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Riscos ambientais na Bacia Hidrográfica do Ribeirão das Pedras, Campinas / São Paulo (página 4)

Ricardo Dagnino
Partes: 1, 2, 3, 4, 5

    O segundo conjunto: adaptação da legenda de Journaux

    O segundo conjunto de procedimentos trata da adaptação da legenda proposta por Journaux (1985) e aplicada no Brasil e em outros países para a representação do ambiente. Como já foi dito, a legenda Journaux abarcava mais coisas além dos riscos e das alterações ambientais, assim que uma das tarefas desta pesquisa foi adaptar uma parte do total de propostas do autor, especificamente a segunda parte (Dinâmica do Ambiente). Mesmo assim, em alguns casos, foi realizada a mescla de símbolos da primeira parte (Elementos do Ambiente) com outros da segunda. E em maior grau, a grande parte de símbolos utilizados aqui foi criada para os propósitos deste trabalho tendo apenas como inspiração a proposta de Journaux. Assim, seguiu-se as idéias orientadoras de que as alterações merecem ser representadas, dado que são tão ou mais importantes que os elementos do ambiente.

    A seguir, alguns exemplos dessa adaptação da proposta de Journaux, lembrando que mais adiante, nos resultados finais e com a apresentação do mapa e legenda de riscos ambientais, essas adaptações ficarão ainda mais em evidência.

    A legenda adaptada para representar os riscos que originam as alterações nos corpos d’água (rios, lagos, açudes) e a dinâmica que nela tem origem (como o transporte de sedimentos contaminados, a proliferação de algas nocivas e zoonoses) foram bastante inspiradas na legenda de Journaux (1985). Isto fica explicitado em dois itens dos riscos relacionados ao tema "Águas".

    No risco identificado como "Curso ou corpo d’água poluído ou suspeito", foi utilizada a cor marrom para os corpos d’água poluídos ou suspeitos, ao passo que Journaux prefere utilizar três gradações derivadas do azul em direção ao violeta, cada gradação corresponde uma alteração degradação maior na qualidade da água. Neste trabalho utilizou-se somente a diferença entre as águas poluídas ou suspeitas, em cor marrom, e águas sem alteração, que aparecem com a cor azul tradicional e que está na parte da legenda dedicada aos "Elementos do Ambiente (não representam risco)". Apesar de ter sido usado marrom enquanto Journaux sugere uma gradação, tanto a adaptação realizada no presente trabalgo quanto a original demarcam um ponto de transição com relação à cartografia tradicional que representa a ocorrência de água com a cor azul pura, furtando-se de representar a alteração no corpo d’água foi.

    Ainda no tema "Águas", no risco intitulado "Lançamento de esgoto ou efluente", utilizou-se o mesmo símbolo proposto por Journaux (1985) para "Les effluents urbains et industriels" que se assemelha a um emissário de coloração roxa/violeta vista de cima. Assim, tanto o símbolo quanto a cor utilizada e sua descrição, permaneceram semelhantes ao original.

    No tema "Indústrias", o risco do tipo "Ind. Médio e Pequeno Porte (madeireiras, marmorarias)" foi representado como uma instalação industrial e sua chaminé vistas de perfil em cor lilás, idêntica à proposta por Journaux para representar fábricas, como fonte de poluição das águas. No risco "Ind. Grande Porte (químicas, farmacêuticas, metalúrgicas)" foi mantida a cor e a forma do símbolo apenas aumentando o tamanho do objeto e adicionando uma fumaça saindo da chaminé, que corresponde à proposta original para a representação de fábricas poluidoras do ar. Aqui foi feita uma mescla da representação da direção predominante do vento como elemento do ambiente, que no caso da Bacia do Ribeirão das Pedras é de sudeste para noroeste, de modo que a fumaça pareça estar rumando naquele sentido e mantendo um caráter de fidelidade entre a representação e a realidade observada.

    A linha alaranjada e bastante grossa, utilizada para "Vias com tráfego intenso de veículos", no tema "Superfície da Terra", é inspirada na legenda de Journaux para as vias de grande circulação (linha laranja ligeiramente grossa) e as vias expressas (duas linhas paralelas) para representar os espaços habitados.

    Para representar "Resíduos - Local de Descarte, Triagem e/ou queima", dentro do tema "Superfície terrestre", adotou-se o losango vermelho, que já havia sido utilizada durante a etapa de mapeamento de riscos do "Projeto Anhumas – FAPESP" como pode ser vista em Dagnino e Carpi Jr. (2006). Trata-se de uma adaptação de Journaux que, no tema "Dégradations de la surface de la terre", propõe um triângulo vermelho para representar um depósito não autorizado de resíduos.

    Alguns dos símbolos criados representaram um avanço interessante em cima da proposta original. Por exemplo, o símbolo escolhido para representar "Curso d’água soterrado (poluído ou suspeito)", uma linha tracejada em marrom derivada do símbolo que representa o risco ligado à água poluída ou suspeita, isso não aparece na legenda de Journaux mas se mostrou muito útil, como será apresentado mais adiante.

    Outros símbolos demandaram um trabalho de criação, que foi em maior ou menor grau inspirado na realidade existente como, por exemplo: o telefone utilizado para "Antenas de telefonia celular e outras", no tema "Fontes de Radiação"; o ícone que representa "Condição de Vida Precária", em Habitação, que é o desenho quase infantil de uma casinha com telhado em duas águas e portinha; o ícone para "Animais criados soltos ou condições inadequadas", no tema "Animais e Zoonoses", que é a silhueta de um boi zebu preto visto de perfil; o ícone utilizado para representar o risco de "Atropelamento e acidentes com pedestres", no tema "Superfície Terrestre", que se assemelha às placas utilizadas no trânsito; e a adoção do símbolo para representar a "Unicamp", nas "Situações Especiais" e que é idêntico à sua forma como é vista de cima.

    Agora serão apresentados os resultados finais e será feita a descrição do mapa e da legenda que demonstram de forma mais enfática tudo isso que foi até aqui tratado em palavras.

  1. Resultados e Mapa de Riscos Ambientais
  2. Os itens deste capítulo apresentam os resultados obtidos durante a pesquisa e estão organizados de forma a proporcionar uma visão sintética dos riscos na Bacia do Ribeirão das Pedras. Aqui é feita a explanação dos resultados que se referem a tabela, onde são descritos os riscos mapeados (em ANEXO), além da legenda (Fig. 6.6) e do mapa "Riscos Ambientais e sua Dinâmica: Bacia do Ribeirão das Pedras e entorno, Campinas, São Paulo" (Fig. 6.5 e em ANEXO).

    Na conclusão do mapa de riscos ambientais e de acordo com a Tabela foram identificadas 120 situações de risco (linhas da tabela) que foram divididas em 8 temas principais (na primeira coluna) e depois subdivididas em 26 padrões de riscos agrupados (terceira coluna). Os oito temas (correspondentes às colunas da tabela) são Águas; Animais e Zoonoses; Fontes de Radiação; Habitação; Indústrias; Saúde; Situações Especiais; e Superfície Terrestre.

    Cada um dos temas abriga um número de padrões, que podem ser melhor visualizados na legenda: Águas (3 padrões); Animais e Zoonoses (2); Fontes de Radiação (1); Habitação (2); Indústrias (2); Saúde (3); Situações Especiais (3); e Superfície Terrestre (10).

    De outra forma, a divisão percentual dos riscos mapeados resultou num universo de 120 riscos (100%), divididos entre os temas, por ordem decrescente: Superfície terrestre (40%), Saúde (13%), Animais e zoonoses (12%), Indústrias (11%), Habitação (9%), Fontes de radiação (6%), Situações Especiais (5%) e Águas (4%).

    Sendo que para as análises espaciais, onde residem os objetivos maiores desse trabalho, deve-se relativizar estes percentuais lembrando que as maiores respostas sobre a importância de um risco serão obtidas através da "leitura" do mapa e das relações que os riscos estabelecem entre si. Assim, de nada adianta perceber que a "superfície terrestre" recebeu o maior número de menções (40%) se não for levado em conta, através do mapa, que as maiores áreas com situação de riscos são as associadas a solos contaminados e com cultivos de transgênicos. Ao passo que o segundo tema menos citado, as Situações Especiais (com apenas 5% menções, o equivalente a 5 situações de risco mapeadas) é o segundo tema com maior área. Como pode ser visto com as áreas da Unicamp (no mapa, recebeu número 68), do Shopping D. Pedro (72), Bairros Sta. Genebra e Costa e Silva (42), Cidade Universitária I e II (41 e 71, respectivamente) e Condomínio Barão do Café (71).

    Figura 6.5: Mapa de Riscos Ambientais e sua dinâmica

    Figura 6.6: Legenda para Mapa de Riscos Ambientais e sua dinâmica

    Descrição dos Riscos e sua dinâmica

    A observação do mapa, já a partir do seu título "Riscos Ambientais e sua dinâmica: Bacia do Ribeirão das Pedras e entorno, Campinas/São Paulo permite notar que a análise e a representação de situações de risco ambiental foram além do limite da bacia hidrográfica. Esta opção deriva da escolha exposta no Marco Analítico conceitual, que diz respeito à idéia de limites permeáveis e flexíveis que a idéia de Bacia Hidrográfica traz. Aqui são aplicadas aquelas noções expostas anteriormente que falam em outras bacias além da bacia hidrográfica, como é o caso da bacia de riscos (REBELO, 2003), a bacia urbana (AB’SÁBER, 1999b) e a recusa em aceitar sem crítica o conceito de bacia hidrográfica como unidade natural de planejamento natural (WENZEL, 2005; ROHDE, 2006)..

    A seguir serão analisadas as principais situações de risco tomando os córregos, lagos e açudes formadores do Ribeirão das Pedras como indicadores, bem como os córregos que correm externamente, como o Rib. Quilombo e o córrego Santa Cândida, mas que ajudam a entender as situações de riscos mapeadas.

    As matas e casarões das antigas fazendas que estão dentro da Bacia e que foram tombados pelo Patrimônio Histórico merecerão maior atenção em um item chamado de "Palimpsestos e remanescentes vegetais".

    O relato que exemplifica o caminho das águas desde o topo até a foz será iniciado com a análise das situações de risco no curso principal do Ribeirão das Pedras, que vem do Alto Taquaral, e depois serão abordadas as águas dos dois açudes que encontram o Ribeirão das Pedras no final do seu curso, há cerca de um quilômetro e meio antes de desaguar no Ribeirão das Anhumas.

    Adotou-se esta forma para falar dos riscos, pois aquilo que vai parar nas águas é um reflexo das coisas que acontecem em toda a bacia. Assim serão feitas algumas observações iniciais para depois entrar na descrição dos riscos tendo por base os cursos d’água.

    Em primeiro lugar a questão dos lançamentos de esgotos e efluentes no Ribeirão das Pedras deve ser tratada como uma questão crucial. Principalmente, porque os lançamentos podem ser de origem difusa ou pontual. As fontes pontuais são aquelas que podem ser facilmente identificáveis ou atribuíveis a uma única causa, como uma empresa que joga seus detritos no rio. As fontes de poluição difusas podem ser exemplificadas pelos canos de descarga dos automóveis, as águas pluviais que escoam pelas ruas, carregando desde óleos de automóveis que pingaram no asfalto das ruas e avenidas, ou mesmo algo que foi descartado em local inapropriado e que a chuva e o rio levam rio abaixo.

    No que diz respeito às causas, é levantada a possibilidade de existirem diversas ligações clandestinas que levam os efluentes diretamente para os cursos d’água ou ligações que despejam o esgoto no solo através das fossas, e que mais tarde atingirá o lençol freático e acabará atingindo os corpos dágua. Sendo assim, é de se esperar que mesmo com o funcionamento da ETE Anhumas e da ETE Barão Geraldo, as águas dos Ribeirões das Anhumas e das Pedras continuarão mal-cheirosas e muito esgoto não será tratado, pois não será coletado pela SANASA, o órgão de saneamento de Campinas, e assim continuará caindo esgoto nas águas superficiais e/ou continuarão sendo encaminhadas ao subsolo. Ademais, os responsáveis por isto seriam, em primeiro lugar, a SANASA que deveria fiscalizar e fazer cumprir as leis relacionadas ao saneamento em Campinas, e depois, os proprietários, moradores e trabalhadores dos locais que praticam este tipo de lançamento.

    Ademais, sobre a questão das águas poluídas do Ribeirão das Pedras, é estimado por Sevá Fº. (2001, p.11), que a parte do distrito de Barão Geraldo na poluição do rio Anhumas é, em volume e carga poluente, algo entre uma quinta e uma sexta parte do total.

    Sobre as situações de riscos associadas têm-se as Fontes de Radiação. Algumas das principais torres de telefonia e retransmissão de sinais de rádio e televisão foram detalhadas no mapa final. Cabe destacar que, segundo os dados organizados por Sevá Fº. (1997), este é um assunto que já havia sido mencionado no levantamento de riscos realizado anteriormente na região de Campinas.

    Esta não é uma questão encerrada, pois muitos pesquisadores divergem sobre os riscos de radiação associados e estas fontes. Contudo, como o que está sendo tratado são os riscos como possibilidades (inclusive levando em conta a possibilidade de que alguma coisa que hoje não está comprovada possa vir a ser) foi considerado justo incluir as antenas no mapeamento. Assim, apesar de não estar cientificamente provado que a telefonia celular faz mal à saúde sabe-se que, por ser uma radiação eletromagnética cada vez mais freqüente, bem ela não faz. Dessa forma vale a advertência de Baranauskas (2001, p. 83): "A radiação eletromagnética em excesso é uma forma de poluição invisível e, portanto, traiçoeria, para qual nós seres humanos não temos proteção natural."

    Agora será feito o relato das situações de riscos no Ribeirão das Pedras seguindo o trajeto de suas águas, pelos principais rios. Nessa descrição serão mencionadas as situações de risco seguidas do número, entre parênteses, que foi atribuído à cada situação e que consta na tabela.

      1. As águas do curso principal do Ribeirão das Pedras
      2. O Ribeirão das Pedras nasce na vertente norte do topo do morro onde se localiza uma caixa d’água da SANASA, no final da Avenida Almeida Garrett, entre os bairros Jardim Primavera e Alto Taquaral. Depois de receber as águas dos açudes do Parque Ecológico Hermógenes Leitão e dos açudes e águas da Unicamp, pela margem direita, ele ainda recebe as águas que chegaram até a Faz. Rio das Pedras, pela margem esquerda, e deságua no Ribeirão das Anhumas às margens da Indústria "Sintermet-Salesteel", na parte mais baixa do bairro Guará.

        Desde o topo, o Ribeirão das Pedras já apresenta situações de risco, como é o caso dos resíduos sólidos encontrados enterrados seja numa área residencial (74), seja numa área onde funcionava antigamente um lixão (92) além dos resíduos depositados até hoje em "botas-foras" ou lixeiras a céu aberto (93).

        Sobre o tema dos resíduos e da contaminação dos solos nesta porção alta da bacia do Ribeirão das Pedras, o trabalho de Gomes (2005) destacou três pontos de amostragens de antropossolos, ou solos antrópicos. Um deles é o ponto 3144, que se localiza dentro da área onde funcionava um lixão no passado (92), nesta área de 8 hectares a CETESB mantém cerca de seis ou sete piezômetros, ou poços de monitoramento do lençol freático, que são monitorados periodicamente. Neste ponto (92), Gomes (2005) constatou através de análise de perfil de solo que os depósitos de material antropogênico vão até 2 metros de profundidade e, em conversa com arrendatórios do local, este depósito pode chegar até 6 metros. Entretanto, apesar de não haver contaminação perceptível, é uma situação de risco que merece atenção e onde devem ser feitas análises freqüentes de água e solo.

        Na mesma porção alta da Bacia, um outro tipo de solo que representa maior risco foi encontrado em dois pontos próximos a cabeceira de drenagem do Ribeirão das Pedras que foram amostrados por Gomes (2005). No ponto 3034, localizado em um terreno baldio (próxima às situações de risco 74 e 93), foram identificados mais de 70% de entulho na massa do solo e não foi possível aprofundar o trado além de 20 cm de profundidade devido a grande quantidade de fragmentos grossos. Segundo a pesquisadora (GOMES, 2005, p. 41-42) este solo representa risco moderado e, devido a sua localização bastante à montante, pode influenciar o regime e a qualidade das águas do Ribeirão das Pedras.

        No segundo ponto, o de número 3035 (próximo à sitaução de risco 74), o mesmo tipo de antropossolo foi encontrado na área de expansão urbana, com mais de 70 % de entulho com tamanho variável de 10 a 20 cm e com profundidade maior que 2 metros. De acordo com Gomes (2005, p. 42), este solo representa risco ambiental em função dos usos que este solo teve e em função de sua localização:

        "A maioria das casas deste bairro está sobre esse solo que, com o tempo pode apresentar dano às estruturas dessas casas com a compactação posterior do solo, já que muitos de seus componentes têm volume significativo com espaços vazios do solo. Além disso, este solo se encontra na cabeceira de um importante afluente do ribeirão das Anhumas, o ribeirão das Pedras, o qual pode ter seu regime e qualidade hídrica alterada na área de nascente."

        Saindo do tema de Resíduos sólidos e contaminação, que como se viu é um tema muito complexo e que, pelo fato de aparecer nesta porção da bacia, pode determinar o que acontecerá à jusante, será retomada a visão sobre outros riscos não menos importantes.

        Nos bairros Costa e Silva e Santa Genebra foram detectadas como situações de riscos a alta taxa de impermeabilização (que ocorre em grande parte da bacia, mas que nestes bairros têm porcentuais bastante altos), escassez de arborização, infra-estrutura deficiente e outros problemas relacionados à urbanização e relacionados a grande densidade populacional (42). Nesses bairros foi detectada ainda a existência de grandes indústrias, como por exemplo, a farmacêutica "Medley" (49) e os locais onde são armazenados e selecionados materiais recicláveis, como um depósito (90) e uma cooperativa de separadores (89). Ainda sobre a urbanização e a densidade populacional, existem as residências e os condomínios verticais do Jardim Primavera, próximo ao divisor de águas, representados pela Avenida Jasmim.

        Na altura do lixão desativado (92), o curso do rio é interrompido pela barragem do Shopping Dom Pedro (4). Esta barragem foi construída numa depressão do terreno formada a partir da explosão e retirada de rochas realizada durante a construção do empreendimento. Segundo moradores, esta barragem recebe o esgoto clandestino de parte significativa das residências e/ou estabelecimentos comerciais e industriais de montante.

        Depois da barragem, as águas desembocam numa vala (83), aumentada constantemente em função da escada hidráulica construída pelo Shopping (Figura 6.7). Em seguida percorrem cerca de 900 metros, até a Rodovia Dom Pedro I, dentro de uma área de preservação permanente que foi ocupada por casas (38) e hortas (119), na margem oposta ao Shopping D. Pedro. Na metade desse trajeto o Ribeirão recebe as águas de qualidade suspeita de um curso que foi soterrado (15).

        Figura 6.7: Escada Hidráulica construída pelo Shopping D. Pedro

        (de montante para jusante, percebe-se a vala na parte superior da foto)

        Autor: Ricardo S. Dagnino (Abril/2007)

        O Shopping D. Pedro é tratado como uma situação especial de risco (72) e receberá maior atenção em outro item. Por ora cabe lembrar que ele representa um grande número de preocupações relacionadas à qualidade ambiental da Bacia e dos Bairros adjacentes. Dentre estas preocupações, lembrou-se da questão da qualidade das águas que são tratadas na ETE do Shopping e que depois são lançadas no ribeirão, além de problemas como impermeabilização, trânsito intenso de veículos e cargas de abastecimento de produtos, e o destino dos resíduos sólidos gerados no seu interior.

        Depois de receber os efluentes do shopping, o Ribeirão atravessa por baixo da Rodovia D. Pedro (110), chegando à Fazenda Santa Genebra entre a plantação da margem esquerda (105) e uma pocilga com criação de porcos e outros animais (26). Alguns metros depois ele recebe pela margem direita as águas poluídas do córrego que nasce nas terras altas do bairro Parque das Universidades. Neste córrego é mencionado o lançamento de esgoto de domicílios do bairro (10) e a chegada de um curso d’água que foi soterrado (16) e que, depois de cruzar a Mata Santa Cecília (VII), também conhecida como Mata do Boi Falô, é entubado/encanado para passar debaixo da Rod. Dom Pedro. Suspeita-se que ele pode trazer os efluentes provenientes das indústrias localizadas na R. Joaquim F. Castelar (47) e da casa de shows "Campinas Hall" (63).

        Seguindo pelo curso principal Ribeirão das Pedras dentro da fazenda Santa Genebra, existe o plantio de soja transgênica (105) confirmado pelo arrendatário da propriedade, o próprio encarregado do cultivo. Na mesma área, se percebem os efeitos prejudiciais que o Ribeirão poluído pode causar à mata da fazenda (VI). Cabe destacar que parte desta soja transgênica (105) é plantada entre a mata (VI) e a Unicamp (68), nas proximidades da área médica onde funciona o Hospital das Clínicas e laboratórios. Isto fica evidenciado na Figura 6.8.

        Depois de passar pela fazenda, o Ribeirão chega ao distrito de Barão Geraldo atravessando por baixo da Avenida 1, próximo ao Colégio Rio Branco (construído dentro da Área de Preservação Permanente). Neste ponto de cruzamento do Ribeirão com a Avenida são registrados casos de enchentes, quando chove muito. Além disso, casos de dengue foram registrados próximo dali (21, 22).

        Figura 6.8: Cultivo de Soja Transgênica próximo à Unicamp

        (rumo sudeste; área médica da Unicamp à esquerda, e Mata Sta. Genebrinha, à direita)

        Autor: Ricardo S. Dagnino (Abril/2007)

        A partir desse ponto e entre a Avenida Rua Dr. Romeu Tórtima e a Avenida Prof. Atílio Martini seguem-se diversas situações de risco que permitem com facilidade caracterizar esta bacia como uma "Bacia de Riscos". Estas situações de risco são exemplificadas pela presença de um hospital (66), um centro de saúde (67), muitas farmácias (54, 56), clínicas veterinárias (55), uma pequena indústria de cerveja (58) e diversos restaurantes, principalmente ao longo da Avenida Albino de Oliveira (Estrada da Rhodia).

        Nas proximidades do cruzamento do rio por baixo da Avenida Prof. Atílio Martini, também conhecida como Avenida 2, nas proximidades do posto de abastecimento "Texaco", existem diversas construções feitas sobre os trinta metros de proteção do curso dágua, dentro da APP (117). Este é o caso do centro comercial "Tilli Center" e Hotel "Sol Inn", entre outros estabelecimentos comerciais e residências.

        Cabe destacar que este é um ponto crítico conhecido pelos habitantes e visitantes de Barão Geraldo como um ponto de enchente, quando chove demais ou de maneira concentrada.

        Da Avenida Atílio Martini em diante o rio corre paralelo à Avenida Albino J. B. de Oliveira, conhecida como "Estrada da Rhodia" (109), uma via de grande circulação de automóveis de pequeno e médio porte, com velocidade máxima permitida de 60 km/h que é monitorada por um radar permanente. No passado, esta era a via de acesso da Indústria "Rhodia" e por ali passavam diariamente uma grande quantidade de caminhões transportando cargas perigosas. Certamente, com a construção da Rod. Milton Tavares (Campinas-Paulínia) e a proibição do tráfego de caminhões tanque na Estrada da Rhodia, esta última se tornou menos perigosa em termos de acidentes envolvendo cargas tóxicas.

        Entretanto, a preocupação crescente dos moradores do distrito com relação aos atropelamentos e acidentes entre veículos na Estrada da Rhodia justifica a existência de radares e diversas placas enfatizando o limite de 60 km/h. Apesar da diminuição significativa de caminhões houve um aumento do tráfego de automóveis médios e pequenos e de motocicletas - bem mais velozes que os caminhões do passado. Aumento de tráfego que foi motivado pelo maior povoamento daquela área do Distrito de Barão Geraldo e pelo aparecimento de condomínios fechados que por ali proliferaram, principalmente após a confluência do Ribeirão das Pedras com o Rib. das Anhumas e entre este e o Rio Atibaia.

        Durante este percurso, de aproximadamente de 2 quilômetros entre a Av. 2 até o ponto que o ribeirão recebe as águas do açude do Pq. Ecológico Hermógenes Leitão (3), próximo ao posto "Ipiranga", pode ser avistado pela direita, a ocupação da APP e, nos dois lados da Av. Albino de Oliveira (109), a grande proliferação de estabelecimentos comerciais e industriais de pequeno porte como o comércio de materiais de construção (50) e as madeireiras e marmorarias (51), além das clínicas veterinárias (55), nas proximidades do acesso à Vila São João.

        Mais além, para quem trafega por esta Avenida em direção à Rhodia, vê-se à direita o bairro Cidade Universitária e o Centro de Barão Geraldo onde são registrados números cada vez maiores de moradias estudantis do tipo pensão/república (41) que contrariam a Lei Municipal de Campinas (1996) que trata do Uso e Ocupação do Solo nº. 9199/96. Isto gera, na vizinhança, problemas típicos de um distrito que abriga 3 estabelecimentos de ensino superior, a PUC-Campinas, a Unicamp e a Facamp (localizada dentro da área da Unicamp). A maior parte das reclamações diz respeito ao barulho de som alto, às festas, consumos de álcool e drogas, etc. Além de problemas comuns a quase toda bacia como o sistema viário saturado, a impermeabilização do solo e o adensamento populacional, e problemas mais específicos do entorno da Unicamp como a construção de sobrados de 2 andares para estudantes.

        Ainda seguindo paralelamente aquela avenida, o ribeirão recebe as águas que vêm do açude do Parque Ecológico Hermógenes Leitão (3), nas proximidades do posto de combustíveis "Ipiranga". Há alguns metros do posto, as águas poluídas e problemáticas que vieram descendo desde o Alto Taquaral encontram as águas, não menos problemáticas que passaram por dentro da Unicamp e que ficaram armazenadas no açude do Parque. Para complicar ainda mais a situação, depois de receber estas águas, o Ribeirão das Pedras recebe, há poucos metros dali, as águas que foram acumuladas na Lagoa da Faz. Rio das Pedras (2). A seguir, será falado sobre os dois cursos dágua que chegam ao leito principal do Ribeirão das Pedras.

        Continuando o trajeto pela Avenida Albino de Oliveira, por mais de 1,5 km até o Ribeirão das Anhumas, vê-se o condomínio fechado "Barão do Café" (71) e um foco de descarte de resíduos (84), à esquerda, e as vertentes da colina onde fica o Bairro Cidade Universitária II (70), à direita. Neste bairro destaca-se uma outra situação especial de risco, caracterizada pela dificuldade que enfrentam os Agentes de Saúde em seu trabalho de fiscalizar focos de dengue, zoonoses e outros problemas relacionados à saúde coletiva e ambiental. Isto se deve, principalmente, ao medo de deixar que os funcionários da prefeitura entrem nas casas.

        Seguindo pela Avenida e olhando à direita vê-se as alterações na APP (115) provocadas por obras da prefeitura de Campinas, provavelmente realizadas na tentativa de canalização e/ou regularização das vazões das redes de esgotos do bairro próximo (70) e do condomínio (71), visando à construção da ETE Barão Geraldo.

        Mais adiante, nas imediações do Bairro Chácaras Belvedere, existe o cultivo de hortas com agrotóxicos (102) e, numa travessa vicinal da Avenida Albino de Oliveira, é registrado o atendimento a desabrigados efetuado por entidade assistencial em precárias condições (36). Nesta altura do trajeto, olhando para a esquerda percebe-se o paredão do Condomínio "Rio das Pedras", um dos mais antigos de Barão Geraldo. Este Condomínio, durante o processo de instalação derrubou boa parte da mata nativa que existia ali (113) e também foi o responsável pelo barramento de um curso dágua que nasce dentro do condomínio e que hoje funciona como um lago artificial na parte interna, acessível somente para moradores e visitantes. Existe a possibilidade de que neste açude existam mosquitos transmissores de dengue; esta hipótese não pode ser totalmente descartada devido à dificuldade de acesso dos agentes de saúde.

        Outros casos envolvendo a relação águas e condomínios nesta porção da bacia é o caso do ponto de lançamento de esgoto do Condomínio Ibirapuera no Ribeirão das Pedras (8), metros antes dele desembocar na margem esquerda do Ribeirão das Anhumas, entre o clube "Hípica Barão" e a ponte de acesso à indústria "Sintermet-Salesteel" (44), na parte mais baixa do bairro Guará. Próximo dali, nas proximidades da indústria cerâmica "Grês", no bairro Vila Holândia, era feita a extração de areia e foi desmatada grande parte da mata ciliar na APP (112), além disso, ali foi registrada a existência de fossas próximas a poços (73).

        Os riscos ambientais sintetizados nas águas do Ribeirão das Anhumas, que depois dali deságua no Rio Atibaia, dentro da área da Indústria Rhodia, são tão graves e comprometedoras para as bacias próximas como a do Ribeirão das Pedras e mesmo a do Atibaia que mereceria um trabalho dedicado somente para a questão das águas desta bacia, algo que já foi tentado pelo "Projeto Anhumas" – FAPESP e que resultou em diversos mapas e muitas páginas que sugerem medidas de recuperação ambiental.

      3. As águas da Unicamp e do Córrego Palmeirinha
      4. Outro curso formador do Ribeirão das Pedras (1) é o que leva até ele as águas que chegam aos açudes do Pq. Ecológico Hermógenes Leitão (3), ao lado da Unicamp (68).

        O Parque Ecológico Prof. Hermógenes de Freitas Leitão Filho, pertence à Prefeitura de Campinas desde dezembro de 1996, mas é também conhecido pelos moradores de Barão Geraldo como simplesmente "Parque Ecológico" ou "Parque da Unicamp". Um de seus grandes atrativos, é o açude (lago artificial) formado por 3 córregos que deságuam de maneira bem incomum para muitos cursos d’água, mas não para os rios que existem na Bacia do Ribeirão das Pedras: dois destes córregos chegam ao açude por meio de tubulações (7), e o outro chega através de um curso d’água barrado.

        Um dos que chega por tubulações é o denominado por Sevá Fº. (2004, 2005c) como "Córrego número 1", e corresponde a um antigo córrego que foi soterrado e que provavelmente nascia onde foram feitos a Praça da Paz e o balão da Rua Dr. Romeu Tórtima (conhecida como Avenida 1), no espelho d’água entre o Instituto de Biologia e a Rua Dr. Francisco de Toledo. Segundo o autor, este córrego pode ter se transformado numa saída de parte das águas pluviais e esgotos da UNICAMP, pois costuma trazer uma borra oleosa, provavelmente algum resíduo gerado nos restaurantes existentes em área próxima. Depois de todas estas peripécias aquilo que um dia foi um córrego chega canalizado no açude, ao lado da Faculdade de Educação Física.

        Outro córrego, denominado como Córrego 2 por Sevá Fº. (2005), é formado por dois cursos d’água, um nasce à montante da área hospitalar da Unicamp, já recebendo esgoto do bairro Parque das Universidades (9), e outro nasce mais limpo em uma área ainda não construída, nas proximidades do "Rancho Isa", atrás da Faculdade de Engenharia Agrícola (no mapa ele está representado com a cor azul, que é a cor que os rios mais limpos têm na realidade). No divisor de águas entre o Ribeirão das Pedras e o das Anhumas e próximo da nascente estão localizados o Laboratório Nacional de Luz Síncotron – LNLS (57) a indústria farmacêutica "TRB-Pharma" (43). Próximo dali, em direção ao Rib. das Anhumas, localiza-se o CPQD (59). Além das diversas outras empresas e indústrias menores localizadas ali e outras que vão ocupando um território privilegiado, entre a Rod. D. Pedro I (110) e Rod. Adhemar de Barros. Ali mesmo já está em construção a planta da empresa "Natura" e outras ligadas ao "Pólo Tecnológico".

        A respeito do córrego que vem do Parque das Universidades, deve-se destacar a presença da PUC-Campinas (60) e a Mata da Fazenda Argentina (VIII), segundo o mapa, à montante do lançamento, no topo do morro que divide as águas com a Bacia do Anhumas. A PUC-Campinas, assim como a Unicamp, não possui um sistema próprio de tratamento de efluentes e sabe-se que por ali passam diariamente uma grande quantidade de pessoas, além dos laboratórios que mexem com produtos perigosos. Dessa forma fica registrada a possibilidade de que alguma parte do efluente deste estabelecimento de ensino/pesquisa esteja vazando para alguns destes ribeirões. Além disso, as águas desse córrego que já nasce poluído passam pelas áreas de saúde da Unicamp, incluindo o Hospital de Clínicas (65).

        O curso d’água formado por estes dois menores, um bem poluído e outro mais limpo, e que também é denominado "Unicamp canalizado" (SEVÁ Fº., 2004), é barrado diversas vezes até o momento que é canalizado e enterrado. Na altura da Faculdade de Engenharia Química, ele começa a correr no subsolo, passando por baixo de ruas e estacionamentos até desaguar no açude sob a forma de uma tubulação. Esta tubulação, visível na área do Parque, está localizada nas proximidades das agências do Banco do Brasil e da Empresa de Correios e Telégrafos, e da futura sede do Instituto de Geociências (uma das tantas obras em andamento no Campus). O ponto de descarga desse córrego Unicamp canalizado é também designado como "descarga dos 4 tubulões" ou como "ponto de descarga próximo às quadras dos Correios e Banco do Brasil" (SEVÁ Fº., 2004, pág. 1).

        O terceiro córrego, conhecido por Palmeirinha, nasce entre a UNICAMP e o LNLS (57) mais precisamente nas terras do "Sítio São Martinho", nas proximidades do Centro Médico de Campinas e do Hospital Centro Infantil Boldrini (64) e das instalações do Instituto Ingo Hoffmann, onde foram feitas obras que assorearam o curso d’água (116). De acordo com Seva Fº. (2005), o primeiro barramento do Palmeirinha dá origem ao primeiro açude ou açude de cima, entre o Centro Médico de Campinas (CMC) e a Faculdade de Campinas (FACAMP), a Fundação da Unicamp (FUNCAMP) e Centro de Professores Visitantes (Hotel da FUNCAMP). Por uma soleira sem comporta, uma tubulação sob a passagem de pedestres entre a Unicamp e o bairro Cidade Universitária 2, a água sai daquele açude e chega ao segundo açude ou "Palmeirinha de baixo", este já dentro do Parque Ecológico. Segundo Sevá Fº. (2005):

        "As cores do Palmeirinha de baixo já atingiram extremos, nas saídas desses esgotos e em alguns pontos de lançamento clandestino que havia, cores como o marrom escuro da borra de flocos de fezes, o azul escuro e até cinza chumbo da borra de asfalto das ruas e de placas de graxa boiando, e até o furta-cor da superfície cheirando a solvente e gasolina."

        Sobre a responsabilização da Unicamp com relação à poluição do açude é bastante didático o relatório de Sevá Fº. (2004) onde são detalhados os laudos da CETESB e os requerimentos para resolução desta questão protocolados junto à administração da SANASA e da Unicamp, bem como as obras iniciadas em 2004 para encaminhar o esgoto da Unicamp para mais adiante, e ao invés de cair no açude passou a ir direto pro Ribeirão das Pedras, quase quando este encontra o Rib. Anhumas.

        Cabe destacar que em outubro de 2002, a CETESB constatou nas águas do açude de baixo a presença de uma alga potencialmente tóxica, fato que é relatado por Sevá Fº. (2004, p. 5):

        "O Parecer nº 028H/00/CPr CL emitido em 17/10/2002, informa sobre a presença da alga Cylindropermopsis raciborskii que libera toxinas que podem causar hepato-enterites de efeito agudo e tumores de efeito crônico, levando a um risco de desenvolvimento de câncer. Estas toxinas são bioacumuladas na cadeia alimentar e representam risco sério para populações animais e humanas."

        Na esteira da questão dos nutrientes (dejetos humanos) que são levados junto com os contaminantes (produtos químicos sintéticos) e que colaboram na proliferação de algas, e da alimentação dos peixes, que depois morrem, estão as capivaras. Muito comuns no Parque, as capivaras que habitam principalmente duas áreas do parque (19, 20) podem abrigar carrapatos-estrela, uma espécie de inseto que incuba a febre maculosa. Esta febre não atinge as capivaras, mas é perigosa para seres-humanos e animais domésticos que podem desenvolver a doença.

      5. As águas que abastecem as lagoas da Fazenda Rio das Pedras
      6. O exercício de descrição das relações hipotéticas de causa-e-efeito encontradas nesta porção da Bacia será iniciado com o exemplo das lagoas da Fazenda Rio das Pedras (2).

        As lagoas e os relictos florestais da Mata da Faz. Rio das Pedras (V), que protegem o corpo dágua, foram tombados pelo CONDEPACC em 19 de novembro de 2003. Apesar do tombamento, o entorno está coberto de situações de risco, inclusive as do tipo denominado "situações especiais".

        Trata-se do Condomínio Barão do Café (71) que dificulta e/ou restringe o acesso de Agentes Comunitários de Saúde. Este é um dado que torna-se assustador com a constatação de que próximo dali já foram comprovados casos de zoonoses (23) como raiva, histoplasmose e criptococose. Além disso, as obras de construção e ampliação do Condomínio colaboraram com o crescente assoreamento e poluição das Lagoas da Faz. Rio das Pedras e este processo de degradação das águas pode também ocasionar a proliferação de outros problemas como a dengue, por exemplo. Assim o Condomínio se apresenta como uma situação especial de risco ambiental.

        Sobre as águas que chegam nestas lagoas existe uma bastante limpa, talvez a que se encontre em melhor estágio de preservação de toda a Bacia Hidrográfica do Ribeirão das Pedras e isto sem nenhum tipo de tombamento ou decreto de preservação. Este curso d’água nasce nas vertentes leste e noroeste do Bairro Betel em Paulínia, próximo ao divisor de águas, e dentro da Fazenda Rio das Pedras. Ele nasce limpo, mas ações humanas como as obras de construção de uma ponte (114) dentro da área da fazenda têm colocado em risco a qualidade de suas águas (ver Fig. 6.9).

        Figura 6.9: Área de nascente preservada

        (à montante da Lagoa da Fazenda Rio das Pedras)

        Autor: Ricardo S. Dagnino (Abril/2007)

        Além disso, as lagoas da Fazenda Rio das Pedras recebem as águas mal-cheirosas de pelo menos dois cursos d’água bastante comprometidos, ambos nascem em áreas tombadas pelo CONDEPACC.

        O primeiro curso d’água nasce nas proximidades da Mata do Recanto Yara (IV), na área de "águas emendadas" que existia antes da construção da Rodovia Milton Tavares de Souza e que ligava através de uma grande várzea, as águas do Ribeirão das Pedras (Bacia do Atibaia) com o Ribeirão Quilombo (Bacia do Piracicaba). Esse fenômeno de "águas emendadas" corresponde a um caso de transposição natural.

        A partir do Recanto Yara percebe-se o cheiro forte de matéria orgânica em decomposição que acusa a existência de ligações clandestinas de esgoto, somados ao processo natural das várzeas, que acumulam este tipo de material e produzem odores semelhantes. Mas a presença de esgoto ali, colocando em risco não só a qualidade da água, mas a própria mata tombada, não deve ser minimizada. Por ser uma área de várzea indicando uma depressão no relevo, ali pode fazer aflorar um lençol freático contaminado por esgoto (semelhante a um lençol freático de água potável só que de esgoto, formado pela interligação dos resíduos de várias fossas sépticas através dos estratos de subsolo).

        Naquelas redondezas está localizada a Moradia Estudantil da Unicamp (69), que representa um foco de grande produção de esgoto e possível lançamento em solo e sub-solo através de fossas, hábito muito comum nas residências daquela vizinhança. De acordo com o mapa final, a moradia representa uma situação especial de risco que foi levantada por agentes de saúde de Barão Geraldo. Esta situação especial diz respeito à restrição da entrada e fiscalização por parte de Agentes de Saúde, o que é ainda mais grave se for levado em conta os casos de infestação de mosquitos registrados próximos dali, na Rua Antônio Marques de Oliveira, bairro Jardim América (17) e também casos de mosquitos transmissores de dengue (18). Assim, a moradia estudantil da Unicamp, seja por culpa de sua administração que permite a poluição do entorno, seja pelos guardas e moradores que impedem a fiscalização dos agentes de saúde, pode ser entendida como a causa e o efeito de situações de risco. Em resumo, a população do entorno e os habitantes da própria moradia vivem em situação de risco originada pelo esgoto e os resíduos que são produzidos na moradia e que não recebem a devida atenção.

        No seu trajeto em direção às lagoas, pouco antes de entrar na área da Fazenda Rio das Pedras, este córrego ainda está sujeito a mais uma situação de risco. Trata-se do depósito e triagem de recicláveis da empresa "Máfia da Sucata" (86), nas margens do córrego, na rua de terra, continuação da Rua José Martins, e que é via de acesso entre a Vila São João e Vila Santa Isabel.

        A segunda nascente encontra-se numa outra várzea nas proximidades das ocupações da Área de Preservação Permanente (APP) no bairro Novo Real Parque (118) e as habitações com condição de vida precária e/ou infraestrutura deficiente (40). Esta várzea foi alterada pela própria administração da Mata Santa Genebra (I) que a aterrou para a construção de uma estrada que circunda internamente o perímetro da Mata e que serve para a sua fiscalização. Neste quadro, podem ser identificadas duas origens principais para a poluição das águas deste córrego, a primeira trata do despejo direto de esgoto (Fig. 6.10) proveniente das ocupações do Novo Real Parque (6), a outra é menos conhecida e decorre do lançamento de esgoto que vem numa tubulação (11) desde os domicílios de alta renda e condomínios fechados do Bairro Bosque do Barão, próxima à Mata Santa Genebra.

        Outras fontes de poluição das águas que não devem ser descartadas são mais distantes do leito do rio, mas pertencem igualmente à Bacia. Essas fontes de poluição relativamente distantes são representadas pelas indústrias do Real Parque, dentre elas as que têm as águas drenadas para a vertente norte do divisor de águas. Entre elas, do topo em direção ao córrego, estão as plantas industriais de grande e médio portes como a da Metalúrgica de Equipamentos Industriais e Caldeiraria "Osmec" (45) e seus solos contaminados, tais quais os solos contaminados da Casa de Shows "Cooperativa Brasil" (97), que pertenciam a empresa de baterias "Good Light". Na mesma altura dos depósitos de sucatas e recicláveis da Cooperativa de separadores "Cooperbarão" (96) e da empresa "Sucasanto" (98). Ainda sobre resíduos existem dois locais onde a população costuma descartar entulhos de diversos tipos, um fica mais distante (95) e o outro mais próximo da Mata Santa Genebra (94).

        Figura 6.10: Lançamento de esgoto no bairro Novo Real Parque

        (foto de jusante à montante)

        Autor: Ricardo S. Dagnino (Abril/2007)

        Mais abaixo, descendo pela vertente norte, de fronte à Rodovia Milton Tavares de Souza (111), estão o pátio e galpão do entreposto de cargas da Indústria de Alimentos "Perdigão" (53), e mais abaixo, a empresa de tele-marketing "ACS" (33) com cerca de 300 funcionários e que não possui tratamento de esgoto, além de ser uma fonte de radiação por causa das suas antenas (Fig. 6. 11).

        Figura 6.11: Rodovia Milton Tavares de Souza

        (rumo sudeste-noroeste ou sentido Campinas-Paulínia;

        a esquerda as empresas "ACS" e "Perdigão")

        Autor: Ricardo S. Dagnino (Abril/2007)

        Na seqüência, este córrego ainda recebe os dejetos de uma cocheira com criação de suínos, bovinos e eqüinos (27), e depois de passar por debaixo da Rodovia através de tubulações ainda sofre os riscos originados por um consagrado "bota-fora", local de descarte de resíduos sólidos diversos como podas de árvores, entulho e sucata (87), na confluência da Av. Sta. Izabel com a Rod. Milton Tavares de Souza.

        Um exemplo de riscos que se misturam são as águas poluídas que são usadas na irrigação de hortas e na criação de peixes para um pesque-pague, próximo à um curso d’água que alimenta as lagoas da Fazenda Rio das Pedras.

        Sobre as águas que se originam nos solos contaminados com agrotóxicos tanto entre a Rod. Milton Tavares de Souza e a Mata Santa Genebra, em frente à ocupação do Real Parque (99) e na gleba entre a Faz. Rio das Pedras e a Rod. Milton Tavares de Souza (100). Cabe mencionar que existe a suspeita de que as águas poluídas pelos esgotos de montante, no Novo Real Parque, sejam utilizadas para irrigar a produção agrícola de frutas e verduras, na primeira gleba (99) e, em menor grau, no cultivo de cana-de-açúcar, na outra (100).

        O açude do pesque-pague "Barbieri" (5) representa mais uma situação onde os riscos se misturam. Existem, provavelmente, ligações subterrâneas entre as águas do açude e as águas poluídas que circulam pelo córrego a partir do bairro Novo Real Parque. Isto coloca em risco a qualidade das águas em que são criados os peixes que depois de pescados serão vendidos para os freqüentadores do local.

        Finalmente, destaca-se a situação de risco representada pela Rodovia Milton Tavares de Souza (111) que liga Campinas a Paulínia, duas cidades bastante industrializadas, e a situação de risco associada a Rodovia D. Pedro (110).

        A Rod. Milton Tavares de Souza representa risco por pelo menos dois motivos. Por um lado, porque na sua construção foi aterrada uma área que emendava as águas que correm pela bacia do Ribeirão das Pedras e as águas do Ribeirão Quilombo, como é descrito na situação de risco relacionado ao remanescente de vegetação conhecido Mata do Recanto Yara (IV). Por ourto lado, a Rod. Milton Tavares representa risco em função da grande quantidade de veículos e de cargas perigosas que por ali passam diariamente. Como foi aventado anteriormente, qualquer acidente com tombamento de carga perigosa neste trecho poderá colocar em risco ainda mais as águas que atravessam a Rodovia e vão abastecer as lagoas da Fazenda.

        Além desses fatores, outra situação de risco relacionada à Rodovia diz respeito ao alto índice de atropelamentos de pedestres defronte à Indústria Perdigão (80) e de acidentes envolvendo choque e abalroamento de veículos, especificamente no trevo de acesso ao Real Parque e Barão Geraldo, nas imediações do viaduto sobre a Avenida Eduardo Pereira de Almeida (81).

      7. As águas do córrego Santa Cândida e do Ribeirão Quilombo
      8. Fora da área da Bacia do Ribeirão das Pedras, mas com íntima relação a este trabalho, tem-se a sub-bacia do Córrego Santa Cândida (pertencente à Bacia do Rib. Anhumas) e do Rib. Quilombo (Bacia do Piracicaba).

        Na bacia do Córrego Santa Cândida foi registrado o desmatamento da mata ciliar e o posterior surgimento de uma área de inundação (120), o descarte irregular de resíduos sólidos (88) e os diversos pontos de lançamento de esgoto doméstico por ligações clandestinas (12, 13) e lançamento de efluentes industriais (14), além da presença marcante da Rod. D. Pedro (110), que passa por sobre o córrego logo depois dele receber os efluentes.

        Entretanto o caso mais grave desta bacia do Rib. Santa Cândida parece ser o caso de contaminação ambiental das Mansões Santo Antônio. A contaminação foi iniciada num terreno onde funcionava a indústria "Proquima", depois vendido para a "Consima" com o objetivo de construir alguns edifícios, e onde hoje ficou comprovada a contaminação do solo e das águas subterrâneas (76), depois disso os poluentes se alastraram por todo o córrego sendo levadas pelas águas superficiais (75).

        Sobre as três nascentes do Ribeirão Quilombo que estão nas proximidades do Ribeirão das Pedras, duas das quais serão tratados a seguir, no item dedicado às matas, será tratada aqui aquela que surge nas terras da Fazenda Santa Elisa, do IAC, entre o bairro Costa e Silva (42) e a Rod. Milton Tavares de Souza, também conhecida como Tapetão (111).

        Ali aparecem como situações de riscos os resíduos que são depositados e muitas vezes queimados às margens da rodovia (91), algumas moradias em condição precária (39) e criação de animais em más condições (28). Mais adiante depois de cruzar debaixo do Tapetão (111) aquele córrego passa ao lado das indústrias de biscoitos "Triunfo-Arcor" e outras como a "Equipesca" (48) e mais adiante o supermercado "Makro" (62) e em seguida atravessa por baixo da Rodovia D. Pedro I (110).

Partes: 1, 2, 3, 4, 5


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