Metafísica e religião na experiência pós-moderna: uma reflexão sobre o pensiero debole de Gianni Vattimo



Partes: 1, 2, 3

O renascimento da Religião na era pós-Metafísica não é apenas o resultado de um mal-entendido, mas pode mesmo parecer teoricamente legítimo se reconhecermos que existe um profundo parentesco (...) entre tradição religiosa do Ocidente e pensamento do ser como evento e como destino de enfraquecimento.

G. Vattimo. Depois da cristandade.

O fim da Metafísica, bem como a morte de Deus, é um evento que o pensamento não deve registrar ‘objetivamente’, mas ao qual ele é chamado a dar uma resposta.

G. Vattimo. Depois da cristandade.

RESUMO

Este trabalho pretende refletir, com base no pensamento de Gianni Vattimo, a problemática do retorno da Religião, visto que adquire relevância no cenário filosófico contemporâneo: o fim da Metafísica na experiência da Pós-modernidade. Para tanto, busca-se investigar o que possibilitou tal retorno da Religião, mesmo em tempos de secularização. A ciência que tinha por pretensão desfundar a Religião também encontra o seu limite: algo que conferiu ao pensamento moderno certa desilusão, instaurando uma busca de identidade do pensamento ocidental (particularmente o Europeu). Este "caminho de retorno" feito pelo pensamento ocidental deparou-se com o encontro de suas raízes originariamente cristãs. Desse modo, a ausência de fundamentos torna-se característica do pensamento pós-moderno, uma vez que a Modernidade caracterizava-se pela constante superação e pela categoria do "novo", ou seja, a presença de uma concepção linear da história. Com a Pós-modernidade, esta categoria não mais se sustenta e a história pode ser compreendida como interpretação. Este caráter hermenêutico identificado neste momento pós-moderno da história compreende, pois, que os "fatos" agora são reduzidos à mensagem. Tal concepção implica em outro modo ou proposta de um agir moral e ético, que abrange desde as relações mais simples, passando pela real possibilidade de um debate ecumênico e inter-religioso, assim como outro modelo de experienciar a ética cristã, em especial, no que concerne à sua moral sexual. Será exposto nos textos a seguir como o conceito do pensiero debole (ou o pensamento fraco) alcançou tal conclusão e como a filosofia pode, uma vez mais, discutir a questão de Deus, do ser, do ente, sem incorrer em um discurso meramente religioso, mas, ao contrário, compreender que semelhante debate exige um diálogo dotado de racionalidade, criticidade e verdadeiramente filosófico.

Palavras-chave:
Religião. Pós-modernidade. Metafísica. Cristianismo. Hermenêutica.

INTRODUÇÃO

O presente trabalho pretende abordar o debate acerca da experiência religiosa (fenômeno que se percebe reencontrado nestes tempos) na Pós-modernidade e como esta experiência se relaciona com o fim da Metafísica. Para tanto, segue-se aqui a interpretação do pensiero debole de Gianni Vattimo. Filósofo italiano nascido em Turim, no ano de 1936, Vattimo foi integrante do Parlamento Europeu (do qual é um dos idealizadores da constituição européia) e atua como professor de Filosofia na Universidade de Turim. Teórico do chamado pensamento fraco, é autor de numerosos ensaios sobre a Filosofia alemã dos séculos XVIII e XIX.

Vattimo aparece ao lado de outros grandes nomes da Filosofia contemporânea. Nomes como Jacques Derrida, Maurizio Ferraris, Hans Georg-Gadamer, Aldo Gargani, Eugenio Trias, Vincenzo Vitielo, Richard Rorty, Karl Löwith, além de Luigi Pareyson, de quem fora discípulo. Sua vasta produção filosófica e a forte atuação política conferem a Vattimo o reconhecimento de ser ele, um dos maiores e mais notáveis intelectuais destes tempos, cuja abrangência de pensamento não se restringe à Filosofia italiana, mas alcança o Ocidente como um todo.

Com o conceito de pensiero debole, ou pensamento fraco – expressão cunhada pelo italiano –, Vattimo postula a fragilidade, a transitoriedade como característica estrutural da Pós-modernidade. Tal pensamento está impregnado de uma vocação niilista, em virtude da decadência das estruturas fortes da tradição Metafísica. Nesse sentido, o pensamento fraco se inscreve no processo de secularização da Filosofia para tornar-se Filosofia da secularização.

Partes: 1, 2, 3

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