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O burnout e os enfermeiros (página 2)

Mário Teixeira

Características e consequências do burnout

De acordo com Gisbert (2002), algumas características do burnout são as seguintes:

  • Não desaparece com as férias.
  • Não se identifica com a sobrecarga de trabalho nem com a fadiga.
  • Pode ser provocado por um trabalho desmotivador.
  • Resulta de um prolongado processo, por factores organizacionais, clima e cultura laboral.
  • Afecta sobretudo os profissionais de educação e de saúde.
  • As características pessoais são variáveis moduladoras, em contraste com os factores situacionais e ambientais.
  • As características negativas (falta de assertividade, baixa auto-estima, dependência e escasso envolvimento) tendem a gerar burnout.
  • Paradoxalmente, as pessoas entusiastas, idealistas e com grande nível de envolvimento no seu trabalho apresentam maior risco de burnout.

No que diz respeito às consequências do burnout encontram-se tantas na literatura, que se torna difícil nomeá-las todas. Gil-Monte (2003), sistematiza as consequências do burnout a nível individual e organizacional. Ao nível do indivíduo podem existir sintomas como distanciamento emocional, sentimentos de solidão, alienação, impotência, omnipotência, ansiedade, cinismo, apatia, hostilidade, suspeição, agressividade, mudanças bruscas de humor, irritabilidade e problemas somáticos como alterações cardiovasculares, respiratórias, imunológicas, sexuais, musculares, digestivas e do sistema nervoso. Ao nível organizacional, registam-se uma deterioração da qualidade dos cuidados, diminuição da satisfação laboral, absentismo laboral elevado, aumento dos conflitos interpessoais entre colegas, utentes e supervisores e, portanto, uma diminuição da qualidade de vida no trabalho.

O burnout nos enfermeiros

Existem muitos estudos sobre o burnout em enfermeiros onde são analisadas diferentes variáveis e apresentados resultados muito diferentes, o que demonstra a complexidade do fenómeno. No entanto, e de um modo geral, todos indicam que os enfermeiros são particularmente vulneráveis a esta síndrome.

Segundo Spooner-Lane (2004), os primeiros estudos que investigaram o burnout em enfermeiros mostraram que a síndrome estava positivamente correlacionada com a quantidade de tempo que os enfermeiros passam com os doentes, com a intensidade das exigências emocionais destes e com o cuidar de doentes com mau prognóstico. Os estudos mais recentes, diz a mesma autora, mostram que está associado a factores relacionados com o trabalho, tais como sobrecarga laboral, baixo nível de suporte, conflitos interpessoais, contacto com a morte e preparação inadequada.

Howard (1998) realizou um estudo junto de enfermeiras de hospitais canadianos e verificou que factores organizacionais como ambiguidade, conflito de funções e autonomia eram componentes importantes do fenómeno, e que variáveis pessoais como locus de controlo externo, identidade profissional e feminilidade levavam a experienciar o burnout.

Uma investigação japonesa feita por Imai et al. (2004) comparou o burnout entre enfermeiras psiquiatras comunitárias e enfermeiras de saúde pública e concluiu que ele era maior nas primeiras do que nas segundas, com uma prevalência de 59.2%.

Muller (2004) estudou a ocorrência de burnout em profissionais (enfermeiros, técnicos e auxiliares) num hospital brasileiro e verificou que os enfermeiros tinham maiores níveis de exaustão emocional quando comparados com os técnicos e auxiliares, sendo a exaustão emocional maior nos enfermeiros com menor tempo de experiência profissional.

Gil e Vairinhos (1997), referem os estudos de Nunes (1990) e Mendes (1996) sobre o burnout em enfermeiros portugueses. Nunes (1990) realizou um estudo em enfermeiros de hospitais centrais, distritais e centros de saúde e concluiu que apresentavam um nível médio de burnout, sendo este mais elevado nos enfermeiros hospitalares. O estudo de Mendes (1996), realizado com enfermeiros da área de psiquiatria, demonstrou que os factores pessoais eram mais importantes que os factores ligados ao ambiente e que, quanto maior a satisfação no trabalho, menor era a ocorrência de burnout.

Gil e Vairinhos (1997) estudaram os níveis de burnout em enfermeiros de serviços de urgência geral e psiquiátrica de hospitais centrais. Verificaram que os da urgência geral (jovens, maioritariamente do sexo feminino e solteiros, com nível de escolaridade superior e com pouca experiência profissional) tinham nível médio de burnout, enquanto que os da urgência psiquiátrica (mais velhos, maioritariamente do sexo masculino e casados, com nível de escolaridade mais baixo e mais anos de profissão) tinham um nível baixo.

O burnout surge nos enfermeiros de todo o mundo, em diferentes contextos de trabalho, levando-os a desenvolver sentimentos de frustração, frieza e indiferença em relação às necessidades e ao sofrimento dos doentes. Por isso, é importante desenvolver estratégias de prevenção e tratamento.

Prevenção e tratamento do burnout

Segundo Gil-Monte (2003), as estratégias de prevenção e tratamento do burnout podem ser agrupadas em três categorias: individuais, grupais e organizacionais.

As estratégias individuais referem-se à formação em resolução de problemas, assertividade, e gestão do tempo de maneira eficaz.

As estratégias grupais consistem em buscar o apoio dos colegas e supervisores. Deste modo, os indivíduos melhoram as suas capacidades, obtêm novas informações e apoio emocional ou outro tipo de ajuda.

Finalmente, as estratégias organizacionais, muito importantes porque o problema está no contexto laboral, consistem no desenvolvimento de medidas de prevenção para melhorar o clima organizacional, tais como programas de socialização para prevenir o choque com a realidade e implantação de sistemas de avaliação que concedam aos profissionais um papel activo e de participação nas decisões laborais.

Portanto, é preciso que a prevenção e o tratamento do burnout sejam abordados como problemas colectivos e organizacionais e não como um problema individual.

No caso dos enfermeiros, medidas como evitar o excesso de horas extras, proporcionar condições de trabalho atractivas e gratificantes, modificar os métodos de prestação de cuidados, reconhecer a necessidade de educação permanente e investir no aperfeiçoamento profissional (por exemplo, formação em assertividade), dar suporte social às equipas e fomentar a sua participação nas decisões, etc., podem contribuir para a prevenção do burnout.

Conclusões

O burnout caracteriza-se por exaustão emocional, despersonalização e falta de realização pessoal. Pode avaliar-se através de diversos instrumentos, sendo o Maslach Burnout Inventory (MBI) o mais utilizado.

A síndrome tem consequências a nível individual e organizacional e está descrita como um problema de saúde laboral com alta prevalência nos enfermeiros.

Esta profissão confronta-se com escassez de pessoal, trabalho por turnos, contacto diário com a doença, o sofrimento e a morte, falta de autonomia e de participação nas tomadas de decisão, rápidas mudanças tecnológicas, respostas inadequadas das chefias aos problemas organizacionais (burocracia profissionalizada), etc.

A primeira medida para evitar a aparecimento do burnout é conhecer as suas manifestações. Assim, é preciso que todos os enfermeiros tenham conhecimentos sobre a síndrome, sendo também necessário que as organizações de saúde implementem medidas de prevenção e tratamento a nível individual, grupal e organizacional.

Bibliografia

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BORGES, L. et al.- A síndrome de burnout e os valores organizacionais: um estudo comparativo em hospitais universitários. Psicologia: Reflexão e Crítica, 2002, 15, 189-200.

DÍAZ-MUÑOZ, Mª. - Síndrome del quemado en profesionales de Enfermería que trabajan en un hospital monográfico para pacientes cardíacos. Nure Investigación, nº 18, 2005.

FARINA H. - Sofrimento psíquico: um estudo entre médicos e enfermeiros em um hospital de Manaus. Manaus: Fundação Oswaldo Cruz, 2004. Dissertação de Mestrado.

GIL, C. e VAIRINHOS, C. - Síndrome de burnout em enfermeiros de serviços de urgência geral e psiquiátrica de hospitais centrais. Lisboa: ESE Maria Fernanda Resende, 1997. Trabalho de investigação realizado no âmbito do 1.º Curso de Estudos Superiores Especializados de Administração de Serviços de Enfermagem.

GIL-MONTE, P. - El Síndrome de Quemarse por el Trabajo en Enfermería. Revista Eletrônica InterAção Psy. Ano 1, nº 1, 2003,19-33.

GISBERT, M.ª - Estrés laboral en el personal sanitário. Fisioterapia. 2002, 24 (monográfico 1), 33-42. www.doyma.es. 05-12-2005.

HOWARD, M.- Investigating the nomological network of variables impacting on burnout among nurses. Ottawa: University of Ottawa, 1998. Tese de Doutoramento.

IMAI, H. et al. - Burnout and work environments of public health nurses involved in mental health care. Occupational and Environmental Medicine. 2004, 61, 764-768.

MULLER, D. - A síndrome de burnout no trabalho de assistência à saúde: estudo junto dos profissionais da equipe de enfermagem do Hospital da Santa Casa da Misericórdia de Porto Alegre. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2004. Dissertação de Mestrado.

SILVA, F. - Burnout: um desafio à saúde do trabalhador. Psi- Revista de Psicologia Social e Institucional. Vol. 2, nº 1, 2000. www2.uel.br/ccb/psicologia/revista/textov2n15.htm.

SPOONER-LANE, R. - The influence of work stress and work support on burnout in public hospital nurses. Queensland: University of Technology, 2004. Tese de Doutoramento.

 

Lic. Mário Teixeira

Especialista em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica

teixema[arroba]gmail.com



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