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Da Violência à Emancipação Feminina (página 2)

Lisete Maria Massulini Pigatto

Desse modo a Bíblia relata a origem do homem, fundamentada em dogmas, em verdades absolutas que não podem ser contestadas. A ciência por outro lado aponta a origem da vida por meio da Teoria do Big Bang. Na qual, bilhões de anos foram gastos para desenvolver o ser humano. Fatos que encorajam pessoas que buscam respostas não-mágicas para a questão como a vida começou, mas frustrantes para cientistas que buscam respostas precisas para essas questões. Uma frustração que aumenta quando se percebe que a atmosfera primitiva pode não ter sido o principal local de produção bioquímica.

A astronomia espectroscópica mostra tipos simples de moléculas biologicamente importantes encontradas na nossa galáxia. Segundo o autor, "a análise de meteoritos (tais como condritas carbonáceas) mostra que a maioria das biomoléculas estava presente na nebulosa solar mesmo antes de ela se condensar para formar o nosso planeta – com ou sem atmosfera!" (Zindler, 1999) Independente das perspectivas teóricas, milhões de anos se passaram para que o corpo humano no plano físico fosse um hermafrodita e defini-se a sua preferência sexual. Desse modo percebe-se na simbologia da criação, o surgimento do ser humano feminino e a criação do ser masculino no intuito de identificar os gêneros.

Assim, inicia-se a historia das mulheres, sempre relegadas ao segundo plano. Ideologicamente, determinadas pela cultura machista não para promover alegria e felicidade, mas para simplesmente dar prazer aos homens. Uma teoria que não condiz mais com o pensamento das mulheres contemporâneas. Mulheres que gradativamente buscam a sua liberdade, a sua autonomia e procuram emancipar-se apesar de todas as barreiras enfrentadas. Nessa perspectiva, agora mais do que nunca, a causa das mulheres é a grande causa da humanidade e não pode mais ficar relegada ao segundo plano. Faz-se necessário que todas as mulheres possam voar com a experiência da vida. Aprendam a unir a razão e a emoção no intuito de humanizar e emancipar o mundo para uma cultura de paz.

  • As Mulheres na Idade Clássica

    A vida das famílias e das mulheres entre os gregos sofria variações de acordo com a sua origem das pessoas. Entre os camponeses era comum que os jovens se conhecessem na lavoura e depois se casassem. Nas linhagens nobres, os casamentos eram arranjados de acordo com conveniências no intuito de unir as fortunas pelo matrimônio de seus filhos. Em agradecimento aos deuses, especialmente a Artêmis, a protetora das mulheres, o pai da noiva oferecia um dote em terras, bens de alto valor ao noivo e a sua família. No dia do casamento, a noiva mudava-se para a casa da família de seu marido. Somente no dia seguinte é que os parentes e amigos podiam visitar o casal oferecendo-lhes os presentes.

    A vida das mulheres consistiam em doar-se ao máximo a seus maridos e filhos e abdicar quase que totalmente de seus interesses e vontades. "Cuidar do lar, monitorar o crescimento de seus filhos e devotar integral fidelidade ao marido passava a ser a vida de qualquer mulher grega." (Machado, 2008) Quando os casamentos tinham problemas as leis censuravam severamente à mulher, pois esperavam destas a castidade. Demostenes (384 a.C. - 322 a.C.), orador e político grego de Atenas em seus discursos afirmava: "Temos cortesãs para nos dar prazer; temos concubinas para com elas coabitarmos diariamente; temos esposas com o propósito de termos filhos legítimos e de termos uma guardiã fiel de tudo o que se refere à casa". Uma realidade que deixa transparecer a desvalorização das mulheres. Os Gregos admitiam à prostituição e a libertinagem. Pouco atendiam as suas esposas, mas em caso de adultério o marido tinha o direito de matar o ofensor, caso o apanhasse em flagrante delito ou em em caso de violação.

    Na cidade de Esparta as mulheres tinham uma maior autonomia em virtude da orientação política adotada naquela localidade da Grécia Antiga. A hostilidade entre os cidadãos e os não-cidadãos, a presença maciça de escravos instigava a necessidade de manter-se em constante alerta contra revoltas internas. "Como o grupo de espartanos era menor que o de não-cidadãos (escravos e estrangeiros), as crianças e mulheres eram preparados para colaborar em caso de conflitos." (Machado, 2008) A necessidade do apoio das mulheres fazia com que os homens espartanos dessem a elas treinamento militar, participação em atividades políticas e liberdade para participar das atividades da polis.

    Herdeiros de parte da tradição grega, os romanos também definiram sua estrutura familiar com base no paternalismo. Era comum entre os romanos que as famílias se mantivessem vivendo debaixo de um mesmo teto, acolhendo os pobres numa mesma propriedade até a morte. Consideravam-se todos como parte de uma única e grandiosa unidade familiar. Desse modo garantiam vantagens como votos em eleições, trabalhadores, amantes e filhos fora dos casamentos. A existência de famílias numerosas era estimulada na Roma Antiga, mas nem sempre isso se concretizava "devido às condições precárias em que a maternidade ocorria, normalmente no âmbito doméstico, o que acarretava a morte prematura das mães e também das crianças." (Machado 2008) Uma ação corriqueira por parte das famílias que sacrificavam ou abandonavam de crianças que tivessem deficiências.

    As mulheres romanas tinham como centro de atuação o âmbito doméstico. As suas funções consistiam em rezar com o marido e os filhos, organizar a casa e preparar-se para recepcionar o marido. Por esse motivo as mulheres romanas passavam por um pequeno tratamento de beleza diário que incluía penteados, maquiagem e a escolha de belos trajes para o final do dia em companhia do marido. Os homens das famílias nobres tinham muitos compromissos de trabalho, atribuições políticas ou militares. Por esse motivo tinham que preparar documentos, discursos e participar de reuniões onde atuavam. A educação era privilegio de pouco, aos meninos de famílias abastadas ensinavam o latim, o grego, os cálculos, a literatura e a retórica. As meninas aprendiam os deveres domésticos com suas mães e as famílias humildes raramente tinham acesso à alfabetização.

  • Da Idade Média a Idade Contemporânea
  • A história das mulheres na Idade Média é um tema pouco discutido. Atualmente, vêm atraindo o interesse da população pelo seu mistério. Nessa fase as idéias e os conceitos eram elaborados pelos eclesiásticos. Homens com uma visão atrasada e preconceituosa. As mulheres eram consideradas pelo clero como criaturas débeis, suscetíveis às tentações do diabo, por isso deveriam ficar sob a tutela do marido ou patriarca. A desconfiança ligada à figura feminina, e ao prazer sexual fundamenta-se nas filosofias platônica, aristotélica, estóica, pitagórica e gnóstica.

    Filosofias utilizadas pela igreja para embasar a doutrina cristã. Para isso a igreja utilizava no século XIII a pregação feita pelos franciscanos nas ruas das cidades. Sendo estendidas a toda a população por meio da exempla, caracterizadas como histórias curtas, que relatavam à vida de um santo (a). De preferência histórias que falavam da remissão de prostitutas arrependidas e da Eva no paraíso. Eva concentrava em si todos os vícios tidos como femininos, como a luxúria, a gula, a sensualidade e a sexualidade. Esses atributos apareciam nos exempla e como forma de salvação para a mulher, "ofereciam a figura de Maria Madalena, a prostituta arrependida mais conhecida, e que se submeteu aos homens e a Igreja." (Carvalho e Silva) Como exemplo.Um símbolo de mulher construída ao longo dos séculos, garantindo os homens no poder.

    Na Europa do século XVII, as mulheres não diferiam dos escravos e os abusos físicos a que eram submetidas pelos maridos eram considerados fora do âmbito das Leis. A educação das mulheres era malvista, pois, segundo a época eram inferiores aos homens. Em pleno movimento iluminista, o francês Condorcet (1795), no Livro: Esquisse d'un tableau historique des progrès de l'esprit humain, Condorcet salienta que a ignorância associa-se ao vício e o conhecimento, a sabedoria à virtude. Contrário a política de Robespierre reivindica publicamente o direito de participação política, emprego e educação para as mulheres, mas obtêm poucos resultados para a sua proposta social.

    Na época Condorcet (1795) defendia as mulheres, acreditava que, quando aplicados os métodos matemáticos no estudo dos fenômenos sociais se atingiria com a mesma precisão os resultados obtidos pelos iluministas. A esse tipo de investigação chamava de "matemática social". Nessa perspectiva percebe a participação das mulheres na historia como parte do progresso do conhecimento humano e da virtude. Uma doutrina otimista, que pressupõe a capacidade do homem aperfeiçoar infinitamente.

    Indignada com a situação vigente, Lucrécia Mott (1840) levanta sua bandeira de luta pela igualdade de direitos para as mulheres e os negros nos Estados Unidos. Disso resulta a Declaração de Sêneca Falls ou a Declaração dos Sentimentos, fundamentados na Declaração de Independência dos Estados Unidos em 1848 no estado de Nova Yorque. Um evento organizado por Lucrécia Mott e Elizabeth Cady Stanton Sendo esta a primeira convenção sobre os Direitos da Mulher, o nascimento do movimento feminista. No evento denunciaram as restrições, contestando o fato de não poder votar nem filiar-se a organizações políticas. Em virtude dos preconceitos eram impedidas de ocupar cargos públicos ou prestar qualquer tipo de assistência independente da sua natureza.

    No final do século XVII inicia-se o desenvolvimento de uma série de instituições em torno do Judiciário, capazes de enquadrar os indivíduos ao longo da sua existência. "Essas instituições, pedagógicas, psicológicas, psiquiátricas, etc., irão assumir a função de controle dos indivíduos ao longo de sua periculosidade." (Foucault, 1999, p.79) Desse modo constitui-se a "Sociedade disciplinar", uma mecânica de poder social.

    Enquanto as mulheres lutam nos Estados Unidos, a Revolução Farroupilha (1835 – 1845) assola o Rio Grande do sul. No terceiro bloco da trilogia do Tempo e o Vento, "O Arquipélago" de Érico Veríssimo se encontram alguns desabafos das mulheres. Assim como no filme " O tempo e o Vento (...) "nesta terra tem que estar preparada para o pior. Os homens não têm juízo, vivem nessas folias de guerras. Que é que a gente vai fazer se não ter paciência, esperar, cuidar da casa, dos filhos... Os homens dependem de nós." A velha Bibiana com sua sabedoria alertava: quem decide as guerras não são eles, somos nós. Um dia eles voltam e tudo vai depender do que encontrarem. Não se esqueça. Nós também estamos em guerra. E ninguém passa por uma guerra em brancas nuvens. Não se iluda. O pior, ainda nem começou. A coragem das mulheres persiste.

    No século XVIII a expectativa com relação às mulheres, não muda muito. Influenciados pelos ideais do Iluminismo e da Independência Americana (1776). O pensamento dos Filósofos iluministas assim manifesta-se. Hobbes (1588 – 1679) autor de o Leviatã, afirma que "as paixões que conduzem os homens à paz são o medo da morte." De forma racional admite o estado natural, pois se o homem e a mulher assim contratarem, já que nenhum está sob o mando do outro, os filhos pertencem à mãe. Diderot (1713 – 1784) desconfiava da dedicação feminina à religiosidade. Rosseau (1712 – 1778), o precursor do romantismo desprezava as mulheres elegantes que freqüentavam os Sallons da moda e atribuía aos homens o domínio sobre elas. Sendo função da família e das mulheres ajudarem a preservar e aumentar o patrimônio do pai.

    Hume (1711 – 1776) o maior filósofo britânico pensava que o desprezo dos homens pelas mulheres era fruto da insegurança, pois os homens não sabiam se os filhos eram realmente seus. Kant (1724 – 1804) conhecido pela sua filosofia moral, atribuía as diferenças entre homens e mulheres como naturais. Acredita que as mulheres interessavam-se apenas pela beleza, pela elegância e pelo agradável, pois se entretinham com trivialidades. Na sua obra nega às mulheres o direito de serem esclarecidas. Em suma, Nenhum deles se interessou em corrigir a inferioridade legal das mulheres.

    Nesse contexto ocorre a Revolução Francesa, como um conjunto de acontecimentos entre 5 de Maio de 1789 e 9 de Novembro de 1799. Fatos que alteram o quadro político e social da França. Tem como causas o Antigo Regime (Ancien Régime), o excesso de autoridade do clero e da nobreza. Desse modo consideram-se a Revolução Francesa como uma das maiores revoluções da história da humanidade. Um acontecimento que dá início à Idade Contemporânea. A revolução aboliu a servidão e os direitos feudais, proclamou os princípios universais de "Liberdade, Igualdade e Fraternidade" (Liberté, Egalité, Fraternité). A partir de 1789, a França foi palco de convulsões políticas, passando por várias repúblicas, uma ditadura, uma monarquia constitucional e dois impérios.

    No século XVIII e XIX a Revolução Industrial altera a maneira de viver das populações dos países que se industrializaram. As cidades começam a atrair os camponeses e os artesãos. As oportunidades de trabalho ainda muito precárias exigiam jornadas de trabalho estafantes, explorando as mulheres e as crianças em ambientes insalubres. Devido à falta de higiene proliferavam-se as epidemias e as endemias. Nessa época George Papanicolaou (1883-1962) estuda a citologia vaginal e descreve as células malignas em seus primeiros estágios de desenvolvimento. Desse modo desenvolve um teste para detecção precoce do câncer de útero. Aumenta a longevidade das mulheres e diminui a mortalidade infantil. A industrialização permite que as mulheres consigam ter acesso aos vestidos, mas devido o comprimento que se arrastava pelo chão, contaminavam-se com a lepra e outras doenças. Para manter a saúde, permitem que se encurtem os vestidos.

    Na Inglaterra, por volta de 1850, pela primeira vez havia mais pessoas vivendo em cidades do que no campo. O trabalho dos operários eram tarefas monótonas e repetitivas. As pessoas mais pobres se aglomeravam em subúrbios de casas velhas e desconfortáveis, enquanto os camponeses viviam em choupanas de palha. Convivia com a falta de água encanada, com os ratos e o esgoto formando riachos nas ruas esburacadas. A vida na cidade moderna significava mudanças incessantes. Precisava-se educar o povo, pois não sabiam organizar-se, diariamente o urinol era jogado pela janela no meio da rua.

    Na cidade a cada instante, surgiam novas máquinas, produtos e modas. Revoltadas com a situação, no dia 8 de março de 1857, as operárias de uma fábrica de tecidos na cidade norte americana de Nova Iorque, fizeram uma grande greve. Ocuparam a fábrica e reivindicaram melhores condições de trabalho, tais como, redução na carga diária de trabalho de dezesseis para dez horas de trabalho diário.

    Equiparação de salários com os homens, pois as mulheres chegavam a receber até um terço do salário de um homem, para executar o mesmo tipo de trabalho e tratamento digno. A manifestação foi reprimida com violência. As mulheres foram trancadas e incendiadas dentro da fábrica, na qual 130 tecelãs morreram carbonizadas. A partir desse episódio começam a ocorrer mudanças significativas pelo mundo.

    Em 1859, surge na Rússia, em São Petersburgo, um movimento de luta pelos direitos das mulheres. No ano de 1862 - na Suécia, as mulheres podem votar pela primeira vez nas eleições municipais. Louise Otto, em 1865, cria a primeira Associação Geral das Mulheres Alemãs. No Reino Unido, em 1866 o economista John S. Mill escreve exigindo o direito de voto para as mulheres inglesas. Em 1869 é criada nos Estados Unidos a Associação Nacional para o Sufrágio das Mulheres Na França, em 1870 as mulheres passam a ter acesso aos cursos de Medicina. No Japão em 1874 cria-se a primeira escola normal para moças. Na Rússia em 1878 surge uma Universidade Feminina. Em 1901 o Deputado francês René Viviani defende o direito de voto.

    No ano de 1910, durante uma conferência na Dinamarca, ficou decidido que o dia 8 de março passaria a ser o "Dia Internacional da Mulher", em homenagem as mulheres que morreram na fábrica em 1857. No ano de 1975, por meio de um decreto a data foi oficializada pela ONU (Organização das Nações Unidas). O dia 24 de fevereiro de 1932 se considera um marco na história da mulher brasileira, pois foi instituído o voto feminino. Depois de muitos anos as mulheres conquistaram o direito de votar e ser eleitas para os cargos no executivo e no legislativo. Assim, inicia-se em lento processo de emancipação.

    A atuação das instituições internacionais contribui imensamente para a organização dos povos e consequentemente para a emancipação feminina. Em 1974, a Assembléia Geral da UNESCO aprova uma resolução na qual se diz que "Educação para o Desenvolvimento é a educação para a compreensão, a paz e a cooperação internacionais e a educação relativa aos direitos do homem e às liberdades fundamentais".

    O estabelecimento de tendências econômicas hegemônicas a nível mundial. A revolução nos meios tecnológicos e comunicativos, a expansão de um pensamento único, tornam os desafios complexos. Vivem-se dimensões que anteriormente apareciam como contraditórias: a escala planetária e o nível do pequeno espaço e do indivíduo. Consequentemente aumentam os problemas comuns à cidadania. Nesse contexto nasce o conceito de Educação Global, incluindo o posicionamento e a ação face ao desenvolvimento, ao ambiente, aos direitos humanos, à paz.

    A Educação para o Desenvolvimento visa à mudança. Um processo fundamental para a transformação das relações humanas no mundo. Uma idéia que visa uma educação ao longo da vida, pois para mudar, aprimorar-se se faz necessário saber, saber fazer e conviver para poder viver com dignidade. O seu eixo fundamental é a opinião pública, da qual todos fazem parte. O objetivo dessa educação é torná-la reflexiva, minimizar as diferenças e as injustiças.

    Na atualidade verifica-se o reforço da sociedade civil em modificar a realidade, no intuito de mudar mentalidades e atitudes. No entanto, diariamente ocorrem transformações significativas no mundo em que vivemos. Precisam-se rever os dados adquiridos, enriquecendo a compreensão dos fenômenos e acontecimentos que tecem a realidade visível e invisível, de recriar as cumplicidades estabelecidas, de ir conseguindo inscrever as nossas ações numa visão de longo prazo. No transcorrer dos espaços e tempos, há sempre os que educam e os que são educados, mas na realidade nos educamos concomitantemente com os nossos erros e acertos, o que se exige uma atenção mútua e trocas permanentes.

    Nessa etapa instiga-se a aprender para desenvolver-se, no intuito de humanizar e emancipar o ser. Na atualidade, as mulheres constituem-se como a maioria da população. Ao longo do tempo conquistaram o direito de votar e serem votadas. Lutam por seus direitos e contra a opressão, já "enfrentaram a fúria do machismo e não se intimidaram ao serem chamadas de "mal amadas" e outros adjetivos, quando se rebelaram e queimaram sutiãs em praça pública. ( Fuckner 2005 p.14) Continuam sendo discriminadas, muitas vezes entre elas próprias devido a questões pessoais, culturais e emocionais.

    No artigo, "O mundo do Baton" Frei Beto, faz uma referencia as discriminações sofridas pelas mulheres. Na África, as mulheres ainda são mutiladas com a supressão do clitólis. Censuradas nos paises Islâmicos, proibidas de exibir o rosto, subjugadas como escravas, prostituídas na Ásia e deploradas por famílias chinesas. E salienta que "são as mulheres que carregam o maior peso da pobreza que atinge hoje 4 dos 6 bilhões de habitantes da terra."(Christo, 2002, p.1) Obrigadas há jornadas de trabalho insanas.

    Na Índia, graças a tecnologia as mulheres tomam atitudes contra os agressores. Em 2004, irritadas com o descaso da policia, a lentidão da justiça, às mulheres de um bairro pobre na cidade de Nagpur invadiram a sessão do tribunal onde o estuprador prestava depoimento e lincharam-no na frente do juiz. O seu currículo era recheado de barbaridades, mas pagava a fiança e voltava a aterrorizar as mulheres. Lutam por justiça, mas encontram o descaso das autoridades. Na Índia, a tradição cultural trata a mulher violentada, não como vítima, mas como a própria criminosa, como uma prostituta. Fatos que ocorrem diariamente nas repartições públicas, nos hospitais e na zona rural. A maioria das famílias não corre esse risco, provocam o aborto quando o bebe trata-se de uma menina. Sendo na Índia o infanticídio tão grave quanto na china. O desequilíbrio entre os sexos traz muitos problemas sociais, inclusive quando o dote ofertado ao noivo da filha é baixo.

    As mudanças das últimas décadas atingem todo este tipo de conceitos, renovando-lhes sucessivamente o significado. Apesar de todo esforço realizado com relação à escolarização feminina, a maior participação econômica, a expansão do conhecimento sobre sexualidade e saúde. Segundo Eva Blay (2004, p.29) " não é possível afirmar que houve real mudança na condição de gênero." Tudo isso, trata-se de um processo que surge com a Educação para o Desenvolvimento, logo após a descolonização do pós-guerra e das campanhas humanitárias. O assunto trata-se de um tema que exige esforço permanente de conhecimento, reflexão e comunicação para que se consiga avançar no processo.

    Os anos se passaram, algumas sociedades evoluíram, mas a base do sistema ainda discrimina a mulher e exclui os pobres. A terra continua na mão da minoria. O mundo carece de educação e os postos de trabalho ainda são muito poucos em relação ao número da população. Em muitos lugares a miséria espalha-se vertiginosamente, faltam gêneros de primeira necessidade, assistência à saúde, água, esgoto e habitações dignas.

    Frente a esse pequeno alerta, espera-se que o estado mantenha um diálogo constante com a sociedade no intuito de transformá-la de forma humanitária. Durante décadas as mulheres levantaram as suas bandeiras no intuito de construir um mundo melhor. Na busca da sua essência procurando melhorar as relações humanas e fazer valer a Declaração universal dos Direitos Humanos. Desse modo salienta-se que às desigualdades de gênero sejam repensadas e debatidas em todas as esferas sociais.

    De modo que as suas ações sejam vinculadas às Políticas Públicas Inclusivas. No intuito de criar condições para que as mulheres possam estudar, aprimorar-se, participar no mercado de trabalho, "enfrentar os desafios econômicos e desenvolver condições críticas para alcançar a plena cidadania." (Blay 2004, p.29) De forma há emancipar-se e ocupar os espaços sociais, pois para cada mulher sem assistência existe uma pessoa ou uma família em estado de risco social. Portanto, incentivar a mulher a participar, estimula a sua auto-estima, motiva o seu crescimento e oportuniza o desenvolvimento de um mundo com certeza bem melhor.

    Conclusão

    Frente ao novo paradigma, o mundo assiste as mudanças nas relações sociais, comerciais e políticas de forma globalizada. Alguns estudiosos defendem a tese de que se fecham mais um ciclo na historia, mas na realidade o mundo chega a grande síntese. O autoritarismo aos poucos cede espaço às relações democráticas sugeridas pelos Direitos Internacionais. O movimento das mulheres vem contribuindo significativamente para esta revolução. Gradativamente invadem o seu espaço, questionam a sua submissão ao homem, reivindicam posição de igualdade. Nessa perspectiva acredita-se que para alcançar uma sociedade mais equilibrada, deve-se instigar vivencias que respeitam os seres humanos e preservam a vida.

    Muitas mulheres ao longo do tempo sonharam com uma sociedade mais justa. No século XIX já se percebem alguns avanços. Rosa de Luxemburgo (1871 – 1919), uma inspiradora da social democracia. Em sua obra política sonhava com um socialismo democrático e pluripartidário. Um sonho que não se concretizou, pois o socialismo soviético foi o mais sangrento e autoritário, impedindo o avanço da humanidade e do processo emancipatório.

    No século XX à conquista dos direitos humanos a nível macroeconômico e social foram marcantes. As mulheres venceram muitas etapas. Tiveram a capacidade de escrever na constituição e nas leis o texto das suas vitórias. Na política conquistaram o direito ao voto, a serem eleitas para cargos eletivos, à liberdade, a vida, a maternidade e uma assistência de qualidade onde podem acompanhar os filhos nos primeiros quatro meses de vida em tempo integral sem prejuízo de salário e do emprego.

    No século XXI, a sociedade preocupa-se com as mulheres e a sua inclusão social. As missões internacionais preparam o gênero feminino para serem líderes no seu país, no intuito de mudar a vida das mulheres, das famílias e da sociedade. A Política Inclusiva visa uma nova ética. Apontam há educação como uma nova forma de educar o ser humano para a diversidade, para a convivência. Os conflitos prosseguem e a existência nos leva a buscar a emancipação.

    Nesse estudo percebe-se que grande parte da dificuldade das mulheres em se emancipar fundamenta-se no fator cultural. Na própria bíblia, a qual proclama a igualdade entre os gêneros, mas ao longo da história vem desenvolvendo uma cultura machista e discriminatória contra a própria mulher. Almeida (1997) em seus estudos aponta sinais de mudanças simbólicas, pois o tipo de família, que continha o homem como provedor e a mulher como dona de casa encontra-se em extinção, cede lugar a mulher pró-ativa.

    Na tese da igualdade, por muito tempo atribuiu-se as mulheres a inferioridade intelectual. Acreditava-se que essa inferioridade fosse biológica, mas constata-se que a grande diferença é de ordem cultural. Um estudioso chamado Lombroso (1900) afirma que nada justificava a inferioridade do sexo feminino. Nos seus estudos constatava que muitas fêmeas, inclusive eram até superiores aos machos. Desse modo conclui-se que as Políticas Públicas devem primar pelo desenvolvimento e o aprimoramento da Mulher. Não apenas pela sua sobrevivência, mas em ações que visam sua integralidade, para que possa superar as desigualdades de gênero e desenvolver-se como cidadã pró-ativa, capaz de promover com autonomia uma cultura de paz.

    Referências Bibliográficas

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    Foucault, Michel. 1999 A verdade e as formas jurídicas. Rio de Janeiro: Nau.

    Hobbes, Disponível http://pt.wikipedia.org/wiki/Thomas_Hobbes acesso em 14 de março de 2008.

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    Gênesis Cap 2 Disponivel http://atamamoriya.wordpress.com/2007/12/21/capitulo-2-o-amor-o-homem-e-a-mulher/ acesso em 20 de março de 2008.

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    Sites consultados:

     

    Liz Helena Pigatto (1)

    Lisete Maria Massulini Pigatto (2)

    lisetepigattoaid[arroba]yahoo.com.br

    Março de 2008

    1 Liz Helena Pigatto, acadêmica do Curso de Direito da Faculdade Metodista de Santa Maria, RS. Membro do Rotaract Club Santa Maria – Distrito 4.660 – Santa Maria, RS, Brasil. Integrante da Cátedra de Gênero Wilma Roberts – FAMES.

    2 Lisete Maria Massulini Pigatto, Psicanalista, Tutora no Curso de Pedagogia EAD da UFSM e Educadora Especial na Rede Estadual e Municipal em Santa Maria RS, Brasil. Doutoranda em Ciências da Educação pela UTIC, Asunción, PY pelo Acordo do Mercosul.



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