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Estudo de alternativas para melhoria da segurança na colheita de laranja (página 2)


Escadas com a base mais larga que o topo e às vezes com o acréscimo de um apoio formando um tripé são comuns no mercado americano, mas no Brasil são pouco usadas. Aqui, em geral, as escadas apresentam a mesma largura da base até o topo (longarinas paralelas). Com o intuito de minimizar a condição de instabilidade lateral, que favorece a ocorrência de quedas, CORRÊA et al. (2009) estudaram modificação estrutural (colocação de sapatas, tipo "mão francesa" com largura de 20 cm na base da escada até a altura do primeiro degrau) que proporcionou um melhor apoio no solo devido ao aumento da área de contato e reduziu a possibilidade da escada ficar sustentada por apenas uma longarina quando o colhedor tenta alcançar um fruto um pouco mais distante. Considerando que ainda existem muitas empresas preocupadas em melhorar seu sistema de colheita, objetivou-se estudar alternativas para melhorar de forma ampla o conforto e a segurança do sistema de colheita manual de laranja e, se possível, aumentando a produtividade do colhedor.

2. METODOLOGIA.

O trabalho foi realizado no mês de novembro de 2015 em pomares citrícolas nos municípios de Monte Azul Paulista e São Miguel Arcanjo. Em Monte Azul Paulista o terreno era plano e em São Miguel Arcanjo o terreno apresentava uma pequena declividade.

Em reuniões (tipo "brainstorming") com pessoas do setor produtivo foram levantadas ideias e propostas alternativas ao sistema utilizado na propriedade, optando-se por três sistemas de colheita com diferentes modelos de escada e um modelo de sacola. Um dos fatores que norteou o trabalho foi tentar retirar a sacola do ombro do colhedor. Uma vez sem a sacola, o trabalhador teria uma condição mais segura e confortável, o que poderia aumentar sua produtividade. Os modelos de escadas foram: 1° - escada de alumínio com bacia e duto de lona e sacola fixa na base da escada, 2° - escada de alumínio com bacia, duto de PVC, rodas e sacola fixa na base da escada, 3° - escada de alumínio e sacola alternativa, denominada "pano de colheita com abas" apoiada no solo debaixo da copa da árvore. Nesse sistema os frutos derriçados, são jogados sobre o pano. Todas as escadas foram construídas com 12 degraus, tendo mão francesa na base. O pano foi confeccionado em ráfia com dimensões de 2,5 m X 4 m e aba de 20 cm.

As escadas e o pano com abas podem ser vistos nas Figuras de 1 a 4. A escada convencional (Figura 5) tomada como referência era construída em metalon.

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Figura 1: Escada com bacia e duto de lona.

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Figura 2: Escada com bacia, duto de PVC e rodas

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Figura 3: Escada de alumínio apoiada sobre o pano com abas

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Figura 4: Detalhe da escada de alumínio com sapatas estabilizadoras tipo mão francesa.

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FIGURA 5 – Escada convencional utilizada na propriedade.

Antes da realização do ensaio propriamente dito, foi feito um teste preliminar para se adequar o sistema e elaborar uma rotina de trabalho de modo que os colhedores se familiarizassem com os novos modelos e a eficiência pudesse atingir sua plenitude. Neste teste todos os novos modelos foram submetidos ao trabalho.

Após as primeiras tentativas de colheita utilizando os dois modelos de escadas com dutos os colhedores apresentaram dificuldade de mantê-las na vertical, pelo fato de serem longas e possuírem um peso (bacia) na ponta, o que inviabilizou a sua adoção. Assim, em função destes resultados preliminares, optou-se por avaliar apenas o modelo de escada de alumínio com longarinas paralelas, mão francesa na base e derriça sobre o pano (denominado sistema alternativo) em comparação ao sistema convencional (escada de metalon sem mão francesa).

Foram realizadas quatro repetições para o sistema convencional e três para o sistema alternativo em duas condições distintas de colheita: terreno plano (Monte Azul Paulista) e com declive (São Miguel Arcanjo). O número de repetições diferentes num sistema e outro ocorreu devido à uma dificuldade decorrente da rotina dos colhedores no tempo previsto para o ensaio.

Um estudo de tempos foi utilizado para avaliar os dois sistemas. Na colheita convencional foram avaliados: o tempo gasto para encher uma sacola e o tempo gasto para levar e descarregar a sacola no big bag. O tempo total é a soma desses tempos e corresponde ao tempo para encher uma sacola por colhedor.

No sistema de colheita alternativa (escada sobre pano) os colhedores trabalharam em dupla e o pano foi colocado sob três árvores. Foram determinados: o tempo gasto para colocar o pano debaixo das árvores, o tempo gasto na derriça, tempo para retirar o pano debaixo das árvores e o tempo para encher a sacola e transportá-la até o big bag, e a contagem do número de sacolas enchidas com as laranjas contidas no pano. Para possibilitar a comparação do sistema alternativo com o convencional determinou-se o tempo equivalente à colheita de uma sacola utilizando apenas um colhedor. Este tempo corresponde ao dobro do tempo que leva o sistema em dupla, o que foi obtido fazendo-se:

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Sendo Monografias.como tempo equivalente/sacola/colhedor no sistema alternativo

3. RESULTADOS E DISCUSSAO.

Os resultados da avaliação final são mostrados nos Quadros de 1 a 5.

Quadro 1 – Valores obtidos para os tempos operacionais do sistema convencional (corresponde à colheita de uma sacola por um colhedor) em Monte Azul Paulista

Parâmetros

Repetições

Média

R1

R2

R3

R4

Tempos operacionais

__________.min __________

Colher na sacola

2,25

2,08

2,93

2,60"

2,42

Transportar até o big bag e descarregar

0,47

0,63

0,82

0,75

0,67

Total/sacola/colhedor

2,72

2,72

3,75

3,35

3,14

Quadro 2 – Valores obtidos para os tempos operacionais e de produção de duas pessoas do sistema na colheita com pano em Monte Azul Paulista

Parâmetros

Repetições

Média

R1

R2

R3

Tempos operacionais

__________.min __________

Estender o pano

3,67

2,90

3,80

3,46

Derriçar no pano

18,25

12,00

14,53

14,93

Retirar o pano

2,70

1,15

2,35

2,07

Carregar e transportar

7,73

6,70

7,25

7,23

Total

32,58

22,75

24,22

26,52

Produção (nº de sacolas)

20

12

14

15,33

Tempo equival./ sacola/colhedor

3,26

3,78

3,46

3,50

Quadro 3 – Valores obtidos para os tempos operacionais do sistema convencional (corresponde à colheita de uma sacola por um colhedor) em São Miguel Arcanjo

Parâmetros

Repetições

Média

R1

R2

R3

R4

Tempos operacionais

__________.min __________

Colheita

3,20

2,42

2,45

2,75

2,71

Transporte

0,53

0,48

0,65

0,80

0,62

Total/sacola/colhedor

3,73

2,90

3,10

3,55

3,32

Quadro 4 – Valores obtidos para os tempos operacionais e de produção de duas pessoas do sistema na colheita com sacolão em São Miguel Arcanjo

Parâmetros

Repetições

Média

R1

R2

R3

Tempos operacionais

__________.min __________

Estender sacolão

1,62

1,98

2,93

2,18

Derriçar

14,13

16,77

21,97

17,62

Retirar sacolão

1,33

1,15

1,25

1,24

Carregar e transportar

9,08

8,87

10,72

9,56

Total

26,17

28,77

36,87

30,60

Produção (nº de sacolas)

13

15

16

14,67

Tempo equival./ sacola/colhedor

4,03

3,84

4,61

4,16

Observou-se que o sistema alternativo melhorou o conforto e a segurança do colhedor pelo fato do trabalhador não precisar carregar a sacola durante o tempo de colheita, o que lhe proporcionou maior mobilidade sobre a escada e principalmente quando este tenta alcançar a laranja levemente fora de alcance. A empresa já havia adotado algumas práticas para melhorar o conforto dos colhedores como a realização de 15 minutos de alongamento no início do turno da manhã e à tarde. Também orientou os colhedores para que no alto da escada eles apoiassem a sacola no degrau e a carregassem até a metade, evitando a carga máxima quando estivessem no alto. Estas práticas melhoraram significativamente o desempenho individual do colhedor no sistema convencional tornando-o mais eficiente quando comparado ao sistema alternativo. No recolhimento das frutas do pano para a sacola, entretanto, o tempo gasto fez com que a produção do colhedor fosse reduzida além de apresentar problemas relacionados à postura do colhedor (Figura 6).

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Figura 6 – Postura do colhedor recolhendo as frutas para a sacola

Apesar da melhora no conforto do colhedor, o sistema alternativo não foi vantajoso por apresentar queda na produção individual dos colhedores, pois para uma pessoa colher uma sacola foram gastos 3,83 minutos, em média, contra 3,23 minutos, em média, no sistema convencional, ou seja, um aumento de 18,38%, como se pode ver no Quadro 5. Além disso,necessita de maior número de sacolas por trabalhador o que representa um ponto negativo para o sistema.

Quadro 5 - Comparativo de tempos totais nos dois sistemas

Local

Sistemas

Diferença

porcentual

convencional

alternativo

min/sacola/colhedor

%

Monte Azul

3,14

3,50

11,46

São Miguel Paulista

3,32

4,16

25,30

Média

3,23

3,83

18,38

O que poderia favorecer o sistema com pano é a possibilidade de se mecanizar a última operação de carregamento, uma vez que as laranjas, ao final da colheita, se encontram amontoadas sobre o pano como mostra a Figura 7.

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Figura 7: Laranjas amontoadas sobre o pano com abas

4. CONCLUSÕES.

As escadas com bacia e duto, pelo fato de serem longas e possuírem um peso (bacia) na ponta, dificultaram o manuseio, não tendo boa aceitação pelos colhedores.

O sistema com pano, apesar de oferecer uma condição de conforto melhor ao colhedor, pelo fato de não precisar utilizar a sacola sobre a escada, não foi vantajoso na questão da produtividade individual.

Para que o sistema com pano possa representar algum avanço, seria necessário eliminar as operações de carregamento manual e transporte, substituindo-os por um carregamento mecânico, o que necessitaria alterar a estrutura atual de colheita, inclusive o sistema de pagamento por produção.

Das alternativas estudadas, apenas o uso de escadas de alumínio com sapatas estabilizadoras na base teve boa aceitação e tem potencial para adoção.

AGRADECIMENTO

Agradecemos ao Consórcio de Empregadores Rurais Monteazulense pela possibilidade de realização de estudos através do apoio financeiro e logístico ao projeto, bem como pela abertura de novas possibilidades de estudos na colheita.

5. BIBLIOGRAFIA.

CORRÊA, I.M.; MELLO, R.da C.; YAMASHITA, R.Y.; RAMOS,H.H. Modificação de escada visando melhoria da segurança na colheita manual de citrus. Revista Brasileira de Agrociência, v.15, n1, p 109-114, Pelotas 2009

COSTA, Simone Emmanuelle Alves. Análise ergonômica do trabalho de colheita de citros: comparativo dos métodos de colheita manual e semimecanizado. São Carlos, 2013. 152p. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção). Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, Universidade Federal de São Carlos, 2013

KAN-RICE, P. UC Farm Safety Program gives tips for a safe citrus harvest. Out, 2003. Disponível em < http://news.ucanr.org/newsstorymain.cfm?story=516>. Acesso em 06/12/07.

MASCARIN, Leonardo Sanches. Caracterização de sistemas de colheita e desenvolvimento de técnica para a obtenção de mapas de produtividade para citros. Piracicaba, 2006. 77p. Dissertação (Mestrado em Agronomia). Programa de Pós-Graduação em Máquinas Agrícolas, Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz/Universidade de São Paulo, 2006.

MILES, J. A., STEINKE, W. E. Citrus Workers Resist Ergonomic Modifications to Picking Ladder. Journal of Agricultural Safety and Health. ASABE, St. Joseph, v.2, n.1, p.7-15, 1996.

YAMASHITA, R. Y.; LIMA, V. E. DE; SERRANO, R. Métodos de trabalho em citros. In: CONGRESSO LATINO AMERICANO, II., SEMINÁRIO BRASILEIRO DE ERGONOMIA, VI., Florianópolis, Anais, 1993.

 

Autores:

Roberto da Cunha Mello

rcmello[arroba]iac.sp.gov.br

Pesquisador Científico do Centro de Engenharia e Automação do Instituto Agronômico, Rod. D. Gabriel Paulino Bueno Couto km 65 CEP 13212-240, Jundiaí, São Paulo, Brasil. (autor para correspondência);

Ila Maria Corrêa

ilamaria.correa[arroba]gmail.com

Pesquisadora Científica do Centro de Engenharia e Automação do Instituto Agronômico,

Ronie Álvaro de Campos

ronnie.campos[arroba]consorciomap.com.br

Carlos Dinei da Costa

carlos.dinei[arroba]consorciomap.com.br

Gestores de Operação de Colheita do Consórcio de Empregadores Rurais Monteazulense, Monte Azul Paulista, São Paulo, Brasil



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