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Centro de informação sobre medicamentos: necessidade de implantação em instituições de saúde (página 2)

Ivan Ricardo Zimmermann
Partes: 1, 2, 3

A efetivação de um CIM implica em alguns requisitos básicos como profissional qualificado, financiamento e infra-estrutura adequada, a qual exige uma área de no mínimo 30m2, linha telefônica e equipamentos de informática (OPAS, 1995). A necessidade de financiamento destina-se ao pagamento de salário aos funcionários, aquisição e renovação das fontes bibliográficas e aquisição de materiais (D, ALESSIO; BUSTO; GIRÓN, 1997). Basicamente, as fontes de informação estão estruturadas em fontes primárias, secundárias, terciárias e alternativas (Pla et al., 2002). Tendo acesso às diferentes fontes, o CIM deve aplicá-las de acordo com a necessidade da situação, analisando qual a melhor fonte para cada solicitação. O CIM deve submeter-se ao processo de garantia de qualidade. Este avalia as características físicas do CIM, o processo da informação em relação ao prazo da resposta, bibliografia consultada e a qualidade da informação da resposta, devendo ser avaliada por quem utiliza o serviço (SISMED, 2004).

Considerações finais: Diante da relevante importância das informações sobre medicamentos confiáveis e a dificuldade em obtê-las, a efetivação de um CIM traz às mãos dos profissionais da saúde uma ferramenta extremamente útil e crucial em muitas situações. Apesar disso, a disponibilidade desse serviço ainda não supre as necessidades de vários setores da saúde. Esta precária assistência de informação, principalmente no âmbito hospitalar, tem apresentado graves conseqüências. De certo modo, há necessidade de um investimento, no entanto, o mesmo torna-se inexpressível, a médio e a longo prazo. Isto porque muitas complicações e/ou insucesso terapêutico devem-se à indicação, emprego, preparação ou realização inadequada de procedimentos ou terapias medicamentosas, encarecendo o tratamento ou estadia do paciente nas intuições de saúde. Não se tratando apenas de um disseminador de informação e sim, se concretizando em um promotor de ensino e pesquisa, a implantação deste serviço torna-se imprescindível nas instituições de ensino, principalmente nos Hospitais Universitários.

1 Introdução

1.1 A crescente disponibilidade de medicamentos

Partindo de marcos como a teoria celular de Virchow, proposta em 1858; o primeiro uso de uma fórmula estrutural para descrever uma substância química em 1868 e até mesmo a descoberta de Pasteur sobre as bactérias como causa de doenças, em 1878; davam-se os passos para o desenvolvimento científico. Em 1860, os farmacêuticos tinham na produção de medicamentos a sua principal atividade; criavam preparações, indicavam e vendiam produtos em seus próprios estabelecimentos. Com o surgimento da indústria química, na década de 1870 os farmacêuticos já deixavam de produzir os medicamentos e direcionavam sua atividade principal para a manipulação de substâncias produzidas industrialmente de acordo com as instruções das prescrições (RAPKIEWICZ, 2006). Já no século XX, os medicamentos tornaram-se uma importante ferramenta nas mãos dos profissionais da saúde, contribuindo de modo significativo para a melhoria da qualidade e da expectativa de vida da população. Sendo resultado do grande desenvolvimento das ciências, notadamente da fisiologia, bioquímica, farmacologia, da química e do maior conhecimento das patogêneses de várias doenças, gerando uma introdução maciça de novos fármacos na terapêutica (Vidotti, 1999) Nos anos imediatamente posteriores à Segunda guerra Mundial, o desenvolvimento da síntese farmacêutica possibilitou a chegada ao mercado de uma tal quantidade de produtos que o período compreendido entre 1940 e 1960 ficou conhecido como "Idade de ouro" da indústria farmacêutica (Barros, 1995). Durante a década de 1990, ocorre um novo ciclo de desenvolvimento de fármacos, que tende a manter-se no século XXI (MCINTYRE, 1999).

Dispomos de medicamentos cada vez mais específicos, mais potentes e de manejo mais delicado, como conseqüência direta da descoberta de novos mecanismos fisiológicos, bioquímicos e farmacológicos e do desenvolvimento de novas formulações. Além disso, novos conceitos sobre farmacocinética e biodisponibilidade; como também a descrição de reações adversas e interações medicamentosas cada vez mais complexas, as interferências dos medicamentos na homeostase e nos resultados de exames de laboratório exigem do prescritor uma atualização constante (PARIS, 1987).

1.2 Promoção de medicamentos

Ao lado do grande benefício proporcionado pelos novos medicamentos, aparecem ou se intensificam os desvios provocados pela sua comercialização e seu consumo (VIDOTTI, 1999). Um dos agravantes desses desvios é a própria promoção de medicamentos. Essa última, definida como um processo complexo, envolvendo o convencimento dos prescritores, dispensadores e pacientes sobre as vantagens do produto por meio da divulgação dos resultados dos estudos relacionados ao seu desenvolvimento. Conforme a própria definição, a publicidade influencia o julgamento de usuários e prescritores sobre os medicamentos. Na mídia, obedecendo à lógica do livre comércio, os medicamentos são oferecidos à população como se fossem objetos de consumo (ANVISA, [2003?]b). O problema é que as estratégias de marketing são utilizadas muitas vezes com a finalidade de ampliar lucros em detrimento da qualidade da informação veiculada, ocultando ou diminuindo os aspectos negativos e superestimando os benefícios dos medicamentos (BRASIL, 2005).

A promoção não ética de medicamentos é um grande problema em muitos países, pois pode gerar uso irracional, por exemplo, através de prescrições e automedicação desnecessárias (BARROS, 1995; BARROS & JOANY, 2002; CAUDILL et al, 1996; LEXCHIN, 2002; MASTROIANNI; GALDURÓZ; CARLINI, 2003; MINTZES, 2002; PIZZOL; SILVA; SCHENKEL, 1999). Sendo a automedicação a utilização de medicamentos por conta própria ou por indicação de pessoas não habilitadas, para o tratamento de doenças cujo sintomas são percebidos pelo usuário, sem a avaliação prévia de um profissional da saúde. A propaganda muitas vezes induz e incentiva o consumo de determinado medicamento que nem sempre é o indicado para aquela necessidade (ANVISA, [2003?]b). De acordo com o tipo de medicamento, pode-se dizer que as ações da indústria farmacêutica, no que diz respeito à propaganda, estão voltadas para os prescritores, para os pontos de dispensação, ou seja, as farmácias e/ou para os consumidores. Independente da estratégia adotada, a qualidade da informação veiculada é essencial, no sentido de evitar o uso irracional de medicamentos e, conseqüentemente, danos à saúde e à economia (BRASIL, 2005). A entrega de amostras grátis para os médicos, as quais geralmente acompanham a publicidade dos medicamentos, influi de forma quase compulsiva na prescrição médica, evitando a análise objetiva e científica que se requer na consideração das alternativas de tratamentos (VIDOTTI; Silva; HOEFLER; 2003). Vários estudos têm demonstrado que propagandas são empregadas como fonte de informação pelos prescritores, sendo consideradas determinantes da prescrição (BRASIL, 2005).

Dentre as irregularidades mais comuns das propagandas de medicamentos, podemos ressaltar: Não mencionar a contra-indicação principal; Anunciar produtos sem registro; Sugerir a ausência de efeitos colaterais ou utilizar expressões como "segurança" e "tolerabilidade"; Não apresentar a advertência obrigatória; Apresentar comparações ou discriminações como, por exemplo, "o mais rápido", "o mais eficaz", sem a comprovação de estudos clínicos; Não apresentar referências bibliográficas completas; utilizar expressões como "sem contra-indicações" ou "produto natural"; entre outras (ANVISA, [2003?]b). Ainda, no Brasil, em um estudo publicado em 1998, de 250 peças publicitárias referentes a 28 produtos, veiculadas nas principais rádios do Rio Grande do Sul, 96% não apresentaram nome genérico, 89% não apresentaram dados quanto à composição, em 89% faltaram os dados de posologia e em 82% não foram apresentados os dados do laboratório fabricante. Em 100% das peças publicitárias não foram apresentadas as contra-indicações, os cuidados ou as advertências quanto ao uso, com a agravante de que em 39% das peças foi mencionado explicitamente "sem contra-indicação" ou "não tem contra-indicação" (HEINECK et al., 1998). Adendo ao assunto, Pizzol, Silva e Schenckel (1999) analisaram a qualidade de 127 peças publicitárias distribuídas em consultórios médicos no sul do Brasil, considerando as exigências da legislação brasileira e os Critérios Básicos para a Promoção de Medicamentos da OMS. Nenhuma das peças analisadas cumpriu na íntegra as exigências da legislação os autores concluíram que, na amostra estudada, as propagandas apresentaram como características para apregoar o produto, o nome genérico em segundo plano, a omissão de declarações quanto às precauções e a utilização de argumentos nem sempre verdadeiros, ou com margem a diferentes interpretações (PIZZOL; SILVA; SCHENKEL, 1999). Os autores também analisaram propagandas publicadas em revistas médicas, constatando lacunas e divergências quanto à qualidade. O que também foi resultado do trabalho de Barros e Joany (2000).

Lexchin (2002) salienta que a promoção de medicamentos continuará a ser um importante instrumento da indústria para aumentar a venda de seus produtos, sendo necessário conhecer e educar os profissionais de saúde e os consumidores sobre as limitações da promoção de medicamentos como fonte de informação sobre o tratamento. Além disso, é preciso determinar as possibilidades de dano decorrentes de propagandas equivocadas ou inadequadas ou inadequadas e determinar sua influência sobre prescritores e usuários.

Os governos, os organismos de regulamentação farmacêutica e as organizações profissionais necessitam conseguir que toda a informação sobre os medicamentos, proporcionada a prescritores e consumidores, bem como a investigação em que se baseiam, contribua para melhorar os dados científicos e os tratamentos, mais que as vendas (BOLETÍN DE MEDICAMENTOS ESENCIALES, 2002).

1.3 Explosão da informação

A informação é o produto obtido a partir de uma determinada combinação e interpretação de dados. Possibilita o conhecimento, a avaliação e o juízo sobre determinada situação. É um importante recurso para subsidiar o processo de tomada de decisão, de planejamento, de execução e de avaliação das ações desencadeadas (FERREIRA, 2001). Em contrapartida à evolução das ciências médicas e de outras ciências, a quantidade de informação aumentou exponencialmente, provocando o que se convencionou chamar de "explosão de informação" ou "avalanche de informação". Apesar da quantidade, essa informação nem sempre é de boa qualidade e imparcial; além disso, este volume de informação não é difundido de modo eficiente e ágil, de modo que os profissionais da saúde têm dificuldade em se manter atualizados (VIDOTTI; Silva; HOEFLER; 2003).

O farmacêutico e os cientistas da área têm constante necessidade de informação confiável e atualizada, e, no mundo moderno, a informação está em toda parte. Ela é apresentada na televisão e no rádio, enviada de computador a computador pela Internet, e passada de uma pessoa para outra usando telefone e fax. O grande desafio é separar as informações atualizadas das ultrapassadas, as confiáveis das questionáveis e as reais das imaginadas. Os profissionais e cientistas devem ser capazes de encontrar e identificar diferentes tipos de informação em uma variedade de formatos e mídias (BOWMAN; ADAMS; CHRISTOPHER, 2004).

1.4 Informação imparcial e de qualidade?

Somente a informação sobre medicamentos atual, imparcial e imune de pressões políticas e econômicas é que fornece aos profissionais da saúde subsídio seguro para que possam realizar uma avaliação crítica durante a escolha, prescrição, dispensação e administração dos medicamentos. Um grande problema é que a documentação que freqüentemente está ao alcance dos profissionais da saúde é aquela proporcionada pela indústria farmacêutica e, portanto, o enfoque tem um alto componente publicitário e comercial (VIDOTTI; Silva; HOEFLER; 2003). Prosser, Almond e Walley (2003) procuraram investigar alguns fatores que influenciam a prescrição de novos medicamentos por parte de médicos ingleses. Os autores mostram que a percepção de ineficácia e os efeitos adversos decorrentes da terapia que vinha sendo utilizada são os principais fatores que levam à alteração da prescrição. Contudo, as principais fontes para a escolha de uma nova terapia são as empresas farmacêuticas, especialmente os seus representantes, literatura de menor qualidade, a mídia e, em menor extensão, os colegas. Literatura científica ou fontes independentes de informação foram citadas por apenas 1 % dos entrevistados.

Na prática, sabe-se que o material sobre medicamento mais consultado, encontrado em estabelecimentos de saúde e demais setores da sociedade, é a sua própria bula. Quando não é consultada diretamente, utiliza-se de bibliografias inadequadas que as contêm. O que agrava o quadro é que às vezes essas bibliografias não apresentam o conteúdo da bula em sua integridade, podendo ocultar informações importantes. A Secretaria de Vigilância Sanitária tem publicado diversos modelos de bulas e exigido que as monografias de medicamentos sigam estes modelos. Apesar dessas tentativas de normatização, a qualidade de bulas de medicamentos comercializados no Brasil não é uniforme. Muitas, felizmente, são completas e corretas, embora algumas destas sejam verborrágicas. Outras merecem vários reparos; são freqüentemente, incompletas e contêm diversas incorreções. Dentre as críticas encontradas em Korolkovas (2004), quanto às bulas de medicamentos, podemos destacar as indicações terapêuticas indevidas; omissão de efeitos adversos; omissão de interações medicamentosas e omissão de contra-indicações ou abrandamento das mesmas. Por exemplo, muitos medicamentos são contra-indicados durante os períodos de gravidez e lactação, e a crianças até certa idade. As bulas em geral, em vez de assim informar nas contra-indicações, colocam em precauções expressões como as seguintes: "Informe ao seu médico se pretende engravidar ou se está amamentando"; "Os benefícios e os riscos da utilização deste medicamento durante a gravidez devem ser ponderados pelo médico assistente"; "A segurança do uso deste medicamento durante o aleitamento materno não está estabelecida"; "Não se recomenda a utilização deste medicamento em crianças com idade inferior a 12 anos" (KOROLKOVAS, 2004).

Um exemplo de bibliografia rotineiramente utilizada pelos profissionais da saúde é o Dicionário de Especialidades Farmacêuticas (DEF). Em um estudo de Barros (1995), 52% das respostas dos médicos entrevistados referiram o DEF como seu guia terapêutico de preferência. E é claro, sabe-se que este quadro não diverge muito quanto aos demais profissionais da saúde, inclusive os farmacêuticos. Comercializado por uma editora de publicações de natureza médica, o referido compêndio, com freqüência é distribuído gratuitamente por empresas farmacêuticas. Seu conteúdo é fruto de informações fornecidas aos editores pelas empresas fabricantes, sem antes passar pelo crivo de especialistas em farmacoterapia, dando muito mais a impressão de que se trata de um somatório de bulas, em um caso ou outro, mais completas (BARROS, 2000). Uma comparação feita por Barros (2000) entre as informações contidas no DEF sobre as 44 especialidades farmacêuticas mais vendidas e aquelas divulgadas nos compêndios americanos, Physician’s Desk Reference (PDR) e Drug Information for the Health Care Professional (USP-DI), tendo como parâmetro os Critérios Éticos para a promoção de Medicamentos da OMS. Os resultados mostraram uma enorme discrepância entre as informações constantes no DEF em relação aos compêndios americanos, principalmente no que diz respeito às contra-indicações, reações adversas e interações. Chegando a conclusão de que o DEF deixa de incluir dados essenciais para respaldar uma prescrição racional, minimizando usos inadequados e riscos potenciais.

1.5 A questão do uso racional de medicamentos

Segundo o documento intitulado "Uso Racional de los Medicamentos" resultante de uma conferência de especialistas, deixa claro que "para um uso racional é preciso que se prescreva o medicamento apropriado, que seja disponível e a um preço acessível, que se dispense em condições adequadas e que seja tomado nas doses indicadas e a intervalos e durante o tempo prescrito. O medicamento apropriado deve ser eficaz e de qualidade e segurança aceitáveis" (OMS, 1986). Na estratégia da OMS para 2004-2007, o uso inadequado de medicamentos é um dos principais desafios. Promover o uso racional de medicamentos é um dos objetivos-chave. Nesta área, destacamos as seguintes metas: "definição, difusão e promoção de informações sobre medicamentos independentes e confiáveis" e o "fomento da publicidade ética e responsável de medicamentos dirigida para profissionais de saúde e consumidores" (ANVISA, [2003?]a).

A Política Nacional de Medicamentos preconiza a reorientação da assistência farmacêutica, de modo que esta se restrinja apenas à aquisição e à distribuição de medicamentos, mas contribua para a transformação do modelo de atenção, priorizando o caráter preventivo das ações de promoção, de proteção e de recuperação da saúde (SCHENKEL et al, 2004). Uma política de uso racional de medicamentos é um componente muito importante de uma política nacional de medicamentos. Seu objetivo é contribuir para a saúde da população, ao melhorar o emprego de medicamentos pelos trabalhadores da saúde e seu uso pelos consumidores, e ao promover atividades no governo, na indústria e nos meios de comunicação em apoio à utilização racional de medicamentos (VIDOTTI et al, 2000).

A despeito dos inegáveis ganhos terapêuticos obtidos, os produtos farmacêuticos passaram a sofrer um uso indiscriminado e irracional (BARROS; JOANY, 2002). O uso indiscriminado não está relacionado somente à automedicação. Está relacionado à "medicalização", ou seja, uma forma de encontrar a cura para as doenças e promover o bem-estar usando exclusivamente o medicamento (ANVISA, [2003?]b). Na perspectiva do uso racional, o medicamento como parte do processo terapêutico não pode substituir medidas preventivas, reeducação alimentar, exercícios, ou mesmo a atenção de outros profissionais. Também não é aceitável, do ponto de vista da lógica clínica, considerar o tratamento farmacológico de forma isolada do tratamento não farmacológico (dieta, exercícios, medidas higiênicas). É necessária ainda uma análise crítica de todo o contexto (sócio-econômico e cultural) no qual está inserida a patologia – ou sintoma – devem ser contemplados e não podem ser, simplesmente, substituídos pelo medicamento. Além disto, todo medicamento possui um risco sanitário intrínseco, e mesmo os de venda sem prescrição médica, devem ser consumidos com consciência e responsabilidade (ANVISA, [2003?]a).

Dados comprovam que 25% a 75% dos antibióticos são prescritos inadequadamente, mesmo em hospitais universitários. Estudos realizados em farmácias de países em desenvolvimento têm encontrado que 90% dos consumidores compram antibióticos para três dias de tratamento ou menos, e 50% compram somente para o tratamento de um dia. Em média, 50% dos pacientes em todo o mundo não tomam os medicamentos corretamente (VIDOTTI et al., 2000). Há ainda uma estimativa de que um terço para a metade de todos os medicamentos são desperdiçados, com impactos negativos óbvios na economia e na saúde. Adicionalmente, o peso das doenças que não são bem tratadas e o abuso de antibióticos, levando à resistência aos microorganismos, acabam por tornar os tratamentos mais difíceis e também mais caros (VIDOTTI, 2004). A intoxicação pelo uso inadequado de medicamentos está entre as causas mais freqüentes de internações hospitalares, de prorrogação da internação ou até mesmo de morte (ANVISA, [2003?]b).

O treinamento de médicos e outros profissionais da área de saúde em boas práticas de prescrição e a prescrição com denominação genérica têm aumentado, e um razoável número de países está elaborando métodos criativos de educação pública para o uso racional de medicamentos. O Instituto de Medicina (Institute of Medicine, IOM) estima que o número de erros médicos anuais, nos Estados Unidos, resultando em mortes está entre 44.000 e 98.000 (Kohn et al., 1999). Também está claro que o grande número de erros médicos inclui os erros de medicação, resultando em reações adversas, incluindo morte. (MANGINO, 2004). A escolha inapropriada de medicamentos foi tida como um problema na prescrição médica. Como aprendido recentemente com os inibidores da ciclooxygenase 2, não se pode assumir que uma promessa farmacoterapêutica ou que sua popularidade é prova de sua superioridade clínica ou de segurança (TOPOL, 2004).

1.6 Algumas definições

Pode ser dito então que um medicamento é a soma do produto farmacêutico com a informação do mesmo. A qualidade da informação que acompanha um medicamento é tão importante quanto à qualidade do princípio ativo. Para contrapor-se às fontes de informação classificadas como comerciais, de má qualidade e tendenciosas, o Centro de Informação sobre Medicamentos (CIM) é uma alternativa para facilitar o acesso e a disponibilidade da informação, diminuindo os custos hospitalares pela racionalização do uso de medicamentos (VIDOTTI; Silva; HOEFLER; 2003). Existe uma série de definições ligeiramente diferentes relativa a Centro de Informação sobre Medicamentos e a Informação sobre Medicamentos. A escolha de uma delas não invalida as outras (OPAS, 1995). Sendo assim, Informação sobre medicamentos, "entende-se como o conjunto de conhecimentos e técnicas que permitem a transmissão dos dados sobre medicamentos, com a finalidade de otimizar a terapêutica, no interesse de pacientes e da sociedade" (PLA et al, 2002). Já o Centro de Informação sobre Medicamentos entende-se como "uma unidade funcional, estruturada com a direção de um profissional qualificado, na qual o objetivo e dar resposta à demanda de informação sobre medicamentos de forma objetiva em tempo útil, contribuir a uma correta seleção ao uso racional dos medicamentos, assim como promover uma terapêutica correta" (PLA et al, 2002). No II Encontro de Centros de Informação sobre Medicamentos do Brasil foi proposta uma outra definição: "Centro de Informação de Medicamentos é o local que reúne, analisa, avalia e fornece informação sobre medicamentos visando seu uso racional" (VIDOTTI et al, 2000). Os termos Centro de Informação sobre medicamentos e Serviço de Informação são às vezes usados como sinônimos embora existam diferenças. A literatura sugere que o primeiro deve denotar o local físico, e o último, a atividade desenvolvida neste local (STANOVICH, 1996). Entretanto, para a finalidade estratégica da atividade de informação sobre medicamento, é estabelecida uma hierarquia onde os Centros tem uma abrangência maior (Um País, Estado) e os Serviços são institucionais, atendendo a demanda de um hospital. Porem, o importante é a atividade desenvolvida e não a sua designação, seja Centro ou Serviço (OPAS, 1995; VIDOTTI et al, 2000).

1.7 Objetivos

  • Relatar um breve histórico e caracterizar o Centro de Informação sobre Medicamentos (CIM), assim como descrever suas atividades.
  • Definir as condições, estruturas e demais necessidades para a efetivação de um Centro de Informação sobre Medicamentos, que atue no âmbito hospitalar e/ou nos demais setores da saúde.
  • Relevar o papel do farmacêutico no serviço de informação sobre medicamentos.
  • Contribuir para mobilizar uma futura implantação de um CIM que, a princípio, promova assistência ao Hospital Universitário Professor  Polydoro Ernani de São Thiago, em Florianópolis.

2 DESENVOLVIMENTO

2.1 Histórico no mundo

O termo "informação sobre medicamentos" foi desenvolvido no inicio dos anos 60, usado em conjunto com as palavras centro e especialista. Em julho de 1962, foi criado o primeiro centro de informação sobre medicamentos do mundo, como sendo um serviço integrado a farmácia do centro médico da Universidade de Kentucky nos Estados Unidos da América (VIDOTTI et al, 2000). O propósito daquele centro era de organizar e tornar disponível a informação sobre medicamentos a todos os profissionais interessados na promoção de uma farmacoterapia mais racional, de facilitar a introdução de programas de treinamento nas escolas de medicina, odontologia e enfermagem, além de estudar os padrões de utilização dos medicamentos dos pacientes tratados naquele centro médico. O CIM também proporcionou aos farmacêuticos uma oportunidade maior de envolvimento nos problemas relativos à farmacoterapia nas instituições de saúde (AMERSON; WALLINGFORD, 1983; BURKHOLDER, 1963). Pretendia, ao mesmo tempo desempenhar um papel ativo na formação profissional de médicos, dentistas, farmacêuticos e enfermeiros. Outro objetivo estabelecido foi de sensibilizar os estudantes de farmácia para desenvolverem o papel de consultores em matéria de medicamentos (AMERSON; WALLINGFORD, 1983).

A experiência que os CIMs trouxeram para o desenvolvimento da farmacoterapêutica racional teve como conseqüência a rápida difusão desta atividade com a implantação de vários outros CIMs nos Estados Unidos. No primeiro levantamento, conduzido em 1973, 54 centros de informações sobre medicamentos foram detectados nos Estados Unidos. O número foi aumentando continuamente e, uma pesquisa realizada em 1980, registrou a existência de 96 CIMs, em 1992 foram identificados 117 CIMs (ROSENBERG et al., 1995). No ano de 2003 foram detectados, 152 CIMs nos Estados Unidos (LORRAINE; NATHAN; ROSENBERG, 2003).

Em seguida ocorreram à formação de CIMs no Canadá e na Europa, como no hospital de la Santa Cruz e San Pablo na Espanha em 1970, e no ano seguinte no hospital geral de Leeds na Inglaterra. Na América Latina os primeiros CIMs datam da década de 80 (VIDOTTI et tal, 2000).

Em 1981 foi implantado um CIM na Universidade Central da Venezuela, que posteriormente foi credenciado para difusão desta atividade ma América Latina (OPAS, 1995). Em 1986 foi implantado um programa de cooperação técnica entre o Centro de Informações de Medicamentos (CEDIMED), instalado na Universidade de Caracas-Venezuela, e a Organização Pan – Americana da Saúde – OPAS, dentro do Programa Regional de Medicamentos (PRME). O interesse da PRME em dar suporte aos CIMs, na qual baseia-se na necessidade de oferecer aos profissionais da saúde dos Países membros uma fonte de informação técnica - cientifica sobre medicamentos em apoio ao uso racional de medicamentos. Entre os fatores que iniciaram nesta decisão se mencionam: a insuficiência e operação inadequada de fontes independentes de informações, os altos custos da atenção relacionada com o uso inadequado de medicamentos, a necessidade de modificar padrões de prescrições e, a necessidade de elevar a qualidade e acessibilidade de informações de medicamentos. Como parte deste programa, foi oferecida a acessória técnica e o treinamento de pessoal dos países Centro-Americano, da região sub-andina e de Cuba, marcando o inicio das atividades de informações sobre medicamentos na Guatemala, El Salvador, Honduras, Nicarágua, Costa Rica, Panamá, Bolívia e Peru. Independentemente deste programa, o Chile e a Argentina implantaram seus CIM (OPAS, 1995).

"Em 1996, um levantamento do Diretório de Centros de Informações sobre medicamentos da OPAS/OMS constatou a existência de 25 centros em 15 países de língua espanhola e portuguesa na região das Américas" (OMS, 1996).

2.2 Histórico no Brasil e formação do Sistema Brasileiro de Informação sobre Medicamentos – SISMED

O primeiro registro de um CIM no Brasil data de 1979, no Serviço de Farmácia do hospital Universitário Onofre Lopes da Universidade Federal do Rio Grande do Norte em Natal. O CIM estava vinculado ao Setor de Farmácia Clinica e este ao serviço da farmácia. O setor de Farmácia Clinica foi instalado oficialmente no dia 15 de janeiro de 1979 e encerrou em dezembro de 1986 (VIDOTTI, 1999).

No ano de 1984 foi criado o Grupo de Estudos sobre Medicamentos, vinculado a Faculdade de Farmácia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre. Além de executar atividades técnicas como análise das bulas de medicamentos, o Grupo caracterizava-se também por fazer campanhas de esclarecimento à população sobre os cuidados, o uso correto e incorreto dos medicamentos. Um dos resultados do Grupo de Porto Alegre foi à publicação do livro Cuidados com os medicamentos, já em sua segunda edição, que nas palavras do organizador "é um livro elaborado com a preocupação de alertar o público em geral sobre os benefícios e os riscos da utilização de medicamentos". A mudança de atitude do consumidor em relação aos medicamentos também é uma meta, quando diz "Este trabalho pretende através das divulgações de informações técnicas sobre os riscos possíveis dos medicamentos, contribuir para a formação de consciência geradora de novos hábitos de consumo de medicamentos, disseminando informações sobre cuidados na sua aquisição, utilização e armazenamento" (SCHENKEL, 1996). As atividades desenvolvidas por este grupo estão intimamente relacionadas organizadas como um CIM, no entanto, não estão formalizadas como tal (VIDOTTI, 1999).

Em 1987, foi criado o Serviço de informação sobre medicamentos do Hospital Universitário Antonio Pedro, na Universidade Federal Fluminense, em Niterói-RJ. Este serviço tinha o objetivo de fornecer informações sobre medicamentos aos profissionais de saúde do próprio hospital, através de informações ativa e passiva (VIDOTTI, 1999).

Em 1992, o Conselho Federal de Farmácia (CFF), através da parceria com a OPAS – Organização Pan-Americana da Saúde possibilitou o treinamento do Farmacêutico Carlos Vidotti, no Centro de Informações de Medicamentos de Caracas, Venezuela. Este estágio resultou no "Projeto para implantação de uma Rede Nacional de Centros de Informações de Medicamentos", propondo a criação de um Centro de Informações sobre Medicamentos de caráter nacional, e a promoção e implantação dos regionais, além de estabelecer os mecanismos de coordenação que permitiriam a criação de uma rede nacional de CIM. O Centro Brasileiro de Informações de Informações sobre medicamentos (CEBRIM) foi implantado em 1992, mas somente começou a funcionar em 1994. Este CIM surge com o objetivo de desempenhar atividades de provisão de informações sobre medicamentos através de resposta a perguntas dirigidas, além de palestras, cursos, boletins, artigos em revistas e etc (VIDOTTI, 1999).

Como estratégia para a disseminação desta atividade, a parceria CFF/OPAS possibilitou a realização de quatro cursos de treinamento de farmacêuticos como "especialistas em Centro de Informações sobre Medicamentos", nos anos de 1994, 1995,1996 e 1997. A partir da realização destes cursos começou a ter novos CIM pelo Brasil. Com a formação de vários CIM no Brasil surge uma rede brasileira de Centro de Informações sobre Medicamentos, descentralizada, mas não hierarquizada, formada por CIM integrados por Protocolo de Cooperação, e denominada Sistema Brasileiro de Informações sobre Medicamentos – SISMED (VIDOTTI et al., 2000).

O SISMED foi criado como resultado de um esforço interinstitucional de caráter técnico-científico, com o propósito de apoiar a equipe multiprofissional de saúde, otimizando os recursos nesta área e promovendo o uso racional dos medicamentos, e a farmacovigilância. O SISMED foi proposto como forma de difundir a atividade no país e facilitar a implantação de novos centros, através de apoio técnico. Um grande desafio do SISMED é a implantação de CIMs em hospitais afim de disponibilizar a informação sobre medicamentos no local onde ela é mais necessária. Outro desafio a ser enfrentado é a criação de CIMs especializados em áreas onde a informação é mais necessária como pediatria, geriatria, saúde da mulher, instalados principalmente em instituições hospitalares para atenderem a demanda local (VIDOTTI et al, 2000).

Em 1996, foi realizado o primeiro encontro de Centros de Informações sobre Medicamentos. Tal evento tinha o objetivo de consolidar o SISMED – Sistema Brasileiro de Informações sobre Medicamentos, através da aprovação do Protocolo de Cooperação, instrumento legitimado consensualmente pelos CIM membros, que previa: a manutenção dos princípios básicos de um CIM: a regulamentação dos serviços de um CIM; o apoio técnico na criação e desenvolvimento de novos CIM e a evolução racional e integrada do sistema (VIDOTTI et al, 2000).

Realiza-se em 1998, o segundo encontro de Centros de Informações sobre Medicamentos do Brasil, ocasião em que foi indicado o Comitê Gestor do SISMED (VIDOTTI et al, 2000).

Atualmente, fazem parte do SISMED, um total de 21 CIMs. O Centro Brasileiro de Informação sobre Medicamentos-CEBRIM de abrangência nacional e mais 20 Centros Regionais de Informações sobre Medicamentos, localizados em diversos estados brasileiros (CFF, 2007). "Como a participação no SISMED é voluntária, existem outros centros isolados em funcionamento no Brasil, que não fazem parte da rede" (SILVA, 2002).

2.3 Objetivos do CIM

A meta principal de um CIM é prover informações claras, precisas e aplicáveis sobre medicamentos, de modo a promover o seu uso racional. Para alcançar este objetivo, utiliza informação técnica - cientifica objetiva, atualizada e pertinente, devidamente processada e avaliada. Ademais, como em muitos casos está em jogo à orientação para a situação de um paciente, a informação deve ser fornecida com agilidade, em tempo hábil para sua utilização em cada caso (VIDOTTI; SILVA; HOEFLER, 2000). A informação de medicamentos é uma função a ser realizada pelo farmacêutico de um hospital. A criação e o posterior desenvolvimento dos Centros de Informações permitiram aos farmacêuticos dos hospitais cumprirem com este objetivo e assim cumprir com o uso mais racional de medicamentos (PINTOR et al, 1996).

Como objetivos gerais para o desenvolvimento de informação sobre medicamentos, segundo a ASHP, (1996) estão:

    • Perceber e identificar as necessidades de informações no âmbito de trabalho, tanto dos profissionais de saúde, como dos pacientes e familiares, assim como outros profissionais.
    • Utilizar um procedimento de trabalho sistemático que permita responder as "necessidades de informação" que inclui uma busca efetiva, a recuperação e avaliação crítica da literatura seguindo a metodologia da medicina baseada em evidências.

Como objetivos específicos, temos:

    • Fornecer aos profissionais de saúde informações técnicas - cientifica imparcial, atualizada, objetiva sobre medicamentos.
    • Apoiar a pratica profissional e cooperar com o processo de incorporação do farmacêutico na equipe de saúde.
    • Fornecer informações e assessoramento para as comissões técnicas que estão presentes no hospital: Comissão de Farmácia e Terapêutica, Comissão de Controle de Infecção Hospitalar e outras.
    • Proporcionar informação a pacientes individuais ou em grupos específicos de alto risco dirigido a promover o cumprimento da terapia e uso racional de medicamentos.
    • Elaborar informes técnicos, fornecer suporte documental ou disponibilizar as estatísticas quando solicitado, para tomada de decisões sobre medicamentos.
    • Apoiar atividades docentes destinadas a estágios de estudante de Farmácia e treinamento de farmacêuticos na informação sobre medicamentos.
    • Cooperar no planejamento, organização e execução de cursos, seminários e palestras de atualização profissional relacionados com medicamentos.
    • Participar ou cooperar na realização de cursos de farmacoterapêutica e outras iniciativas planejadas pela faculdade de farmácia, outras faculdades da área da saúde, conselhos, associações e entidades diversas.
    • Apoiar a divulgação de informação sobre medicamentos e publicar boletins ou revistas.
    • Participar de atividades educativas sobre o uso adequado de medicamentos dirigidos à comunidade (OPAS, 1995; PLA et al, 2002; FISCHER et al, 2002).

2.4 Atividades do CIM

A maioria dos textos que tratam de CIM referem-se a uma série de atividades desenvolvidas no mesmo, relacionadas com o uso racional dos medicamentos (OPAS, 1995). Entre as atividades que são realizadas pelos CIM usualmente se dividem em duas grandes áreas chamadas de informação ativa e informação passiva:

Informação passiva: é aquela que se oferece em resposta à pergunta de um solicitante. Esta função é dirigida a esclarecer e contribuir para soluções de problemas relacionados com o uso de medicamentos em casos individuais (GARCIA; ALBEROLA, 1984).

Informação Ativa: é aquela em que a iniciativa é do farmacêutico informador o qual analisa o tipo de informação seus possíveis usuários, podem necessitar e encontrar uma via de comunicação para suprir estas necessidades. Estas funções são representadas por atividades de educação, difusão de informação e desenvolvimento de investigação na área de medicamentos (GARCIA; ALBEROLA, 1984).

Principais atividades desenvolvidas no CIM, (OPAS, 1995; PLA et al, 2002; FISCHER et al, 2002; D, ALESSIO; BUSTO; GIRÓN, 1997).

    • Atender as necessidades de informação do prescritor para solucionar problemas terapêuticos.
    • Atender as necessidades de informação ao responsável da dispensação ou da entrega de medicamentos afim de que este informe de maneira adequada ao paciente.
    • Atender as necessidades de informação da enfermagem a fim de contribuir para a administração apropriada do medicamento.

A atenção para as consultas sobre informações de medicamento está embasada em responder a necessidade de dar resposta objetiva, oportunas, relevantes e apropriadas a problemas sobre medicamentos e seus usos. A atenção a cada consulta, demanda do CIM cumprir com um processo de busca entre as fontes de informações rigorosamente atualizadas, análise de informação, seleção e formulação da resposta pertinente (OPAS, 1995).

  • Proporcionar informação técnica - cientifica e assistência técnica para as comissões de farmácia e terapêutica, comissão de infecção hospitalar, para decisões relacionadas com a inclusão e exclusão de medicamentos da lista de padronização, assim como a elaboração do formulário terapêutico. O pessoal do CIM deve participar dos programas de docência das comissões e assistir seminários e conferências. (PLA et al, 2007).

  • Proporcionar informações técnico - cientifica e assistência técnica para comissões responsáveis pela regulação da publicidade e propaganda de medicamentos.

  • Elaboração e publicação de ficha farmacoterapêutica de novos medicamentos que incluem critérios de utilização estabelecidos pelas comissões responsáveis de sua avaliação em relação a alternativas terapêuticas, incluindo a informação avaliada por seus membros para a realização de seleção da terapia mais eficiente.
  • Edição de boletins de informação de medicamentos, que se trata de uma publicação periódica, de um número reduzido de páginas com um conteúdo orientado para aperfeiçoar a terapia dos pacientes.

A difusão de material informativo sobre medicamentos é de responsabilidade dos CIM. Esta função de difusão deve sempre incluir "produção" de material informativo periódico como a preparação de boletins em que a seleção de temas como seu enfoque e estilo de apresentação sejam desenvolvidos para médicos, farmacêuticos, enfermagem e grupos específicos de pacientes (OPAS, 1995).

    • Participar ativamente e promover a representação do CIM em atividades cientificas mediante a apresentação de stands, conferências etc.
    • Elaborar artigos sobre medicamentos para a publicação em revistas periódicas.
    • Colaboração no desenvolvimento de programas de informação de medicamentos ao paciente. Proporcionando ao paciente ou pessoa responsável por este uma informação adequada sobre sua medicação incluindo aspectos relacionados com sua correta administração.
    • Notificação de alertas sobre seguridade e qualidade de medicamentos.
    • Colaboração com disciplinas do Curso de Farmácia, Farmácia hospitalar, disciplina de estágio em farmácia e estágios para alunos do curso de farmácia.
    • Organização de visitas orientadas para acadêmicos de outras Universidades e para farmacêuticos.

É importante salientar que o CIM deve ser divulgado de acordo com sua capacidade de atendimento. No inicio das atividades deve-se ter um público-alvo crescente, mas a expansão deve ser gradativa com a realização de auto-avaliações. Finalmente, todas as atividades devem ser planejadas e realizadas dentro das possibilidades do centro, posto que, na medida em que o serviço é requerido e não atendido, caminha-se para o descrédito do mesmo e da instituição que ele está presente (VIDOTTI, 1999).

2.5 Requisitos para estruturar um CIM

A implantação e o funcionamento de um Centro de Informação de Medicamentos exigem a disponibilidade de recursos humanos capacitados em manejar fontes de informação e operação de CIM. Quando não se dispõem deste tipo de profissional, a criação de um centro deve incluir a capacitação do profissional selecionado para o centro. A capacidade de financiamento tanto para o funcionamento do CIM como disponibilidade de fundos recorrentes para sua dotação inicial, são também considerados importantes para a tomada de decisão na instalação de um CIM. Em terceiro lugar considera-se a disponibilidade de um lugar adequado como fator determinante para estabelecer um CIM, entendido como uma área física de utilização exclusiva para o CIM e de capacidade suficiente para seu normal funcionamento (OPAS, 1995).

2.5.1 Localização e horário de funcionamento

A localização do CIM pode ser muito diversa, mantendo uma relação estreita com seus objetivos imediatos e mais acessíveis para seus usuários. Os CIM podem estar localizados, principalmente, em hospitais, faculdades de farmácia e organizações profissionais. Em cada uma das diferentes localizações do CIM, este terá usuários diretos e indiretos, segundo seja o solicitante da informação a ser pesquisada. (OPAS, 1995). Recomenda-se, no mínimo, funcionar 8 horas por dia (SISMED, 2004).

2.5.2 Estrutura física

Diferentes publicações coincidem nas características básicas que um CIM deve dispor. Deve dispor de um espaço delimitado diferenciado de outras atividades fácil acesso, garantindo a possibilidade de relação direta com o usuário, no caso de profissionais da saúde. A área recomendada é de no mínimo 30m2, no caso de um CIM disposto junto à farmácia de um hospital. Este conceito de requerimento de espaço mínimo perde certa significação, dado que no momento grandes partes dos recursos bibliográficos estão disponíveis em suporte eletrônico. No Brasil, a área mais comum está entre 25 a 31m2 (VIDOTTI et al, 2000).

2.5.3 Equipamentos e materiais

Adequados para o desenvolvimento desta atividade como mobiliários, mesas, cadeiras, estantes, armários, e materiais para arquivo. Meios adequados para a recepção e a comunicação da informação, como, uma linha telefônica, um aparelho de fax, uma secretária eletrônica, um identificador de chamadas telefônicas uma impressora. Suporte de informática possuindo dois computadores com acesso a internet, correio eletrônico, drive de CD-ROM, e material de oficio (OPAS, 1995; PLA et al, 2004).

2.5.4 Fontes de informação sobre medicamentos

Quanto às fontes de informação que o CIM deve ter acesso, basicamente estão estruturadas em fontes primárias, secundárias, terciárias e alternativas (PLA et al., 2002).

Fontes primárias são aquelas que recolhem os dados originais. Constituindo-se de artigos, estudos de casos, relatos de ensaios clínicos e pesquisas farmacológicas publicados em revistas biomédicas, ou seja, onde aparece pela primeira vez na literatura qualquer informação científica nova. (VIDOTTI , 2003). A literatura primária das ciências farmacêuticas é a revista científica. Por mais de três séculos, esse tipo de periódico tem sido o canal pelo qual a pesquisa científica é avaliada, relatada e disseminada (BOWMAN; ADAMS; CHRISTOPHER, 2004). Dos três tipos de fontes, esta constitui a mais volumosa e atualizada (PLA et al., 2002). Nos últimos anos as revistas têm sido produzidas no formato eletrônico além do formato impresso. Em virtude de altos custos de impressão e postagem, bem como do número cada vez menor de assinantes de muitas revistas especializadas, as publicações científicas poderão vir a existir apenas eletronicamente dentro de um futuro próximo (BOWMAN; ADAMS; CHRISTOPHER, 2004). Veja na Tabela 1 os exemplos de fontes primárias úteis em um CIM, segundo as recomendações da ASHP (American Society of Hospital Pharmacists) e da FEFH (Fundación Española de Farmacia Hospitalaria).

As fontes secundárias consistem em serviços de indexação e resumo da literatura primária e servem como orientadores na busca destas últimas (VIDOTTI, 2003). Como exemplo de fonte secundária, temos a Medline (Index Medicus on-line). Considerada como a base de dados de referência médica mais importante do mundo (BOWMAN; ADAMS; CHRISTOPHER, 2004). Fato de relevância é o de que esta fonte pode ser acessada gratuitamente através do site BIREME (Biblioteca Virtual em Saúde). Outro exemplo muito útil de fonte secundária é o International Pharmaceutical Abstracts (IPA), produzido pela ASHP. Trata-se de um pequeno banco de dados, mas cobre publicações não indexadas em outra parte, incluindo revistas da área de farmácia, revistas e jornais de propaganda e venda de produtos da área, além de resumos de encontros das associações relacionadas à farmácia. Uma boa fonte de pesquisa em aspectos legais relacionados à farmácia e medicamentos, administração, prática e educação farmacêutica (BOWMAN; ADAMS; CHRISTOPHER, 2004).

As fontes terciárias apresentam informação documentada no formato condensado. São livros-texto, livros de monografias, compêndios, bases de dados computadorizadas, artigos de revisão e metanálise (BOWMAN; ADAMS; CHRISTOPHER, 2004; PLA et al., 2002). Para uma boa fonte terciária, o ideal é que ela seja elaborada por vários autores especialistas em cada tema, que a edição seja recente e que seja atualizada periodicamente. O inconveniente dessa fonte é que ela pode não estar atualizada, pois o tempo para publicar uma nova edição pode ser prolongado e, portanto, a informação contida pode já estar obsoleta (PLA et al., 2002). Veja na Tabela 2, retirada e modificada de PLA et al. (2002), as fontes terciárias recomendadas pela ASHP e pela FEFH agrupadas em função da área de cobertura.

Fontes Primárias de Informação Sobre medicamentos Úteis em um CIM

Farmácia Hospitalar

Farmacologia e Terapêutica

Medicina

– American Journal of Health-System Pharmacy.

American Society of Hospital Pharmacists. Bethesda.

– Farmacia Hospitalaria. Sociedad Española de

Farmacia Hospitalaria. Madrid.

– Atención Farmacéutica. Rasgo Editorial. Barcelona.

– American Journal of Hospital Pharmacy. American

Society of Hospital Pharmacists. Bethesda.

– Panorama Actual del Medicamento. PAM.

 

– Drugs. ADIS Press International Inc. Pensylvania.

– The Annals of pharmacotherapy. DICP Inc. Cincinatti.Ohio.

– The Medical Letter & Drug Therapeutic. The

Medical Letter Inc. Nueva York.

– Drugs. ADIS Press International. Pensilvania.

 

– The Lancet. Lancet Ltd. Londres.

– The British Medical Journal. British Medical Association.

Londres.

– The New England Journal and Medicine. Massachusets

Medical Society.

– Medicina Clínica. Ediciones Doyma. Barcelona

Tabela 1: Fontes primárias úteis em um CIM, recomendadas pela ASHP e FEFH.

Fonte: PLA et al., 2002

Fontes Terciárias de Informação Sobre medicamentos Úteis em um CIM

Monografías de medicamentos

Identificação/Disponibilidade

- Martindale the Extra Pharmacopoeia

- American Hospital Formulary Service Drug

- Information Drug, Facts and Comparisons

- USP Drug Information for the health care proffesional.

- Catálogo de Especialidades Farmacéuticas del Consejo General de Colegios Oficiales de Farmacéuticos

- Vademecum Internacional

- Physicians’ Desk Reference

- Dictionaire Vidal

- European Drug Index

Toxicologia

Reações adversas

- E. Barceloux Medical Toxicology.

- Casaret Toxicology

- Meyler’s. Side Effects of Drugs

Farmacologia/Terapêutica

Gravidez/Lactação/Teratogenicidade

- Goodman & Gilman’s. The Pharmacological Basis of Therapeutics.

- Herfintal. Clinical Pharmacy and Therapeutics.

- Avery’s Drug Treatment

- Brigss. Drugs in pregnancy & lactation.

- Niebyl. Drugs use in pregnancy.

- Bennet. Drugs and Human Lactation.

- Meyers. Teratogens.

Estabilidade/Compatibilidade de misturas intravenosas

Antibióticoterapia

- Trissel. Handbook on Inyectable Drugs. (ASHP)

- Mandell. Principles and Practice of Infections Disease.

- Sandford JP. Guide to antimicrobial therapy Inc.Bethesda.

Interações

Farmacocinética

- Hansten. Drugs Interactions.

- Evans. Applied Pharmacokinetics. Principles

of Therapeutic Drug Monitoring

Tabela 2: Fontes terciárias recomendadas pela ASHP e pela FEFH.

Fonte: PLA et al., 2002.

Os bancos de dados on-line, pela conveniência e ubiqüidade, são agora a primeira opção para a consulta e localização da literatura farmacêutica. (BOWMAN; ADAMS; CHRISTOPHER, 2004). A base de dados mais difundida mundialmente contendo monografias sobre medicamentos é o Drugdex (Micromedex). Ainda que seja considerada uma fonte terciária, tem a vantagem de ser atualizada trimestralmente dentro de uma assinatura anual. A base de dados Farma-Medline, uma cessão de direitos da IDIS (Iowa Drug Information System), é produzida desde 1966, sendo a única no mundo contendo artigos originais provenientes de revistas internacionais do campo da farmacoterapia, patologia e relacionados. Apresentando um serviço orientado para o uso clínico de medicamentos (VIDOTTI, 2003).

O "Portal .periodicos.CAPES" oferece acesso aos textos completos de artigos de mais de 11.419 revistas internacionais, nacionais e estrangeiras, e a mais de 90 bases de dados com resumos de documentos em todas as áreas do conhecimento. Inclui também uma seleção de importantes fontes de informação acadêmica com acesso gratuito na Internet. Lembrando que a Universidade Federal de Santa Catarina é uma das instituições que têm acesso integral ao conteúdo do portal de periódicos da CAPES (Periodicos.capes.gov.br, 2004).

Existem ainda as fontes alternativas, das quais são exemplos a Internet, organizações profissionais, indústrias farmacêuticas e centros de informação toxicológica e de medicamentos. Tendo acesso às diferentes fontes, o CIM deve aplicá-las de acordo com a necessidade da situação, analisando qual a melhor fonte para cada solicitação (VIDOTTI, 2003).

2.5.5 Avaliação critica da literatura científica

Dada à extensão e inabordável quantidade de informações de saúde disponível em revistas e outras fontes de informação, se faz necessário selecionar unicamente aquela parte de informação que é valida e viável aos pacientes (PLA et al, 2002). Quando se trata, então, do que está escrito nas publicações que costumamos chamar de revistas científicas, o que é transmitido corre o risco de assumir aura de verdade inconteste. Costumamos acreditar que o "artigo cientifico" advogando o uso deste ou daquele procedimento diagnóstico ou terapêutico é basicamente correto. Aceitamos que os editores das revistas nacionais e, especialmente, dos periódicos estrangeiros foram capazes de separar o joio do trigo, só permitindo a divulgação de artigos baseados em sólidas evidências científicas (VIDOTTI; SILVA; HOEFLER, 2001).

Entretanto, revisões realizadas nas últimas décadas contradizem o exposto anteriormente, constatou-se em tais estudos que cerca de metade dos artigos publicado em revistas de renome utilizou métodos estatísticos inadequados. Se, à inadequação dos testes quantitativos, acrescentarmos outras fontes de inconsistências e imprecisões a que estão sujeitos os estudos epidemiológicos, tais como o seu desenho, definição da amostra, escolha de indicadores e instrumentos, poderemos concluir que todo e qualquer artigo, independentemente do periódico ou idioma em que esteja publicado, deve ser lido criticamente (VIDOTTI; SILVA; HOEFLER, 2001).

Para muitos farmacêuticos, a necessidade de educação continuada é suprida pela participação em congressos, eventos relacionados e leituras técnicas - cientificas. Ainda que esses recursos possam prover informação útil, eles podem estar sujeitos a influencia dos autores ou dos patrocinadores. Por isso, para aumentar a nossa base de conhecimento, é necessários desenvolver habilidades em avaliação crítica destas formas de atualização o que ajudaria o farmacêutico discernimento de quais medicamentos representam avanços terapêuticos e quais mostram deficiência na melhoria do cuidado ao paciente e, talvez, causem dano (VIDOTTI; SILVA; HOEFLER, 2001). A avaliação crítica da qualidade da informação que se publica sobre medicamentos é um imperativo entre as habilidades do profissional que trabalha em um CIM. Isso é necessário devido à avalanche ou a explosão de informação que surgem diariamente, há várias décadas, estimada em mais de 20.000 revistas biomédicas publicadas anualmente (MALONE et tal, 1996). Em 1981, foi estimado que a literatura biomédica aumentava em uma taxa de 6% a 7% por ano e dobrava a cada 10 a 15 anos. Infelizmente, esse crescimento é acompanhado por uma ampla variação de qualidade interferindo na segurança da evidência científica da informação e, consequentemente, no trabalho do profissional da saúde (VIDOTTI; SILVA; HOEFLER, 2001).

Algumas razões que ajudam a explicar os problemas freqüentes com a qualidade são, por exemplo: publicar somente aspectos positivos; pressão para publicar; exagerar os resultados encontrados; fragmentar os resultados, publicando em várias revistas; descrever incompletamente os métodos e/ou resultados e, o que é mais raro fraude científica. É comum o profissional ver-se frente a resultados conflitantes ou contraditórios que são atribuídos, na maioria das vezes, a diferenças metodológicas, definições etc., o que é entendido como uma limitação para a extrapolação dos resultados encontrados para a prática, ou seja, podem não ter aplicação (ASCIONE; MANIFOLD; PARENTI, 1994). Além disso, quando se soma o interesse comercial aos problemas metodológicos, aumenta a necessidade da avaliação crítica como, por exemplo, na farta publicidade de medicamentos promovida pela indústria farmacêutica, com exemplos claros de alteração da informação sobre o medicamento, notadamente das reações adversas e contra-indicações, enfatizando apenas aspectos positivos dos medicamentos e dando pouco ou nenhum destaque aos aspectos negativos (BARROS, 1995). A competência de saber procurar, localizar e julgar as evidências capazes de dar fundamento científico às decisões é fundamental para discriminar, entre as informações disponíveis, qual o que são baseadas em sólidas evidências cientifica e, destas, as que são passíveis de ser incorporadas à prática. Numa primeira abordagem aos artigos científicos, dever-se-ia fazer perguntas tais como: Em que revista o artigo foi publicado? Qual é sua reputação? Quem é sua afiliação? As conclusões são (bem) fundamentadas nos resultados? Quem financiou o estudo? Pode existir um possível conflito de interesses? Questões do tipo "O estudo foi bem desenhado?" demandam um conhecimento mais profundo e, para isto, deve ser feito um treinamento específico (VIDOTTI; SILVA; HOEFLER, 2001).

JOHNSON; KASILO (1997) propõe que a leitura rápida de um artigo científico que apresenta resultados clínicos pode começar a ser feita em alguns passos bem simples tendo como orientação o seu interesse.

Título: é interessante e útil? Se a resposta for não, passe para o próximo artigo.

Autores/instituição: são conhecidos? Caso contrário fazer-se a pergunta: Vale a pena continuar a leitura?

Leia o resumo e decida se as informações da conclusão são úteis para você. Se não for, passe para o próximo artigo.

Leia a conclusão e veja se os resultados encontrados são úteis e aplicáveis a você.

Verifique as "referências". Se você conhece o assunto, provavelmente poderá julgar se foram incluídas as referências fundamentais na área. Caso contrário, cuidado com o artigo.

Revista: é bem conceituada e tem credibilidade? Quando as informações forem providas pelo fabricante devem ser feitas outras questões que incluem, por exemplo,

A informação foi aprovada pelo órgão governamental competente? Foram fornecidas referências da literatura médica ou estão disponíveis? A publicidade do medicamento parece excessivamente positiva? São feitas comparações de custo?

A necessidade de escolher entre essa variedade de resultados incompletos ou conflitantes pode causar confusão entre os profissionais da saúde em relação à farmacoterapia ótima para uma doença especifica em um paciente (ASCIONE; MANIFOLD; PARENTI, 1994). O farmacêutico também está enfrentando um aumento de pacientes que se educam sobre farmacoterapia através da consulta a outras pessoas (por exemplo, profissionais da saúde, família e amigos), pela literatura médica, através imprensa leiga e da internet. Estes pacientes podem procurar o farmacêutico para esclarecer a informação que obtiveram (MALONE et al, 1996).

2.5.6 O farmacêutico fornecendo informação no âmbito hospitalar

Dentre os requisitos mínimos para a implantação de um CIM especificados pela OPAS (1995), enquadra-se a necessidade de 01 farmacêutico em tempo integral, capacitado no manuseio de fontes de informação, com treinamento e experiência clínica. Quando não se dispõe de profissional com este perfil, deve ser incluída a sua capacitação (VIDOTTI, 1999).

Visando as taxas de mortalidade hospitalar, um estudo analisando 1029 hospitais dos Estados Unidos, constatou que as instituições que proviam serviços de farmácia clínica estavam associadas com as baixas taxas de mortalidade. Especificamente, quatro serviços estavam associados com as baixas taxas de mortalidade: serviços de informação sobre medicamento, pesquisa clínica, participação da equipe de ressuscitação cardiopulmonar, reconhecimento de histórico medicamentoso (BOND, 1999). Quando o preenchimento de vagas de farmacêuticos clínicos em hospitais aumentou, os custos de medicamentos diminuíram. Os serviços clínicos que a farmácia proporcionou que diminuíram os custos dos cuidados foram: avaliação do uso do medicamento, informação sobre medicamento, monitoramento de reações adversas a medicamentos, gerência do protocolo de medicamento, participação nos rounds médicos e reconhecimento de histórico medicamentoso (BOND, 2000).

Acessar, revisar, analisar, avaliar e interpretar a literatura sobre fármacos são importantes responsabilidades dos profissionais da área de saúde, o que é verdade para o farmacêutico, "especialista em medicamentos" Um papel primário do farmacêutico, como prestador de cuidados na área da saúde, é responder às questões relacionadas às informações sobre medicamentos formuladas por outros profissionais da saúde e pacientes (ABATE; HILDEBRAND, 2004). A provisão de informação sobre medicamentos está entre as responsabilidades profissionais fundamentais do farmacêutico nos sistemas de saúde. O farmacêutico não deve somente acumular e organizar a literatura, mas também deve avaliá-la objetivamente e aplicar a informação obtida da literatura em pacientes e situações particulares (ASHP, 1996). O farmacêutico também está enfrentando um aumento de pacientes que se educam sobre farmacoterapia através da consulta a outras pessoas, pela literatura médica, através da imprensa leiga e da internet. Estes pacientes podem procurar o farmacêutico para esclarecer a informação que obtiveram. (MALONE, 1996).

Na profissão de farmacêutico, como também em demais profissões da saúde, variadas informações sobre medicamentos são necessárias e podem ser fornecidas pelo farmacêutico, como: efeitos colaterais, usos, dosagens e administração, toxicidade; atenção na farmacoterapêutica pediátrica ou demais grupos especiais (diabéticos, doentes cardiovasculares, etc); farmacocinética e farmacodinâmica; teratogenicidade, assim como uso na lactação; estabilidade e compatibilidade (principalmente em misturas parenterais), identificação e disponibilidade do produto (medicamentos padronizados em um determinado hospital, por exemplo); interações do medicamento (em relação ao álcool, alimentos ou outros fármacos); interferência da terapia medicamentosa em exames de importância clínica; eficácia, sendo neste último, essencial a comparação com outros fármacos, de classes diferentes ou não, auxiliando na escolha mais adequada para os tratamentos. É claro, sempre lembrando que a educação de demais profissionais, estudantes e demais pessoas envolvidas na área também é um papel importante do farmacêutico.

As reações adversas podem resultar em morbidade e mortalidade para o paciente junto ao aumento de custos no sistema de saúde. O farmacêutico deve atuar nesse ponto prevenindo, detectando e relatando reações adversas ao medicamento (papel mais pronunciado nos hospitais sentinela). Este profissional também pode implementar sistemas para prevenir acidentes com medicamentos (erros de medicação) e aumentar a obediência do paciente. Participar ativamente em comitês de farmácia e terapêutica, que tomam as decisões a respeito do uso racional de medicamentos dentro das instituições de saúde. A participação em trabalhos de pesquisa clínica é outra aplicação das habilidades em informação sobre medicamentos dos farmacêuticos, permitindo-os melhorar seu entendimento de como os fármacos realmente funcionam e, finalmente, tornar melhor o cuidado ao paciente. Sua familiaridade com os processos de pesquisa também os torna especialmente adequados para trabalhar em grupos de revisão institucional, estabelecidos para proteger o direito de estudo sobre determinadas matérias (ABATE; HILDEBRAND, 2004).

2.5.7 Financiamento

Os aspectos de financiamento do CIM são essências para sua criação e funcionamento. A instituição que decide criar um CIM deve analisar sua própria capacidade em adquirir recursos para seu funcionamento. A necessidade de financiamento é para o pagamento dos recursos humanos, e sua atualização profissional e atualização das fontes de informação (OPAS, 1995).

O orçamento deve conter os seguintes requisitos, segundo D, ALESSIO; BUSTO; GIRÓN (1997).

_ Salário para o pagamento dos funcionários; geralmente constitui a maior porcentagem dos recursos.

_ Equipamentos e mobiliários: Inclui custo de aquisição de equipamentos e mobiliário, como também custo para seu mantimento.

_ Fontes bibliográficas: financiamento para aquisição de livros (fontes terciárias), bases de dados (fontes secundárias) e revistas (fonte primária).

_ Impressão de material: custo para a impressão de formulários.

_ Gastos variados: custo de fotocópias, matérias de escritório e papelaria em geral.

O CIM pode obter recursos da própria instituição que abriga o Centro, (caso seja Conselho de farmácia, Universidade, ou hospital particular). No caso de instituições hospitalares pode obter através de convênios com Universidades (por exemplo, no caso de hospital vinculado a Universidades), oferecendo em troca vagas de estágio para estudantes do curso de farmácia. Os recursos podem ser adquiridos, também em conjunto com órgãos públicos como a Secretária de Saúde do Estado. Não se considera adequada a obtenção de recursos através da venda de serviços individuais já que o âmbito de ação dos CIM está voltado para a instituição, ou seja, o hospital (D, ALESSIO; BUSTO; GIRÓN, 1997).

Tanto o custo de instalação do CIM (gasto inicial) como a atualização permanente das fontes de informação e financiamento do recurso humano especializado, são considerados "limitações" para sua criação por ser uma condição de gasto recorrente. A justificativa para a implantação do CIM deve incluir uma análise de custo beneficio do serviço, o que leva a considerá-lo favorável para a qualidade na atenção hospitalar (D, ALESSIO; BUSTO; GIRÓN, 1997).

2.6 Processo de Garantia de qualidade

A avaliação dos Centros de Informações de Medicamentos é uma atividade normal do seu funcionamento e tem diferentes enfoques segundo se pretenda avaliar a produtividade, a eficiência, a qualidade ou o impacto dos serviços e tem o nome de garantia de qualidade (OPAS, 1995; MALONE, 1996). Sua implementação deve estar integrada no desenvolvimento cotidiano da atividade e seu seguimento através de programas de monitorização nos informa sobre o ganho de qualidade obtido e a necessidade de tomar medidas corretas caso haja necessidade de alcançar o nível desejado (PLA et al, 2002).

Ao planejarmos como avaliar a qualidade da informação que necessitamos, nos encontramos com a dificuldade de definir os indicadores que reflitam fielmente a qualidade do trabalho realizado, já que esta depende não somente dos recursos estruturais e funcionais disponíveis (fontes bibliográficas, especialização e formação do profissional, tempo de dedicação, etc.), como também a subjetividade do próprio avaliador. Observa-se que não somente é necessário avaliar a qualidade no processo ou estrutura, no entanto, é necessária a avaliação adicional do resultado, já que nem sempre o dispor de recursos materiais e humanos ou uma metodologia de trabalho adequada garante a resolução certa das consultas. Todos os elementos são importantes, já que sem uma estrutura adequada não é possível o desenvolvimento do processo e do resultado. Mais a estrutura por si só não garante a qualidade somente a possibilita (PLA et al, 2002).

O processo de garantia de qualidade se inicia com o desenvolvimento de um manual de procedimentos operacionais padrão, que todo centro deve obedecer. O manual permite ao pessoal do CIM trabalhar de forma harmônica e padronizada, além de fornecer as bases para a avaliação do desempenho individual de um especialista e do centro como um todo (INTERNATIONAL SEMINAR ON IMPROVING DRUG INFORMATION SYSTEMS IN DEVELOPING COUNTRIES, 1995).

Em relação à estrutura são fixados indicadores que descreve de forma qualitativa e quantitativa as características físicas (local, situação, acessibilidade), dotação de recursos materiais (equipamentos e documentação bibliográfica) e humanos (número, qualificação e tempo de dedicação) (PLA et al, 2002).

No processo da informação, devemos cumprir de forma correta a impressão da ficha de registro da consulta: com a finalidade de estabelecer um procedimento que permita relacionar a consulta com a resposta, através da complementação de uma ficha de registro (DELGADO; HIDALGO; GARCIA MARCO, 1995). Consulta: data da recepção e urgência da consulta. Dados sobre a consulta e informação apontada pelo consultante quando a consulta se refere a um paciente concreto. Consultante: nome do consultante, localização, categoria profissional. Resolução da consulta: tipo de resposta. Bibliografia consultada e estratégia de busca. A resolução da consulta em tempo útil: estabelece um tempo prefixado para as consultas informadas. Consultas urgentes: antes de trinta minutos. Consultas não urgente de caráter assistencial: prazo máximo de 24 horas. Documentação na resposta (bibliografia): são valorizados indicadores que respondam a uma busca adequada na literatura. Bibliografia básica de consulta: Na resolução de consultas se devem analisar como indicador de qualidade na seleção bibliográfica para o informador dar a resposta à consulta desejada. O nível de documentação é apropriado quando: se revisam duas ou mais fontes bibliográficas terciárias especificas sobre o tema, são revisadas duas ou mais fontes secundárias, são recuperadas as fontes bibliográficas primárias, caso seja necessário. No caso de recuperação de fontes bibliográficas primárias, se deve ter em conta o nível de qualidade das evidencias científicas (SMITH; LYNNE, 1990).

Partes: 1, 2, 3


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