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A intuição e a sensação em dependentes de drogas na perspectiva da psicologia analítica (página 5)


Partes: 1, 2, 3, 4, 5

P: Não, deu pra entender...

E1: E eu posso estar passando aperto... Eu não vou...

P: Pedir ajuda.

E1: Eu não vou... Naquilo ali. De jeito nenhum. Vou quebrar a cara. Eu sei que [...] Mas não vou pedir.

P: Por que?

E1: Então, é complicado, por causa disso. Eu falo: eu vou guardando dentro de mim. Aí eu pego uma raiva e... Não! Não...

P: É tipo um orgulho, assim?

E1: Ah, eu acredito que s... Não, não é orgulho! Eu acho que é como se eu guardasse isso, como raiva mesmo. Entendeu? No interior, eu vou guardando e... Não... Igual, tipo assim: eu fico imaginando uma coisa... Agora, eu tenho que mudar muito o meu ser – sei disso. Mas é, vamos supor assim... Como é que eu vou explicar? Aqui: você não me ajudou a fazer tal coisa. Depois você chega lá: "É, podia ter feito do jeito que eu tinha falado", "Ah, rapaz, vai ver se eu tô na esquina!" Dá uma raiva! "Não fez nada e vem dar palpite no que eu fiz?". (risos) Entendeu? Ué, não ajuda... Antes: "Não vai dar certo!". Põe você pra baixo... Aí depois que você faz, vai querer falar? "Ah, sai fora!".

P: Então, mas nesse caso aí, você não corta o relacionamento com a pessoa?

E1: Se ela criticar o que eu tô fazendo, procuro não dar ouvido pra ela e não olhar pra ela.

P: Ah.

E1: Sabe por que? A pessoa tá olhando pra criticar o que eu faço... Vou querer amizade com uma pessoa dessa?

P: Ah, mas depois que você falar isso pra ela, e ela cair em si. E aí?

E1: Não, se cair em si, tudo bem, né? Aí eu continuo. Cada um no seu lado.

P: Mas aí acabou então?

E1: É, porque não... Eu evito. Porque: "Ah, eu vou fazer outra coisa, ele vai dar outro palpite". Eu vou fazer outra coisa... "Não, eu não quero papo não!". Entendeu? Eu vejo assim, vamos supor: tudo para ele é negativo. Vai me atrapalhar, isso. Eu não sei se é ele, ou se sou eu o negativo, daí, né? Mas é desse jeito.

P: Rapaz, e aí... Casamento?

E1: Olha, eu fui casado. Tô casado, né? Tô batalhando agora, aí, que eu voltei pra cá... Eu saí com filhos no casamento. Tenho dois filhos lindos. Então, um vai fazer cinco anos 3ª feira, depois da minha visita, e o outro vai fazer dois anos dia X. A coisa mais linda os meus dois filhos! Saudáveis! Só o mais novo: ele tem alergia ao leite. Sabe? Ele não pode beber leite. Ele bebe aquele Nan HA. É o mais caro que tem. Acho que é quase R$ 50,00 cada lata. Só que não tem condição. Quem dá é [...]. E parece que ele não tem um testículo. Parece que ele vai ter que operar. Não é que não tem. Quando não tem, beleza, né? Não tem problema nenhum. Parte de urologista. Mas quem tem, e não está no devido lugar... Está caminhando dentro da barriga. E isso tem que operar, porque senão vira câncer. O testículo, entendeu? Quando ele não está já na barriga, ele está a caminho. Um só. Aí, daí, ele parece que vai ter que operar. Entendeu? Meu casamento... Minha esposa sofreu muito na minha mão. Cheguei a bater nela. Sabe, uma coisa muito triste. Hoje em dia eu enxergo. Eu amo ela. Sempre amei, entendeu? Eu sempre tive um sonho de fazer, de formar uma família, pra não ser o que a minha foi: desunida, só briga. Você entendeu? Então eu sempre tive um sonho de ter uma família e ter filho. Só que daí eu não fiz nada do que era pra ser feito. Foi tudo... Continuou na mesma vida que eu levei... Eu fiz com a minha família. A minha esposa, eu odiei... Eu saia onze horas da noite. Então, drogado, bêbado, eu falava: "Oh, eu vou ali e já volto. Vou no bar". Eu voltava era no outro dia. Eu ficava usando droga. Não escondia de ninguém, usava na frente de qualquer um. Usava na frente da minha esposa, na frente dos meus filhos. É uma decepção muito grande pra mim agora. Agora que eu tô são de drogas, não tô bebendo, eu penso assim: "Puxa vida, viu! Quantas vezes, eu com dinheiro no bolso, podia ir lá e gastar com chocolate que fosse... Podia comprar refrigerante para as crianças... R$ 10,00 eu usava numa porcaria de negócio, que só faz mal pra gente." Só que eu via pelo lado assim: "Ah, eu tô fazendo mal pra mim, meu! Fica na sua que...". Vamos supor, eu falava assim: "A geladeira tá cheia, não tá? Tá precisando de alguma coisa?", "Ah, eu preciso de xampu". Ela ia lá e comprava tudo o que estava precisando. Pegava e gastava tudo. Entendeu? Aí eu falava: "Ah, o que você está precisando não tá aí? Então porque você tá me enchendo o saco? Eu não tô fazendo mal pra você. Eu tô fazendo mal pra mim". Eu pensava dessa maneira. Entendeu? Meu casamento foi complicado. Eu amo muito ela e tô labutando pra ver se eu reconcilio meu casamento, pra ter ele de volta. Pra eu fazer tudo ao contrário, e daí eu ter minha família realmente como eu queria. Porque até agora eu vi desmoronar o meu sonho, né? Eu sempre fui trabalhador. Oh, eu roubei muito, entendeu? Roubei moto, roubei carro... Roubava as coisas quando os outros não viam... Sabe? É... Eu fui por esse lado aí também, infelizmente... Arrependo muito! Fiz diversas coisas...

P: Mas você estava envolvido com a droga, né?

E1: Eu estava envolvido com a droga. E eu sempre trabalhei. Só com o dinheiro do trabalho, hoje era pra eu ter minha moto, meu carro, minha casa, tranquilamente. Sempre trabalhei. Entendeu? Fora o dinheiro que ganhava fácil, ainda. Coisa errada, sô!

P: Mas depois que você passar esse período aqui, que você se recuperar, sabe o que é bom você fazer? Sabe onde fica a Unitau? Você poderia procurar um psicólogo pra você se tratar, entendeu?

E1: Só se tiver pela prefeitura, porque eu não tenho condição de pagar.

P: Mas a Unitau tem. Entendeu? A Unitau tem e lá você tem que pagar o que? Quatro reais a sessão... Um negócio assim, bem barato. E mesmo se você não puder, aí você... Entendeu?

E1: Meu caso é complicado, né? Seria bom eu me tratar, você diz, né?

P: É, porque aconteceu muita coisa com você, cara. Nossa! Pra dar conta disso tudo é muito difícil, cara!

E1: No caso, vamos dizer, você me acusaria... Você ia me entender, procurar me entender? Você acha que de eu ser dessa maneira é que aconteceu tudo isso, né?

P: [...] Tratamento é o que? Seria uma sessão por semana mais ou menos. Entendeu? E você vai lá e você fala do passado, fala de você, dos seus problemas... Entende? E interage. Aí eles falam, você fala... É mais assim. Tudo fica em sigilo, porque não pode falar pra ninguém... Tem que ficar no sigilo. E isso aí ajuda muito a pessoa. Por que? Porque quando você conta o seu passado pra alguém, você tem a oportunidade... Porque você sozinho você não contaria. Primeiro, você não ia lembrar do seu passado à toa. Assim: "Ah, agora eu quero me lembrar do meu passado". Não, assim não vai.

E1: Eu nem gosto de...

P: Então. Agora, com alguém você teria que contar e a pessoa iria tentar entender o seu passado. Quer dizer, iria fazer... Você iria fazer perguntas, ele iria fazer perguntas para você. Essas perguntas, você iria buscar e você ia procurar entender. De forma que o passado ia vir todo à tona, tudo de novo. Mas a diferença é que você agora é adulto. Aquilo que você viveu lá atrás, você viveu como criança. Então, o modo como você vivenciou aquilo, era enquanto criança. Mas voltando ao passado, você revivendo ele, contando tudo, agora como adulto, você resolve aquilo. Entendeu? Você passa a entender melhor. Uma que você desabafa, outra que você vai entender melhor o passado. Porque agora...

E1: Agora que eu penso certas coisas... Nossa, eu me remoo por dentro. Aquele pensamento... "Puxa, aconteceu isso, aconteceu aquilo..." Vou fazer isso, vou fazer aquilo... Aquilo vai me corroendo, corroendo... Daqui a pouco já estou chorando, só de pensar. Sabe, é uma coisa assim interior, que vai me corroendo por dentro. Ah, é complicado! Tem hora que dá umas dessas... Igual... Esses dias eu estava ali: "Puxa! Minha esposa... Puxa vida!". Só de pensar me dá aflição, sabe? Já começa: "Puxa! Ela não vai me querer... Será que vai?". E o que seria só um pensamento já começa a gerar aquilo ali. E vai indo... E cada vez vou pensando mais coisas, vou pensando mais coisas... E vai acelerando... Daqui a pouco eu já tô: "Ah!". Daqui a pouco eu tô olhando pra cá e pra lá... A pá tá aqui, que eu tô querendo pegar e vou dez vezes de lá para cá e não sei o que tô fazendo.

P: Você fica...

E1: Transtornado, vamos dizer.

P: Transtornado...

E1: Isso!

P: Transtornado, preocupado, confuso...

E1: Isso! Tudo junto! Falou tudo! Falou tudo! Oh, ontem mesmo eu estava assim: ia pra lá... "E1! E1!", "Am?", "Onde você tá?". A cabeça não tá aqui.

P: Entendeu? E o psicólogo é preparado pra ouvir a pessoa. Ouvir e entender, entendeu? Não sei como seria pra você, se você teria coragem de ir assim num psicólogo. Porque você não gosta de se expor, né?

E1: Depende, eu não sei porque, mas gostei de conversar com você. Se eu não gosto também, ia fazer por onde encurtar a conversa. Entendeu? Eu não sou muito de ficar... Se me agrada, agrada; se não me agrada... É o seguinte: eu vou encurtar a conversa. Certo? Não sei porque eu me senti à vontade com você. Vamos dizer assim. Então eu tô expressando acho que até... Bem até. [...] Oh, pra ser sincero, eu gosto de ver simplicidade nos outros. Não sei porque, mas você representa simplicidade pra mim. Eu não gosto de pessoa arrogante, que já é... Sabe? Tipo soberbo. Seria a palavra assim...

P: Tipo pessoa orgulhosa...

E1: Não gosto disso, não. Entendeu? Eu vi uma certa humildade, simplicidade em você. Por isso que eu tô conversando mais. Entendeu? Eu me sinto seguro com pessoas assim. Que eu vejo que eu posso. Senão... Tchau e bença.

P: Tá bom... Então, mas... Completando: seria bom pra você, entendeu?

E1: Seria, né?

P: Seria. Se você puder...

E1: (Risos)

P: Você tá constrangido? Você está se sentindo constrangido?

E1: Não! (risos) Tô nada! Nada não!

P: Mas não é assim... Eu tô falando aqui, mas não é só você.

E1: Não, eu entendo... Não... Eu raciocino, entendeu? Não é assim. Eu não faço as coisas na base do impulso, não. [...]

P: Eu tô falando pra você assim porque eu tô tendo oportunidade de conversar com você. Com os outros eu não tive, né? Entendeu? Mas seria muito bom.

E1: Não, mas eu tô numa fase em que eu estou aceitando tudo. Eu não sei se é porque eu tô realmente crente, e... Fé, com fé em Deus, entendeu? Eu tô aceitando as coisas. Igual, a minha mãe mesmo... Minha mãe chegou aqui; eu fui internado... Eu falei lá no... Pode ir lá tirar informação com a assistente social: dona X. Eu falei pra ela. Falei: "Oh, ninguém me ajudou. Tô sendo internado, mas eu quero o lugar mais longe possível. Quero sumir daqui. Não quero saber de ninguém mais. Ninguém ajudou, então porque depois que eu tô internado vai querer ver?". Falei: "Não, não quero saber de papo com ninguém também. Todo mundo me abandonou". Tô pensando assim comigo. Daí ela pegou, tal, arrumou pra mim, me trouxe aqui... "Ah, tenho o telefone da sua mãe!"; "Tem? Mas você já pode riscar, porque não tenho mãe, não tenho ninguém comigo, não. Tô sozinho aqui". Sabe? Me revolta, daí, sabe? Entendeu? Eu fico cozinhando dentro, daí eu viro pro lado e fico... "Não chega perto, não, que eu dou coice!". Entendeu? Modo de dizer, assim: "Afasta de mim!". Daí a dona X não fez o que eu falei. Ligou pra minha mãe, avisou que eu tava aqui. Eu tinha brigado com minha mãe. Aí eu cheguei aqui, fiquei sentado lá, não levantei. Fiquei quietinho ali, só olhando. Daí o P falou: "Oh, seu filho tá aqui, seu filho quer dar um abraço", "Vou dar um abraço no meu filho!". Não olhei pra ela. Deixei só [...] e entrei. Daí ela chegou aqui[14]a primeira coisa que eu fiz – abaixei e falei: "Mãe, perdão!". Essas coisas eu não faço, não. Entendeu? Eu tô aceitando as coisas. Daí ela, pode perguntar pra ela, ela pegou e falou: "Olha, eu nunca imaginava o que o E1 fez! Nunca ele ia pedir perdão". Porque ela conhece o meu ser, né? Ela falou: "Olha, eu não pensei que isso fosse acontecer de jeito nenhum!". A primeira coisa que eu fiz foi pedir perdão pra ela. Falei com minha esposa, pedi perdão pra ela por telefone. Não é coisa que se faz, né? Principalmente se tratando da minha esposa... Bastante tempo com ela. Acabou, mas tenho esperança que... Tenho fé em Deus que eu vou reconciliar meu casamento. Porque eu vi meu sonho des... Des-mo... Des-mo-ro-nar... Na minha frente, mas... Eu vi tudo, entendeu? Ele parou numa certa medida que dá pra você reerguer de novo.

P: É. Sempre dá.

E1: Espero que sim, né? E eu vou fazer tudo o contrário do que eu fiz. Pode ter certeza!

P: Se Deus quiser! Deixa eu ver aqui, cara... E como é que é pra você depois que você ficou adulto, assim... Amizade... Essas coisas.

E1: Ah, eu nunca confiei... Eu nunca fui de negócio de amigo, não. Falar: "Ah, amigo". Amigo não! Eu não tenho amigo. Amigo sou eu mais eu. Não confio nem em mim!

P: Aham.

E1: Entendeu? Agora eu tô voltando, mas eu não confio nem em mim. Vou confiar nos outros? Por isso que eu sempre fui trancado... Não! Porque você vê também: se você tá com dinheiro você tem amigo; se você tá sem dinheiro você não tem amigo. Então, vou andar eu e mais eu mesmo e ainda olha lá! Entendeu? Uma vez ou outra... Daí eu queria... De repente, sei lá! Às vezes você quer... Você tá ali trancado, igual assim... Então eu gostava de jogar um bilhar. Não tem como fazer sozinho. Daí chamava alguém. É uma coisa que não tem condição de fazer sozinho. Então vamos lá. Vamos jogar bilhar, então vamos tomar cerveja juntos, beber juntos. Pra expor aquele negócio pra fora, entendeu? Vamos ali no copo ali, jogar, fazer uma jogada ali, pra ver se sai um pouco aquele negócio de dentro, entendeu? Remoendo muito...

P: É.

E1: Vamos dizer assim: eu fico com o pé atrás, né?

P: Assim, mais desconfiado dos outros...

E1: Aham.

P: E me diga o seguinte: dessas drogas que você falou que usou – crack, cocaína, assim... O crack, ele é diferente, o efeito dele da cocaína?

E1: Pra mim não. Pra mim, até os outros falam, pra mim dá o mesmo efeito. As duas drogas. Porque o crack, ele é feito da base da cocaína, né? O que não presta na cocaína, que é jogado fora, é que se faz o crack. Entendeu? Pra mim dá o mesmo efeito: o crack e a cocaína. Os dois, eu ficava cismado... Só que o crack era mais forte. A cocaína, vamos supor, eu usaria ela, vamos dizer, seu eu fosse num bar, eu usaria ela num banheiro, bebendo. Então, eu ficava mais tranquilo. Agora, o crack, como você vai fumar, tem cheiro, você não consegue fazer em lugar onde tem movimento. Então você se tranca. Entendeu? A cocaína dá pra você controlar. Você bebe e tira um pouco. Porque a cocaína estala. Você bebe, dá uma amenizada. Então você estalava, ficava esperto pra beber mais. Daí a pouco você tava tranquilão. Daí você ia de novo. Agora o crack não. Você se "emberna" ali, acabou você.

P: Entendi.

E1: Ali você já vai logo comprar um culotinho, dois culotinhos de pinga e se fecha lá pra você não precisar sair. Porque vai dar vontade de beber, então não vou precisar ir no bar porque eu não vou conseguir ir. Então já tá ali.

P: No caso, você usava droga pra poder se sentir melhor... É isso?

E1: É... Sei lá! Aquilo me propunha um prazer, vamos dizer, por dentro. Mas ao mesmo tempo isso é uma coisa de louco! Porque ficava com medo. Fumava aquilo ali, via os outros me catando, via a polícia invadindo a minha casa, via neguinho me matando... Às vezes olhava assim, ficava procurando em mim a luzinha... Sabe aquele negócio de filme? A luzinha da arma? Eu ficava assim olhando, procurando: "Ihhh, alguém tá lá! Lá por fora. A janela. Tem alguém em frente da janela! Não tá mirando eu?". Coisa de louco! Coisa que...

P: Paranóia...

E1: Paranóia? Põe paranóia nisso! É pouco, eu acho! Coisa de louco! De louco! Deus me perdoe! Mas, na primeira oportunidade você estava ali querendo de novo.

P: Mas diga assim: você gosta de "viajar"?

E1: Não, desse jeito não. Era ruim. Eu ficava com medo. É, eu ficava com medo, ué!

P: Mas assim – sem droga, sem nada. Você gosta de "viajar", assim? Fantasia...

E1: Ah, puxa vida, que delícia que é! É isso aí que apazigua um pouco minha vida. Tem tantos problemas... Daqui a pouco eu já... "Puxa vida! Olha que gostoso seria... Não?". Eu fico imaginando: olha, esses caras têm dinheiro, podem ir pro exterior... Nesses lugares não tem nada pra apresentar. Coisa boa tem o Brasil. Várias praias, lugares lindos... Pra você fazer mergulho, lugar sossegado. Conhecer bicho, ir pra água... Coisas desse tipo que eu gosto, sabe? Eu fico imaginando: "Puxa, olha eu...".

P: Então, você para, fica num canto assim, e fica imaginando aquilo tudo?

E1: Não, eu posso estar trabalhando aqui, eu tô imaginando...

P: Tá "viajando".

E1: Tô "viajando", mas fazendo tudo certo. Entendeu?

P: E utilizar droga para "viajar" assim, você...

E1: Não! Só maconha.

P: Ah é?

E1: Na maconha dá. Agora as outras drogas não. Agora crack e cocaína não. Maconha dá.

P: E nesse sentido você gostava de maconha?

E1: Me tranquilizava. Eu comia que nem um descontrolado. Daí até ficava sossegado. Daí ia dormir.

P: Você não gostava da moleza, né?

E1: Ah, não gostava da sensação dela, não. Você fica lerdo. Dava uma certa despreocupação também, na cabeça também, sabe? Tipo: "Nossa! Meu Deus, eu vou morrer! Um dia...". A maconha me trazia isso aí. Tipo a realidade. Eu caia em si. Um negócio estranho. É totalmente diferente o uso de uma droga da outra pra mim. Sabe, eu ficava: "Ah, não sei o que...". Eu tava na risada, daí a pouco: "Nossa meu! Pô, eu vou morrer! Vou pro cemitério, cara! Sabe, eu ficava assim. Vinha sempre isso... Acho que é por isso que eu não gostava de fumar maconha. Vinha muito a morte pra mim. Eu ficava pensando, tipo medo: "Nossa! Eu vou morrer! É tão gostoso estar aqui! Olha que delícia tomar uma...".

P: Mas ela fazia "viajar", então, também?

E1: Viajava também. (Pausa) Mas totalmente diferente.

P: Quando é que você tomou contato com a maconha? Por que você tomou contato?

E1: Eu não me lembro bem. Ah, foi meu irmão. Ele ficava numa pracinha. Morava ali na X, onde subia a Y. A minha avó morava ali junto com o meu pai. Então teve uma época que nós fomos morar ali. Daí eu fui na pracinha, e tal. Eu não conhecia a maconha também. Meu irmão ficava com uns caras lá. Uma vez eu comecei a colecionar caixinhas de cigarro... Você lembra dessa época? Maço de cigarro... Colecionava marca de cigarro? E eu nunca tinha visto uma caixinha de John Play Special preta. Já viu ou não? Nem tem mais dessa. Americano, parece. Se eu não me engano – John Play Special. Era J... JPS ou JP só... Uma coisa assim. Dourada, assim – "Nossa! Caixinha diferente!". Aí uma vez eu vi um cara escondendo numa árvore, mas eu não tinha noção. Daí eu fui, esperei ele sair de perto e peguei. Levei embora, e aí dentro tinha um feixe de maconha. Eu não conhecia. Daí passou um tempo minha mulher achou: "Isso é seu?", "Não sei o que é que é... Eu achei a caixinha e tal...". Foi indo. Só que daí eu tive o primeiro contato e eu queria saber o que era. Aí uma vez eu falei: "Ah...". Eu tive oportunidade porque uma mulher me ofereceu lá no... Dona Q, minha mãe, saia, trabalhava, eu ficava sozinho o dia inteiro. Era pivete pra cuidar do meu irmãozinho mais novo que eu ainda. E tinha muita responsabilidade nessa parte: fazia comida desde novinho, né? Daí eu fiz amizade com um casal lá. O cara era muito doido; a mulher também. Daí ela não gostava de fumar sozinha. Ela ia trabalhar e ela levava eu junto com ela pro mato pra usar droga. Entendeu? Daí eu fui uma vez e falei pra ela: "Que graça que tem isso aí?", "Ah, quer experimentar?", "Dá aí"; fumei, fiquei muito louco, meu! Passava mal... Era uma coisa que fazia eu passar mal. Sabe? Rodava tudo... "Nossa, Deus, cara! Tem que deitar, senão vou chegar a cair", sabe?

P: Aham.

E1: Ficava muito louco mesmo... Por isso que eu não gostava de maconha; fazia eu passar mal. No entanto, tem gente que, vamos supor, enrola um baseado de maconha, né? Um cigarro inteiro, e fuma inteiro. E quando eu usava, eu acendia e dava um trago, segurava e apagava. Aquilo ali era o suficiente pra eu ficar muito louco. Pegava eu fácil, vamos dizer assim.

P: Sei.

E1: Assim como a outra droga também deixava eu muito louco. Os outros ficavam com medo de usar perto de mim – "Ou, você tá louco? Você tá bem? Que não sei o que...". Pegavam e sumiam de perto de mim. Usava crack [...] e ficavam com medo de mim. [...]

APÊNDICE C – Conteúdo da Segunda Entrevista de Anamnese

ANAMNESE

ENTREVISTA REALIZADA ENTRE MARÇO E ABRIL DE 2009

NOME: E2 – ESCOLARIDADE: Ensino Fundamental Incompleto – IDADE: 22 – SEXO: Masculino

LEGENDA: P – Pesquisador / E2 – Entrevistado Nº 2

P: Você já se consultou no passado com médico ou psicólogo ou um profissional de saúde por problemas de "nervo", assim?

E2: Não. Sistema nervoso?

P: É.

E2: Não.

P: Já tomou remédio para os "nervos"?

E2: Nunca.

P: Muitas pessoas procuram ajuda de benzedeira, padre, pastor, centro espírita ou outra pessoa com poder de cura. Você já procurou alguma ajuda desse tipo?

E2: Só casa de recuperação mesmo.

P: Então, não, né? Internação psiquiátrica. Você esteve internado em hospital?

E2: Nunca.

P: Psiquiátrico... Então, não. (Pausa) Você teve, no tempo em que você mexia com drogas, alguma tentativa de suicídio?

E2: Já. Mas não assim... Por querer. Na hora da droga, de utilizar ela e você acaba devendo, aí o objetivo da pessoa é acabar... Ou se matar, ou fugir do bairro onde mora, que seria uma tentativa de homicídio. Mas em relação a tentar se matar mesmo, assim, por não estar fora da droga, não. Mas por dentro da droga, sim.

P: [...] Mas então teve tentativa?

E2: Teve...

P: Ou foi só pensamento?

E2: Não, foi só pensamento. Porque você chega num ponto, numa área em que você utiliza droga; aí chega uma hora que você não tem pra usar mais e fez a dívida mesmo devendo. Entendeu? Aí ocorre aquela mentira: "Não, amanhã eu pago você. Não, amanhã eu dou, e tal". Daí, através dessa pessoa que você sabe que... Uma hora ou outra você acaba sendo ameaçado por ela. E por ser ameaçado por ela, você acaba tentando se matar... Que chega de 600 a 900, é a média que a pessoa chega a dever. Não passa disso. Porque daí todas as bocas, todas as casas, todos os locais ficam sabendo – "Oh, fulano de tal tá devendo isso, isso e isso". Se aparecer aqui, "grampeia" ele pra nós. Que nós queremos ele, que ele tá devendo pra nós. Aí é a hora que você quer se matar, você quer se internar, quer fazer alguma coisa pra ir preso... Algumas pessoas fazem isso. Porque na hora que elas chegam no presídio, elas não podem ser cobradas lá dentro. Então aí a pessoa espera ela sair. Daí entram num acordo e negociam. Aí acaba pagando a dívida. Mas mesmo assim ela sai desconsiderada pela sociedade. No entanto, são três alternativas que ela tem: ou ela se mata, ou ela entra num acordo ou senão ela vai presa. Porque a droga impulsiona você a matar, ou você quer roubar alguma coisa pra você ir preso... Você sabe que lá dentro não pode matar ninguém.

P: Mas você teve tentativa? Você tentou se matar?

E2: Não. Na hora deu vontade, mas eu não quis.

P: Briga, agressão, teve? Na época que você...

E2: Eu tive uma vez uma... Acho que... Uma tentativa de homicídio. A pessoa morava no bairro de casa, onde eu morava, e era como se fosse uma pessoa que queria dominar o local... Queria tirar as pessoas do bairro... Fazer assim... Tumulto pra todo mundo reunir e eles expulsarem a pessoa daquela parentela, daquele bairro. Aí eu estava um dia usando droga... Eu usei, vendi algo que não era meu, e na minha mente o inimigo fez eu pegar uma barra de ferro e utilizar pra matar essa mulher. Só que daí eu fui até o local e não cheguei a entrar na casa dela porque ela morava num sobrado. Aí nessa, eu ficava ameaçando ela: "Desce aí pra você ver se eu não vou matar você!". Porque se descesse, aí poderia ter acontecido algo mesmo. Porque, geralmente, quando a pessoa usa, além de vir o grau da droga com ela, tem um espírito maligno. Eu não sabia disso. Depois que eu... Eu acabei me tornando cristão eu acabei conhecendo isso. Que além de a droga fazer um efeito, o inimigo entra também pra querer azarar mais ainda. E nessa que eu tava ali, aí virou uma viatura da civil, preto e branca, aí eles pegaram e levaram eu pra delegacia. Por eu ter feito isso. Daí eu cheguei lá, o delegado tava lá e eu... Ele pegou e falou assim: "Ah, vai lá na sala"; falou que era uma tentativa de homicídio. Creio eu que ela inventou um punhado de coisas. Aí colocaram eu no curral, lá, que é uma celinha, e de lá me levaram preso. Aí lá eu fiquei uns seis meses. Fiquei lá seis meses, e depois de seis meses, depois eu saí. Mas mesmo assim continuei na... Usando droga.

P: Mas você teve problemas legais? Processos, assim?

E2: Assim, de ficar tendo audiência, essas coisas? Eu tive, mas aí nunca mais, ninguém me procurou, não relatou mais... Até esses tempos que eu estava aqui, veio uma mulher: "Isso aqui não tá devendo mais. Já pagou...". E um advogado ligou pra mim, que é do estado, e falou que tem algo correndo, de um... De um furto que eu tinha feito. Mas não fiz, e falou que eu tinha feito. Aí a pessoa me perdoou. Aí ele não ligou mais. Isso dá a entender que ele pegou meu processo, mas o processo tava arquivado... Entendeu? É isso que ocorreu.

P: Problema com a polícia, assim, você teve?

E2: Com a polícia, não. Assim: em que sentido o senhor fala? Agressão?

P: É, tipo esses casos aí. Da polícia ser chamada...

E2: Eu nunca agredi polícia nada, aliás, eles que nos agridem por má companhia, né? Você tá numa má companhia, eles chegam batendo pra... Né? Pra apavorar, né? Aí com polícia nunca tive caso nenhum, não.

P: Certo. É... Álcool, você já usou, esporadicamente, bebida alcoólica?

E2: Usei mais no carnaval. Só no carnaval. Mas não prevaleceu na minha vida porque não era muito de álcool.

P: Então, praticamente não...

E2: Não.

P: Então você não teve vício de bebida. Cigarro?

E2: Cigarro, assim: tempo? Qual que é...

P: Você fumava cigarro?

E2: Fumava.

P: Quantos cigarros por dia?

E2: Olha, eu não era de fumar. Eu tinha que utilizar pra fumar pra obter a droga que eu ia utilizar. Mas se for ver mesmo eu fumava o que? Uns... No vício do crack a gente fumava o que? Um... Um pacote. Agora no dia a dia eu fumava um maço.

P: Então, uma média, assim...

E2: Um maço, dois maços... Dois maços.

P: Dois? Vinte cada maço?

E2: Vinte cada maço. Dava quarenta.

P: Café, você tomava?

E2: Café? Tomava.

P: Pra cigarro, assim?

E2: Tomava. Sentia mais o desejo de querer utilizar o cigarro.

P: Quanto? Quantas xícaras por dia?

E2: O que desse na... O que estava ambiente, a gente tomava. Era o que? Uma jarra. Seria uma garrafa térmica.

P: Toda vez que você fumava você procurava café?

E2: Não. Mastigava chiclete... Aí dava vontade de fumar...

P: Uma média de que? Dez xícaras?

E2: É, por aí.

P: É... Você já ouviu falar de Vallium, Lorax, Rivotril?

E2: Não. Nunca ouvi falar. São drogas, isso aí, tal?

P: São. Só que são drogas farmacêuticas, né?

E2: Ah, tá. Isso aí eu nunca ouvi falar e nunca vi utilizar.

P: Qual tipo de droga você utilizava?

E2: Os tipos de droga? Cheirava? Olha, eu comecei fumando cigarro...

P: Hum...

E2: Depois do cigarro eu parti pra maconha. Depois da maconha começamos a cheirar cola, thinner... Aí, depois disso, ficamos na maconha, normal. Aí, depois disso, começamos a conhecer a farinha, né? Conhecida como cocaína, né? Que é... A irmã do crack, né? Que é utilizada. Depois a farinha, você ficava mais em paz.

P: Então, depois da cocaína foi pro crack?

E2: Na minha vida foi sim.

P: E assim... De todas essas drogas, qual que você preferia primeiro? De todas?

E2: De todas?

P: Tirando o vício.

E2: A que eu era viciado?

P: É. Se for tirar o vício, assim, se você lembra... Qual que te dava mais prazer?

E2: Era mais a maconha, né?

P: Mais a maconha?

E2: Mais a maconha.

P: Por que?

E2: Oh, porque a maconha, assim no psicológico do mundo, você utilizava ela, ela era tranquila: a sociedade, ninguém reparava em você... Você não roubava os outros, você não roubava a sua família, você não vendia a roupa do corpo, você não gastava dinheiro em meia hora, entendeu? [...]

P: Aham.

E2: A que eu gostava... Só que aí veio a outra, onde eu acabei ficando viciado. Só que em primeiro lugar, a que eu gostava era a maconha.

P: E o que ela te causava de prazer, assim? Pra você gostar dela?

E2: A maconha? A maconha, no caso dela, ela... Eu utilizava ela, a gente fumava... A gente... Quanto mais, quanto menos pequeno você fuma ela, mais um grau dá. Aí o que que acontece? A maconha, ela é um objetivo pra pessoa ficar na paz. Em que sentido? Ela entra no meio de traficante, de bandidos perigosos... Ela é considerada, por ele usar aquilo, e não vai fazer mal a ninguém, saber que não vai dar pilantragem com ninguém. Ela traz uma confiança também de traficante, bandido... Se falar: "O cara usa maconha", "Tranquilo. Pode acertar aí e entregar na mão dele que não vai acontecer nada". Você entendeu? Então ela trazia também mais apetite, né? O desejo de você ter arma... Tipo: você comandar boca, entendeu? Então ela trazia um desejo de você viajar pra um lugar longe, depois voltar depois de um tempo.

P: Como assim?

E2: Viajar...

P: Viajar?

E2: É, viajar... Assim, tipo você sair da cidade e viajar pra outro lugar, ir numa ilha, num local... Então, ali onde você passa uma semana, duas semanas fumando ela... Então essa é a sensação que ela dá. Ela não vai trazer uma derrota pra você. Ela vai trazer um ânimo, mas ao mesmo tempo ela... Ela, você sempre tem que estar utilizando ela. Nesse caso desse tipo de maconha. Né? Que é conhecida como... São umas que são mais consideradas como "borrachinha"... Então, uma maconha boa, forte, que eles usam agora, rende mais... Tem outra conhecida como "paia", que é seca, que é muito rápida, que arde na garganta...

P: Você já provou "borrachinha", "paia", tudo?

E2: Já.

P: A "borrachinha", quando você a provou, assim, que sensação que ela te dá, que você sentia prazer?

E2: Ah, ela...

P: Que dava vontade de você retornar depois.

E2: Ah, dava vontade de você ficar bem, né? De se arrumar bem, assim, é... Não tem uma explicação legal, assim, entendeu? Que ela... Você utiliza ela e ela deixa você tranquilo. Dá o que? Dá fome, entendeu? Você sente vontade de comer coisas gostosas, coisas que criança come: seria Danone, iogurte... Tudo isso ela dá desejo de você comer, entendeu? Que é a "borrachinha". Você respeita as pessoas, você fica em paz... Ela faz a paz! Bom, isso que é a maconha. Que ela não é discriminada por muitas pessoas. Mas depois, fora ela, as outras, são todas condenadas. Né? E... Era gostoso. Você utilizava ela... Primeiro, de manhã, que você acordava, você já fumava. Nem lavava o rosto, nem nada... A primeira coisa que você fazia... Utilizava ela. Você já acorda com ela na mente: "Amanhã vou fumar uma "borrachinha"".

P: Há quanto tempo você usou todas essas drogas?

E2: Oh, se não me falha a memória, caberia assim de... Quer ver: eu tenho vinte e dois... Acho que foi de dois a três anos eu tive usando isso.

P: Então foi há dois anos atrás que você parou de usar?

E2: Faz, dois anos e meio.

P: Ah, tá!

E2: Mas, assim, fazia dois anos que eu fumava. De dois a três. Fumei durante dois a três anos. Faz dois anos que parei. Dois anos e um mês: já vai pra três.

P: Qual frequência e quantidade?

E2: Que a gente usava?

P: É. Por último: o crack.

E2: Do que? Do crack ou da maconha?

P: Do crack que foi o último.

E2: É... A quantidade... Se for somar, assim... Daria o que? Umas 600g... Por assim, duas semanas... P: Então por dia eram umas 100g?

E2: Umas 100g você usava, porque era todo dia, toda hora. Você entendeu? No meu caso era assim, porque a gente... A gente... Pra gente obter isso aí a gente tinha quer furtar. Então, por exemplo, a gente furtava no valor de setecentos, novecentos reais... A gente comprava o que? Comprava todo o [...] que ia utilizar essa droga, que seria isqueiro, cigarro e latas. Correto? Era tudo isso. Então, daí, no caso, fumava o que? De... Seiscentos reais, às vezes, num dia...

P: Certo.

E2: Era horríve1! Você fumava... Tinha algumas... Tem, é... Vários tipos, né? É uma conhecida como "torrão", que você utiliza ela e ela não queima. Ela não derrete como a "cristal". Que a "torrão", ela vira carvão. E dá uma dor de cabeça profunda e dor no estômago. Você sente fome, mas o organismo não aceita comida. Agora, a "cristal" ela faz um efeito de querer cada vez mais.

P: Drogas injetáveis, teve?

E2: Nunca! Não.

P: Você sabe alguma coisa, através da sua mãe, do seu pai sobre a sua gestação, o parto?

E2: De viver ou não viver?

P: Não. Por exemplo, se você foi planejado...

E2: Não, foi por... Assim: natureza mesmo. Assim: minha mãe conheceu meu pai e aí tiveram eu. Não planejaram nada. Assim, seria nesse caso?

P: Você não era esperado, então?

E2: Eu creio que não.

P: Não?

E2: É, nessa área eu não consigo lembrar muito bem.

P: Não, mas eu não tô falando de lembrar. Deles falarem pra você. Se você foi planejado, se você... De repente eles ficaram sabendo... Se ficou grávida, sua mãe...

E2: Não. Eles nunca falaram pra mim e meu pai é separado da minha mãe há dezoito anos.

P: Então você não sabe a respeito?

E2: Não sei a respeito disso.

P: Doenças da sua mãe na gravidez... Sabe de alguma coisa?

E2: Não.

P: Condição do parto ao nascer... Se... (Pausa) Não sabe, né? Primeiro e segundo anos: amamentação – se você largou da mamadeira rápido, se demorou...

E2: A minha mãe falava pra mim que eu não mamei muito tempo no peito, não. Eu já comia arroz com feijão mesmo.

P: (Pausa) Idade em que você engatinhou. Você sabe? Sua mãe já falou pra você?

E2: Ela não falou.

P: Não? Que você ficou de pé, que você andou, que você falou, que idade que foi... (Pausa) Não? Como é que era o relacionamento com seus pais, irmãos e amigos quando você era criança?

E2: Com o meu pai eu não tive o privilégio. Mas com minha mãe, com meus primos, a gente era bem contente, feliz... Eles gostavam bastante de mim... Né? E era bem tranquilo. Até os seis anos de idade que eu lembro, né? Depois eu cresci e não lembrava mais nada. E isso foi de seis para doze anos. Agora de doze pra vinte e dois, aí é só... Aí eu caí no mundo, né?

P: Dez anos, né?

E2: É. Caí no mundo [...] Primeiro a gente traficamos num bairro, num local... Abrimos uma boca pra vender, né? Que era só fumo, né? E foi indo... Aí depois a gente caiu na droga, começamos a usar. Era eu e meu irmão.

P: Na escola... Como era o seu relacionamento com os colegas, professores?

E2: É... Péssimo.

P: Como assim?

E2: Quando eu ia pra escola, até então, o que eu lembro, invadia a sala de aula e atrapalhava a professora no que ela tava fazendo. Aí a professora parava de escrever e eu... E a professora voltava a atenção pra mim... Falava de umas brincadeiras que a gente fazia.

P: Que idade mais ou menos isso?

E2: Ah, isso era uns treze... Treze... Uns dezesseis anos.

P: Dezesseis?

E2: Dezesseis. Aí aos dezessete eu passei pra uma outra escola aonde tinha a quinta, de quinta ao ensino médio. [...] Aí passei pra outra escola. Aí pra eu ir pra escola eu fumava maconha.

P: Mas como era quando você tinha a idade de dez anos, doze anos?

E2: Ah, quando eu tinha doze anos eu era normal. Já via o movimento, o crack, tudo... Já via a sociedade... Já via a viatura descendo no morro...

P: Você morava onde?

E2: Lá no X. Y.

P: Ah! Isso tudo foi lá em Y.

E2: Isso mesmo, em Y.

P: Qual era o seu rendimento escolar, mais ou menos?

E2: Em que sentido assim?

P: Provas, notas suas...

E2: Ah... Hum... Ah, não lembro.

P: Não lembra?

E2: Não lembro porque eu nem cheguei a fazer prova, né? Se fiz... De seis pra baixo.

P: É... Aceitação de regras. Você aceitava bem regras assim, ou não?

E2: Hum... Em parte sim, em parte não. Porque não tinha regra, né? Aonde a gente morava não tem regra... Então, não tem como uma pessoa na convivência em que a gente vivia ter regra também.

P: Mas na escola há regras...

E2: Não, na escola tem.

P: E lá, como é que era?

E2: Ah... (Pausa) Hum... Eu respeitava a professora, a diretora, tudo... Respeitava um monte de regras na escola. Algumas regras a gente respeitava sim.

P: Oh, cara, e como é que foi a adolescência sua? Quando iniciou a adolescência? Que você começou a mudar, a ter corpo mais de homem... Como é que foi isso pra você?

E2: Da idade? Que eu comecei isso? A ter uma visão?

P: As pessoas começam mais ou menos na idade de dez, onze, doze anos.

E2: Ah, eu comecei a cair na real mesmo foi no... Quando eu tinha... Quando eu fiz dezoito anos.

P: Como assim, "real"?

E2: Ah, eu passei a ser mais rápido, mais... A ter visão... Assim, você fala... Algo prazeroso, assim, do homem... Corpo físico, assim?

P: Não. Tô falando assim: sabe quando a criança começa a virar homem, assim? Começa a surgir barba, começa a surgir pelo...

E2: Hum...

P: Começa a mudar o corpo. Entendeu? Como que foi isso pra você?

E2: Normal.

P: Normal? Não teve vergonha?

E2: Não, não tive. Na época todo mundo queria ter pelo debaixo do sovaco, né? Bigode... (Risos) Isso era legal, né? Isso era... Né? Que a turma falava, né? "Oh, Oh o hormônio tá com... [...] tá nascendo... E tal". Mas isso não era muito, assim, muito... "Ah, que legal! Ah!". Era normal. Sentia normal mesmo isso ocorrer. Entendeu?

P: E os primeiros namoros, como foram?

E2: Os primeiros namoros? Assim: na área particular ou na área normal, só de comunicação?

P: Não, na área particular mesmo.

E2: Então, eu lembro que a primeira vez que eu comecei a namorar ela, ela era da minha escola, era da minha classe. Mas aí até então não tive... Separamos... Aí, depois disso, eu comecei a usar o crack...

P: Que idade mais ou menos?

E2: Do crack?

P: Que começou a namorar, tudo?

E2: Ah, eu tinha... Tinha nessa faixa aí: dezessete anos.

P: E aí você entrou no crack?

E2: É. Mas não por ela. Por estar num ambiente, na convivência e... Eu usei isso... Eu não usava isso. Primeira vez que eu usei, eu lembro até hoje: eu tava em frente da casa de um irmão que era... Que vendia, era traficante, e tinha um rapaz que foi comprar, e ele tava fumando. Aí ele falou: "Quer dar um trago?"; eu falei assim: "Quero dar um trago", mas eu pensei que era maconha. E fumei. Aí no fim amorteceu toda a minha boca. Um negócio esquisito! Tipo: parecia que você não pisava no chão normal. Minha mente parecia um isopor. Aí depois na primeira vez que você usa não dá, "cumpade"!

P: O que era?

E2: Era o crack com maconha.

P: "Ah".

E2: As pessoas utilizam o que? O crack com a maconha. Utilizam o cigarro com o crack, que é conhecido como "capeta". (Pausa) Então, o cigarro com o crack deixa mais louco do que a maconha e o crack. E o que deixa o cara mais pirado ainda do que os dois juntos é quando ele usa na lata... Ele usa umas cem gramas na lata. A lata é a mesma. Aí ele abre a lata, raspa ela, põe o cigarro no meio da cinza, enrola de novo e fuma. Meu Deus do céu! O cara fica louco, louco, louco, louco, louco, louco... Toda hora ele apaga pra fumar depois. Que é um trago que ele dá, já faz a mente de um que ele poderia fumar que seria o normal. Que chama "resina", conhecida como "resina". Então são várias coisas que na época eu não tinha visão. Depois que eu fui ver eu fui encaixando tudo na minha mente: "Nossa, olha só: essa vara aqui é um...". Entendeu? Então, foi tudo isso acarretando... E foi conhecido como "free base", que utilizava a "farinha", conhecida como cocaína com o cigarro. Muito feio! Horrível, cara! (Pausa)

P: Como que foi pra você a parte sexual na... Nos namoros?

E2: Assim, ter uma relação com a pessoa?

P: Isso.

E2: Oh, no caso, antes de ter uma relação com a pessoa a gente fica assim... Acaba sabendo, né? Se masturbar... A gente... Pornografia... Isso vai ocorrendo e você vai descobrindo como que é utilizado em uma relação com a mulher.

P: Aham.

E2: Geralmente você... Quando você não tem a pessoa, você... Olha, alugar um vídeo, alguma coisa, e assistir. Aí depois começava a masturbação, né? Começava a se masturbar, a sentir uma sensação... Criava uma mulher na mente pra você desejar que ela estaria com você, e você entrando a ela e ela fazendo seu desejo. Mas aí depois eu... Tive uma namorada... Aí era... No dia a dia. Todo dia a gente tinha relação. N... N... Era gostoso. Falar que é ruim, não é. Entendeu?

P: Mas como que foi pra você começar essa relação com ela?

E2: Oh, no momento, nos primeiros dias assim, dá uma [...] Por quê? A gente assim nunca... Difícil você ver uma mulher e ter uma relação com ela, e saber que a mulher já teve uma relação com outro. Aí dá uma emoção... Nossa! Utilizar a droga, ter uma relação com ela e ela já conhece como é que funciona. Entendeu? Aí... Depois da primeira vez, aí você... Quer direto, né? Quer embalar, né? Então é... Aí vira moda, né?

P: Aí fica comum...

E2: Aí fica comum. Aí já num... "Ah, a mulher, e tal...". Fica pelo menos uma semana, ou duas semanas na mente, né? Que isso que você utilizou, fez, ocorreu... Você praticar é uma coisa, ver é outra. Praticar é uma outra emoção. Agora, ver é outra. Não é a mesma emoção. Você tá utilizando o seu corpo a um, a algo... Que utiliza junto com você. Que é praticar. Agora o ver já não vem muito no caso. O ver é só pra ver mesmo. Só que aí depois, quando o camarada passa por uma relação, ele... A mulher pode vestir roupa normal, ele consegue ver a mulher nua. Que ele conheceu a parte humana e física da mulher: de frente, de costas e de lado. Correto? Então a mente dele, ele deseja... Ele olha pra mulher, e ele vê ela nua – só de calcinha e sutiã. Isso é o que leva a entender a mente da pessoa que utilizou.

P: E assim, cara: tem momentos na vida da gente, que a gente procura saber o que... Quem é a gente, qual é o nosso desejo, a nossa vontade, o que a gente gosta, o que a gente não gosta... Pra gente ser a gente mesmo, né? Tem uma hora que você fala assim: "Esse sou eu. Eu sou diferente dos outros e esse sou eu". Teve um momento assim pra você?

E2: De eu ser eu mesmo...

P: De você definir você...

E2: Certo.

P: De você se separar, assim...

E2: Ah, assim, quando eu tava no mundo não, mas depois que eu passei dessa fase aí eu comecei a cair em "si", a olhar pra mim: "Nossa! Preciso ter um emprego, preciso ter um trabalho... Preciso cuidar da minha mãe, ter uma casa própria, né? Ter uma esposa, filhos no lar, né? E viver uma vida digna, tranquila, em paz... Uma vida honesta... Ter uma convivência boa. A gente passa a sonhar, né? A gente é solteiro, quer ter uma esposa, ter filhos... Acho que é o que mantém você no dia a dia. Seria um emprego... Seria um lar próprio seu, onde você ia conviver... Quando você não depende de ninguém, a não ser de Deus, né? Aí é onde você pode convidar pessoas para ir almoçar: a família, sogra e tal. Pessoas assim pra você sentir que você é o "eu mesmo". Não pela soberba; o "eu" por reconhecer a si mesmo. Reconhecer a sua pessoa: "Mas eu não sou aquele drogado. Eu sou diferente agora. Não uso mais droga". Eu consigo valorizar o que é meu, o meu corpo. Consigo valorizar a minha família agora.

P: Trabalho, profissão... Você já trabalhou de carteira assinada?

E2: Eu não tive nenhuma oportunidade de trabalhar fichado, numa firma grande, numa fábrica... Algo assim eu não tenho. Mas eu tô me esforçando pra adquirir isso aí.

P: Mas você não teve, então?

E2: Nunca tive isso.

P: Nunca, assim, de bico?

E2: De bico? Humm... Eu trabalhei mais assim de servente de pedreiro, ajudante de técnico de som...

P: Como é que foi a relação com os seus pais? A relação com sua mãe, seu pai, seus irmãos...

E2: No sentido bom ou no sentido mal?

P: Nos dois sentidos.

E2: Oh, com o meu pai eu nunca tive uma relação, assim de conversar com ele... A última palavra que eu lembro que ele falou pra mim, e depois eu nunca mais vi nada dele, ele falou assim: "E2, o pai vai pra cidade"; eu falei: "Tá bom, pai. Traz um carrinho pra mim". Depois disso eu nunca mais vi ele. Né? O meu desejo, na época que eu estava no mundo, era crescer e "dar" nele. Teve uma vez, tava eu e minha mãe, na E, num local lá, e minha mãe, comigo de um lado, com meu irmão do outro, cada um do lado do braço – o trem tava vindo e ele empurrou eu e minha mãe.

P: O que? O trem estava vindo?

E2: Tava. Né? O trem, numa linha de trem, ele empurrou eu e minha mãe na linha do trem. Mas o trem tava bem longe ainda. Ele empurrou, assim, né? A minha mãe levantou rapidamente; algumas pessoas ajudaram ela.

P: Ah, ela caiu?

E2: Caiu.

P: Com vocês no braço?

E2: Com o meu irmão no braço. Entendeu?

P: Nossa!

E2: Daí, o que aconteceu? Aconteceu isso. Daí eu nunca mais vimos ele.

P: Você tinha quantos anos de idade?

E2: Eu tinha uns seis anos de idade... Seis, sete... Essa é a última palavra que eu lembro que ele falou. Aí, depois disso, nós fomos...

P: Mas ele falou isso pra você antes, ou foi depois?

E2: O que? De empurrar eu?

P: É.

E2: De empurrar eu na linha do trem? Eu era pequeno, eu lembrava disso. Eu era...

P: Você era menor.

E2: Era.

P: Uns cinco anos...

E2: Lembro. Lembro que ele empurrou minha mãe. Minha mãe foi no bar chamar ele.

P: Então, mas assim, que ele falou que ia pra cidade, foi antes dessa...

E2: Foi antes do aci.. Antes dele ter empurrado eu e minha mãe. Foi antes. E depois disso, a minha mãe era só, né? Passou a morar num albergue um bom tempo, aqui em Taubaté, né? Moramos ali um bom tempo: quatro meses, dois meses... Depois dali fomos procurar minha avó, né? Que era mãe dela. Aí chamou ela no S... Aí, nós que achamos ela lá no S, minha vó deu lugar pra minha mãe morar. Até então minha avó morava de aluguel ainda, né? Uma casa emprestada... Aí depois teve uma inspeção da prefeitura. Aí nós fomos morar junto com a minha mãe – com a minha avó, aí ficamos juntos um bom tempo. Aí, depois disso, minha vó morreu, a gente entramos nas drogas, começou o movimento, o tráfego, a bandidagem... Aí minha vó já era falecida; morava eu, a minha mãe, o meu tio e a esposa dele. Ele teve uma filha. Só que ele viu que a barra era muito pesada; ele decidiu se retirar de lá. Ele se retirou e ficou eu e minha mãe. Daí minha mãe não aguentava ver nós naquela vida... Ela saia para trabalhar era oito, nove horas, e voltava só meia-noite.

P: O seu irmão casou?

E2: O meu irmão tá preso. Faz oito anos. Nunca casou.

P: Mas assim, faz dois anos que ele tá preso?

E2: Dois anos; mas antes dele ficar dois anos preso ele ficou na FEBEM. Ficou dois anos na FEBEM por homicídio. Aí depois também voltou de novo na FEBEM; chegou na FEBEM Tatuapé, depois na Uípe, na Franco da Rocha, depois ele saiu, continuou mais forte no tráfego, foi preso, ficou no CDP, saiu do CDP, voltou pro CDP de novo, saiu do CDP, foi pro CDP de novo, e do CDP foi pra P1. Aí tá lá até hoje.

P: Como é seu relacionamento com ele?

E2: Com ele? Quando eu usava droga ele ficava bravo comigo. [...] Mas eu com ele era em paz. [...]

P: Ele usava droga?

E2: Ele usava droga. Ele usava junto com nós.

P: Mas ele não gostava que você usasse.

E2: Não, ele não gostava que eu desandasse.

P: Desandasse?

E2: Que eu usasse o crack. Queria que eu utilizasse maconha. Entendeu? Então daí foi ocorrendo isso aí... Daí fomos conhecendo armas: [...], pistola, 38... Algumas coisas assim nós conhecemos. Só que daí depois a gente caiu no crack também. Aí foi a hora que ele passou a roubar mais. Aí agora ele tá preso, né? Por roubo mesmo. Aí depois separou, né? Aí o que aconteceu? Aí houve um tempo que caiu um deserto sobre a nossa vida... Aí eu vim parar aqui na casa, meu irmão foi parar lá no presídio, e minha mãe foi morar numa casa da patroa dela. A casa onde a gente morava era da prefeitura. Até então uma mulher invadiu a casa e ficou lá na casa e não saiu até hoje. Vai pra dois anos.

P: E a casa é de vocês?

E2: A casa é nossa. Pela minha mãe não ter o dinheiro pra pagar o aluguel que ela tinha já depositado antes pro meu irmão... Daí foi isso aí. Aí depois foi indo, foi indo, foi indo... Mas então pelo tempo que ela tá já era pra ter saído. Sem pagar aluguel vai pra dois anos. Mas aí então minha mãe colocou na justiça... Tá na justiça... Eu sempre oro a Deus, pra Deus ajudar. Então, por causa de droga aconteceu tudo isso. Entendeu? Então, agora já levou a um vale... Um vale de que? Um vale de pensamentos, de arrependimento, pra chegar, até melhorar e mudar de vida. Então a droga ela é... Num momento ela apresenta felicidade; aí depois ela causa uma dependência química e derruba o homem. E pessoas que não tem nada a ver com a jogada acabam entrando nessa também. Elas são roubadas por elas... As pessoas que usam crack. Vizinhos levam tudo. É aí onde leva a droga: acaba com o camarada. Se não procurar uma casa de oração, procurar uma ajuda cristã, daí ele não sai da droga. O que arranca ele das drogas ou é o objetivo dele, a determinação dele querer, si próprio, ou uma casa de oração, ou a ajuda de pastores. Porque tempo, lugares, mudar de bairro, mudar de cidade não resolve nada.

P: E... Me diz o seguinte... É... Assim, você ainda não casou, não tem filhos... Mas como são suas amizades agora? Depois de adulto?

E2: Agora nessa vida que eu tô?

P: É, depois que você ficou adulto. Suas amizades.

E2: Então, acho que passei a ter amizades boas agora. Confiança na sociedade, confiança em lares aonde não entrava, entendeu? Passamos a adquirir confiança total. De pessoas que você não conhece convidam você pra ir na casa deles e tal... Mas essa confiança vem depois de tempo, depois de testemunho, depois das pessoas comentarem: "Olha, o F mudou. Tá diferente". Alguns até passam a desacreditar, aí depois que vêm passa a acreditar, que é verdade. Você entendeu? Então o que acontece? Então a minha tia, que eu ia na casa dela, ela achava ruim comigo. Mas aí até então eu comecei a mudar de vida, vim pra uma casa, me recuperar, e eu ia na casa dela tranquilo, depois de todo esse tempo que passou. Durmo lá normal: carteira, documento, fica tudo no local; dinheiro a gente não põe a mão. Ela confia em mim – se precisar de deixar a casa na minha mão ela deixa. Televisão, TV, vídeo, ela não se preocupa por saber que eu estou bem. Até então ela às vezes pede até conselho pra gente. Né? Tem o filho dela que também entrou para as drogas... A gente vai só adquirindo confiança. Né? Traficante que você devia passa a não cobrar mais... Ficou por isso mesmo. A gente somos amigos, tranquilo. Como ocorreu comigo: de eu ir na igreja, testemunhar o que Deus fez; lá tinha um traficante que eu devia seiscentos reais pra ele. Aí ele falou pra mim que eu só devia nossa vida a ele e nem comentava o assunto. Aí ficou por isso mesmo; a gente somos amigos, eu entro na casa dele. Assim, não por ele ser... Né? Assim, tranquilo, por amizade. Não faz mais movimento mais pra dever, sabe? E todos os traficantes de perto de casa, bandidos assim, as pessoas mais me consideram como uma pessoa que não usa droga e nem oferece pra mim. Não deixei de ter amizade com eles e não deixei de... Desamparar eles. (Pausa) E... Gerou confiança, né? Que nem os pastores... Eu lembro que a minha confiança foi gerada através de cinquenta reais. Deram cinquenta reais na minha mão e falaram: "Vai, compra isso, isso e isso". Eram uns produtos de higiene. Aí eu fui e voltei com o dinheiro tranquilo. Aí foi esse dia que adquiri confiança. Aí nunca mais fui o mesmo de querer roubar, enganar os outros...

P: Como foi pra você quando você trouxe esse dinheiro?

E2: Ah, foi uma alegria, né? Somente assim: "Nó! Vou ir e vou voltar, vou levar o troco tranquilo...". É uma alegria de você não usar mais e todo dinheiro que você tem dura meses, dura anos... É uma sensação legal, algo gostoso, né? Dinheiro que você poderia gastar em um mês, você gasta em dois, três meses... Dinheiro que você poderia gastar em dois, três dias, você gasta em um mês... Então você passa a ter confiança das pessoas e a confiar em você. Né? Tipo, que nem assim, andar com as pessoas... Não sei, né, porque acontece isso. Em todos os lugares que eu vou tem que tirar documento, às vezes [...] alguma coisa, num local onde precisa ir no médico... As pessoas, assim, olham e parecem que conhecem a gente há muito tempo por seu hábito de conversar e dão atenção a você. Né? Essa pessoa falando duro com você e você sendo manso com ela. Você entendeu? Às vezes chega num local, a pessoa atribulada, ela fala, fala, fala... Você fica em paz. Tem vezes ela falou alguma palavra que não era doce, você fala: "Não, Deus abençoe! Obrigado!"; nem... "Muito obrigado pela atenção! E tal...". Mesmo você sendo atingido, mas no fingimento você tira de bom... De boa visão.

P: Não é fingimento, é uma paciência, uma tolerância, né?

E2: Não é... É isso! Uma mansidão que você adquire e ganha ela por ela não ser mais assim. Além dela não tratar as pessoas boas, assim as pessoas, mesmo o caráter mal você trata ela boa... Mesmo ela te xingando, você tá abençoando ela. Né? Então isso tudo você vai adquirindo depois que larga das drogas... Entendeu? Deixa... Né? Aí, em relação a casar, eu não sou casado ainda... Quando Deus preparar de boa, né? Com uma mulher fácil, que tenha a mesma visão, senão é difícil. Não vai adiantar um cristão arrumar uma mulher do mundo, né? Aí é mais fácil ela lançar você pro mundo do que você lançar ela pra igreja. Porque pra ir pro mundo é um passo; pra poder conquistar a comunhão com Deus é que é uma eternidade, que nunca chega... Entendeu?

P: Me diz o seguinte: sabe aquela descrição que eu fiz do seu tipo psicológico?

E2: Correto.

P: Você acha que você se encaixa em tudo? Ou que algumas coisas não batem?

E2: Não, foi boa. Foi correto.

P: Você sempre foi desse jeito que eu descrevi no seu tipo psicológico?

E2: Que estava escrito ali no local?

P: Sim.

E2: Eu era mas não sabia. Quando eu tava usando droga.

P: Você era desse jeito?

E2: Eu era desse jeito. Mas por usar droga, aí aconteceu isso.

P: Como você sabe que você era desse jeito?

E2: Ah, porque eu analisei, eu fiz uma avaliação em minha pessoa, que depois que eu conheci a droga eu não fui mais o mesmo. Diferente... Sei lá! Não sentia bem, não sentia feliz, não sorria... As meninas, os amigos desprezavam...

P: Então, mas será que o seu tipo psicológico é o mesmo de antes?

E2: Que eu estou vivendo agora?

P: É.

E2: Eu creio que... Cinquenta por cento era. Se tornou cem por cento depois que eu conheci Jesus. Não sonhava em [...], mas eu sempre tive uma visão assim. Entendeu? Eu não vivia isso como o senhor relatou, mas eu tinha visão disso que o senhor leu. Eu não cheguei a praticar, a entrar em ação nessas áreas. Mas cheguei a pensar, a analisar... Ter visão disso. E agora, nessa vida que eu estou, né, vejo que era isso. Que bateu, na área assim, fisicamente... Perfeitamente.

P: Deixa eu ver aqui... (Pausa) Tá acabando, tá, cara?

E2: Não, tranquilo. (Pausa) Isso é até bom pra mim, entendeu? São coisas que eu nunca mais comentei na minha vida. Com ninguém, nunca mais. Guardei pra mim...

P: Nem aqui?

E2: Nem aqui. Aqui eu relatei poucas coisas. Assim, porque é difícil você achar uma pessoa que dá uma atenção extensa pra você. Você espera ser usado, assim, pra... [...] Ao mesmo tempo que eu relato algo pra você e ao mesmo tempo eu lembrar de algo que eu tentava lembrar de algo e não conseguia. Então, isso é uma boa. A gente passa a ouvir mais as pessoas, né, aqui no local onde a gente tá, do que elas ouvirem a gente. Que não é pra qualquer um ter uma visão assim, espiritual, uma visão sábia; tanto no lado espiritual, quanto no lado físico. Né? Então parece que... Ah... Os problemas das pessoas aperfeiçoam assim... Tipo assim, nos dá força pra ajudar eles a não ficar nessa vida mais. Aí a gente acaba esquecendo os nossos problemas, e acaba ajudando as pessoas. Mas depois, num momento oculto, num momento em particular, em sua cama, em locais onde você está quieto, aí você lembra. [...] "Queria ser assim... Tal... Queria que minha vida fosse assim...". Então a gente fala em oculto, não à pessoa que tem um problema. Se você relata pra uma pessoa que tem um problema, aí não vai dar diálogo, não vai ter lógica. Eu falar do meu problema pra ela e ela falar do problema dela pra mim. A gente não vamos chegar numa conclusão. Aí vai puxando um, um vai puxando o outro. Aí vai cair até em algo... E vira uma bola de neve. E não chega numa conclusão. Então eu passei a adquirir isso ao ouvir as pessoas pra aconselhar; depois que eu comecei a guardar o meu problema e... E colocar na minha vida... Aí eu parei de me preocupar. Eu ouvi falar que se a gente coloca na mão dEle, Ele resolve pra gente... Aí eu coloquei na mão dEle, e quando as pessoas vem falar comigo, o meu problema não impede de eu instruir a pessoa. Por convivência e por estar um tempo legal no ambiente. Por prática, né? Não por... Por estudo, por faculdade que a gente aprende isso. Mas por prática, por convivência, no dia a dia... Cada dia aqui, surge uma experiência... Às vezes acontece algo. Quando acontece algo eu pegava e já em poucas palavras já resolvia, já queria já tumultuar... Agora quando acontece alguma coisa eu... Eu escuto a pessoa, e eu pergunto a ela qual que é a causa, o que aconteceu; ela particularmente longe da outra pessoa que ela teve o fato, ouço ela, e pergunto: "O irmão tá disposto a entrar num acordo? A formar um membro novo?". Coloquei a mente dele livre. Coloquei a mente dele livre, chego na outra pessoa: "Oh irmão: a situação é essa... O irmão... Vamos reconciliar, vamos entrar num acordo... Vamos resolver esse problema aí. [...] O irmão perdoa o irmão lá? E tal..." Aí depois a gente faz um momento assim, de... Chama o irmão: "Oh irmão, faça o favor! O irmão faça o favor!". E reconcilia. Entendeu? É assim que ocorre... Os meus dons são esses. Eu não queria isso pra mim, mas deu certo a primeira vez, então a gente vai... Nós fomos utilizando isso.

P: Oh, cara, me diga só o seguinte: aqui, por exemplo, tá dizendo que o seu tipo caracteriza-se como perfeccionista, diligente, quer dizer, que se esforça, e capaz de trabalhar com afinco. Muito paciente com pormenor, com detalhes. São capazes de executar sem problemas todos os detalhes que precisam ser feitos para que o projeto seja levado a cabo. Nessa parte, quando você mexia com droga, você acha que era assim?

E2: (Pausa) Essa visão a gente não consegue ter, né?

P: Mas você... Você acha que você...

E2: Eu sonhava assim.

P: Sonhava em ser assim.

E2: Sonhava em trabalhar, em ser [...], em ser uma pessoa conhecida, entrar em ação, ajudar as pessoas... Mas aí a droga tirava tudo isso. Era um momento temporário, correto? Sem droga. Aí eu utilizava a droga, esquecia disso. Assim que utilizava a droga, vinham uns pensamentos: "Nossa! Por que eu não sou uma pessoa assim? Por que eu não cursei, não terminei estudo?...".

P: Mas assim: você era assim naquele tempo? Não era só quando utilizava droga? Ou era e só quando utilizava a droga é que era diferente?

E2: Então, quando a gente utilizava a droga a gente esquecia de tudo.

P: Esquecia de tudo?

E2: Esquecia de tudo.

P: Sem utilizar você era assim?

E2: A gente lembrava. De ser um ser humano, de ser uma pessoa que vive, que anda de cabeça erguida... De viver mesmo, e onde você entra e sai é respeitado... Você entendeu? E era assim, quando você parava de usar droga. Aí você usava e isso tudo se afastava da mente. Entendeu? (Pausa) E virei um outro homem agora.

APÊNDICE D - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Você está sendo convidado(a) para participar, como voluntário, em uma pesquisa. Se concordar, após ser esclarecido(a) sobre as informações a seguir, assine ao final deste documento, que está em duas vias: uma sua, outra do pesquisador responsável. Se recusar você não será penalizado(a).

INFORMAÇÕES SOBRE A PESQUISA:

Título do Projeto: A relação das funções intuição e sensação com a dependência de drogas psicotrópica, na perspectiva da psicologia analítica

Pesquisador responsável

Pesquisador participante

Profº Manuel Morgado Rezende

Aluno Charles Alberto Resende

CRP: 069203

RA: 553922

Tel: 12 97821380

E-mail: manuel.rezende[arroba]uol.com.br

Tel: 12 9734 9729

E-mail: charlesalres[arroba]gmail.com

  • A pesquisa visa relacionar certos os tipos de personalidade à dependência de certas drogas, em que pese essas pessoas estarem passando ou terem passado por certas situações sociais, econômicas e psicológicas.

  • O procedimento consistirá na aplicação de questionário de seleção e de um teste psicológico, que vai dividir as pessoas em certos tipos. Duas destas passarão por entrevistas psicológicas sobre as quais se fará um estudo de caso, que incluirá o relato e a apreciação de sonhos. Outros métodos de pesquisa poderiam incluir somente pesquisas em livros ou pura observação, mas seriam incompletos ou não tão definitivos quanto este pretende ser. Esclarecimentos sobre qualquer parte da pesquisa poderão ser feitos em qualquer tempo.

  • Não haverá qualquer tipo de riscos, prejuízos, desconforto e lesões que possam ser provocados pela pesquisa, pois esta será composta apenas de questionário, entrevistas e aplicação de testes psicológicos. Não haverá qualquer forma de despesa na sua participação.

  • O maior benefício, a longo prazo, é que sua participação ajudará no desenvolvimento de novos conhecimentos que poderão eventualmente beneficiar você e outras pessoas no futuro. Poderão surgir novos tipos de tratamento mais aconselhados para certas pessoas.

  • O período de participação é de março a maio de 2009. O sigilo de todos os assuntos abordados no questionário, nas entrevistas e no teste psicológico será absoluto. Os resultados deste estudo poderão ser usados para fins científicos, mas você não será identificado(a) por nome. Todas as fotos e arquivos de som das produções dos sujeitos - expressões gráficas e esculturas, poderão ser anexados à pesquisa após sua transcrição sem identificação e serão destruídos. Garantido também é o seu direito de retirar o seu consentimento ou participação nesta pesquisa em qualquer tempo, sem qualquer prejuízo do processo terapêutico em andamento no centro de tratamento em que se encontra.

______________________________

Profº Manuel Morgado Rezende

_____________________________

Aluno Charles Alberto Resende

CONSENTIMENTO DA PARTICIPAÇAO DA PESSOA COMO SUJEITO

Eu, ______________________________________, RG ___________, abaixo assinado, concordo em participar do estudo "A influência das funções da consciência na dependência de drogas psicotrópica, na perspectiva da psicologia analítica", como sujeito. Fui devidamente informado e esclarecido pelo pesquisador Profº Manuel Morgado Rezende sobre a pesquisa, os procedimentos nela envolvidos, assim como os possíveis riscos e benefícios decorrentes de minha participação. Foi-me garantido que posso retirar meu consentimento a qualquer momento, sem que isto leve a qualquer penalidade ou interrupção de meu acompanhamento/ assistência/ tratamento.

Local e data: Taubaté, SP, ____ de ____________ de 2009.

Nome: _________________________________________________

Assinatura do sujeito ou responsável: ____________________________________

APÊNDICE E – Termo de Consentimento Institucional

Esta pesquisa será realizada por  CHARLES ALBERTO RESENDE, portador do RG nº 118091563-7, telefone (12) 9734 9729, aluno do Departamento de Psicologia da Universidade de Taubaté, como uma das atividades que compõe o seu aprendizado e formação profissional do curso de graduação em Psicologia. Será orientado pelo Professor Dr. MANUEL MORGADO REZENDE.

Sua autorização em muito contribuirá para os estudos investigados, e poderá, a médio e longo prazo, cooperar para a sua libertação dos dependentes das drogas. A pesquisa será absolutamente sigilosa (não haverá identificação), não acarretando nenhum dano à Instituição ou aos sujeitos de modo que esta poderá se retirar da pesquisa  a qualquer momento. Esta pesquisa é de cunho eminentemente  acadêmico científico podendo ser publicada ou apresentada em espaços desta natureza. Todos os resultados e dados publicados respeitarão as normas éticas pré-estabelecidas pelo Comitê de Ética.

 A seguir, daremos algumas informações gerais sobre este trabalho, reafirmando que qualquer outra informação que  desejar, poderá ser fornecida a qualquer momento.

           TEMA: A intuição e a sensação em dependentes de drogas na perspectiva da psicologia analítica.

           OBJETIVO: Investigar a relação entre a dependência de drogas e as funções da consciência intuição e sensação.

           PROCEDIMENTO: Haverá a aplicação de questionário de seleção e do teste QUATI, concebido por Zacharias (2000), que vai dividir os sujeitos em certos tipos. Dois destes passarão por entrevistas psicológicas sobre as quais se fará um estudo, que incluirá um histórico do cliente através do seu relato, descrição e apreciação de sonhos. Todas as fotos e arquivos de som das produções dos sujeitos - expressões gráficas e esculturas, poderão ser anexados à pesquisa após sua transcrição sem identificação e serão destruídos. O único critério para a exclusão de sujeitos da pesquisa é a desistência por vontade própria destes ou da instituição.

           LOCAL: ____________________________

           Agradecemos a sua contribuição.

AGRADECIMENTOS

Ao Prof. Dr. Manuel Morgado Rezende, pela habilidade com que orientou nosso trabalho.

Aos internos da Casa Recuperação que possibilitaram a necessária coleta de dados.

À Casa de Recuperação da cidade de Taubaté, que autorizou a coleta de dados junto aos seus internos.

À Universidade Taubaté, que cedeu o laboratório e os materiais para os testes.

À minha esposa Márcia C. S. Resende, que com muita paciência, dedicação e carinho me incentivou para que prosseguisse e terminasse o trabalho.

Aos meus filhos que souberam compreender a importância da pesquisa e compreenderam os momentos em que não me dediquei a eles.

 

Autores:

Charles Alberto Resende

charlesalres[arroba]gmail.com

Manuel Morgado Rezende

Universidade de Taubaté – UNITAU

Departamento de Psicologia

Charles Alberto Resende

Monografia apresentada à UNITAU referente ao Trabalho de Conclusão de Curso, tendo como orientador o Professor Doutor Manuel Morgado Rezende.

Monografia apresentada para obtenção da Graduação de Psicólogo pelo Curso de Psicologia do Departamento de Psicologia da Universidade de Taubaté.

Área de Concentração: Psicologia Analítica

Taubaté - SP

2009

Monografias.com


[1] (ê). [Do ingl. flirt.] S. m. 1. Namoro ligeiro, sem consequência; namorico. (FERREIRA, 1986, p. 787)

[2] Acréscimo do pesquisador.

[3] Conjunto residencial para o qual a família de Christiane F. havia se mudado recentemente (Nota do pesquisador).

[4] Um rapaz que fazia parte da turma que se drogava (Nota do pesquisador).

[5] Ver capítulo "Psicopatologia das funções e a dependência química".

[6] Grifo do pesquisador.

[7] Grifo do pesquisador.

[8] Grifo do pesquisador.

[9] Jung se refere á obra "Fausto", de Goethe.

[10] O negrito é do autor da pesquisa.

[11] O negrito é do autor da pesquisa.

[12] At: Extrovertido - FP: Sensação - FA: Sentimento.

[13] Ver o capítulo "Psicopatologia das funções e a dependência química".

[14] Depois de certo tempo de internato (nota do pesquisador).

Partes: 1, 2, 3, 4, 5


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