Pioneiro


[1] Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar.

[2] 2 Assume a hipótese de que tal projeto de viabilidade contempla o processo tecnológico de transesterificação alcoólica.

[3] Processo semi-contínuo, cujo produção opera ao redor de 8 a 12 horas por dia.

[4] Para obter os preços de mercado do óleo de soja e mamona, levou-se em consideração os valores relativos em dólar (US$), realizando as devidas conversões tomando como base o valor do dólar comercial em 20.out.2005 à R$ 2,34.

[5] Pesquisa referente a novembro de 2005.



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