Perturbação obsessivo-compulsiva, enigma em processo de resolução

Enviado por Maycoll F. Vieira


  1. Conceitos introdutórios gerais e evolução histórica
  2. Modelos biológicos. Neuroanatomia funcional. Áreas do SNC (possivelmente) envolvidas
  3. Bibliografia

Conceitos Introdutórios Gerais e Evolução Histórica

A POC (Perturbação Obsessivo-compulsiva) é um transtorno mental (Perturbação de Ansiedade) frequentemente incapacitante, caraterizado por Obsessões como ideias, pensamentos imagens ou impulsos recorrentes e persistentes experimentados como intrusivos, sem sentido, excessivos, repugnantes ou absurdos e/ou Compulsões. As Obsessões não são simples preocupações sobre problemas da vida real, envolvem comummente temas como contaminação, agressão, ideias de causar dano ao outro, ideias sexuais desagradáveis ou excessivas, preocupações religiosas, medo de ofender outros, necessidade de saber "tudo", organização e perfeição. A pessoa reconhece estas ideias como produto da sua imaginação e tenta eliminá-las ou ignorá-las, sem grande sucesso (provocando frequentemente o aumento da quantidade das mesmas). Compulsões são comportamentos ou atos mentais repetitivos e despropositados a primeira vista, realizados de acordo com regras rígidas. Estas pretendem prevenir futuros eventos, e são realizadas como meio de redução da ansiedade, mas, ou não se encontram realmente ligadas ao evento ou são excessivas. Não outorgam qualquer tipo de prazer. As compulsões mais comuns são lavagens excessivas (mãos, outras partes do corpo, roupa, ...), verificação, necessidade de perguntar ou confessar tudo, organização/disposição de objetos, repetições e compulsões mentais como contagens ou rezar excessivamente. Raramente os pacientes com POC manifestam somente um ou dois sintomas, e estes são extremamente variáveis e "personalizados". Existem mesmo pessoas que unicamente sofrem de obsessões (sem compulsões) ou, mais raramente, o contrário. O paciente pode ficar quase como que "em estado de alerta constante", desenvolver medo e culpa, como também dúvidas de caráter patológico. Estima-se uma Prevalência ao Longo da Vida de aproximadamente 3% na população geral, sendo que tendo em conta só casos diagnosticados esta é mais baixa (de aproximadamente 1,6%). A idade média de diagnóstico ronda os 20 anos, embora muitos pacientes confirmem ter tido sintomas desde muitos anos antes do diagnóstico, e que determinados eventos marcantes despoletaram as suas primeiras "grandes crises" (como por exemplo, o casamento, o primeiro filho, a entrada na faculdade, etc.). Pensa-se que os pacientes com POC têm, em geral, uma inteligência acima da média, uma vez que a própria natureza da perturbação precisa de padrões rebuscados de pensamento.

A Comorbilidade na POC é muito frequente, sendo que muitos desenvolvem Depressão Major, com níveis de ansiedade enormes, que explicam em parte a grande frequência de pacientes com ideação suicida. Conhecem-se possíveis relações com o Síndrome de Tourette, Coreia de Sydenham (ou outro tipo de Doença de Huntington), tics e Perturbação da Personalidade Esquizoide e, as pessoas com POC frequentemente também sofrem de Ansiedade Generalizada, Anorexia Nervosa, Fobia Social, Bulimia, Síndrome de Asperger, Tricotilomania, Dermatilomania, entre outros, que nos dão indicações da génese/localização biológica (específica) da doença e até da sua possível hereditariedade.

Conhecida desde a antiguidade, era muito pouco percebida, e na atualidade ainda continuamos numa relativa ignorância, apesar da grande evolução da última metade do séc. XX e anos 2000s. Um dos textos mais antigos vem do pensador grego Plutarco (séc. I), que chamou de "Superstição" ao problema de que padeciam aqueles que hoje definiríamos como doentes de POC. Outro vem de São João Clímaco (séc. VI), onde descreveu a condição como "Pensamentos Blasfemos e Não Desejados". Pensava-se, como era comum para todas as doenças mentais na altura, que derivavam de espíritos malignos. Até o Renascimento pouco mudara. Com este (séc. XIV-XVI), explicações mais naturalistas surgiram. Começou-se a designar a Perturbação de "Escrupulosidade", devido a normalmente estar associada a aspetos religiosos. Isto enfatizou o reconhecimento do papel da ansiedade na Doença. Os pacientes procuravam ajuda principalmente na Igreja/no clero. Encontram-se dessas datas autobiografias de personalidades que, segundo tais escritos, claramente parecem ter sofrido de POC, entre eles Santo Inácio de Loiola (1500), John Bunyan (1666) e Hannah Allen (1683). Entre o clero, mostra-se o exemplo de Giovanni Battista Scaramelli (1687-1752) que dava conselhos sobre como ultrapassar as Obsessões e Compulsões, algo que se parece em parte com a atual Terapia Comportamental (que por sua vez dará origem a uma atual forma de tratamento denominada de Terapia Cognitivo-comportamental). Durante o séc. XVIII, os Médicos começaram a ter um papel mais importante no tratamento (ou na tentativa de tratamento) da POC. No início, seguiam as antigas teorias médicas greco-romanas, como a do "equilíbrio dos Humores" e efetuavam "tratamentos" como sangrias, administração de laxantes, etc. Começou-se nesta época a institucionalizar os doentes com POC, que passou a ser tratada como um "tipo " de Demência. Um termo que passou a ser utilizado para a designar foi o de "Melancolia Religiosa". No séc. XIX, deu-se o grande salto no início da compreensão da POC. Chegou-se ao consenso de que não se tratava de uma forma de demência e passou a ser considerada como uma "Neurose" e não como uma "Psicose", ou seja, começou-se perceber que não interferia com a capacidade racional da pessoa (pensando nesta como um todo). Começou a surgir oposição ao internamento dos doentes com POC. Apareceram os primeiros tratamentos farmacológicos, mas sem uma base sustentável, constituídos principalmente por sedativos e opiáceos. Nos finais do séc. XIX começaram a surgir os primeiros modelos Neurológicos. Também nesta altura as ideias de S. Freud e P. Janet tiveram grande repercussão. Freud sugeriu o termo Zwangsneurose, que foi traduzido por Obsession no Reino Unido e por Compulsion nos EUA. Como compromisso foi adotado o termo Obsessive-compulsive Disorder (Perturbação Obsessivo-compulsiva). As ideias de Freud começam a perder importância nos anos 1970s e surgiram novas teorias. A Talk Therapy Freudiana começou a ser desacreditada e ergueram-se os Comportamentalistas, que percebiam as Obsessões e Compulsões como medo, "evitação" e Respostas Condicionadas. Surgiu o tratamento denominado de Exposição-Resposta-Prevenção. Ao mesmo tempo, surgiram os grandes avanços farmacológicos. Apareceram antidepressivos específicos que passaram a ser usados para o tratamento da POC (como a Clomipramina - com "bastante" sucesso) e os Inibidores Seletivos da Recaptação da Serotonina (ISRS - como a Fluvoxamina e a Fluvoxetina), que são fármacos de primeira linha no tratamento ainda nos dias de hoje. A estes somaram-se depois, por exemplo, ansiolíticos. Começou-se a perceber assim o papel dos neurotransmissores e da atividade neuronal na POC, e um sem fim de estudos começaram então a surgir, até os dias de hoje.

Modelos Biológicos. Neuroanatomia Funcional. Áreas do SNC (possivelmente) envolvidas.


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