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Insucesso escolar. O caso português (página 4)

José Alberto Afonso Alexandre
Partes: 1, 2, 3, 4, 5, 6

Sim

1

2

3

1

3

10

Não

23

17

10

22

19

Em relação ao espaço físico da escola, este é agradável para a quase totalidade dos alunos, uma vez que é uma escola nova, bem localizada, estando no seu segundo ano de funcionamento.

Relativamente à assiduidade, pode considerar-se, baseando-nos no testemunho dos alunos, que estes são assíduos e só uma minoria falta às aulas com regularidade.

Quadro XXX - Utiliza o refeitório da escola?

7A

7B

7C

8A

9C

Total

Sim

13

16

9

22

15

Não

11

4

4

1

4

Quadro XXXI - Alunos que utilizam o refeitório

7A

7B

7C

8A

9C

Total

Todos os dias

0

10

4

8

3

Quando tem aulas todo o dia

10

9

2

9

9

39

Ocasionalmente

2

2

3

4

8

Cerca de 3/4 dos alunos utiliza o refeitório, principalmente quando têm aulas todo o dia e não têm possibilidade de ir almoçar a casa (Quadro XXX e Quadro XXXI).

4.2 - Análise de um caso

Comecemos por apresentar alguns relatos de professores:

"A turma na sua globalidade revela dificuldades de aprendizagem, problemas de comportamento, de sossego e atenção ao que é dito, o desinteresse é geral, ninguém presta atenção à aula, são mal-educados e desinteressados. Não revelam respeito pelo professor e maltratam-se uns aos outros, são irresponsáveis, imaturos, desinteressados, mal-educados, desobedientes, desatentos. É claro que há excepções à regra, no entanto, são fortemente influenciados pela maioria, cuja finalidade não é aprender, mas sim desestabilizar. A maioria, não tem a noção do respeito, e da responsabilidade. Vários factores podem explicar esta situação. Por um lado, o não acompanhamento pelos pais do percurso escolar dos filhos; o reflexo da vivência familiar (caracterizada por problemas sócio-afectivos) vêm-se repercutir na escola e neste caso mais concreto na turma. Onde uns são arrastados pelos outros. As estratégias para levar a bom termo esta situação seriam de cariz mais directiva e autoritária, contudo, tal situação é inexequível, pois não existe uniformidade de critérios da parte dos professores, pois cada um actua à sua maneira.

Esta situação é deveras complicada ဦ

Não se compreende como é que indivíduos sem bases nenhumas chegam ao 7.º ano, a escola de hoje é um fiasco, os professores não exigem, os pais não se interessam pela educação dos filhos. Pelo menos neste caso particular. São, assim, indivíduos desregrados, sem competência, sem educação, sem bases firmes para cimentarem razoáveis normas de conduta. A situação é problemática e gera-se um círculo vicioso. Os filhos de hoje serão os pais de amanhã, e a educação que recebem no presente será aquela que transmitirão no futuro. Ora, se não existe um insucesso escolar formal, existe insucesso pessoal funcional, ou seja, não é só a nível escolar, mas vai mais além, à raiz das questões do próprio comportamento e atitudes. Sem formação cívica e moral de base, onde se apreenda todo um conjunto de normas de conduta moral e cívica, nunca se atingirá o sucesso seja onde for. Pois aquele conjunto de base serve de suporte a todo o conhecimento e atitudes que venham a ser adquiridas posteriormente. Se a escola deve formar cidadãos responsáveis, tal não tem acontecido, e a tendência é para se agravar a situação actual. No 7.º ano, os alunos revelam total falta de hábitos de trabalho e de estudo, não respeitam os mais velhos, nem os seus semelhantes, não têm interesse em aprender. Tal situação será normal? Creio que não. Pois é de admitir que a pré-adolescência é um período conturbado da vida humana, é um período de mudanças drásticas quer em termos físicos (crescimento acelerado do corpo) quer em termos mentais e psico-afectivos. Mas é verdade que o cérebro nunca funcionou a tão grande velocidade e anseia por novos conhecimentos. Em turmas normais, onde os pais possuem um nível cultural razoável, os alunos têm bom comportamento e por conseguinte estão atentos nas aulas, estudam mais, são mais interessados e o aproveitamento é regular. Naquelas onde predomina o desinteresse por parte dos encarregados de educação, os alunos sentem-se ao mesmo tempo livres e desamparados, seguem sem rumo, revoltam-se contra os colegas e os professores. Em suma, seguem os instintos primários da espécie humana desprovida de educação.

Estudando caso a caso, as situações de insucesso escolar, encontram-se situações díspares, desde casos em que os alunos sofrem de problemas de aquisição de conhecimentos, a desinteresse, sendo esta a mais normal e a mais frequente. O desinteresse e a falta de motivação para o estudo é a «pedra no sapato» para se adquirir o sucesso. Estas questões têm de ser estudadas em toda a sua profundidade, indo às origens do problema, às suas causas mais profundas, aquelas que directa ou indirectamente lhe estão na origem.

Já atrás referi a ausência de uma formação cívica e moral de base, levando à ausência de hábitos de trabalho, de regras e normas de conduta na organização da sua pessoa, bem como no seu comportamento perante os outros. Tal conjunto de situações extremamente negativas vão-se repercutir na sala de aula, pois os alunos não sabem estar. Começando na falta de respeito para com o professor, através de várias formas, começando pelo ignorar da sua pessoa, até à desobediência pura e simples, bem como as injúrias e outras atitudes incorrectas e altamente condenáveis para com os professores. Segue-se o desrespeito entre colegas, estes maltratam-se uns aos outros, agridem-se oralmente ou por actos físicos, furtam coisas uns aos outros, etc. Não deixando de falar na atitude do aluno mal-educado dentro da sala de aula e fora dela, como seja o facto de se levantar constantemente do lugar sem pedir autorização e sem motivo pertinente, os constantes pedidos para sair da sala de aula, a fim de ir à casa de banho; a forma incorrecta de estar sentado, normalmente com as pernas todas esticadas para a frente e com o pescoço à altura da carteira, bem como o estar sentado de lado para melhor conversar com os colegas. A entrada e a saída da sala de aula é feita de forma muito desordeira, com gritos animalescos, correrias e arrastar das mesas e das cadeiras, a situação normal é que estas nem sequer sejam arrumadas.

Os professores chamam à atenção, mas é sempre em vão, pois aquilo que os professores dizem, para alguns, já não se escreve.

Assim, alunos destes, o que fazem na escola? Nada dirão uns, muito digo eu, pois servem para desestabilizar a ordem adquirida, influenciam negativamente os outros alunos seus colegas e são uma enorme dor de cabeça para os professores e os funcionários. Há certas situações que só mediante medidas autoritárias e correctivo-disciplinares é que esses alunos eram postos no bom caminho, ou senão, que sejam criadas escolas especiais, mais voltadas para as aptidões destes desinteressados.

Algo mais manual e menos mental. Ou então criar currículos alternativos para estes alunos, podendo funcionar na mesma escola, mas com estratégias de ensino e programas distintos dos currículos comuns. Estes currículos seriam organizados já consoante as apetências e capacidades de cada indivíduo, ou seja, com um cariz próprio da profissão a desempenhar no futuro. A língua materna e a matemática seriam indispensáveis, sem menosprezar outras disciplinas, mas todo este conjunto disciplinar teria um cariz próprio, não entrando em grandes abstracções, não introduzindo muitos conceitos e exigir-se-ia rigor na transição de ano, coisa que actualmente não acontece. Existe uma taxa elevada de insucesso escolar em Portugal, contudo, se houvesse rigor, essa taxa seria muitíssimo superior.

A educação funciona ao sabor da política. Fixam-se metas meramente estatísticas e não se tem em conta tudo o resto. Não se tem em consideração que um aluno bem formado será um bom cidadão. Neste sistema importaria mais o processo do que o produto. Pois na maioria das vezes, o produto é tão somente uma unidade de medida desprovida de valor real e que os professores são obrigados a atribuir por força das normas vigentes. Outro aspecto é a inexistência de pré-requisitos dos alunos, principalmente ao nível da língua materna e da matemática, que são o suporte básico das outras disciplinas. Sem deixar de esquecer os pré-requisitos próprios e adstritos a cada disciplina".

(Relato de um professor)

"ဦ pois a sensação é a de que tudo aquilo que se faça é em vão, pois os resultados não são visíveis. O desinteresse da turma do 7.º ano é desesperante. É próprio da idade, no entanto creio que este desinteresse já é endémico e os vai levar para o resto da vida.

O professor é o inimigo que todos, ou quase todos, querem ver humilhado e rebaixado. É o alvo a abater no seu subconsciente. Parecem um polvo a estender os tentáculos, cada um de seu lado, ganhando cada vez mais terreno. É necessária firmeza no momento exacto com o intuito de travar essa tentativa de conquistar e dominar os pontos fracos do professor.

Se uma pessoa pensa, desta vez tolero, da próxima actuo, está a pensar erradamente, pois da próxima vez, já pode ser tarde e os alunos vão abusando cada vez mais.

O ambiente de trabalho não existe; é desesperante, uma pessoa cansa-se, irrita-se e os alunos continuam no gozo, impunes; é necessário agir, não estar com meias medidas.

ဦ

Agrupam os piores alunos numa turma, colocam alguns inocentes pelo meio, e os professores que os aturem. Ora, quem são as vitimas? Aquela minoria de alunos, que até podiam obter resultados razoáveis se estivessem noutra turma e os professores que não têm meios nem autoridade alguma para agir.

ဦ

É necessário buscar um equilíbrio na conduta. Muito autoritário, os alunos revoltam-se e fazem tudo para sabotar as aulas. Demasiado liberal, os alunos abusam da confiança e fazem o que querem do professor ridicularizando-o até onde puderem".(Relatos de professores)

De facto, estes relatos são muito ricos e referem-se à turma típica onde o insucesso escolar está associado a problemas de comportamento, ou seja onde uma coisa influencia a outra num círculo vicioso, sendo difícil discernir qual é a causa e qual é a consequência. Mas, de forma a aprofundar melhor esta problemática, convém estudar a fundo a turma que apresenta índices de insucesso superiores e que se afasta grandemente do conjunto das 5 turmas que foram objecto de análise.

4.2.1 - Os Alunos

4.2.1.1 - Sexo

Figura 20 - Constituição da turma

A turma C, do 7.º ano, é constituída por um universo de 16 indivíduos, sendo 14 do sexo masculino e 2 do sexo feminino (patente na figura ao lado). Ou seja, cerca de 87 % dos alunos são do sexo masculino enquanto que, somente 13 % dos efectivos da turma são do sexo feminino, revelando assim, um forte desequilíbrio (Figura 20).

4.2.1.2 - Idade

Como se pode verificar no quadro e figura seguintes, grande parte dos alunos tem mais de 14 anos, sendo somente 4 os que têm a idade normal para a frequência do 7.º ano.

Quadro XXXII - Idade dos alunos

Idades

Masc

Fem.

Total

15

3

0

3

14

4

2

6

13

3

0

3

12

4

0

4

Total

14

2

16

Figura 21 - Distribuição dos alunos por idades

4.2.1.3 - Local de Residência

O local de residência dos alunos é extremamente diverso. Notando-se, contudo, que a maioria são provenientes de Taveiro e de Ribeira de Frades, como se pode ver no Quadro XXXIII.

Quadro XXXIII - Localidade de Residência dos Alunos

Localidade

N.º Alunos

Casais do Campo

4

Taveiro

5

Ribeira de Frades

4

São Martinho do Bispo

2

Casas Novas

1

4.2.1.4 - Número de Irmãos

A generalidade dos alunos desta turma tem irmãos, excepto dois (Quadro XXXIV). Embora o número de alunos com um único irmão seja o predominante.

Figura 22 - Número de irmãos

Há a assinalar um aluno que tem quatro irmãos, destacando-se nitidamente da tendência geral, como se pode ver na Figura 22.

Quadro XXXIV - Número de irmãos

N.º de Irmãos

0

1

2

3

4

5

2

11

0

0

1

0

 

4.2.2 - O Agregado Familiar

O agregado familiar é para a totalidade dos alunos, constituído pelos pais e irmãos.

4.2.2.1 - Encarregado de Educação

Os encarregados de educação dos alunos são os próprios pais. Sendo em 57% dos casos as mães e nos restantes 43% os pais (Figura 23).

Figura 23 - Encarregados de educação dos alunos

4.2.2.2 - Os pais

Figura 24 - Escolaridade dos pais

Figura 25 - Ocupação dos pais

 

4.2.2.2 1 - Habilitações Literárias

Depreendem-se dos dados traduzidos pelas figuras e quadros, as reduzidas habilitações literárias dos pais dos alunos do 7.º C, na medida em que na sua maioria não possui mais do que o quarto ano de escolaridade, havendo alguns que têm o ciclo preparatório, enquanto que no que diz respeito aos níveis secundário, médio ou superior não têm expressão alguma. De registar que são os pais que detêm habilitações literárias ligeiramente superiores às das mães.

Quadro XXXV - Idade das mães

 

Quadro XXXVI - Idade dos pais

 

Quadro XXXVII - Escolaridade

Idades

N.º

%

 

Idades

N.º

%

   

Pai

Mãe

51-55

0

0

 

51-55

0

0

 

<4.ª classe

1

0

46-50

2

15

 

46-50

4

31

 

4.ª classe

8

12

41-45

7

54

 

41-45

5

38

 

Ciclo Prep.

4

1

36-40

3

23

 

36-40

4

31

 

9.º ano

0

0

31-35

1

8

 

31-35

0

0

 

11.º ano

0

0

Total

13

100

 

Total

13

100

 

12.º ano

0

0

               

C. Médio

0

0

               

C. Superior

0

0

               

Total

13

13

4.2.2.2 2 - Profissões dos pais

Os pais dos alunos têm empregos, na sua maioria no sector secundário, havendo algumas mães que estão desempregadas (2) e outras são domésticas (4).

Quadro XXXVIII - Situação de emprego dos pais

Empregado

Desempregado

Doméstico

Reformado

Pai

13

0

0

0

Mãe

7

2

4

0

Total

20

2

4

0

Não se verifica, entre as actividades profissionais das mães a diversificação pelos vários grupos de profissões e uma vez que uma grande parte se dedica a actividades de serviços auxiliares e trabalhos domésticos.

4.2.2.3 - Profissão dos pais e rendimento escolar

4.2.2.3.1 - Profissão do pai

A análise das relações entre o rendimento escolar e as profissões exercidas pelos pais não traz qualquer novidade relativamente à análise das relações entre aquela primeira variável e a habilitação escolar dos pais. Podemos dizer que a relação entre o rendimento escolar e aqueles dois «indicadores» do estatuto social, económico e cultural é praticamente paralela e sobreponível, o que se compreende facilmente pela correlação existente entre habilitações escolares e actividades profissionais.

4.2.2.3.2 - Profissão da mãe

A distribuição dos dados respeitantes à relação entre o rendimento escolar dos filhos e as profissões das mães é muito semelhante à que se registou para as profissões dos pais.

Deve-se, no entanto, assinalar que a posição das actividades ligadas aos «serviços auxiliares» é mais elevada nas mulheres do que nos homens.

Embora com menor amplitude, nota-se também aqui algo semelhante à superioridade observada da influência da habilitação escolar das mães sobre o rendimento escolar dos filhos comparativamente à influência da habilitação escolar dos pais.

4.2.3 - Vida Escolar

De seguida far-se-á uma abordagem dos aspectos mais importantes da vida escolar dos alunos.

Quadro XXXIX - Distância da residência à escola

Quadro XL - Profissão desejada

Quadro XLI - Ocupação dos tempos livres

<1 Km

1-5 Km

Operário fabril

4

Televisão

11

A pé

1

3

Militar

1

Leitura

5

Autocarro

5

Professor

2

Música

12

Comboio

1

Veterinário

1

Computador

2

Bicicleta

2

Trab. Independ.

1

Desporto

14

Policia Judiciária

1

Ajudar em casa

4

Bombeiro

1

Ajudar no oficio (pais)

3

Futebolista

1

4.2.3.1 - Distância casa-escola

Os alunos desta turma vivem perto da escola (a menos de 5 Km de distância). O transporte público é o mais utilizado para a deslocação. Alguns vão a pé, outros de bicicleta.

4.2.3.2 - Hábitos de Estudo

Os hábitos de estudo desta turma são muito uniformes, sendo preferência da maioria estudar em casa, sozinhos. Apenas dois alunos dão destaque ao estudo em casa de colegas.

4.2.3.3 - Gosto pela Leitura

A turma revela graves deficiências em termos de hábitos de leitura. Mesmo assim, os poucos que costumam ler preferem livros de banda desenhada, o que se explica pela idade e pelo fraco nível cultural dos agregados familiares. Há a salientar que somente dois alunos é que têm computador em casa.

4.2.3.4 - Tempos livres

A televisão e a música ocupam lugar de eleição nos tempos livres dos alunos do 7.º C, bem como a prática de desporto (Figura 26).

Figura 26 - Ocupação dos tempos livres

4.2.3.5 - Disciplinas preferidas

Quadro XLII - Disciplinas preferidas

EF

ET

Geogr.

LP

Ing.

EV

Hist.

CN

Mat.

5

5

1

2

3

4

1

1

1

Esta turma, na sua globalidade, prefere as disciplinas dedicadas ao desenvolvimento das capacidades físicas (Educação Física) ou às artes (Educação Visual e Tecnológica). A seguir vem o Inglês. Quanto à Geografia só é optada por um aluno.

Figura 27 - Disciplinas preferidas

4.2.3.6 - Antecedentes escolares

Nesta turma, há a assinalar o número elevado de repetências ou irregularidades.

A maior parte dos alunos já reprovou uma ou mais vezes. Três têm dificuldades de saúde, e somente 5 frequentaram a pré-primária.

Sendo também de assinalar que três alunos tiveram Apoio Pedagógico Acrescido a Língua Portuguesa e a Matemática no ano transacto (ver os quadros e a figura seguintes).

Quadro XLIII - Dificuldades de Saúde

 

Quadro XLIV - Frequências

 

Quadro XLV - Repetências

Visuais

1

 

Pré-primária

6

38%

 

1.º Ciclo

4

25%

Linguagem

1

 

Clubes

7

44%

 

2.º Ciclo

8

50%

Alergias

1

         

3.º Ciclo

4

25%

Quadro XLVI - Alunos com apoio pedagógico no ano anterior

Disciplinas

Língua Port.

Matemática

N.º de alunos

3

3

Figura 28 - Frequência da pré-primária

4.2.3.7 - Projectos futuros

Cada aluno tem algum objectivo já definido para a sua vida profissional, quer incluam ou não a continuação dos estudos (estes são uma minoria).

Alguns alunos não responderam de forma muito consciente a esta questão, talvez por não terem pensado ainda muito a sério sobre este assunto.

A distribuição pelas várias profissões é um pouco dispersa, sendo, no entanto de destacar que, 4 desejam ser operários fabris, ou seja seguir a profissão dos pais, e 2 querem ser professores.

Figura 29 - Profissão desejada

Concluindo:

A turma é bastante heterogénea, no que respeita à idade dos alunos, bem como o número de rapazes superar de forma extremamente desproporcional o número de raparigas.

A maioria dos alunos tem um passado escolar com um aproveitamento baixo, sendo o número de alunos que já reprovou bastante elevado.

Contudo, a turma revela bastantes semelhanças quanto às condições sócio-económicas e culturais dos agregados familiares. Não obstante, apresenta um elevado grau de dispersão geográfica no que respeita ao local de residência.

Paralelamente, demonstra uma forte disparidade em relação às carreiras profissionais que desejariam seguir.

4.3 - Determinantes do insucesso escolar

Assim após a análise dos inquéritos já podemos apontar alguns factores que condicionam a ocorrência de insucesso escolar.

Também na caracterização dos factores de insucesso escolar se torna necessário fazer algumas clarificações para alcançarmos uma visão mais compreensiva deste fenómeno.

Assim, e em complemento daquilo que foi dito acima, conforme as concepções que têm dominado as várias escolas de sociologia da educação e as políticas educativas que procuram combater o insucesso escolar, assim se autonomizaram diferentes factores considerados causas do insucesso escolar.

1) Um primeiro conjunto de análises centrou a sua atenção no aluno, considerando o insucesso como, predominantemente, o insucesso do aluno. Neste caso, a causa do insucesso escolar deve ser procurada na existência de determinadas carências do aluno que influenciam negativamente o seu rendimento na escola.

Ainda aqui duas tendências devem ser consideradas: uma primeira acentua como causa do insucesso escolar a inexistência de aptidões do aluno, de origem inata, que naturalmente determina para o insucesso escolar. A falta de aptidões tanto pode ser de origem psicossomática (alunos deficientes) como de origem intelectual (determinada através do coeficiente de inteligência).

Uma segunda tendência, recusando a fatalidade determinista dos factores naturais, sublinha os factores sócio-culturais como as principais causas das carências do aluno que acede à educação escolar numa situação de desvantagem. Neste caso, procura-se a causa do insucesso escolar em factores como cultura informal da família e do meio ambiente, habitat do aluno (cidade/campo), nível económico da família.

Estes factores, que exercem a sua influência antes do aluno ingressar na escola, prolongam os seus efeitos durante todo o período de escolaridade. Pode assim dizer-se que eles determinam uma desigualdade de oportunidades, tanto no acesso à educação escolar como no sucesso da educação escolar do aluno.

2) Outras análises centram os factores de insucesso na escola. Nesta perspectiva, o insucesso do aluno é um efeito da estrutura escolar, onde se encontra a verdadeira explicação para o insucesso, e não das carências naturais ou socio-económicas do aluno. Um conjunto de factores escolares como, por exemplo, tipo de cursos e currículos, estruturas e métodos de avaliação, formas de agrupamento dos alunos, preparação científica e pedagógica dos professores podem estar na origem do insucesso. Neste caso, o problema básico a analisar é saber se a escola nas suas estruturas e processos educativos privilegia a selecção de alguns alunos န considerados os melhores န em detrimento do sucesso escolar de todos ou se assume uma consequência da existência de mecanismos escolares de selecção ou de integração dos alunos.

3) Finalmente, o insucesso escolar pode ser relacionado com a própria estrutura social no seu conjunto. As correntes sociológicas que adoptam esta perspectiva consideram que a escola é um agente educativo determinado pela sociedade. Ora esta sociedade não é uma sociedade igualitária, mas estratificada e hierárquica. Os estratos dominantes, embora minoritários, ocupam o topo da hierarquia social e exercem sobre todo o conjunto social uma hegemonia cultural e económica. A escola não passa de um instrumento utilizado pelos estratos dominantes para garantir a reprodução da estratificação social.

Algumas versões mais mitigadas dessa concepção admitem uma autonomia relativa da instituição escolar. Todavia, mantêm que o factor principal do insucesso do aluno se deve buscar na estrutura social e não na escola ou no aluno. Sendo o conceito central desta concepção a reprodução social န objectivo fundamental da sociedade န, a selecção escolar é o instrumento e o insucesso individual de uma larga percentagem de alunos (os originários das classes trabalhadoras) o seu efeito necessário.

4) Esta versão, necessariamente simplificada, de várias concepções sobre o insucesso escolar mostra-nos que o fenómeno é bastante mais complexo do que uma visão superficial poderia imaginar.

Gostaríamos, todavia, de fazer dois comentários breves.

Um primeiro refere-se a uma tendência reducionista que nos parece estar subjacente em cada uma delas. De facto, em cada concepção procura-se encontrar um factor determinante do insucesso escolar (as carências do aluno, a estrutura escolar ou a estrutura social). A complexidade e interdependência dos fenómenos sociais não se compadece facilmente com esta simplificação explicativa. Provavelmente cada um dos factores que isolam tem a sua quota-parte de influência no fracasso escolar do aluno.

De facto, por vezes ouve dizer-se que as diferenças de sucesso escolar são devidas apenas à capacidade, inteligência e esforço de cada um, pois se conhece uma pessoa de origem modesta que triunfou na vida. Ora as verdades estatísticas são válidas para os grandes números. Sendo as médias produzidas pela soma de resultados individuais variados, a existência destes casos individuais enquadra-se nas normais variações individuais dentro de um grupo social.

Aliás, muitas vezes esses casos chamam a atenção precisamente porque são excepcionais, isto é, são a excepção à regra do grupo.

Sendo a posição social do aluno não controlável pela escola, deduz-se que o insucesso escolar é devido parcialmente a factores que a escola não controla. Mas esta constatação não pode ser usada como predição individual de fracasso escolar, pois dentro de cada posição social actuam factores psicológicos individuais (de aptidão, vocação, personalidade, etc.) que introduzem diferenciações internas que podem ser grandes.

A posição social influencia o sucesso escolar porque os alunos não vivem em escolas, vivem agrupados em famílias. A família é o principal agente educativo e fornece a cada aluno uma determinada educação informal. Essa educação informal pode fornecer ou dificultar a actividade de instrução da escola. A educação informal que os diferentes grupos sociais propiciam não é culturalmente a mesma, nem ao nível dos conhecimentos nem ao nível da capacidade de aprender. É, sobretudo, através destes diferentes níveis de educação informal familiar que a diferenciação social se reproduz em diferenciação escolar.

4.3.1 - As carências do aluno

É conveniente verificarmos, logo de início, a enorme extensão do insucesso escolar na população inquirida. A amplitude das taxas de insucesso, tal como nos aparece indicada no quadro abaixo, revela desde já a necessidade de tecermos algumas considerações acerca dos respectivos valores.

Quadro XLVII - Situação escolar dos alunos

Situação

7.º ano

8.º ano

9.º ano

Total

Adiantamento de 1 ano

2

4%

0

0%

0

0%

2

2%

Na classe normal

23

41%

15

65%

9

47%

47

47%

Com atraso de 1 ano

13

23%

5

22%

5

26%

23

23%

Com atraso de 2 anos

10

18%

2

9%

4

21%

16

16%

Com atraso superior a 2 anos

8

14%

1

4%

1

5%

10

10%

             

99

100%

Em relação à turma do 7.º C, atente-se a figura seguinte:

Figura 30 - Situação escolar dos alunos do 7.º C

Recordemos, a este propósito, a afirmação de M. Gilly: «É ao longo do primeiro ano de escolaridade obrigatória que surgem os bloqueios. Nos anos seguintes, a situação agrava-se de forma regular: no inicio do seu quinto ano de escolaridade, em cada duas crianças uma não consegue acompanhar a evolução prevista pela escola. Aos 10 anos, em cada seis crianças uma tem já dois anos ou mais de atraso». Quem, ou o quê, é então o responsável?

4.3.1.1 - A inteligência do aluno

Durante muito tempo, a responsabilidade do insucesso foi imputada ao aluno. Procurava-se, então, no seu «coeficiente intelectual» (QI) a causa e a explicação do seu sucesso ou insucesso. Diagnósticos tais como «nível insuficiente», «falta de aptidões», «pouco dotado, dotado ou muito dotado» deveriam considerar-se ultrapassados na medida em que pretendem ser exclusivos e definitivos.

É certo que os alunos não são todos iguais no que respeita às aptidões; e não é correcto atribuir-se todos os insucessos a influências debilitantes externas, de origem familiar, social ou socioeconómica. Tais influências devem ser plenamente reconhecidas, mas igualmente analisadas, discutidas e, sobretudo, confrontadas com as jovens personalidades sobre as quais se exercem.

4.3.1.2 - A personalidade do aluno

O segundo passo em frente verificou-se quando se chegou à conclusão de que uma criança ou um adolescente não abandona a sua personalidade à porta da escola. O sucesso ou o insucesso escolar passaram assim a situar-se no eixo das disposições da inteligência e das mobilizações န fortemente desiguais န, da sua personalidade.

De facto, uma grande percentagem do insucesso escolar relaciona-se com a inadaptação da personalidade da criança às exigências escolares e que, mesmo nos casos em que a personalidade não é a causa principal do insucesso, ela desempenha, pelo menos, o papel de causa adjuvante. Na verdade, a exigência escolar န quer se trate da escola básica ou secundária န não soube adaptar-se, até aqui, a determinadas personalidades infantis nem soube adaptar-se aos condicionamentos sócio-psicológicos da nova «explosão escolar».

4.3.1.3 - Problemas afectivos

Para a criança a vida escolar é uma primeira experiência de socialização, uma mudança de meio que traz consigo vivas reacções afectivas. Ela leva para a vida escolar as particularidades do seu comportamento em relação a outrem tal como a vida familiar a moldou.

Reage em relação a outrem, aos professores, aos companheiros, às obrigações da disciplina colectiva e de trabalho escolar em função das suas primeiras experiências com os primeiros parceiros: pai, mãe, irmãos e irmãs.

Todos os conflitos afectivos familiares que a puderem pôr à prova vão continuar a ressoar nas situações afectivamente análogas que a vida escolar pode apresentar. O professor ou a professora vão ser ressentidos inconscientemente como o pai ou a mãe. Uma criança que tenha suportado mal os desmames afectivos que toda a evolução supõe terá tendência para concitar a atenção e o amor dos professores por todos os meios. Uma outra que tenha liquidado mal a sua agressividade contra a imagem paterna procurará inconscientemente provocar o professor, ou procurará fazer-se punir para apaziguar o seu sentimento de culpabilidade.

Todos estes estados afectivos, geralmente inconscientes, não só mobilizam uma grande parte da energia da criança, mas também perturbam o seu comportamento, impedem-na de condutas adaptadas, inibem mais ou menos as suas faculdades intelectuais: memória, atenção, compreensão, etc. Em casos extremos, podem mesmo inibir completamente o trabalho escolar ou fechar o espírito a certas matérias. Revoltada ou fechada na sua atitude de defesa protectora, a criança ressente o trabalho escolar através das relações com outrem e designadamente através de reacções que este trabalho suscita nos educadores. A cólera, as recriminações, os castigos, os desesperos dos pais ou dos professores, alimentam este comportamento afectivo inadaptado, fixam o Eu ainda frágil da criança e paralisam mais ou menos a sua actividade. Deixando de ser uma actividade objectiva, o trabalho torna-se parte dos conflitos não resolvidos da criança e dos seus primeiros educadores.

4.3.2 - Causas económicas e culturais da família de origem dos alunos

Certos factores, como o nível cultural, habitat e nível económico da família, influenciam não só o acesso à escola como o sucesso escolar.

Nas investigações a que procedemos, procurámos verificar esta hipótese em relação aos alunos do 7.º C. Para isso, construímos um indicador que designamos por Posição Social do aluno (PS) e que é resultante de:

  1. nível económico (determinado através da profissão dos pais);
  2. nível cultural (determinado pelas habilitações académicas dos pais);
  3. habitat (determinado pela residência habitual dos pais).

Definiram-se assim quatro posições sociais:

    • PS1 န correspondente aos estratos superiores (grandes industriais e comerciantes, profissões liberais, altos funcionários);
    • PS2 န correspondente a estratos médios mais instruídos (professores, médios industriais e comerciantes, funcionários médios);
    • PS3 န correspondente a estratos médios menos instruídos (caixeiros, empregados de escritório, trabalhadores qualificados, funcionários administrativos, pequenos comerciantes, industriais e agricultores);
    • PS4 န correspondente aos estratos operários e rurais (operários não qualificados, trabalhadores rurais, funcionários auxiliares, vendedores ambulantes).

Como indicadores do sucesso escolar, seleccionámos o número de aprovações / reprovações (de cada aluno, desde o 1.º Ciclo até ao ano escolar frequentado na data do inquérito (1998).

Após o agrupamento dos alunos por posições sociais, os resultados são os que constam do Quadro XLVIII.

Quadro XLVIII - Rendimento escolar por posições sociais

PS

Efect.

%

Apr

%

Repr

%

PS1

0

0

0

0

0

0

PS2

0

0

0

0

0

0

PS3

4

29

24

29

6

23

PS4

10

71

60

71

20

77

Total

14

100

84

100

26

100

Quadro XLIX - Posições sociais dos alunos do 7.ºC

n.º

Aprv

Repr

Idad

PS

1

6

1

12

PS3

2

6

3

15

PS4

4

6

2

13

PS3

5

6

1

12

PS4

6

6

2

14

PS4

7

6

3

14

PS4

8

6

0

12

PS4

10

6

1

13

PS4

11

6

0

12

PS3

12

6

3

14

PS4

13

6

2

13

PS4

14

6

3

15

PS3

15

6

3

15

PS4

16

6

2

14

PS4

Média

1,9

13,4

A leitura do Quadro XLVIII permite-nos visualizar como o insucesso escolar (medido pela percentagem de reprovações) afecta sobretudo a PS4 constituída pelos estratos económicos mais débeis, residentes em bairros degradados ou no campo e com baixos níveis de estudos. Ao passo que os alunos da PS3 estão numa situação ligeiramente melhor. Este exemplo não será o mais elucidativo, em termos comparativos, a fim de analisar as disparidades existentes, pois os pais dos alunos, pertencem quase todos a estratos socioeconómico-culturais baixos, o que se repercute de sobremaneira no sucesso escolar dos seus filhos.

Partes: 1, 2, 3, 4, 5, 6


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