Poemas Antigos

Enviado por Igor Zanoni


Estes poemas foram escritos antes de 2000, não sei bem quando. Naquela época eu escrevia de forma menos obsessiva do que hoje. Achava escrever importante, mas não tinha um tema central muito definido. Hoje meus poemas são mais exaustivos e coerentes. Sinto que minha vida caminhou para alguns impasses e que eles representam minha luta interior de todos os dias . Estes poemas antecipam um pouco do que veio depois. Alguns estão muito bem escritos, uma virtude que perdi. Hoje faço poemas como um pedreiro levanta um muro. Naquela época eu era um pouco mais sutil. Dedico estes poemas aos amigos de fases importantes da minha vida como Renato Cury, Edméia, Nádia Raggio, Tiago e Márcio Robert. Agradeço ao Ednilson e a Bruno pela editoração dessas folhas.

Igor Zanoni

1

Neste modesto sobrado do Bairro Alto

Fiz meu forte

Saio pouco

O mundo não é lugar ameno

Para se sair sem bons motivos

Os amigos me telefonam

Mas evitam fazê-lo demais

Trago todavia a porta sempre aberta

Se entrar farei para nós café com conhaque

E misturaremos poetas piratas e monges em longa trela

Se passar ao largo e na madrugada

E vir uma sacada acesa onde um homem fuma absorto

Saiba que sou eu e que vou bem

2

O que bem sei

Está em meus músculos

O resto ignoro

Ou talvez esqueça

3

Ele morreu

Porque a vida dos homens

Importara-lhe mais que a sua

Porque o mundo o arrebatava

E parecia-lhe crucial que as manhãs

Pertencessem para sempre às aves e ao orvalho

Às mulheres que amassavam cedo o pão

Antes que seus maridos fossem pescar

Ele morreu como tantos

Entre tentações e amores

Entre amigos fiéis e infiéis

Amava o vinho e o perfume

A solidão dos bosques e o incomensurável das estrelas

E como nós possuía braços e pernas

E uma barba que crescia todos os dias

E as aflições próprias do mundo

Mas não como nós

Possuía a si próprio

Que isto nos proibimos

4

Amávamos o conhaque e os cigarros sem filtro

As noites inteiras no bilhar

As conversas sem fim ouvindo jazz

Saudosos de um tempo que já não era o nosso

Éramos viris naturais

Amávamos os corpos na praia

E o cheiro do lodo nos canais

Seríamos pugilistas ou marinheiros

Menos aquilo em que nos transformamos

5

A pessoa que eu mais amei na minha vida

Foi minha mãe

Para mim, mãe só tem uma

Se me perguntassem o que eu mais gostaria

De estar fazendo agora

Responderia sem piscar:

Puxando fumo no colo da minha mãe

6

Você deixa as coisas pela metade

Meia xícara de café tomado

Abraço no ar desenhado

Beijo de batom no guardanapo

Tenho medo de ser seu por um momento

E herdar imprecisão e esquecimento

7

Compreender o alcance de suas próprias palavras

É melhor do que compreender o grego

Entender seu vizinho é mais importante

Que entender Platão

Conhecer um bom lugar para tomar banho

No rio de sua cidade

É melhor que desejar banhar-se

No Ganges ou no Jordão

8

As palavras me reduzem

Percorro-as na ponta do olhar

Escuto

Escrevo

Falo

E no que dizem

Ou lhes escapa

Sou seu prisioneiro

9

Você é legal garoto

Com essas calças vermelhas


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