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Ensaios ecotoxicológicos com metais pesados em larvas de ucides cordatus (página 2)


Ucides cordatus pode apresentar um grande porte na fase adulta, e por isso essa espécie é utilizada como fonte de alimento em várias regiões brasileiras e grande parte da população caiçara dependem da pesca desse crustáceo, principalmente nas regiões norte e nordeste (IVO & GESTEIRA, 1999).

O benzeno é uma fonte em potencial de contaminação de áreas de manguezais. A utilização de U. cordatus como bioindicador parece viável, pois uma breve exposição ao benzeno é capaz de causar mudanças metabólicas significativas, podendo comprometer processos vitais, Toledo, (1999); Santos, (2002) apud por Castilho-Westphal et. al (2008).

A utilização de U. cordatus como bioindicador também pode ser realizada para avaliação da presença de poluentes contendo metais pesados (CORRÊA JR. ET AL., 2000; HARRIS E SANTOS, 2000).

Os testes de toxicidade podem ser classificados como "agudos" ou "crônicos", em função do tempo de exposição dos organismos à substância tóxica e do tipo de efeito a ser observado (RAND ET. AL. 1985).

Nos testes agudos, organismos são expostos a altas concentrações de um contaminante por um curto período de tempo, geralmente 48 a 96 horas, e os resultados são analisados estatisticamente para obtenção da CL (concentração letal) ou CEp (concentração efetiva) a uma dada porcentagem dos organismos.

Nos testes crônicos são observados efeitos letais ou subletais, como inibição do crescimento, reprodução e alterações morfológicas. Estas observações ocorrem durante um período de exposição considerado longo, geralmente de 48 horas a 10 dias, dependendo do ciclo de vida do organismo-teste (NIPPER, 2002, RAND & PETROCELI, 1985).

Os resultados são analisados estatisticamente para obtenção da CL ou CI (concentração inibitória a uma dada porcentagem da população-teste).

Geralmente, o valor da porcentagem mais utilizada é 50%, resultando na CL50 (concentração da amostra que é letal a 50% dos organismos expostos), CE50 (concentração da amostra que causa um efeito subletal a 50% dos organismos expostos), ou CI50 (concentração da amostra que é inibitória a 50% dos organismos expostos) (NIPPER, 2002).

3.2 PREPARAÇAO DA SOLUÇAO ESTOQUE

A solução estoque de cádmio (3mg/L) foi preparada em béquer através de adição de Acetato de Cádmio (VETEC) diluído em água marinha filtrada por UV, sendo homogeneizada em agitador magnético (Biomixer 78 HW-1). Após a homogeneização, a solução estoque foi colocada em provetas de vidro para sucessivas diluições em água marinha.

A demais solução estoque de ferro (150 mg/L), cobre (24 mg/L) e zinco (0,3 mg/L) foram preparadas seguindo a metodologia descrita anteriormente, utilizando Cloreto de Ferro (CRQ), Sulfato de Cobre (CRQ) e Cloreto de Zinco (CRQ). Antes de serem utilizadas nos ensaios as soluções estoques foram diluídas em água marinha a fim de se obter as diferentes concentrações utilizadas.

3.3 MATERIAL BIOLÓGICO

Após a andada no maguezal do Piraquê-mirim em Aracruz, as fêmeas ovadas foram coletadas e levadas ao laboratório para desovarem. As larvas liberadas foram selecionadas através de iluminação (fototaxia positiva), acondicionadas em tanques com água à temperatura de 24 ºC e salinidade de 31 onde foram mantidas por 48 horas antes de serem utilizadas no ensaio toxicológico.

Durante este período, as larvas foram mantidas na densidade de 1 larva/ 20 mL, alimentadas com dieta à base de rotíferos (Brachionus rotundiformis), microalgas (Chatoceros muelleri e Nannochloropsis oculata) e náuplios de Artemia franciscana. Diariamente os tanques eram sifonados a fim de retirar detritos (resto de alimento, indivíduos mortos, fezes, etc) que decantavam. Para iniciar o experimento, as larvas foram selecionadas ao acaso com auxílio de pipetas e transferidas para os recipientes plásticos onde permaneceram durante os testes.

3.3.1 Testes ecotoxicológicos

Os testes utilizando os metais citados acima foram realizados separadamente com dois metais de cada vez. O primeiro ensaio foi feito com Ferro e Zinco, e o segundo com Cádmio e Cobre.

Ambos foram testes agudos com duração de 96 horas e as larvas foram colocadas em recipientes plásticos com um volume de 50 ml. Cada recipiente continha um indivíduo, e de cada tratamento foram feitas vinte réplicas. Foi usado um volume de 30 mL de solução em cada recipiente, não foi usada aeração e o fotoperíodo foi de 12 horas/luz. Para esse controle, as réplicas foram colocadas dentro da câmara germinadora TECNAL (TE - 401) - controle de fotoperíodo e temperatura. A leitura do experimento era feita a cada 24 horas com quantificação e retirada dos indivíduos mortos. A toxicidade foi medida em termos de efeitos sobre a sobrevivência. Sendo considerado válido o teste com percentual de sobrevivência do controle maior ou igual a 80% dos indivíduos.

Além da mortalidade, foi analisado se a larva exposta ao poluente estava viva, ou seja, muito ativa, com natação voluntária ou se estava em estado letárgico, aparentemente sem natação voluntária ou com pouca mobilidade. Se depois de estimulado (com uma pipeta de Pasteur) o indivíduo não demonstrasse qualquer tipo de movimento ele era considerado morto.

A dieta foi à base de Artemia franciscana mantidos na concentração de 3 náuplios/ mL e fornecida duas vezes durante cada experimento (de acordo com as normas da ABNT).

No início e ao final do período experimental foi realizada análise de qualidade da água para verificar os parâmetros: concentração de oxigênio - multiparâmetro (HANNA), salinidade e pH (phmeter, model PHS-3B). Além destes, também foi verificado a intensidade luminosa no luxímetro digital LD 510 da ICEL, e esta foi controlada a 500 lux. A temperatura foi monitorada durante o experimento a 24 ºC pela câmara de germinação.

3.3.1.1 Ensaio I

O primeiro teste teve início no dia 13 de abril de 2009 e término no dia 17 de abril de 2009. As condições inicias foram: salinidade de 31,4; teor de oxigênio de 3,0; pH 8,0.

Foram utilizadas cinco concentrações distintas e um controle (sem adição de metal) em cada ensaio, de acordo com as normas da ABNT. As concentrações foram baseadas na Resolução do CONAMA 357 para águas salinas classe 1.

As concentrações de Ferro usadas após a diluição foram 0,0 mg/L; 0,3 mg/L (concentração limite permitida pelo CONAMA); 0,5 mg/L;1,0 mg/L; 5,0 mg/L e 10,0 mg/L. As de Zinco foram 0,0 mg/L; 0,01 mg/L; 0,05 mg/L; 0,09 mg/L (CONAMA); 0,2 mg/L0,3 mg/L.

Os 100 recipientes plásticos (cinco concentrações citadas anteriormente) com larvas expostas ao Ferro, e os 100 recipientes das larvas expostas ao Zinco foram armazenados na câmara germinadora com os recipientes abertos.

Foram usadas 40 réplicas para o controle, com uma larva em cada recipiente, correspondendo 20 réplicas para o ensaio com ferro e 20 para o ensaio com o zinco. Da mesma forma que nas soluções com poluentes, os recipientes do controle também foram mantidos abertos dentro da câmara germinadora.

Devido à utilização de controle indiferenciado entre os dois poluentes, a mortalidade do controle foi analisada em porcentagem, sendo que para ser considerado válido o teste, a porcentagem de indivíduos mortos não pode ser superior à 20%.

3.3.1.2 Ensaio II

O segundo teste foi iniciado no dia 17 de abril de 2009 e término em 21 de abril de 2009. As condições inicias foram: salinidade de 31,5; teor de oxigênio de 3,6; pH 7,4.

Foram utilizadas cinco concentrações distintas e um controle (sem adição de metal) em cada ensaio, de acordo com as normas da ABNT. As concentrações foram baseadas na Resolução do CONAMA 357 para águas salinas classe 1.

As concentrações de Cádmio usadas foram 0,0 mg/L; 0,001 mg/L; 0, 005 mg/L (CONAMA); 0,01 mg/L; 0,04 mg/L 0,8 mg/L. As concentrações utilizadas no experimento com exposição ao cobre foram 0,0 mg/L; 0,005 mg/L (CONAMA);0,01 mg/L; 0,078 mg/ 1,0 mg/L; 5,0 mg/L foram.

Os 100 recipientes plásticos (cinco concentrações citadas anteriormente) com larvas expostas ao Cádmio, e os 100 recipientes das larvas expostas ao Cobre foram armazenados na câmara germinadora com os recipientes fechados.

A metodologia usada para o controle do ensaio II, foi a mesma usada no ensaio I com um total de 40 réplicas para os dois poluentes. Porém, os recipientes foram mantidos fechados durante o experimento.

3.4 ANÁLISES ESTATÍSTICAS

Para análises estatísticas, foi utilizado o Programa Bioestati 3.0 com a utilização de métodos estatísticos não-paramétricos que implicam ordenação ascendente das variáveis, sendo suas principais vantagens as variáveis não dependerem da distribuição da população e não serem afetadas pela presença de valores aberrantes. Para isso, transformaram-se os dados em logaritmos e foi realizada a correlação de Spearman que se baseia na ordenação de duas variáveis sem qualquer restrição quanto à distribuição de valores, sendo considerados como estatisticamente significativos os valores de p, onde p>0,05 não confere correlação e p<0,05 confere correlação.

4 RESULTADOS E DISCUSSAO

4.1 LEGISLAÇAO BRASILEIRA

A Resolução CONAMA 20 de 18/06/1986 é genérica e aplica-se a todos os efluentes e substâncias lançados em corpos hídricos receptores. Esta Norma classifica as águas doces, salobras e salinas com base em seus usos preponderantes em nove classes. Para cada classe foram estabelecidos limites e condições específicas com base em parâmetros físicos, físico-químicos, biológicos (coliformes totais e fecais) e químicos. Apesar de não ter utilizado o termo toxicidade, o artigo 12 da Resolução CONAMA 20 de 18/06/1986 ressalta que "os padrões de qualidade estabelecidos nesta Resolução constituem-se em limites individuais para cada substância, e considerando as eventuais ações sinérgicas entre as mesmas, estas ou outras não especificadas, não poderão conferir às águas características capazes de causarem efeitos letais ou alterações de comportamento, reprodução ou fisiologia da vida" (BRENDOLAN, 2004).

4.2 ENSAIO I

As condições finais do experimento foram: salinidade de 36,1; concentração de oxigênio de 2,9; pH 8,00. Os parâmetros de qualidade da água não apresentaram diferença entre o início e final do ensaio, exceto para salinidade que houve um aumento significativo, provavelmente devido à evaporação, já que os recipientes estavam abertos, tendo em vista que para os crustáceos decápodos, a salinidade pode afetar o crescimento, a sobrevivência e o desenvolvimento larval.

A quantidade de indivíduos mortos em cada concentração foi contabilizada a cada 24 horas. Os potes eram retirados da câmara germinadora, e com o auxílio de uma lupa a mobilidade dos indivíduos era testada. Com o diagnóstico da morte da larva, o recipiente era retirado do experimento e os indivíduos considerados letárgicos eram repostos nos recipientes e continuavam no experimento.

As larvas que estavam em estado de letargia foram contadas diariamente, porém, não há indícios que comprovem que uma larva letárgica em uma leitura necessariamente foi encontrada morta na leitura seguinte, pois os recipientes eram analisados aleatoriamente e os quais encontravam-se indivíduos letárgicos não eram identificados.

A mortalidade do controle foi de 12,5 %, que por estar dentro dos padrões utilizados (mortalidade de até 20%), torna o teste válido.

4.2.1 Ferro

No ambiente o Ferro é oxidado primeiramente à forma ferrosa e, então, à forma férrica. O estado férrico do Ferro é muito propenso a sofrer hidrólise e formar polímeros e hidróxido de ferro insolúvel, geralmente denominado ferrugem (O"NEIL, 1991; HUEBERS, 1991). Devido a esse comportamento, o ferro é raramente encontrado na natureza na sua forma elementar, exceto o de origem meteorítica (O"NEIL, 1991; HUEBERS, 1991; SIENKO, 1977). Aparece geralmente combinado com oxigênio, enxofre e silício, formando os minérios de ferro (SIENKO, 1977). As águas dos mares são contaminadas através do despejo de efluentes municipais e industriais diretamente nesse meio.(ILO, 1997).

Existem duas formas de contaminação ambiental de ferro. A primeira é a contaminação natural causada pelo desgaste natural das rochas que contém minério de ferro, meteoritos e escoamento superficial do metal (KROSCHWITZ, 1995). A segunda é a ação antropogênica. Ela pode ser de origem industrial com as emissões pelas atividades de mineração, fundição, soldagem, polimento de metais e o uso de compostos de ferro como agente antidetonante da gasolina (ILO, 1997); de origem urbana com os efluentes de esgotos municipais e industriais e o escoamento superficial urbano (ABUHILAL, BADRAN, 1990).

A quantidade de indivíduos encontrados mortos a cada 24 horas no experimento foi contabilizada e correlacionada à concentração a qual a larva estava exposta (tabela 1).

Tabela 1 – Quantidade de larvas mortas por dia em cada concentração (Fé).

[Ferro] / Tempo (h)

24h

48 h

72 h

96h

Total

0,3 mg/L

0

1

0

0

1

0,5 mg/L

1

0

0

0

1

1,0mg/L

2

0

0

1

3

5,0 mg/L

0

0

0

0

0

10,0 mg/L

2

0

0

0

2

A solução feita com o ferro originou um problema para o experimento. Principalmente nas concentrações de 5 e 10 mg/l foi verificado precipitação de ferro no fundo do recipiente entre as 24 e 48 horas posteriores ao início do experimento. Esse fator provavelmente explica a baixa mortalidade de indivíduos nas maiores concentrações, nos dias subseqüentes, já que o esperado era uma maior mortalidade nas concentrações mais altas, devido a uma maior taxa de poluente absorvido.

Analisando a curva de mortalidade de ferro (Figura 1), verifica-se nitidamente que a maior concentração onde não houve precipitação do ferro (1,0 mg/L), teve maior percentual de mortos.

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Figura 1 – Curva de mortalidade de Ferro em percentual.

Além disso, é perceptível a baixa absorção do poluente pelas larvas devido à precipitação do ferro, quando o fator letargia é analisado.

Observando a figura 2, pode-se perceber que ao contrário do esperado, as maiores concentrações possuíram poucos indivíduos letárgicos, enquanto as concentrações mais baixas, onde houve maior diluição do ferro com conseqüente maior absorção do poluente, foi observado altas taxas de larvas estáticas, apesar da mortalidade não ter sido consideravelmente alta.

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Figura 2 – Número de larvas letárgicas por concentração / dia.

De acordo com o coeficiente de Spearman não há correlação entre as concentrações deste metal e mortalidade (p = 0,74).

4.2.2 Zinco

Segundo Brendolan, 2004, o zinco é usado na produção de ligas ou na galvanização de estruturas de aço, podendo também ser um aditivo de certas borrachas e tintas. Uma das ligas mais importantes de zinco é o bronze, que consiste na mistura deste elemento com o cobre. O zinco pode ainda utilizar-se como eletrodo nas vulgares pilhas secas.

Por ser um micronutriente, numerosas espécies de animais marinhos mostram-se capazes de acumular e regular o zinco nos tecidos até mesmo em concentrações consideradas altas. O acúmulo do zinco por organismos pode ocorrer da água, alimento e/ou sedimentos (BRENDLONAN, 2004).

A quantidade de indivíduos encontrados mortos a cada 24 horas no experimento foi contabilizada e correlacionada à concentração a qual a larva estava exposta (tabela 2).

Tabela 2 - Quantidade de larvas mortas por dia em cada concentração (Zn).

[Zinco] / Tempo (h)

24h

48h

72h

96h

Total

0,01 mg/l

1

1

0

1

3

0,05 mg/l

1

0

2

1

4

0,09mg/l

1

1

0

1

3

0,2 mg/l

0

0

0

6

6

0,3 mg/l

0

1

0

6

7

Nas larvas expostas ao zinco percebe-se uma mortalidade aleatória em relação ao dias, porém, correlacionada à concentração exposta. É possível verificar que de acordo com o esperado, foi encontrado maior percentual total de mortalidade nas duas concentrações mais altas e menor nas menores concentrações (Figura 3).

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Figura 3 - Curva de mortalidade de Zinco em percentual.

 

Além disso, foi observada alta correlação positiva (r=0,8986) significativa (p =0,0149) entre as concentrações deste metal e a mortalidade larval ao final do período (Figura 4). Indicando que ocorre um aumento na mortalidade quando submetidos a maiores concentrações.

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Figura 4 – Correlação entre concentração x mortalidade

Analisando o fator letargia, de acordo com a figura 5, foram encontrados a partir da 48 horas subseqüentes ao início do experimento, maior número de indivíduos letárgicos nas duas maiores concentrações.

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Figura 5 - Número de larvas letárgicas por concentração / dia.

4.3 ENSAIO II

As condições finais do experimento foram: salinidade de 31,5; oxigênio dissolvido de 3,6; pH 8,09. Os parâmetros de qualidade da água não apresentaram diferença entre o início e final do ensaio.

A quantidade de indivíduos mortos em cada concentração foi contabilizada a cada 24 horas. Os potes eram retirados da câmara germinadora, eram abertos, e com o auxílio de uma lupa a mobilidade dos indivíduos era testada. Com o diagnóstico da morte da larva, o recipiente era retirado do experimento e os indivíduos considerados letárgicos eram repostos nos recipientes e continuavam no experimento.

As larvas que estavam em estado de letargia foram contadas diariamente, porém, não há indícios que comprovem que uma larva letárgica em uma leitura necessariamente foi encontrada morta na leitura seguinte, pois os recipientes eram analisados aleatoriamente e os quais encontravam-se indivíduos letárgicos não eram identificados.

Não foi verificada mortalidade no controle. O fato dos recipientes ficarem fechados durantes o experimento e a salinidade ter sido mantida constante, pode ter contribuído para evitar mortes naturais como ocorreu no ensaio I. Estando dentro dos padrões utilizados (mortalidade de até 20%), o teste foi considerado válido.

4.3.1 Cádmio

A principal fonte de lançamento de Cádmio na atmosfera é a atividade vulcânica. As emissões ocorrem tanto durante os episódios de erupções como em períodos de baixa atividade.

A distribuição vertical do cádmio dissolvidos em águas de oceano caracteriza-se por quantidades menores na superfície e um enriquecimento em águas profundas, o que pode ser correlacionado com os níveis de nutrientes nessas áreas, o que se deve à absorção do cádmio pelo fitoplâncton em águas superficiais, seu transporte para o fundo, incorporado a fragmentos biológicos e subsequente liberação. Pode ainda ocorrer o enriquecimento das águas superficiais em áreas onde haja correntes marítimas ascendentes, o que leva à elevação nos níveis do metal no plâncton sem que haja uma correlação com atividade antropogênica (WHO, 1992).

Tem utilização em recobrimento de aço e ferro por ser altamente resistente à corrosão. É usado em parafusos, fechaduras, partes de aeronaves, motores de veículos, equipamentos marítimos e industriais (HSCB, 2001; ILO,1998). Segundo Ilo,1998, pode ser usado como estabilizador em plásticos PVC, como pigmentos amarelo e vermelho para plásticos e vidros, como componente de baterias de celulares e é constituinte de ligas fundíveis metálicas e de latão.

A quantidade de indivíduos encontrados mortos a cada 24 horas no experimento foi contabilizada e correlacionada à concentração a qual a larva estava exposta (tabela 3).

Tabela 3 - Quantidade de larvas mortas por dia em cada concentração (Cd).

[Cádmio] /Tempo(h)

24h

48h

72h

96h

Total

0,001 mg/l

0

1

0

0

1

0,005 mg/l

0

0

1

1

2

0,01mg/l

0

0

0

1

1

0,04 mg/l

0

0

0

0

0

0,8 mg/l

0

1

3

13

17

Nos teste com exposição ao cádmio, uma correlação diária foi observada, onde na maioria das concentrações tiveram aumento morte gradual com o passar dos dias, com exceção da segunda (que a taxa de mortes se manteve) e da quarta concentração (que não houve mortes). Porém, o percentual total de mortes de cada concentração foi aleatória (Figura 6), tendo maior percentual na maior concentração, entretanto, a concentração 0,005 mg/L possuiu um percentual maior de mortalidade do que 0,01 mg/L e 0,04 mg/L, o que desvirtua do resultado esperado.

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Figura 6 - Curva de mortalidade de Cádmio em percentual.

 

A letalidade dos indivíduos com exposição ao cádmio, seguiu de uma forma aproximadamente constante, onde as maiores concentrações apresentaram maior quantidade de larvas letárgicas principalmente nos últimos dias do teste.

Nas primeiras 24, não foram encontradas larvas estáticas, da mesma forma que não foram encontradas larvas mortas nesse período. Nas últimas 24 horas, não houve nenhum indivíduo letárgico na maior concentração exposta, todavia, 17 larvas já haviam morrido (Figura 7).

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Figura 7 - Número de larvas letárgicas por concentração / dia.

De acordo com o Coeficiente de Spearman não há correlação significativa entre as concentrações deste metal e mortalidade (p=0.3809).

4.3.2 Cobre

O cobre é amplamente distribuído na natureza no estado elementar, como sulfetos, arsenitos, cloretos e carbonatos. Por estar presente na crosta terrestre, a principal fonte natural de cobre são as poeiras. Outras fontes naturais são os vulcões, os processos biogênicos, incêndios florestais e névoas aquáticas. Os ventos por possibilitarem a movimentação do metal depositado no solo da superfície terrestre, são importantes na distribuição do metal emitido pelas fontes naturais para a atmosfera (WHO, 1998).

É também distribuído através do meio ambiente pela precipitação e fluxo das águas que transportam as partículas. Dependendo deste fluxo, as partículas se depositam e formam os sedimentos, por isso uma fonte importante nos ambientes aquáticos são os organismos mortos (WHO, 1998).

É a partir do cobre metálico que se obtêm os principais compostos de cobre de uso industrial. A combinação única das propriedades do metal, durabilidade, condutividade elétrica e térmica e maleabilidade, determinam sua ampla aplicação como: ligas, manufatura de fios e condutores, galvonoplastia, utensílios de cozinha, tubulações residenciais, manufatura de moedas, inseticidas; fungicidas; algicidas; desinfetantes, tintas antiincrustantes, baterias, eletrodo e pigmentos (PEDROZO & LIMA).

A quantidade de indivíduos encontrados mortos a cada 24 horas no experimento foi contabilizada e correlacionada à concentração a qual a larva estava exposta (tabela 4).

Tabela 4 -Quantidade de larvas mortas por dia em cada concentração (Cu).

[Cobre] / Tempo(h)

24h

48h

72h

96h

Total

0,005 mg/l

0

0

0

0

0

0,01 mg/l

0

0

0

0

0

0,078mg/l

0

0

0

0

0

1,0 mg/l

0

1

0

1

2

1,5 mg/l

1

4

5

7

17

Houve um aumento gradativo diário de mortes na maior concentração utilizada. Isso pode ser comprovado quando se analisa a curva de mortalidade (Figura 8) que demonstra um percentual total de 85% de mortalidade na concentração 1,5 mg/L, enquanto morreu apenas 10% da concentração de 1,0 mg/L. Essa diferença pode ser justificada pelo grande intervalo entre as duas concentrações, intervalo esse que é muito menor entre as demais, as quais não foram contabilizadas mortes.

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Figura 8 -Curva de mortalidade de Cádmio em percentual.

A letargia foi observada de forma uniforme, onde concentrações mais altas tiveram maior número de indivíduos letárgicos, exceto no último dia, onde já haviam morrido 17 indivíduos da concentração 1,5 mg/L, logo sobrara apenas 3 indivíduos, os quais apresentaram-se letárgicos (Figura 9).

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Figura 9 - Número de larvas letárgicas por concentração / dia.

As concentrações mais baixas não tiveram indivíduos letárgicos, o que ratifica o fato de não ter sido encontrados larvas mortas.

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Figura 10 – Correlação entre concentração x mortalidade

Os resultados revelam uma correlação positiva entre as concentrações e salinidade, sendo o teste estatisticamente significativo (p=0.0341), podemos sugerir que o aumento na concentração deste metal promove um aumento na mortalidade dos indivíduos (Figura 10).

5 CONCLUSAO

A contaminação de ambientes marinhos é muito comum e de forma espontânea, muitas vezes por ação do homem e na maioria dos casos por ação da própria natureza. Uma contaminação na água ou no sedimento pode contaminar os seres vivos que habitam a região de formas e com intensidades diferentes. É de suma importância o estudo da ecotoxicologia para tentar descobrir o limite que os seres vivos que são expostos aos poluentes podem suportar e analisar os danos que causados pelos contaminantes. O caranguejo-uçá é um dos crustáceos mais sensíveis à contaminação, principalmente nas fases larvais. Por isso, larvas de Ucides Cordatus, foram utilizadas no presente trabalho, expondo-as a diferentes concentrações de diferentes metais.

Ao final dos experimentos, pode-se concluir, que os metais zinco e cobre foram mais prejudiciais às larvas em suas concentrações mais altas, havendo correlação entre a concentração do metal e a mortalidade da larva. Entretanto, o ensaio com o ferro não deu um resultado satisfatório, porém, esperado já que houve precipitação desse metal. No teste feito com cádmio, foi verificada maior percentual de mortes na maior concentração, porém, as outras concentrações desvirtuaram do resultado esperado, já que houve morte em concentrações baixas e não obtiveram em concentrações mais altas.

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Relatório apresentado à disciplina de Estágio Supervisionado II da Faculdade Salesiana de Vitória como requisito parcial de avaliação, sob a orientação do Msc. Rodrigo Matos de Souza e coordenação da Profª Cristiane Nazaré Barroso.

AGRADECIMENTOS

Algumas pessoas foram fundamentais para a elaboração desse trabalho. Gostaria de agradecer ao Luiz Fernando Loureiro Fernandes pela oportunidade de estagiar no Laboratório de Zooplâncton – cultivo de organismos marinhos, onde aprendi muito com pessoas importantes como Rodrigo Matos de Souza, pela orientação, Alexandre D"Ávila Charpinel e Bárbara Assis Cantarela pelo apoio durante os experiementos, e a todos que participaram comigo desse projeto, pois, sozinha não teria conseguido.

 

Autor:

Lorena Garioli Santos

logarioli[arroba]hotmail.com

FACULDADE SALESIANA DE VITÓRIA CURSO DE GRADUAÇAO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS BACHARELADO

VITÓRIA

2009



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