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A investigação da prática pedagógica com o projeto recreação e cidadania na Escola Municipal de Ensi (página 4)

Lisete Maria Massulini Pigatto
Partes: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9

O processo educacional favorece o desenvolvimento da democracia. Sendo o aprendizado fruto de um esforço na busca de uma resposta capaz de nos organizar. Nesse sentido, a democracia é mais do que um regime político: "é a regeneração continua de uma cadeia complexa e retroativa: os cidadãos produzem a democracia que produz os cidadãos." (Morin 2003, p.107) Concomitantemente, as sociedades democráticas atribuem liberdade e responsabilidade aos indivíduos. Permitem o desenvolvimento dos desejos e interesses, responsabilizando-os de forma solidária.

A democracia constitui-se como um sistema político complexo, que vive da pluralidade, da concorrência e do antagonismo, mas que busca o consenso. Apresenta um caráter dialógico que une termos antagônicos: "consenso/conflito, liberdade/igualdade/fraternidade, comunidade nacional/antagonismos sociais e ideológicos." (Morin 2003, p.109) Sendo assim, o resultado depende das suas regras.

O futuro da democracia fundamenta-se na incerteza e os seus problemas resultam do envolvimento da ciência, da técnica e da burocracia. Dessa máquina que ao mesmo tempo em que produz informações, conhecimento, também produz ignorância e maldade. Portanto, para amenizar os problemas, precisa-se de diálogo e inclusão.

2.5 A Gestão Educacional

Fundamentada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação, nas Diretrizes Curriculares e nos Parâmetros Curriculares Nacionais o Brasil organiza a sua Política Educacional em consonância com a tendência mundial. Para isto, visam à Gestão Escolar num processo de ensino aprendizagem, voltada as habilidades e competências ao invés de centrá-lo apenas nos conteúdos. Isto implica na mudança de paradigma na escola e na sociedade. Requer sem dúvida, uma modificação em toda a sua dinâmica.

Compreender o desenvolvimento da educação brasileira requer conhecer a LDB 9394/96 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação, o PNE - Plano Nacional da Educação, o PDE – Plano de Desenvolvimento da Educação e os PCNs documentos fundamentais para a gestão do trabalho a ser realizado pelos (as) Professores (as) na escola.

O saber e a gestão constituem-se nas principais ferramentas de trabalho do (a) Professor (a). A LDB[78]no artigo 41, salienta a possibilidade de "avaliar, reconhecer e certificar, para prosseguimento de estudos, o conhecimento adquirido na educação profissional, inclusive no trabalho". Os Parâmetros Curriculares Nacionais propõem o ensino por meio do desenvolvimento das habilidades e competências, os quais aparecem listados nos documentos do MEC[79]por disciplina, com o objetivo de favorecer o desenvolvimento da aprendizagem e da cidadania ativa, do ser integral.

A relevância do saber se torna indiscutível para o desenvolvimento da nova sociedade. Para tanto, a educação e o (a) professor (a) precisam estar inseridos em um projeto de nação e de mundo. A LDB, o PNE e o PDE possibilitam legalmente alcançar a universalização de uma educação básica de qualidade, integrando todos os níveis de Ensino, desde a Educação Infantil até o Ensino Superior. No intuito de valorizar o (a) Professor (a) e agregar valores a educação entre outras ações.

A LDB 9394/96, estrutura a organização da Educação Nacional, indica a necessidade de diretrizes e metas para os próximos dez anos. No PNE, Lei 10.172/01, organizou-se o diagnóstico, os objetivos e metas para cada nível e modalidade da Educação Básica. O PDE visa à qualidade da educação, para isso busca a permanência do (a) aluno (a) na escola. Apresenta-se sob diferentes ações, entre elas o IDEB - Índice de Desenvolvimento da Educação Básica. Utilizados como parâmetro de avaliação em cada escola e pelo SAEB - Avaliação Nacional de Rendimento Escolar e no Plano de Metas Compromisso de Todos pela Educação.

A proposta amplia as perspectivas educacionais e ganha força na medida em que o Decreto Nº 2.208[80]indica a possibilidade de prosseguir os estudos para fins de habilitação. A idéia de aproveitar as competências compromete os sistemas estaduais e federais de ensino com a implantação de exames de certificação de competências. Uma proposta que merece reflexão, pois as competências possibilitam "dar um documento em troca do alcance de competências." [81]A preocupação educacional alerta para que o processo de certificação não seja visto fora do processo de formação contextual.

Sendo assim, torna-se fundamental que além de certificar, as escolas sigam uma construção coletiva envolvendo todas as áreas, no intuito de garantir credibilidade ao sistema. Os princípios que regem o ensino no Brasil são consagrados no artigo 3º, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (1996) que destacam: a liberdade de ensinar e aprender, de pesquisar, divulgar a cultura e o pensamento, a arte e o saber. O pluralismo de idéias e concepções pedagógicas estimula o respeito à liberdade e o apreço a tolerância. Valoriza a experiência extra-escolar, o trabalho e as práticas sociais.

Sendo assim, Os princípios filosóficos estabelecidos no currículo ajudam a desenvolver os saberes, a consciência política, a histórica da diversidade, numa perspectiva ética, estética e inclusiva. Os princípios epistemológicos relacionados com o conhecimento fundamentam um processo de ensino aprendizagem construtivo e transformador. Neste processo, o (a) Professor (a) atua como um co-investigador explorando o saber e a prática do ser humano. A prática escolar se fundamenta nesses princípios legais, contempla um currículo que fortalece os vínculos com a comunidade.

Estudiosos contemporâneos salientam que as transformações sociais modificaram as formas de produção, a apropriação do saber e a cultura pela competência. Mobilizaram recursos cognitivos, saberes e capacidades para solucionar uma série de situações. "Embora já faça parte do discurso escolar de que não se aprende apenas na escola, a prática pedagógica revela a crença presente no interior das instituições escolares de que a aquisição de conhecimentos válidos  passa pela somente pela escolaridade." (Garcia 2003) Um paradigma a ser modificado, pois o ensino no Brasil, ainda centra-se na aquisição dos conteúdos e o (a) Professor (a) no centro do processo de ensino aprendizagem. O qual deve emancipar-se, voltar-se ao aprender a aprender, a aprender a fazer, a viver e a conviver com humanização.

2.6 A Gestão por Competência

O aprender se dá pela intervenção humana e favorece a autonomia. Constitui-se num processo de transformação e dinamicidade, portanto trabalhar com habilidades e competências torna-se necessário para a manutenção da vida. A escola cabe o papel de re-organizar criar o aprendizado respeitando a subjetividade de cada um. Ao educador o compromisso de facilitador, um profissional capaz de estabelecer acordos, parcerias e traduzir os conhecimentos ao nível de compreensão do (a) aluno (a) e da sociedade.

Nesse contexto recheado de dilemas entre o ser e o ter é que se constituem as pessoas e se desenvolvem as competências para atuar socialmente. Nessa perspectiva trabalha o Projeto Recreação e Cidadania como se verá com maiores detalhes no capítulo três. Definir as competências requer um conjunto de conhecimentos, habilidades, atitudes e comportamentos essenciais para o sucesso pessoal e profissional.

A Gestão por Competências trabalha concomitantemente com os saberes. A formação de esquemas mentais que mobilizam os conhecimentos adquiridos, num determinado tempo ou circunstancia. As quais, não se desenvolvem apenas com a interiorização do conhecimento, "deve-se, via de regra, por em ação e em sinergia vários recursos cognitivos complementares, entre os quais estão os conhecimentos." (Perrenoud 1999, p.7) Favorecer o desenvolvimento das habilidades e competências.

O Professor Vasco Moretto[82]Doutorando em Didática pela Universidade Laval de Quebec/Canadá ao trabalhar estas questões ressalta que: as habilidades associam-se ao saber fazer: a ação física ou mental da capacidade adquirida. Ajudam a identificar variáveis, compreender fenômenos, relacionar informações, analisar situações-problema, sintetizar, julgar, correlacionar e manipular são exemplos de habilidades.

As competências fazem parte de um conjunto de habilidades harmonicamente desenvolvidas que se caracterizam como uma função específica. Onde as habilidades devem buscar as competências. Nessa perspectiva torna-se fundamental diferencia-las. Percebe-se a competência como a gestão, a capacidade de organizar, operacionalizar um conjunto de esquemas, pensamentos, ações e avaliação. A habilidade como uma aptidão específica importante, que em conjunto formam as competências. Ser Professor (a) é uma competência que requer o desenvolvimento de uma série de habilidades, como ler, escrever, interpretar, organizar a transposição didática para compartilhar o saber.

A gestão por competência mobiliza os conhecimentos, as idéias inovadoras para que se possam resolver os problemas com eficácia. Nessa perspectiva percebe-se a relevância do trabalho do (a) Professor (a) e a importância do seu perfil. A educação nesse paradigma não comporta mais um transmissor de informações, requer um educador, "urge  educar para as competências,  e isso,  através da contextualização e da interdisciplinaridade." (Zacarias)[83] que saiba organizar e desenvolver pessoas.

As Diretrizes do MEC explicitam cinco competências básicas: o domínio da linguagem, a compreensão dos fenômenos, a construção de argumentações, a solução de problemas e a elaboração de propostas para desenvolver um cidadão ativo. Extremamente importantes na gestão do saber para desenvolver a inclusão escolar e social nesta complexidade. A teoria da complexidade[84]percebe o pensamento como "um (complexus: o que é tecido em conjunto) de constituintes heterogêneos inseparavelmente associados: coloca o paradoxo do uno e do múltiplo." Morin (2001, p. 17). Isso constitui o tecido social, as ações, as interações e as retroações no mundo.

Na complexidade há um tipo de pensamento capaz de unir as relações necessárias e interdependentes aos aspectos da vida humana numa forma de gestao que busca "o pensamento capaz de respeita a multidimensionalidade, a riqueza, o mistério do real; e de saber que as determinações cerebral, cultura, social, histórica – que impõem a todo o pensamento, co-determinam sempre o objeto do conhecimento." (Morin 1980, p.14) A essa interação e contradição designa de pensamento complexo.

O complexo, como um modo de pensar, de integrar as diferenças, opor-se aos mecanismos reducionistas, simplificadores e disjuntivos. Um pensamento que considera influencias internas e externas. Enfrenta o problema, a contradição e convive com os fenômenos. Apesar dos esforços o problema noológico continua: "persiste a dominação pelas idéias, inclusive as emancipadoras." (Morin)[85] um problema a ser trabalhado.

No contexto, existem mentes que resistem ao imprinting[86]e a manipulação, demonstradas na complexidade do mundo. A partir das grandes tragédias manifestas pela falta de limites na humanidade percebe-se a necessidade de colocar ordem nos fenomenos e rejeitar a desordem. Selecionar temas, elementos chaves para trabalhar os saberes na diversidade. Desse modo salienta-se a relevancia da dialógica no processo. "A historia é um complexo de ordem, desordem e organização" (Morin 2003 p.83) que precisa ser organizada. Assim, como o trabalho do (a) Professor (a) no contexto.

A missão do (a) Professor (a) consiste em trabalhar com o saber, favorecer o desenvolvimento das habilidades e das competencias para formar o conhecimento. Mobilizar o afeto, a emoção e as relações. Isso significa aprender com as experiências cotidianas, vincular a teoria e a prática, fundamentando a crítica em fatos reais. Ao lidar com emoções e sentimentos na aprendizagem se forma esquemas mentais, desenvolvidos na gestão por competências pelas experiências acumuladas no processo.

Portanto, o trabalho do (a) Professor (a) instiga a formar a consciência da identidade complexa comum a todos os seres humanos. Deste modo, a condição humana deve ser o objeto essencial de todo o processo de ensino aprendizagem. Na realidade somos um fragmento da espécie homo sapiens, da comunidade que sobrevive há estas interações. O homem é um ser biológico, cultural, que traz em si a unidualidade originária na complexidade que luta para sobreviver e ser feliz na sua essência.

CAPÍTULO 3

O projeto recreação e cidadania

"El hombre solo puede ser hombre mediante la educación."

Immanuel Kant

O Projeto Recreação e Cidadania[87]se desenvolvem na Escola Municipal de Ensino Fundamental Edy Maya Bertoia, Santa Maria, RS, Brasil com alunos (as) da primeira a nona série. Coordenado pela Educadora Especial Lisete Maria Massulini Pigatto, conjuntamente com os (as) Professores (as). Tem como objetivo favorecer o desenvolvimento da aprendizagem e da cidadania pró-ativa para a autonomia, a participação, o autocontrole e a responsabilidade social. No intuito de encantar o (a) aluno (a), minimizar os índices de analfabetismo, a evasão e a repetência escolar.

Fundamenta-se na LDB 9394/96, no Estatuto da Criança e do Adolescente, nos Parâmetros Curriculares Nacionais e no Ensino Fundamental de nove anos. Aprovado pelo Projeto de Lei N º 11.274 (2006). Resultado de uma reivindicação antiga da educação popular conquistada primeiro com a Lei 11.114 (2005) que fixa o ensino fundamental aos seis anos. A aprovação ocorreu, de acordo com a análise da Comissão de Educação do Senado[88]"já havia uma prática bastante difundida, principalmente entre as famílias de maior renda, de antecipar o início da escolarização." Uma dívida histórica que vem sendo resgatada por meio da educação, da inclusão escolar e social.

O Projeto Recreação e Cidadania têm um desenho metodológico contextualizado, contemplado no Projeto Político Pedagógico. O PPP foi instituído na escola a partir da LDB 9394/96, em seu artigo 12 inciso 1º, diz: "Os estabelecimentos de ensino, terão a incumbência de: I - elaborar e executar sua proposta pedagógica". Para conduzir a escola ao sucesso. O PPP apresenta a visão, define ações para alcançar metas e objetivos. Expressam a prática pedagógica que se reflete nas relações sociais.

O Projeto justifica-se por ser um trabalho preventivo que permite ao aluno (a) vivenciar a sociologia na teoria e na prática. Sugere um modelo de gestão para a inclusão escolar e social, um caminho para aprender a lidar com as coisas sérias de uma maneira alegre e divertida. Trata-se de uma experiência educativa que investigam: "as Contribuições da Metodologia Recreação e Cidadania no processo de ensino aprendizagem na Sala de Aula, nos Ambientes de Recreação e nas Oficinas." Onde se utilizam as práticas pedagógicas inovadoras, no intuito de inspirar e executar Políticas Públicas Inclusivas para que se conquiste um ensino ideal e uma educação de qualidade.

Nesta perspectiva o trabalho do (a) Professor (a) tem um papel relevante, não apenas no processo de ensino aprendizagem, mas na orientação e na condução da sociedade. Na operacionalização do projeto utiliza-se a Metodologia Recreação e Cidadania, a Gestão por Competência e a Educação Fiscal numa dimensão sociológica do Ter, como estratégia para trabalhar a integralidade do Ser humano. Realiza-se concomitantemente com os Projetos: Agrinho, Construindo a Nação, Educação Fiscal, Juniors Achievement e Vira Mundo que se integram, no intuito de alcançar os objetivos.

Fundamenta-se na Teoria Construtivista de Piaget (1973), na Sociointeracionista de Vygotsky (1994), na Teoria da Emoção de Wallon (1973), na Aprendizagem significativa de Ausubel (1980), na Pedagogia da Consciência Crítica de Freire (1999) e na Teoria da Complexidade de Morin (2001) Além da contribuição imprescindível de outros autores e atores sociais no desenvolvimento da metodologia no projeto.

O Projeto visa a Inclusão Escolar e Social. Nos países desenvolvidos a inclusão é concomitante em todas as áreas. Uma dificuldade enfrentada pelos países em desenvolvimento, devido à falta de conscientização sobre a mudança de paradigma. A escola contemporânea deve enfrentar este desafio, pois "tem como característica a substituição da educação intelectualista pela educação ativa." (Martins 1988, p.30) Tem o compromisso de instigar os (as) alunos (as) a re-elaborar as suas informações e os conhecimentos de maneira a conformar princípios e valores contextualizados.

Almeja-se desenvolver uma sociedade inclusiva, capaz de contemplar os anseios da condição humana que é ser feliz. Para isso necessita-se de oportunidades de socialização, educação, trabalho, emprego, ocupação e renda. De modo que as pessoas possam contribuir com o seu potencial de forma pluralista e democrática como reza a Constituição Cidadã de 1988. Para isso elaboram-se Projetos como: Recreação e Cidadania no intuito de reverter à dramática situação em que se encontra a população.

Nesta perspectiva trabalham-se além da aprendizagem convencional, a cidadania pró-ativa, as relações humanas e a sua posição diante do mundo. O projeto aborda com acessibilidade a educação ambiental. Valoriza a Saúde como um direito de todos. A Pluralidade cultural, pois respeita à diversidade do patrimônio e dos povos.

Na orientação sexual respeita a diversidade do comportamento humano. Garante a integridade e a dignidade do ser ao expressar as suas emoções, os seus sentimentos e os afetos. Desta forma vincula os temas transversais, aos conteúdos e à cidadania. De perspectiva ampla, os temas trabalhados traduzem as preocupações do país. Contemplam a ética, o meio-ambiente, a saúde, a pluralidade cultural, a orientação sexual, a educação & trabalho. O Projeto instiga o desenvolvimento de uma nova ética. Princípios que articulam o conhecimento na vida cidadã, formando hábitos e atitudes.

O Projeto fundamenta-se nas Diretrizes Curriculares Nacionais que "propõe um novo paradigma curricular em que se estabeleça um currículo em seu conceito mais amplo" (PNEF, 2005, p.33) A Inclusão Escolar e Social trabalha com perspectiva e não com a expectativa, pois extrapola o planejado, vislumbra o futuro e vai além das leis.

A Gestão por Competências[89]na escola contribui para desenvolver um ser humano capaz de estabelecer acordos e parceria. De participar com co-responsabilidade, produzir, prestar serviços e amenizar as diferenças. A dinâmica do projeto instiga a formação do autor, estimula o diálogo, a problematização, a investigação-ação escolar. O projeto vem alcançando os seus objetivos no trabalho que realiza concomitantemente com a Educação Fiscal, a qual se considera uma excelente estratégia para desenvolver a cidadania pró-ativa e promover a inclusão escolar e social.

3.1 A Sociologia no Projeto

Desde os primórdios da humanidade busca-se na justiça uma forma de equilíbrio social, capaz de assegurar igualdade no acesso aos bens essenciais para que a pessoa humana obtenha dignidade. A sociologia desvenda o processo histórico, explica os interesses socioeconômicos, cujo objetivo consiste na melhoria da qualidade de vida. Ao desenvolver o raciocínio se faz uma reflexão sociológica. Independente do sistema a moeda deve ser percebida como um instrumento de troca, como uma estratégia para se chegar à integralidade do ser humano, na qual a justiça social torna-se fundamental.

Émile Durkein (1858-1917) o pai da sociologia já afirmava, que os fenômenos sociais são "sui generis" e requerem uma ciência específica para os estudos. "A Divisão do Trabalho Social, cujo tema central incide sobre a relação do indivíduo e a coletividade, está dominada pela idéia de que a divisão do trabalho é portadora de uma nova forma de coesão social, a solidariedade orgânica." (Soares, 2006) Na qual a sociedade organiza, condiciona, controla e pune as ações individuais. Em virtude disso Durkein (1995) propôs um método de trabalho que consiste num conjunto de regras. Na qual o pesquisador deve fundamentar-se para realizar os seus estudos. Onde enfatiza a posição de neutralidade e objetividade, descreve a realidade social sem deixar que as suas idéias e opiniões interfiram na observação dos fatos sociais.

A neutralidade e a objetividade são objetos de estudo, mas a vida cotidiana é dialógico-dialética e exige do (a) Professor (a) uma postura crítica e reflexiva porque educar é um ato político. Um processo em sinergia, uma interação social de princípios, valores, regras de convivência moral e ética. Sendo o homem um produto social que se constitui pelo outro. Neste sentido, a preocupação central da sociologia é com o ser humano e as relações sociais, pois as pessoas não vivem isoladas, mas em grupos e as suas regras são legitimadas pelas gerações formando uma consciência coletiva.

Na historia da humanidade o homem vem modificando o seu comportamento, às atitudes e a forma de como lidar com a realidade para sobreviver. Segundo o autor "a sociedade constrói-se, na verdade, em torno de sentimentos mais ou menos fortes, sentimentos cuja dignidade parece tanto mais inquestionável quanto mais forem respeitados." (Soares 2006) Instrumentos de estudo da sociologia.

Neste sentido o Projeto Recreação e Cidadania favorecem o desenvolvimento da aprendizagem e da cidadania pró-ativa nos alunos (as) de forma interdisciplinar e multidimensional como uma introdução a sociologia de forma recreativa no intuito de que possam brincar com a realidade e exercitar o seu futuro. Aprendizados de extrema importância para estimular, motivar e criar oportunidades de convivência social.

Compreender o sistema e a ordem torna-se fundamental. A sociologia atua nessa aprendizagem, portanto devemos entender como o sistema é organizado. Como são gerenciadas as políticas publicas e privadas, qual o objetivo da educação, como está o mercado de trabalho, como se gera o emprego e o desemprego. De que forma as políticas governamentais são elaboradas e os porquês do mundo informatizado. Desse modo os saberes teóricos e práticos são importantes para tornar consciente a realidade.

O Projeto apresenta uma proposta emancipadora, voltada a Educação Social para que os (as) alunos (as) aprendam a humanizar-se e não se tornem meros executores de tarefas. De modo que aprendam a pensar, a conhecer o país, o Mercosul, o mundo e a globalização. A discutir temas que interessam a todos: "não só a carga tributária, mas a incidência dos juros, a vergonha que é a cumplicidade do Banco Central com os Bancos Nacionais e Internacionais que dominam a economia brasileira." (Schirmer, 2006, p. 11) Para que percebam o entorno, tomem consciência da sua cidadania e saibam como agir ciente dos seus direitos e deveres, pois enquanto os bancos brasileiros são os mais rentáveis do mundo, enquanto a população carece de bens e oportunidades.

O projeto almeja que aprendam a enfrentar a vida com coragem e esperança de uma vida digna, fundamentada na ética. De acordo com o autor: "a ética sempre busca a excelência, trabalha de forma virtuosa, na medida que se caracteriza como um conjunto diversificado de princípios, no intuito de configurar o que seja genuinamente humano. (Cerezer2007, p.9) Portanto a ética não pode ser compreendida apenas como um mero conjunto de regras, mas de princípios, valores, emoções e sentimentos.

A sociedade contemporânea se caracteriza por ser ativa e aqui reside grande parte das dificuldades atuais. A nossa educação resulta de um processo tradicional, reprodutivista. O novo paradigma requer o envolvimento dos segmentos sociais, trabalho em equipe, desenvolvimento de redes de apoio. Muito diálogo, empatia para estabelecer acordos, parcerias e minimizar os problemas. A ausência de comunicação impede a participação, promovem há dês-humanização e a rigidez do sistema. Atualmente, discute-se a perenidade, a temporalidade e não os fins perenes da educação. Questões importantes a serem debatidas para estabelecer a visão de educação almejada.

No processo de Inclusão Escolar Social o (a) Professor (a) é um dos elementos mais importantes, pois será o facilitador, o responsável por amenizar as diferenças sociais. A realidade vem demonstrando a necessidade de uma formação adequada, fundamentada em princípios e valores para trabalhar com acessibilidade na diversidade.

A Bolsa Escola[90]idealizada pelo Senador Cristovam Buarque (1995 – 1998) atualmente atingem os carentes em todo o país. Uma medida de combate às necessidades básicas do educando, fundamental e necessária ao processo inclusivo. Porem, o grande responsável por minimizar as diferenças sociais será o Professor (a). O elemento fundamental para conduzir os (as) alunos (as) a autonomia, de modo a induzi-los a um processo de convivência de forma humanizada e emancipadora.

A nossa origem fundamenta-se na cultura ocidental Cristã, onde residem os valores. Neste contexto o (a) Professor (a) deve ousar ser um pesquisador e qualificar-se para refletir sobre o sistema educacional, pois "há ainda um profundo desprezo por uma visão propriamente profissional, que valorize o tipo de conhecimento que se adquire na prática." (Durham, 2006, p.78)[91] Objeto deste estudo. O desenvolvimento de valores associa-se a teoria, mas precisam da prática para internalizar. As mudanças são rápidas e a escola precisa identificar as perspectivas sociais para preparar o profissional e o cidadão do amanhã. Portanto, deve ser capaz de intervir com propostas nas Políticas Públicas. Apresentar novas formas de liderança, de gestão e metodologias no processo de ensino-aprendizagem no intuito de garantir a Educação Social.

A educação é um processo histórico de humanização e emancipação. Onde a comunidade precisa aprender sempre e não apenas os alunos (as) na escola. Portanto, aprender consiste em conhecer, dialogar, problematizar, aplicar, criticar, sugerir e acima de tudo dar significado aos conhecimentos. "A inteligência parcelada, compartimentada, mecanicista, reducionista rompe o complexo do mundo, fraciona os problemas, separa o que está unido, torna unidimensional o multidimensional." (Morin 2003, p.43) Cega o ser humano, por isso, aprender atualmente é sinônimo de interagir.

A aprendizagem se inicia com o acesso a informação, ao conhecimento e este exige o recurso da memória. Portanto, para escrever ou executar qualquer operação, precisa-se pensar e re-significar o que já foi aprendido. Deste modo, quem ensina precisa verificar se o (a) aluno (a) aprendeu. Observar se compreendeu, explicar de outra forma. Perceber se sabe aplicar conhecimento às situações adequadas, analisá-lo e sistematizar agregando valores fundamentais a existência humana com flexibilidade.

Segundo a autora: "Si hay um nexo entre la educacion y la violência, está em lãs pedagogias rigoristas." (Novara, 2003, p.18) Uma prática cultural capaz de matar qualquer forma de aprendizagem pela falta de flexibilidade, de acolhimento e afetividade. Para humanizar é preciso compartilhar saberes e a prática pedagógica tem demonstrado que quando se desvincula a teoria da prática se impede este processo e consequentemente à emancipação. Para isso o (a) aluno (a) precisa aprender a pensar, a dialogar, a resolver problemas, a determinar-se com autonomia de forma participativa. Conscientes do compromisso sócio-educacional, os (as) Professores (as) não almejam um povo alienado, alunos (as) que aceitem qualquer condição de salário, mas que valorizem o seu trabalho, a sua vida e aprendam a viver e a conviver com a democracia.

A tarefa da sociologia consiste em despertar no (a) aluno (a) a consciência dos seus direitos e deveres para que não se tornem massa de manobra. O Projeto contribui para que possam buscar o seu lugar na sociedade de forma consciente crítica e participativa. No intuito de que tenham uma utopia, construam o sonho de um país justo para se viver e não apenas alimentem ideologias, fundamentada em idéias ultrapassadas.

A educação tradicional ensinou a separar e não a unir os conhecimentos. Porem, "as interações, as retroações, os contextos e as complexidades que se encontram na man"s land entre as disciplinas se tornam invisíveis." (Morin 2003, p.42-43) A escola atual e o seu currículo desenvolvem pessoas, profissionais e cidadãos para atuar socialmente. Um processo que envolve três dimensões na vida do ser humano: a subjetiva, a profissional e a política. A subjetiva ou da consciência trabalha o aprender a aprender do ser humano. O aprender a fazer aborda o profissional e na dimensão política as questões ligadas à formação do cidadão: o aprender a viver e a conviver.

Vive-se numa sociedade pobre, numa mescla de ideologias capitalista e socialista que exige o domínio das habilidades e das competências. Onde tudo se transforma em mercadorias e a suas práticas exigem cada vez mais informações, conhecimentos para garantir a sobrevivência. Ao mesmo tempo não podemos perder tempo e nem abrir espaço para as divagações filosóficas, políticas ideológicas ou utópicas. Um contexto existencial crítico que exige reflexão, habilidades e competências para aprender a aprender a fazer e a conviver. Salientam a todo instante a necessidade de atenção e concentração, de organização e participação no mundo global.

Um mundo automatizado, em crise, onde faltam oportunidades de educação, trabalho, emprego e renda. De princípios e valores saudáveis que permitam o desenvolvimento da terceira via, mesclando o capitalismo e o socialismo, para que se alcance a utopia da vida com dignidade. A sociologia pela sua natureza trata da vida coletiva e a sua função consiste em fazer o (a) aluno (a) pensar e perceber-se como reflexo da situação histórica no mundo, "pois quando não a compreende na relação com a sua história individual, passa a ver a realidade como determinada." (Silva 2002, p. 10) Completamente alienada, sem ética. Isso implica em resgatar uma gama de elementos antropológicos, sociológicos, religiosos, psicológicos e culturais no Ser.

A Ética é a liberdade, a autonomia para pensar e agir do ser humano. A sua dinâmica permite vivenciar as ações e as possibilidades humanas. Buscar soluções para as questões vitais como a fome, a miséria e a corrupção. Consiste numa reflexão critica sistemática sobre o dia a dia do ser humano, levando em conta todos os elementos constituídos da sua natureza. A evolução do ser humano torna-se cada vez mais evidente, não apenas na descoberta tecnológica, mas no crescimento intelectual e moral. O estudo torna-se imprescindível devido à evolução histórica do ser humano, pois aborda a importância da troca que se configura no modo de ser e de proceder.

O Projeto merece ser discutido vivenciado e aprofundado, pois aborda a ética, a estética, a inclusão escolar e social. Elementos fundamentais que norteiam a conduta do individuo na sua vida pessoal e profissional durante a vida. Contribui para a formação de uma consciência pessoal, profissional materializada em condutas hábitos e atitudes. As quais configuram um ser humano integro e justo. Condições básicas para que se favoreça o desenvolvimento da felicidade individual e coletiva numa Cultura de Paz.

3.2 A Metodologia Recreação e Cidadania

A Metodologia da Recreação e Cidadania[92]define-se como um caminho no processo de ensino aprendizagem, com potencial para desenvolver a ética, a estética, a inclusão escolar e social. Apresenta uma Proposta de trabalho que se fundamenta na Teoria Construtivista de Piaget (1973), na Sociointeracionista de Vygotsky (1994), na Teoria da Emoção de Wallon (1973), na Aprendizagem significativa de Ausubel (1980), na Pedagogia da Consciência Crítica de Freire (1999) e na Teoria da Complexidade de Morin (2001). Além de outros autores e atores sociais imprescindíveis.

A metodologia caracteriza-se por ser alegre e divertida. Favorece o desenvolvimento da aprendizagem, da cidadania pró-ativa, das habilidades e competências com autonomia. Integra-se facilmente a projetos com sinergia, desenvolvendo-se de forma organizada em temas ações e atividades educativas. Instiga um currículo flexível, a aprendizagem numa relação de afeto, cognição e prazer.

A dinâmica estimula o desenvolvimento mental, motiva pela emoção, pelo prazer em aprender, que desperta no (a) aluno (a). Cria oportunidades aos alunos (as) e aos Professores (as) para que sejam capazes de produzir, reproduzir, sonhar e criar o novo, transformando a realidade vigente. Propõe uma aprendizagem contextualizada e sistematizada por meio das práticas pedagógicas inovadoras. Aprimora a prática pela Gestão por Competências e a investigação da ação escolar pela pesquisa ação.

3.3 O Processo de Ensino Aprendizagem

A educação do futuro centra-se na educação social, num processo inacabado da evolução humana. Na escola e na sociedade se constituem os espaços de ação e transformação, encarregados de criar oportunidades as pessoas para que desenvolvam a capacidade de re-significar os saberes. O Processo de ensino aprendizagem faz parte deste complexo modelo alternativo, interativo centrado na aprendizagem significativa.

As ferramentas didáticas e a acessibilidade[93]promovem acesso à diversidade, "pois o conhecimento é o grande capital da humanidade."[94] Misturam os conhecimentos novos aos velhos, desenvolvendo o saber. Sendo o (a) Professor (a) o orientador neste processo de transformação. Desse modo, a partir da pergunta, constrói uma hipótese, busca na teoria e na prática a solução e questiona novamente de forma dialógica dialética. Nessa perspectiva, percebe-se o aprender como um desafio, o ensinar como um ato de ensinagem, pois ao mesmo tempo em que se ensina se aprende.

No livro Pedagogia da Autonomia, Paulo Freire (1997, p.25) diz: "Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender." Deste modo o Processo de ensino aprendizagem faz parte de um complexo modelo alternativo e interativo centrado na aprendizagem significativa, com acessibilidade na diversidade.

Aprender é uma atividade complexa. Neste processo, além das relações pessoais e inter-pessoal no cérebro existe a integração de mecanismos neurológicos, dependentes da evolução dos sistemas piramidal e extra-piramidal. O primeiro atua como um sistema mecânico responsável pela motricidade fina, voluntária e ideomotora. Onde existe há necessidade de pensar para executar a ação[95]e precisam reproduzir para aprender.

O segundo constitui-se como o sistema extra-piramidal de fundo tônico-motor automático, que se opõe ao primeiro e serve de guia às impulsões piramidais. Passa a ser automático sem a necessidade do raciocínio lógico. Nesta etapa do processo é permitido pensar o impensável, estimular a criatividade, desenvolver aprendizagem vinculada ao conhecimento anterior com atitudes tomadas de forma espontânea.

A Educação Tradicional ensinou a pensar de forma vertical, a olhar apenas em uma direção. A reproduzir modelos convencionados pela sociedade, inibindo a criatividade. Segundo Celso Antunes (2001, p.60) "Essa maneira de pensar – a que denomina pensamento vertical – se opõe a uma outra mais criativa". Este pensamento tem uma posição arbitrária. Trabalha a mente de forma retroativa. Mantêm o convencional, reproduz experiências, sem adaptá-las as necessidades do contexto social.

A aprendizagem significativa tem uma perspectiva clara, orienta a um pensamento horizontal para desenvolver a Cidadania pró-ativa. Busca a criatividade, idéias e soluções interessantes. Não define parâmetros entre o certo e o errado, porque entende que a educação é um processo constante, onde "cada mente é dotada também de potencial de mentira para si próprio (self-deception), que é fonte permanente de erros e de ilusões." (Morin 2003, p.21) buscam as verdades e os seus sonhos.

A educação se dá num processo consciente, de forma individual e coletiva. Numa sucessão constante de aprimoramentos. "Aprender não é acumular conhecimentos" (Gadotti),[96] mas aprimorar saberes para a transformação social.

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Figura 1 - A partir da pergunta, constrói-se uma hipótese, busca a teoria e questiona? Faz a intervenção, confirma a hipótese e problematiza novamente. Numa sucessão de temas, ações e atividades desenvolvem-se habilidades, competências e atitudes.

No esquema acima, percebe-se que a resposta ocorre em função da pergunta, pois só existe solução quando há um problema. Encontram-se as respostas dos saberes quando se descobre à razão da intervenção e os por quês da problematização. Nessa dimensão se estabelecem as relações com o mundo, as quais melhoram quando se pergunta: - O que se quer? E se tem a ousadia em responder o que se busca.

A partir da pergunta, procura-se a solução do problema. Nessa dinâmica ocorre o processo de ensino aprendizagem, por meio da análise e da síntese. Estende-se da teoria a prática e da prática a teoria, via situações problematizadoras, no intuito de estimular a curiosidade, motivar a compreensão, o desenvolvimento mental e a associação livre.

A aprendizagem significativa deriva da observação do objeto do desejo e da busca. Do resgate da atenção e da concentração. Do contato com a realidade de forma criativa. Aprende-se pela associação livre a combinar elementos, problematizar e interagir. No intuito de modificar a realidade e não apenas reproduzir a aprendizagem pela memorização, numa linha vertical onde apenas se copia sem nenhum significado.

O processo de ensino aprendizagem oferece aprendizagens desafiadoras. Os estímulos, os motivadores e as oportunidades permitem aprender brincando. Ajuda a elaborar conceitos, conteúdos traduzindo as suas vivências como produções artísticas ou sistematizadas. Nesse processo, as vivencias tornam-se necessárias para construir esquemas mentais, estabelecer lideranças e administrar a subjetividade.

A metodologia é uma experiência no âmbito teórico-metodológico que detecta novas formas de aprender. A partir da recreação e da sistematização a aprendizagem se desenvolve numa sucessão de temas, ações e atividades educativas. Onde brincam com a realidade, resolvem os problemas e a re-significam de acordo com os seus interesses. Rubens Alves, no texto A Casa – A Escola deixa muito clara esta proposta, quando diz: "Sonho com uma escola que tenha a casa de morada da criança como seu laboratório." Esta casa pela sua dinâmica pode ser o Projeto "Recreação e a Cidadania"[97], pois apresenta uma série de práticas pedagógicas inovadoras para ajudar a solucionar os problemas sócio-educacionais. Assim, constata-se que é de projetos como este que se gera uma educação de qualidade e se promove a inclusão escolar e social

3.4 Fundamentos Teóricos da Metodologia Recreação e Cidadania

Até meados do século XX as ciências obedeciam ao princípio da redução. Limitavam o conhecimento em partes, como se a organização do todo não produzisse propriedades novas. No Construtivismo o processo de aprendizagem se dá de dentro para fora, pela formação de esquemas, de acordo com a Teoria de Piaget, (1973). O autor interessa-se pela seqüência dos estágios do desenvolvimento intelectual e pelos processos básicos às funções cognitivas. A sua teoria centra-se nas aquisições das operações que facilitam a adaptação inteligente. Prevê a construção de uma série de estruturas progressivas desenvolvidas pela interação entre o sujeito e o meio ambiente.

No Sóciointeracionismo a aprendizagem se dá pelo processo inverso, de fora para dentro. Fundamentado no materialismo dialético, o organismo e o meio influenciam-se. O biológico e o social ficam interligados, por isso denomina-se sóciointeracionista. Demonstrado no pensamento dos autores: na Teoria de Wygotsky, (1994), pela emoção na Teoria de Wallon, (1973), pela significação de Ausubel (1980), pela consciência crítica de Freire (1999). Até que Morin (2001) com muita ousadia consegue unir as diversas formas de pensar e desenvolve a Teoria da Complexidade.

Dessa fundamentação, surge o Projeto Recreação e Cidadania e a sua metodologia, para desenvolver uma Educação Social de qualidade.

3.4.1 Jean Piaget e a Epistemologia Genética

Para entender o pensamento do Jean Piaget[98](1896-1980) se faz necessário conhecer a sua trajetória de vida. A formação inicial se dá na biologia, mas as explicações da sua teoria são filosóficas. Reconhecido como um estudioso sobre o lúdico se percebe a importância do brinquedo, da brincadeira e do jogo no seu trabalho.

A Epistemologia Genética foi a Teoria desenvolvida por Jean Piaget (1971). Para desenvolver a teoria da construção do conhecimento e chegar ao equilibrio na interação do homem com o meio ambiente, fez uma analise critica às teorias empiristas e inatistas do conhecimento[99]"O homem nasce com a capacidade mental extremamente reduzida e apenas o contato direto com o exterior possibilita a assimilação e criação de conhecimentos." (Rodrigues 2003, p. 40) O conhecimento para os empiristas era resultado das experiencias concretas do homem com o mundo sensível. Os inatistas acreditavam na estrutura cognitiva-biologica formada ao nascer.

Na teoria de Piaget "grande parte do conhecimento construído pelo homem é resultado do seu esforço de compreender e dar significado ao mundo." (Rodrigues 2003, 40) Quando o ser interage desenvolve equipamentos neurológicos herdados que facilitam o funcionamento intelectual. Para explicar a construção do conhecimento criou um modelo biológico de interação do homem com o ambiente, que parte da seguinte lógica: o organismo seleciona os alimentos de acordo com as necessidades. Assim inicia-se o processo de assimilação e acomodação, a adaptação ao organismo.

Na estrutura cognitiva, o processo é o mesmo, quando assimila, acomoda e organiza os conhecimentos. Na sua concepção, a inteligência parte da adaptação do ser ao meio ambiente de forma organizada "graças a uma série de estruturas, que surgem gradualmente como conseqüência da mesma interação com o meio e não por simples maturação." (Sarramona, 1995, p.123) Organiza-se na interação do homem ao meio.

Na adaptação, a estrutura cognitiva altera-se para receber o novo conhecimento. Segundo Goulart (1995) o processo de organização, adaptação e assimilação dependem dos esquemas assimilativos, como a repetição e a generalização. As repetições tornam-se novas estruturas mentais, novas memórias, capazes de ampliar a percepção dos conhecimentos. Quanto mais intensas, mais clara a identificação e o reconhecimento do objeto do estudo. A aquisição do conhecimentos depende das estruturas cognitivas do sujeito com relação ao objeto. Na qual Piaget[100]adota uma abordagem diferente.

Piaget (1973) interessa-se pela seqüência de estágios no desenvolvimento intelectual[101]e pelos processos básicos subjacentes às funções cognitivas. A sua teoria centra-se nas aquisições das operações que facilitam a adaptação inteligente. Prevê a construção de uma série de estruturas progressivas desenvolvidas pela interação entre o sujeito e o meio ambiente, onde a "atividade intelectual não pode estar separada do funcionamento total do organismo. (Piaget, 1973, p.7). Sendo assim, o conhecimento é construído pela criança nas suas interações com o meio. Para compreender essa construção o diálogo é imprescindível, pois não há fronteira entre os processos vitais, o biológico e os processos mentais, os últimos são os prolongamentos dos primeiros.

O conhecimento constrói-se nas interações. A aprendizagem ocorre mediante a consolidação das estruturas de pensamento que se dá após a consolidação do esquema que a suporta, da passagem do estágio a outro, pois dependente da consolidação e da superação do anterior. As características biológicas constituem o primeiro fator. O segundo aspecto é relativo às transmissões sociais. O terceiro fator diz respeito ao conhecimento que a criança retira de suas experiências com os objetos físicos e sociais.

Os três fatores isolados tornam-se insuficientes para explicar os progressos na evolução do conhecimento, pois devem ser coordenados, resultando na equilibração[102]Desse modo os demais intervêm e dependem do período de desenvolvimento da inteligência, que é de natureza construtivista. Segundo Piaget (1975)[103] a teoria da equilibração trata-se de um ponto de equilíbrio entre a assimilação e a acomodação. Um mecanismo auto-regulador que assegura a interação da criança com o meio-ambiente.

Sendo assim, percebe-se a importância nos postulados de Piaget (1975, p.14).

Primeiro Postulado: Todo esquema de assimilação tende a alimentar-se, isto é, a incorporar elementos que lhe são exteriores e compatíveis com a sua natureza.

Segundo Postulado: Todo esquema de assimilação é obrigado a se acomodar aos elementos que assimila, isto é, a se modificar em função de suas particularidades, mas, sem com isso, perder sua continuidade (portanto, seu fechamento enquanto ciclo de processos interdependentes), nem seus poderes anteriores de assimilação.

O processo acontece quando a organização, assimilação e adaptação dos conhecimentos se encaixam na estrutura cognitiva interando o homem o mundo e a sua riqueza. As ações, os reflexos e as representações, ao serem repetidas em situações diferentes, se transformam em novas estruturas. A organização constitui a face interna do processo de adaptação, visto que a adaptação surge à medida que se produz uma organização interna dos elementos do meio e do próprio sujeito. Trata-se de uma dialética sujeito-meio que permite avançar varias fases sucessivas de desenvolvimento (Sarramona, 1995, p. 122) Mediante a adaptação ocorre à busca pelo equilíbrio.

À medida que desenvolve a repetição, reforçam os conhecimentos assimilados, facilita a aprendizagem, o desenvolvimento da inteligência e o internalizar o conhecimento. A construção do conhecimento ocorre quando as ações físicas ou mentais atuam sobre o objeto. Deste modo desenvolve-se a moral e a afetividade num processo crescente, mediado pelos adultos que vai da dependência a autonomia moral.

Na Obra "O juízo moral da criança", Piaget (1994) salienta que para o desenvolvimento da autonomia existem dois mecanismos fundamentais: a cooperação e a reciprocidade, que comportam as sanções expiatórias, onde não tem relação com a falta cometida e as sanções de reciprocidade, onde há relação entre o ato e a punição. Em geral as regras possuem três momentos: a anomia, onde não segue regras, mas satisfaz seus interesses; a heteronomia, onde se interessa pelas atividades coletivas e a autonomia quando se relacionam e obedecem as regras num processo histórico.

Sendo assim, a construção do conhecimento não é fruto de reproduções, decorre da interação recíproca entre fatores externos, do meio e fatores internos, próprios da organização intelectual. Sendo a inteligência uma relação que evolui no curso das ações e reações do (a) aluno (a). Portanto conhecer é compreender e transformar os sistemas.

  • Lev Vygotsky e o Sociointeracionismo

Neste período, a Rússia atravessava uma crise generalizada. No contexto surgia o regime calcado na filosofia de Marx e Engels (1847), que tem como método o materialismo histórico-dialético. As suas contribuições são frutos das condições da sociedade e da Psicologia. Na época a Rússia pós-revolucionária fornecia o cenário ideal para o desenvolvimento desta teoria. A preocupação de Vygotsky[104](1896-1934) com a educação tinha motivos políticos. Não aceitavam a situação de miséria no país, acreditava que por meio da educação seria possível desenvolver a Rússia atrasada.

A sua teoria explica o processo da evolução intelectual e demonstra que "o conhecimento é socialmente construído pelas e nas relações humanas". (Rodrigues 2003, p.49) Como resultado de um processo histórico. Vygotsky (1994) na sua teoria percebe o homem como um sujeito ativo, de corpo e mente que vive inserido num ambiente cultural[105]"Na ausência do outro, o homem não se faz homem." A partir deste pressuposto desenvolve a Teoria do Desenvolvimento da Inteligência, na qual afirma que o conhecimento é sempre intermediado. Sendo a convivência social fundamental para transformar o homem de um ser biológico em um ser socializado.

A partir das ciências do corpo e da mente escreve a sua teoria. "As concepções de Vygotsky sobre o funcionamento do cérebro humano fundamentam-se em sua idéia de que as funções psicológicas superiores são construídas ao longo da história social do homem." (Oliveira, 1992, p.24). Onde o homem se constitui pela interação como ser histórico. Na relação com o mundo, mediada por instrumentos e símbolos culturais, o ser humano cria formas de ação que o distinguem de outros animais. Na sua concepção acreditava que por meio do trabalho, o homem seria capaz de transformar a natureza, modificar o meio e privilegiar as relações homem-mundo. "O processo de formação da consciência é dessa forma o resultado do processo de internalização que permite a construção de um plano intramental a partir de material intermental, concretizado nas relações sociais." (Oliveira, 1992, p.78). Num sistema dinâmico e transformador.

Da Síntese dialética, ocorrem às transformações qualitativas, da qual emergem novos fenômenos dos elementos presentes. A partir desses postulados Vygotsky (1994) estabelece os pilares da sua teoria. As funções psicológicas apresentam um suporte psicológico material, pois são produtos desenvolvidos pela atividade cerebral. Para compreendê-los, considera o suporte biológico inserido no sistema nervoso no cérebro, pois as funções psicológicas são resultantes das suas atividades.

No processo de desenvolvimento, o indivíduo deixa de usar marcas externas e passa a utilizar "representações mentais que substituem os objetos do mundo real. Os signos internalizados são como marcas exteriores, elementos que representam objetos, eventos e situações (Oliveira, 1993, p.35) e atribuem significado a vida. Desse modo, as relações entre o homem e o mundo são mediados pelo mundo, por sistemas simbólicos, como a fala, a linguagem, o desenho, o brinquedo e a recreação.

A sua teoria analisa o comportamento humano, as funções psicológicas superiores e a elaboração de hipóteses onde procura compreender a caracterização. Desse modo, a cultura e a linguagem são referências para Vygostky (1994) no desenvolvimento da aprendizagem e na produção de conhecimentos. "A cultura torna-se parte da natureza humana num processo histórico que, ao longo do desenvolvimento da espécie e do indivíduo, molda o funcionamento psicológico do homem." (Oliveira, 1992, p.24) Neste processo a cultura nutre as relações entre o homem e o mundo.

A interação humana produz cultura, aprimora a linguagem e transforma o homem num ser social. Aponta a linguagem como um sistema simbólico fundamental, importante na divulgação de experiências, capaz de ordenar os fatos definir conceitos e organizar os conteúdos para transformar conhecimentos. A Teoria torna possível o desenvolvimento interno da aprendizagem e o conhecimento constrói as interações.

O interesse pela gênese, pela estrutura e o funcionamento dos processos psicológicos superiores levou a preocupar-se com os temas clássicos da psicologia, como: a percepção, a atenção e a memória fundamentais no processo de ensino aprendizagem. Desse modo, no decorrer da sua teoria distingue os mecanismos elementares dos mais sofisticados num processo contínuo, em saltos qualitativos de um nível de aprendizagem a outro. Mediados pelo mundo, nas relações sociais e culturais, as quais interferem diretamente no desenvolvimento intelectual do ser humano.

3.4.2.1 A Aprendizagem e as Funções Psicológicas Superiores

A aprendizagem para Vygotsky[106]constitui-se num processo contínuo e a educação caracteriza-se por saltos qualitativos de um nível de aprendizagem a outro. "A aprendizagem desperta processos internos de desenvolvimento que somente podem ocorrer quando o indivíduo interage com outras pessoas." (Oliveira, 1994, p.33) A linguagem torna-se fundamental ao intercâmbio social e ao pensamento generalizante.

A comunicação deve ser significativa para estabelecer o intercâmbio social. O pensamento generalizante ordena fatos, falas, objetos de forma que sejam agrupadas no mesmo conceito. Atua como um instrumento do pensamento e pressupõe um processo de internalização. O que denomina de discurso interior, quando a fala dirige-se ao próprio sujeito. O processo de ensino aprendizagem explica-se à medida que o pensamento se socializa e passa a resolver problemas complexos. Para isso Vygotsky (1999) desenvolvem os conceitos de desenvolvimento potencial e mediador, desenvolvimento real e desenvolvimento proximal para explicá-los.

A Teoria de Vygotsky (1996) oferece uma racionalidade e torna possível entender o desenvolvimento interno de aprendizagem e da produção do conhecimento. Isto significa que o processo de ensino-aprendizagem deve ter como ponto de partida, o desenvolvimento real da criança e como ponto de chegada os conhecimentos ainda latentes. Fundamentado no materialismo dialético, o organismo e o meio influenciam-se. O biológico e o social ficam interligados, por isso denomina-se sóciointeracionista.

Considera a zona de desenvolvimento potencial ou mediador a toda atividade ou conhecimento que a criança não domina: o mundo. A zona de desenvolvimento real tudo o que a criança já realiza sozinha. A zona de desenvolvimento proximal a distancia entre o que já sabe e as suas potencialidades em aprender com o auxilio de alguém. Esta é a zona cooperativa para construir conhecimento. Portanto, o comportamento se dá pelas trocas recíprocas que se estabelecem entre os indivíduos e o meio onde vivem.

O desenvolvimento pleno do homem depende do aprendizado no grupo social pela interação. Nesse sentido desenvolvem-se as características psicológicas organizacionais específicas do ser humano. Sendo assim, o sistema de análise psicológica para desenvolver a sua teoria, parte da teoria histórica das funções psíquicas superiores, responde à organização sistemática e ao significado da consciência.

Essa doutrina atribui um significado primordial: a) a variabilidade das conexões e relações inter-funcionais; b) a formação de sistemas dinâmicos complexos, integrantes de toda uma série de funções elementares; c) a reflexão generalizada da realidade na consciência. Esses três aspectos constituem o conjunto de características essenciais e fundamentais da consciência humana que "são a expressão da lei segundo a qual os saltos dialéticos não são apenas a transição da matéria inanimada à sensação, mas também desta para o pensamento" (Vygotsky, 1996, p.193) promove a materialização.

A ênfase da sua Teoria está no aspecto sociocultural, como o elemento estrutural, fundamental para desenvolver a cognição. A sua teoria contribui de maneira significativa para os estudos desenvolvidos sobre a organização da memória no processo de ensino aprendizagem. O conceito de mediação[107]constitui-se num dos pilares da sua teoria, onde a relação do indivíduo com o ambiente é mediada pelos símbolos que representam à realidade e formam a consciência do sujeito.

Percebe-se que ao longo da história formou-se um contexto lingüístico e manipulador onde prevalece o poder e não a autoridade. Na sua teoria explica a evolução intelectual como um processo que vem de fora para dentro do sujeito, "a consciência humana resulta de atividade complexa e cuja função se relaciona com a mais alta forma de orientação no mundo circundante e com a regulamentação do comportamento" (Oliveira, 1992, p. 78-79). Na sua concepção acredita que o conhecimento é sempre intermediado e validado pela cultura que o ser internaliza.

Nos seus estudos, mesmo de forma inconsciente salienta a necessidade de uma Educação Emancipadora, onde os (as) alunos (as) possam dialogar, problematizar, refletir e compartilhar saberes. Questões contempladas pela Educação Social, portanto a escola deve transformar o senso comum em conhecimento científico e vice versa de forma recreativa melhorando a qualidade de vida. Para que os (as) alunos (as) possam com facilidade vincular a teoria com a prática e vivenciá-la com alegria e prazer.

3.4.3 Henri Wallon e a Psicogênese da Pessoa Completa

A emoção é o primeiro elo de comunicação estabelecida com o mundo. Sem ela, não se vive, pois desta relação deriva a afetividade, um dos elementos mais importantes na vida do homem. A Teoria de Wallon (1975) "considera o homem como um ser determinado física e socialmente, sujeito tanto às disposições internas quanto às situações exteriores." (Rodrigues 2003, p.68) Para isso propõe a gênese da pessoa completa, um estudo de vários campos funcionais: o afetivo, motor e o cognitivo.

Henri Wallon na sua teoria[108]afirma que estes aspectos norteiam a vida. Piaget (1973), busca a fundamentação na gênese da inteligência e Wallon (1973) na psicogênese da pessoa completa[109]Sendo assim, dmitem o organismo como a condição primeira do pensamento. A função psíquica supõe um componente orgânico, donde o objeto da ação mental vem do ambiente onde o sujeito encontra-se inserido. Determinado pelas disposições internas e situações externas, a nível fisiológico e social.

Wallon[110](1975) considera o sujeito como um ser geneticamente social. Afirma que o desenvolvimento inicia-se na relação do organismo do bebê com o ambiente, pelos seus reflexos e movimentos impulsivos. Ao que denomina de motricidade expressiva – a dimensão afetiva do movimento, sendo esta a condição limite para o desenvolvimento neurológico e a maturação orgânica. Assim, a imitação revela o ato mental, o movimento espontâneo transforma-se em gestos e se reveste de significados.

O gesto precede a palavra e demonstra uma característica cultural. A função simbólica inibe o movimento quando o sujeito assimila os signos sociais pela fala ou pela escrita. Sendo a comunicação motora substituída por outros meios. Disto decorre a organização, a disciplina mental, o controle do sujeito sobre as suas ações. Desse modo, "o sujeito caminha do sincretismo (sentimentos e idéias vividos de uma maneira global, confusa, sem clareza da situação) em direção a diferenciação." (Rodrigues 2003, p.70) Para Wallon (1975), "a emoção é mesmo a base sobre a qual se dá o desenvolvimento da inteligência." (Lima 2002, p. 17) Não há dicotomia na emoção e razão, nem interferência negativa da emoção, mas humanização e emancipação.

Nesta perspectiva, a linguagem muda às relações da criança com o meio, sendo indispensável ao desenvolvimento do pensamento. Numa relação recíproca, a linguagem exprime o pensamento ao mesmo tempo em que atua formando a estrutura.

3.4.3.1 A Teoria da Emoção

Nos seus estudos Wallon (1989) trabalha a evolução infantil vinculada à socialização. "Wallon vê a criança como ser que é "com o outro" em simbiose afetiva (principalmente com a mãe) até alcançar etapas de colaboração com os outros." (Sarramona 1995, p.126) Num processo que se dá pela emoção. Segundo o autor, numa relação intrínseca que se estabelece entre o biológico o social e o psicológico.

Na sua teoria identifica quatro grandes temas à motricidade, a emoção, a inteligência e a formação do eu. Onde o pensamento é feito com o cérebro e os músculos. Considera a afetividade ligada às manifestações fisiológicas como a fome, o prazer e o desconforto. Neste processo envolve fatores orgânicos, a mediação cultural e social. Wallon (1973) estuda a criança contextualizada onde o ritmo das etapas do desenvolvimento[111]é descontínuo e personalizado pela sua subjetividade.

Na sucessão de estágios há uma alternância entre as formas de atividades e de interesse na criança. Denominada de "alternância funcional", cada fase incorpora as conquistas realizadas pela outra fase, construindo-se reciprocamente num permanente processo de integração e diferenciação. As concepções de motricidade, emotividade, inteligência humana reformulam a Psicologia infantil e os seus problemas. Atribui à motricidade a primeira manifestação afetiva. Onde o movimento possui duas dimensões: a dimensão afetiva[112]e a dimensão práxica[113]presentes ao na linguagem.

Ao estudar as raízes orgânicas do movimento, conclui que estas raízes estão na musculatura, pois são os músculos que formam o movimento. Portanto, o músculo tem duas funções importantes: a função cinética, responsável pelo deslocamento do corpo no espaço e a função tônica, que responde à sustentação da posição (tônus). Ambas variam de acordo com os estados afetivos. Desta forma classifica os movimentos conforme as áreas de controle neurológico[114]Os movimentos reflexos, os movimentos automáticos e os movimentos voluntários. Segundo a teoria das emoções dependem fundamentalmente da organização nos espaços sociais para se manifestarem. Para Wallon (1973) a emoção é orgânica, cognitiva e social, porque tem controle sub-cortical e repercussões tônica, por seu intermédio o indivíduo se socializa.

Concebê-las como elementos estanques é incorrer no erro antigo da separação corpo e a alma. "Entre as duas não param de desenrolar ações e reações mútuas que mostram como vãs as distinções de espécies que os diferentes sistemas filosóficos fazem entre matéria e pensamento, existência e inteligência, corpo e espírito." (Wallon, 1973, p. 65). Neste contexto, a criança sobrevive graças ao outro, por meio da emoção.

Na sua teoria a motricidade tem um caráter pedagógico pela qualidade do gesto, do movimento e da representação. A escola infelizmente insiste em imobilizar a criança numa carteira, limitando justamente a fluidez das emoções e do pensamento. As transformações fisiológicas de uma criança no sistema neurovegetativo revelam traços importantes de caráter e personalidade. "A emoção é altamente orgânica, altera a respiração, os batimentos cardíacos e até o tônus muscular, tem momentos de tensão e distensão que ajudam o ser humano a se conhecer", explica Heloysa Dantas, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, estudiosa da obra de Wallon há 20 anos. Segundo a pesquisadora, a raiva, a alegria, o medo, a tristeza, a alegria e os sentimentos mais profundos ganham função relevante na relação da criança com o meio.

A inteligência desenvolve-se aos saltos. A partir disso descreve dois momentos principais: a inteligência sensório-motora e a inteligência representativa. Para isso são necessários os elementos neurológicos e a influência da cultura. A inteligência representativa inicia uma fase pré-categorial, onde o pensamento é sincrético. Os saltos avançam pela socialização da criança: o primeiro nível é o diálogo tônico, o segundo a comunicação simbólica, lingüística. O terceiro nível acontece a partir da escrita. A criança não precisa mais do outro, segue sozinha e tem acesso aos elementos da cultura.

A Formação do EU se estrutura por um processo de alternância funcional entre etapas centrípetas e etapas centrífugas. Primeiro, interessa-se por si mesmo numa fase predominantemente afetiva. Depois disponibiliza a exploração do real, numa etapa objetiva, cognitiva. A construção do eu depende do outro, com referência ou negação. A partir do instante em que a criança vive a chamada crise de oposição, aos três anos, a negação do outro funciona como descoberta. Desse modo a função simbólica e a linguagem constroem o "eu" simbólico. A "tempestade do personalismo" constrói a consciência de si e adquire uma autonomia que permite ao indivíduo diferenciar-se do outro para que organize o seu pensamento, abolindo o sincretismo presente nesta fase.

Neste processo está o jogo dialético, os aspectos orgânicos, maturacionais, e sociais. "Enquanto a capacidade de comportamento inteligente possui profundas raízes biológicas. O exercício desta capacidade depende do homem apropriar-se dos instrumentos e das técnicas que existem, não dentro de seus genes, mas em sua cultura" (Bruner e Sherwood, apud Ratner, 1995, p.18). O comportamento resulta do desenvolvimento deste processo, na adolescência a afetividade passa a ser racionalizada.

De acordo com a sua teoria à medida que o "eu" constrói-se novos elementos são introduzidos no cognitivo e no afetivo. Sendo esta uma construção dialética, num processo inacabado, que se estende por toda a sua vida. A capacidade cognitiva humana desenvolve-se pelas mediações possíveis entre o sujeito e o contexto sócio-histórico. Deste modo a psicogenética oferece subsídios e fundamentação para aprofundar a reflexão sobre a prática pedagógica e motivar a investigação educacional. Para isso impõe exigências sobre a prática e cobra o atendimento da pessoa na sua integralidade.

3.4.4 David Ausubel e a Aprendizagem Significativa

Aprendizagem significativa é o conceito central da teoria da aprendizagem de David Ausubel[115]Segundo Moreira (1999) "a aprendizagem significativa é um processo por meio do qual uma nova informação relaciona-se, de maneira substantiva (não-literal) e não-arbitrária, a um aspecto relevante da estrutura de conhecimento do indivíduo". Onde os novos conhecimentos relacionam-se com o conhecimento prévio.

Ausubel (1982) define este conhecimento prévio como "conceito subsunçor" ou simplesmente "subsunçor". Os quais são estruturas de conhecimento específicos que podem ser mais ou menos abrangentes de acordo com a freqüência com que ocorre aprendizagem significativa em conjunto com um dado subsunçor. A sua teoria prioriza a Aprendizagem Cognitiva significativa. Integra o conteúdo aprendido numa edificação mental ordenada. À medida que o conteúdo incorpora-se às estruturas do conhecimento adquire significado pela relação ao conhecimento prévio. A aprendizagem mecânica passa a ser armazenada separada por associações arbitrárias na estrutura cognitiva.

A Aprendizagem Significativa é preferível a Aprendizagem Mecânica, pois se constitui como um método simples, prático e eficiente. Segundo Ausubel (1982) a aprendizagem mecânica torna-se necessária e inevitável para internalizar conceitos novos, transforma-se depois em aprendizagem significativa. Para acelerar esse processo propõe os organizadores prévios, âncoras criadas para manipular a estrutura cognitiva, interligando conceitos que aparentemente não se relacionam pela abstração.

Para que ocorra Aprendizagem Significativa se faz necessário que o material tenha relevância. Na estrutura cognitiva haja um conteúdo mínimo, com subsunçores para suprir as necessidades relacionais e o aprendiz deve estar disposto a aprender. Desse modo divide a aprendizagem significativa em três tipos: a representacional, de conceitos e a proposicional. A aprendizagem representacional é uma associação simbólica primária que atribuem significados a símbolos como valores sonoros vocais a caracteres lingüísticos. A aprendizagem de conceitos é uma extensão da representacional, num nível mais abrangente e abstrato, atribui significado a palavra. A aprendizagem Proposicional faz o inverso, promover a compreensão pelos conceitos.

Os conceitos encontram-se na base do pensamento humano, no raciocínio do desenvolvimento cognitivo, interligados na complexidade Para o autor, a aquisição da linguagem "permite aos seres humanos a aquisição, por aprendizagem significativa receptiva de uma vasta quantidade de conceitos e princípios." Ausubel (1968, p.82). Desse modo às idéias promovem o desenvolvimento cognitivo significativo. Contribuem com símbolos e a verbalização que se refletem nas operações mentais. Demonstram o nível cognitivo, na manifestação dos conceitos abstratos superiores.

Segundo Raquel (1999)[116]a aquisição dos significados na estrutura cognitiva se dá por meio da assimilação, que pode ser exemplificada pelo seguinte esquema:

N

?

? NS

?

S

N = Informação "Nova" Potencialmente Significativa.

S = Conceito Subsunçor presente na Estrutura Cognitiva do aprendiz.

NS = Resultado relacionado que também altera o Subsunçor. Informação assimilada.

Exemplificando, vejamos como pode ser assimilado o conceito de "submarino":

N = Submarino: "Embarcação" capaz de se locomover submersa em água.

S = Conceito Subsunçor de "Embarcação": Veículo que se locomove na água, a princípio na superfície.

NS = Resultado relacionado: Veículo aquático capaz de se mover submerso. O subsunçor original passa a englobar também que uma "Embarcação" pode se mover abaixo da superfície da água.

Após este estágio ocorre a assimilação obliteradora, onde o conceito recém assimilado NS que antes podia ser desassociado em N e S, passa a integrar o Subsunçor. O conceito de "submarino" passa a ser incorporado ao subsunçor integrando-o a estrutura cognitiva. Desse modo formam-se os mapas mentais, segundo (Novak, Gowin 1988), que representam as relações entre conceitos na forma de proposições formando uma unidade semântica. Desse modo conclui-se que, a aprendizagem significativa ocorre quando há modificação no conhecimento, de modo que se reconheça a importância dos processos mentais e os resultados no contexto.

3.4.5 Paulo Freire, o Educador da Consciência Crítica.

Educar sem salientar a relevância do trabalho de Paulo Freire (1921 – 1997) é inadmissível. O autor destaca-se como um educador que inspirou a educação do nosso tempo. A sua teoria valoriza o diálogo, a persuasão no intuito de que alunos (as) e Professores (as) possam se humanizar-se e emancipar-se. A sua teoria fundamenta-se no amor, na argumentação e na criatividade. Na sua teoria recomenda que as disciplinas técnicas e humanas sejam trabalhadas concomitantes para formar o ser integral.

A Educação Emancipadora no Brasil está ligada à ideologia de Paulo Freire (1921 – 1997). Durante toda a vida pensou, organizou e testou um sistema educacional. Divulgou na América Latina, nos Estados Unidos, na Suíça, na Guiné-Bissau, em Santo Tomé, Príncipe, na Nicarágua e outros países com muito sucesso nas classes populares.

A sua concepção educacional centra-se no potencial humano, principalmente quando fala da criatividade, da liberdade, das estruturas políticas econômicas e culturais opressoras. Fundamentam-se nas correntes filosóficas, tais como a Fenomenologia, o Existencialismo, o Personalismo Cristão, o Marxismo Humanista e nas teorias de Hegel. Atribui à conscientização do homem a grande descoberta das ações e das transformações sociais. Na sua trajetória importa ao Brasil doutrinas e idéias européias adaptando-as às necessidades da época. Desse modo, expande a sua filosofia pelo mundo, sendo contestando por muitos pensadores europeus e norte-americanos.

Durante toda a vida Paulo Freire (1921 – 1997) experimentou várias expressões de opressão. Perseguições, contestações e muita humilhação, por meio das quais formula uma análise crítica institucional. A irreverência contra o tradicional tornou a sua filosofia universal. Na sua teoria cria os "temas geradores" para instigar a reflexão e a busca de soluções aos problemas que permanecem nos debates educacionais até hoje. Neste trabalho os temas geradores são identificados como "temas significativos", devido à dinâmica interativa, pois avalia o sistema e a ordem e tenta modificá-los.

Paulo Freire (1921 – 1997) em momento algum se esqueceu que era Professor. Ao falar do sonho do educador, assim pronuncia-se: "É preciso ousar, no sentido pleno desta palavra, para falar em amor sem temer ser chamado de piegas, de meloso, de a-científico, senão de anticientífico." (Freire 1993, p.10). Deste modo, salienta a importância da afetividade nas relações escolares, o valor das emoções e dos sentimentos nas relações humanas para trabalhar o subjetivo e o cognitivo.

A sua proposta define-se como a Pedagogia da Consciência Crítica [117]enquanto conhecimento e práxis de classe. A sua pedagogia requer um Professor (a) problematizador da realidade, que estabeleça uma relação dialógica e dialética entre Professor (a) e aluno (a) na dimensão do conhecimento, na aceitação do outro e na interação com a inter-subjetividade. A teoria revoluciona e requer transformação social. Contesta a escravidão e estimula a tomada de consciência para que os (as) alunos se tornem livres da opressão por meio do saber. Imuniza o poder apassivador e enaltece o (a) Professor (a) problematizador, aquele que é capaz de humanizar e emancipar, de promover a educação como um ato político em busca da liberdade pelo conhecimento.

3.4.6 Edgar Morin e a Teoria da Complexidade.

Edgar Morin (2001) é Sociólogo, formado em Direito, História e Geografia. Fundamenta-se na Filosofia, na Sociologia e na Epistemologia para escrever a sua teoria. Considera-se um dos principais pensadores sobre a complexidade. Na sua obra considera a pedagogia como uma ciência por excelência e diz: "Ciência sem consciência é somente a ruína da alma." (Morin, 2000, p. 27). O saber operacional traz pouco resultado, para isto necessita-se de um conhecimento mais profundo e humano.

Na sua concepção a cultura científica fundamenta-se no excesso de informações e conhecimentos, impossível de armazenar. Assim, induz a pensar sobre uma nova cultura: o dilema dos especialistas, que devido à fragmentação não podem ter uma idéia geral sobre as especialidades e proíbem-se de ter idéias gerais sobre outros assuntos.

O desenvolvimento da complexidade para Edgar Morin (2000) refere-se a um conjunto de eventos ligados à área científica que ocorreram no final do século XIX. Os quais foram debatidos, combatidos e assimilados no decorrer do século XX. Desse modo percebe-se que existem fenômenos que não se explicam como: o ser humano e o universo, a vida e a morte, o amor e o ódio. Posteriormente, descobre-se que o mundo pode ser um sistema ou um ecossistema, e que seus fragmentos não estão, nem podem ser percebidos e estudados sem a compreensão da complexidade e a aceitação do todo.

Nesta perspectiva percebe-se o pensamento complexo, pois parece não haver lógica nas relações aparentemente sistêmicas. Edgar Morin (2000) denomina deste modo à ordem dentro da desordem ou a certeza da incerteza, a isso atribui à complexidade. Desse modo surge à ciência contemporânea para dizer que o ser humano não é mecânico, mas um ser algoritmo que vive de incertezas, na ordem e na desordem.

Numa analise histórica, percebe-se que a guerra necessita de estratégias para lidar com a incerteza e alcançar a paz. Atitudes incoerentes, que produzem o mal para o bem, no intuito de que prevaleçam as verdades absolutas. Apesar do tempo o mundo continua sendo um coquetel de ordem e desordem, de interesses incertos e variáveis. A mente humana não pode concebê-lo com exatidão em suas estruturas, pois podem não ser fixas, imprevisíveis e auto-organizáveis, ou seja, em um sistema aparentemente caótico, o mundo se auto-regula e se auto-organiza (Morin, 2000). Deste modo, o mundo funciona num conglomerado caótico em busca de fundamentação ética.

Partes: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9


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