Fé e Poder no Cristianismo e no Budismo na Atualidade



Este texto procura explorar as relações entre fé e poder no cristianismo e no budismo utilizando a vertente da Teologia da Libertação latino americana e o budismo mahayana ou grande veículo de salvação. Apresentamos essencialmente dois textos, o primeiro de João Batista Libâneo, eminente teólogo brasileiro e o segundo do Lama Padma Santem, também brasileiro, com grande experiência em trabalhos comunitários. O budismo vem se expandindo com força no ocidente e atrai muitas pessoas no Brasil graças a sua delicadeza e profunda erudição, ao passo que a Teologia da Libertação, ao lado de outras teologias críticas de raiz ocidental, se constitui, apesar das disputas internas à Igreja um enorme vigor capaz de vivificar as arcaicas estruturas em que o passado solidificou a fé num mundo marcado por pobreza, alienação, arbítrio político e outras mazelas. Pensamos assim que uma fé pode servir para esclarecer e servir de contraponto enriquecedor à outra.

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Em Fé e Política, João Batista Libâneo, S.J. elabora uma clara e bem articulada concepção acerca dos dois termos e de suas inter-relações. Ele procura perceber a autonomia de cada um desses termos e definir sua estrutura passando a investigar alguns pontos de sua mútua dependência sob a ótica do serviço que a fé pode oferecer à política e vice-versa.

Da mesma forma, assinala os muitos desserviços causados pelas intromissões indevidas de uma instância na outra. Trata-se de um texto em abstrato, isto é, no sentido de que o real e concreto da situação em que foi concebido está presente, mas não explicitado. São, portanto, reflexões teóricas para análise das práticas políticas de cristãos ou mesmo não cristãos do ponto de vista da pastoral.

Trata-se de um texto onde é claro o seu contexto, o processo moderno de morte da cristandade e nascimento de uma Igreja privatizada como contrapartida da afirmação da autonomia do espaço político. Essa dinâmica corresponde ao nascimento da ideologia liberal que significava laicismo ou afastamento da Igreja e da vinculação da fé face à política.

Modernamente, no mundo europeu dá-se o surgimento das chamadas teologias críticas, como a Teologia Política e a Teologia da Esperança e, na América Latina, a Teologia da Libertação. O objetivo destas é arrancar a fé da esfera privada e inseri-la de novo no mundo da política. Evita-se também a criação de uma nova cristandade de esquerda, que viria de uma redução da práxis da fé a decisões privadas de cada indivíduo, como apontam as teologias transcendental, existencial e personalista.

A Teologia da Libertação nasce como uma prática libertadora dentro de uma situação de opressão, na qual se tornou a perguntar pelo sentido da fé e pela posição da Igreja. Trata-se aí de fundar um espaço em que o dinamismo social da fé encontra nas práticas políticas sua concretização e se historiciza desta maneira. Não se trata, contudo, de traçar mediações absolutas entre fé e política, porque a fé continuará sempre com uma função crítica diante destas mediações, uma vez que ela tem uma dimensão escatológica, isto é, apontando para um horizonte sempre mais além.

Um dos fundamentos bíblicos dessa postura é a afirmação de Tiago de que a fé sem as obras é morta, ou seja, uma fé que não encontrasse mediações políticas e se reduzisse a uma fé privatizada e intimista. Por outro lado, as práticas políticas quando se tornam mediações concretas da fé não perdem autonomia assim como a fé não é despojada de sua originariedade transcendente. Há uma mútua articulação mas nenhuma se deduz da outra nem a existência de uma deles garante a existência de outras. A revelação não discorre sobre práticas políticas, mas práticas políticas e expressão de fé são uma unidade real na vida dos fiéis e da Igreja. Penso que o ponto do autor é que viver é sempre viver politicamente, independente de como se perceba a fé. Daí a importância das articulações e especificidades da fé e da política.

Percebe-se logo que o termo político permite diferentes acepções mais inclusivo de tudo que diga respeito às relações sociais ou mais intimista. De qualquer modo a esfera política é a esfera do poder que é visto dentro de qualquer ato de alcance social ou de atos mais diretamente referidos ao mundo formal da política.


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